A
polêmica abertura de Enterprise
Enterprise pode não ter saído uma série tão diferente de suas predecessoras como queriam os produtores, mas se há um aspecto em que o programa inovou foi no tema de abertura. Tanto o uso de uma música
popular e cantada quanto a fuga do tradicional tema de ter a nave voando pelo espaço foram fatores que marcaram claramente a vontade de ser diferente.
Os fãs, que cobram tanto a audácia e a inovação por parte dos produtores, foram os que ironicamente mais reclamaram. Segundo eles, a montagem e, em grau infinitamente mais elevado, a música não transmitem o senso e a tradição normalmente associadas ao nome
Jornada nas Estrelas. Houve abaixo-assinados até para a mudança da música e sua substituição por um tema orquestrado, mas Rick Berman e Brannon Braga foram inflexíveis.
"Eu gosto da canção. Eu aceito total responsabilidade pela canção", disse Berman à revista "Star Trek Magazine". "Eu acho que a sequência dos títulos de abertura precisava de mudanças. Fomos a uma companhia maravilhosa chamada Montgomery/Cobb e trabalhamos com eles por meses juntando as montagens que fazem o fundo da sequência do título. Em nosso esforço contínuo de fazer coisas diferentes e fazer de
Enterprise uma série mais contemporânea, a idéia de fazer uma canção com vocal era algo que eu achei que seria bem legal."
Segundo o produtor-executivo, a música de Diane Warren, "Faith of the Heart", não foi a primeira coisa que eles pensaram. "Andamos por muitas canções diferentes. Fomos na direção de Lyle Lovett. Fomos na direção de Randy Newman. Finalmente, eu conheci a compositora de nossa canção, Diane Warren, e ela é uma compositora memorável que fez alguns materiais maravilhosos. Ela concordou em escrever a canção para nós."
E Warren cumpriu a promessa -- mais ou menos. "Ela me ligou um dia e disse, 'Preciso cantar algo para você'. E começou a cantar essa canção", conta Berman. "Era quase exatamente o que procurávamos, mas acabou que era uma música que ela já havia escrito. Fizemos algumas pequenas mudanças e ela ficou perfeita para os nossos propósitos."
A música composta por Warren (uma compositora bastante prestigiada no show business, tendo até disputado o Oscar pelo tema do filme "Pearl Harbor" no ano passado) havia sido originalmente concebida para o filme "Patch Adams", de Robin Williams (embora só tenha ouvido a música quem ficou assistindo ao rolar dos créditos ao final da película). Na ocasião, ela havia sido interpretada por Rod Stewart.
Entretanto, não era intenção de Rick Berman e Brannon Braga reutilizar a gravação original de Stewart -- até porque algumas pequenas mudanças na letra foram feitas para ficar melhor na abertura de
Enterprise (a música foi até "rebatizada" de "Where My Heart Will Take Me"). "Então era hora de procurar um cantor, e esse foi um grande e longo processo", relembra Berman. A missão acabou ficando com uma estrela ascendente da música britânica, o cantor de ópera Russell Watson.
"Diane gostava muito de Watson, que é uma grande estrela na Europa e especialmente no Reino Unido", diz Berman. "Nós o encontramos e ouvimos algumas versões pop de materiais clássicos que ele faz. Marcamos uma sessão de gravação, primeiro em Nova York, e então houve alguma mixagem final e umas coisinhas que foram feitas na Inglaterra."
Watson, que era um fã de Jornada nas Estrelas de longa data, agarrou a chance assim que a viu. E, embora não tenha apreciado muito a reação negativa dos fãs, aceitou resignado, e com otimismo, o veredicto do público. "Não é assim com tudo na vida?", ele disse ao site Zap2It. "Algo novo acontece, e as pessoas não estão muito certas disso. Mas elas vão se acostumar. Quando elas estiverem vendo o vigésimo episódio, estarão pensando, 'Bem, não é tão ruim assim afinal'."
O cantor britânico relembra que foi Diane Warren quem o trouxe a bordo. "Diane é uma fã minha", disse. "Ela já tinha escrito algo para o meu segundo álbum e perguntou se eu gostaria de me envolver com a nova produção de
Jornada nas Estrelas." Ele topou na hora, e a música acabou se tornando a última faixa de seu segundo disco, "Encore".
Os fãs podem até preferir a orquestra de Jerry Goldsmith, ou simplesmente odiar os tons de Watson ou a melodia com cara de anos 80 composta por Diane Warren, mas é impossível negar que a composição parece mesmo ter sido feita sob medida para sintetizar o espírito da nova série. Confira a letra da versão que foi para a abertura:
It's been a long road,
getting from there to here.
It's been a long time,
but my time is finally near.
And I will see my dream come alive at last.
I will touch the sky.
And they're not gonna hold me down no more,
no, they're not gonna change my mind.
'Cause I've got faith of the heart.
I'm going where my heart will take me.
I've got faith to believe.
I can do anything.
I've got strenght of the soul.
And no one's gonna bend or break me.
I can reach any star.
'Cause I've got faith, I've got faith, faith of the heart.
Ou, traduzindo:
Foi uma longa estrada,
vindo de lá até aqui.
Foi um longo tempo,
mas minha hora finalmente se aproxima.
E eu vou ver meu sonho ganhar vida afinal.
Eu vou tocar o céu.
E eles não vão mais me segurar,
não, eles não vão me fazer mudar de idéia.
Porque eu tenho fé em meu coração.
Eu vou onde meu coração me leva.
Eu tenho fé para acreditar.
Que posso fazer qualquer coisa.
Eu tenho força em minha alma.
E ninguém vai me torcer ou barrar.
Eu posso alcançar qualquer estrela.
Porque tenho fé, tenho fé, fé em meu coração.
Se alguém aí não lê, linha por linha, o drama do capitão Archer em ver sua nave ser lançada, realizando o sonho de vida de seu pai, contrariando o desejo dos Vulcanos e, literalmente, tocando as estrelas, então eu não sei mais o que pensar. Ok, a letra é mais doce que fios de ovos em ceia de Natal, mas ninguém pode negar que tem o seu charme, por falar tão diretamente à premissa básica da série.
Mas nada se compara realmente ao trabalho de imagens feito em cima dessa abertura. Por mais que achemos lindas as apresentações das séries anteriores de
Jornada, precisamos admitir que nada foi tão bem trabalhado e, acima de tudo, friamente calculado, como essa sequência de imagens.
Veja como a companhia Montgomery/Cobb, responsável pela montagem das cenas (e você que por um momento pensou que tudo era feito dentro da sala do Rick Berman, hein?), define o trabalho: "Cenas de arquivos históricos, tomadas de efeitos visuais e imagens geradas por computador, gráficos técnicos e uma montagem de naves
Enterprise ao longo da história destacam o conceito da série ao apresentar esse tributo ao espírito humano de exploração e descoberta".
Que a sequência de imagens realmente oferta aos telespectadores um tributo ao espírito humano de exploração e descoberta, não há qualquer dúvida. O que muitos questionam é o quanto isso estaria afinado com o conceito de
Jornada nas Estrelas e o quão competente a abertura é em apresentar a série à audiência.
Aqui entra um dos maiores mitos já criados em torno dessa franquia de 36 anos de idade: a noção de que há um conceito exato e claramente definido para
Jornada nas Estrelas. Na verdade, a série sempre atraiu as pessoas por diferentes razões, e cada produtor no comando teve sua própria interpretação do que isso significava. Gene Roddenberry, o criador, buscou uma abordagem mais utópica. Harve Bennett optou por uma versão mais militarista. Rick Berman flexibilizou as duas abordagens, mesclando-as (temos um série mais militarista em
Deep Space Nine, por exemplo, e duas séries de linha utópica, com
A Nova Geração e Voyager). Enterprise trilhou uma terceira linha, que ainda não deixou clara qual será sua marca para o conjunto da franquia: o elo contemporâneo.
Todas as séries de Jornada faziam questão de mostrar o quanto estávamos adiantados nos séculos 23 e 24. A própria existência de Spock, um dos personagens mais celebrados da franquia, foi mantida basicamente porque Roddenberry queria lembrar aos telespectadores que aquele ambiente estava num futuro razoavelmente distante.
Enterprise segue na linha inversa. O objetivo dos produtores é mostrar que a série está muito mais próxima de nós do que as outras. E o conceito por trás da abertura reflete isso muito bem. E é interessante notar como as montagens buscam um tom muito menos aleatório do que pode parecer a princípio.
Alguns apontaram que muita coisa interessante deve ter acontecido entre nossa época e 2151 que acaba não sendo retratada na abertura. Por exemplo, vemos uma rápida passagem do robozinho Sojourner em Marte, mas não vemos homens caminhando na superfície de Marte, algo que certamente já teria acontecido em 2151. Vemos os pousos na Lua dos anos 1960 e 1970, mas não vemos os primeiros vôos interestelares pós-invenção do motor de dobra por Zefram Cochrane. O que faz parecer que os produtores não elegeram prioridades na hora de escolher as imagens. Ao contrário, eles elegeram e muito: e a meta central era manter a NX-01 propositalmente perto dos avanços atuais.
Com isso, eles tentam diluir o salto de imaginação e fé que o telespectador precisa ter para acreditar que está vendo uma série sobre um futuro que ele possa imaginar. Então, o objetivo é induzi-lo a crer que a NX-01 é o próximo passo natural, após a ISS (Estação Espacial Internacional), o substituto do ônibus espacial e a nave de dobra de Zefram Cochrane. Rápido e rasteiro.
De novo, as pessoas podem não concordar com a edição, mas é difícil dizer que a coisa não foi pensada, e bem pensada, pelos produtores.
Mas essa abertura, além de dar uma pista à audiência sobre o que Rick Berman e Brannon Braga querem com a série, reflete também, ao menos vagamente, o "espírito" de
Jornada nas Estrelas? Como eu disse antes, essa não é uma questão objetiva. Cada um tem sua forma de entender esse fenômeno conhecido como
Jornada nas Estrelas, e nenhuma visão é melhor do que a outra. Mas a minha resposta particular é um sonoro "Sim!".
"Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve", para mim, já diz tudo. Independentemente do que tenha se tornado, ou por quais temas tenha enveredado,
Jornada nas Estrelas é e sempre foi sobre o espírito humano básico de exploração. E, numa série que invariavelmente retratou o futuro distante do homem, é interessante a noção de que também há um pouco de
"Jornada nas Estrelas" na história pregressa da humanidade.
Mais do que tudo, é isso que a abertura diz a respeito da franquia:
Jornada nas Estrelas sempre esteve acontecendo. Está acontecendo agora. Cada missão do ônibus espacial, cada novo projeto tripulado, cada visita à ISS, cada nova sonda investigando os confins do Sistema Solar, cada um desses episódios é mais um degrau na história presente, passada e futura de
Jornada nas Estrelas. É uma mensagem espetacular e inspiradora por si mesma, independentemente da contribuição de Jonathan Archer e companhia para o futuro da humanidade.
Claro, não é uma abertura perfeita. Aliás, se há um motivo para criticar, é o fato de a sequência reduzir o conceito de humanidade a praticamente um único país, os Estados Unidos da América. É incrível que os fatos de o russo Yuri Gagarin ter sido o primeiro homem a orbitar a Terra, em 1961, e de a União Soviética ter sido a primeira a lançar um satélite artificial (o Sputnik-1), em 1957, tenham sido sumariamente varridos para debaixo do tapete. Fossem outros tempos, com Guerra Fria e tudo mais, eu entenderia. Mas, neste caso, é uma omissão imperdoável. Até mesmo o roteirista André Bormanis, em entrevista recente ao
Trek Brasilis, comentou a questão: "Teria sido legal ver algo do velho programa soviético, que forneceu tanto do ímpeto para o programa espacial americano."
Mas a verdade é que, se a abertura parece excessivamente patriótica em favor dos EUA agora, ela já foi até pior que isso. O
Trek Brasilis teve acesso a uma versão preliminar da edição da abertura, incluída numa versão não-finalizada do piloto "Broken Bow", que mostrava até mais patriotismo por parte dos produtores.
Essa versão da abertura também tinha algumas diferenças em sua edição e montagem, que você pode ver ao longo das próximas fotos. A mais notável delas é a presença de uma fonte diferente para o título da série e para os letreiros. Serifada, ela parecia mais afinada ao visual "histórico" da abertura, mas menos aparentada com o estilo de
Jornada nas Estrelas.
A versão preliminar foi feita antes da gravação da música-tema por Russell Watson e contava com a versão original de Rod Stewart (você pode puxar o vídeo completo, em formato AVI-DivX 5.02 e com 3,5MB, clicando
aqui). As primeiras montagens eram essencialmente as mesmas da versão atual, mas as alterações começavam depois da exibição do homem na Lua e na órbita terrestre. Um protótipo do substituto do ônibus espacial da Nasa cruzava a tela, com a clara inscrição "United States of America" nele.
A ISS também estava presente nessa montagem preliminar, mas numa cena muito menos agradável, sem aparência de realidade, e que também não contava com a sequência de montagem. A imagem estática era acompanhada por uma Terra ao fundo, que também não parecia esteticamente das melhores.
Depois disso, aparecia na tela uma outra nave desconhecida, que pelas dimensões e estilo poderia até ser a que teria levado os primeiros humanos a Marte. Essa cena foi sumariamente excluída da versão final, talvez por ser complicada demais para o público saber do que se tratava.
A cena final antes do aparecimento da Enterprise NX-01 contava com uma nave diferente, voando na direção de um complexo orbital aparentemente mais moderno que a ISS. Mas esse veículo claramente não possuía capacidade de dobra.
Para fechar a conta, a tomada com a Enterprise NX-01 ainda era uma sequência de efeitos especiais provisória e incompleta, apenas para dar uma noção de qual seria o resultado final.
Na versão final, que vemos todas as semanas na televisão, essas cenas foram substituídas por outras que, em geral, propiciam melhor efeito estético e de conteúdo (com direito a uma nave de dobra entre a Phoenix de Zefram Cochrane e a Enterprise e uma cidade-colônia na Lua). Entretanto, agora que você viu as duas, pode até fazer sua avaliação pessoal.
Uma coisa que não é passível de avaliação, entretanto, é a quantidade de história humana que foi empacotada em pouco mais de um minuto na abertura da série. A sequência é de valor inquestionável, e gostaria de fechar esse texto com um tributo à abertura, comentando todas as imagens e referências que entraram em sua versão final. Confira.
A abertura, quadro a quadro
Nossa jornada começa no único lugar possível, a Terra.
Outra visão da órbita terrestre, e a aparição do título: Enterprise.
Uma transição nos leva a uma representação antiga da Terra, mas ainda rica em referências astronômicas, como a faixa das constelações do zodíaco. Começa a viagem ao passado.
Somos levados por um mapa antigo com um zoom em pequenas ilhas, que rapidamente nos remetem ao mar -- onde a exploração do desconhecido teve início.
Astronomia e navegação eram praticamente atividades-irmãs. No início, os desbravadores dos mares tinham como principal guia a posição das estrelas no céu. Não é de se admirar que, nessa volta ao passado, enquanto fazemos a transição para o mar, podemos ver um diagrama do Sistema Solar, no consagrado modelo copernicano, com o Sol ao centro.
Somos então deixados com uma pequena embarcação a vela, num aparentemente infindo oceano. De posse de razoável conhecimento astronômico e de tecnologia para navegar, podemos começar a ter sonhos maiores.
Surge uma referência à primeira embarcação a receber o nome Enterprise. Ou melhor, "Enterprize". Trata-se de um navio construído pelos franceses, cujo nome original era L'Enterprenante. Capturado em 1705 pela HMS Triton, da Marinha Real Britânica, foi rebatizado e colocado a serviço de Sua Majestade, com o nome HMS Enterprize (a grafia era flexível na época, permitindo "s" ou "z", mas, como se tratava de um navio capturado, ao que parece, o trocadilho com "prize", ou "prêmio", pareceu ser por demais irresistível). A embarcação serviu no Mediterrâneo, mas teve vida curta sob o comando inglês, sendo afundada em outubro de 1707. De toda forma, iniciou uma longa carreira de navios chamados Enterprise (a partir do segundo, foi adotada a grafia com "s"), tanto na Marinha Britânica como na dos EUA.
As primeiras Enterprises pavimentaram o caminho para o futuro. Numa síntese impressionante do espírito de
Jornada nas Estrelas e numa tocante homenagem tocante a seu criador, Gene Roddenberry, temos uma mistura de elementos em que um navio antigo (presumivelmente, uma Enterprise) aparece no horizonte, trilhando uma auto-estrada por sobre o mar, indo aonde o oceano toca as estrelas. É a estrada para o futuro, "baseada em
'Jornada nas Estrelas', criada por Gene Roddenberry".
Conquistada a superfície dos oceanos, a transição é feita para o ar. Enquanto um antigo balão sobrevoa as montanhas, começamos a observar uma mistura de elementos antigos e modernos, incluindo um diagrama de um foguete.
Dos balões, saltamos para os aviões. O diagrama do imenso foguete continua a ilustrar a evolução da tecnologia enquanto temos uma visão histórica: uma filmagem do Ryan NYP "Spirit of St. Louis", avião que em 21 de maio de 1927 ajudou o piloto americano Charles A. Lindbergh a fazer o primeiro vôo transatlântico ininterrupto. Ele decolou de Long Island, em Nova York, e pousou em Paris, França, 33 horas e 30 minutos depois. Graças ao vôo, Lindbergh ganhou o prêmio de US$ 25 mil oferecido pelo hoteleiro Raymond Orteig ao primeiro aviador a atravessar o oceano. O vôo consolidou o espírito da aviação e abriu as portas para sua popularização em escala comercial. Hoje, o avião está no Museu Nacional do Ar e do Espaço, da Smithsonian Institution.
Na sequência, a transição da tradição naval para a espacial, com o primeiro ônibus espacial da Nasa, o Enterprise. A nave foi mostrada pela primeira vez em 1976, mas só serviu a testes na atmosfera da Terra. Seu nome original seria Constitution, mas uma campanha de cartas dos fãs de
Jornada nas Estrelas fez com que a agência espacial americana trocasse por Enterprise. O primeiro ônibus espacial a efetivamente dar uma volta na Terra foi o Columbia, em 1981.
Como o ônibus espacial Enterprise nunca foi ao espaço, continuamos no campo da aeronáutica. Desta vez, com a primeira grande heroína da aviação, Amelia Earhart. Esta americana que se tornou inspiração de muitas mulheres por seu espírito indomável bateu diversos recordes pilotando aviões, tornando-se inclusive a primeira mulher a atravessar o Atlântico, em 1928. Muitos consideravam-na a sra. Lindbergh. Amelia teve uma morte trágica em 1937, com seu co-piloto Fred Noonan, quando seu avião se chocou contra o oceano Pacífico. Seus corpos ou a carcaça da aeronave nunca foram recuperados, dando origem a toda sorte de mitos (o tema inclusive já foi abordado em
Voyager, no episódio "The
37's").
Seguindo com a viagem no tempo, desta vez para trás, vemos um dos vôos pioneiros dos irmãos Orville e Wilbur Wright. Não se trata da primeira decolagem de seu Flyer, que ocorreu em 1903 (três anos antes do primeiro vôo público e registrado da história, feito pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, em Paris, 1906), mas foi feita em sigilo e longe das câmeras. Além de ter sido o primeiro, o avião dos Wright acabou sendo a maior inspiração em termos de design para os veículos que viriam depois (o próprio Santos Dumont abandonou o conceito básico de seu 14-Bis após alguns vôos, concluindo que estava num beco sem saída evolutivo).
O contraste de passado remoto e passado recente continua -- agora simultaneamente. Enquanto vemos o jato X-1, máquina que impulsionou o primeiro homem além da velocidade do som, em 1947, também vislumbramos alguns esquemas renascentistas desenhados por Leonardo da Vinci, na tentativa de projetar uma máquina voadora.
O que nos leva à mais esquizofrênica parte da edição da abertura: entre várias sequências de aviação, um veículo submarino moderno atravessa a tela. Embora a estrutura da sonda lembre um pouco os designs de Jornada, por conta de suas duas "naceles", poderíamos ter ficado sem essa estranha imagem na edição final.
Como se aquele veículo marinho não passasse de uma alucinação, voltamos a ver o X-1, desta vez no chão, com seu célebre piloto caminhando à frente: o lendário general Charles "Chuck" Yeager. Considerado um dos mais destemidos pilotos da história da Força Aérea americana, Yeager impulsionou o X-1 para além da barreira do som em 14 de outubro de 1947.
Mas é hora de ir ao espaço. Enquanto um diagrama moderno da posição das estrelas aparece, sutil, ao fundo, vemos alguns astronautas do programa Apollo caminhando para a nave, já vestidos em pesados trajes espaciais.
Na sequência, um zoom em um dos ícones do programa espacial da Nasa: Alan Sheppard. Além de ter sido o primeiro americano a fazer um vôo suborbital, em 1961 (mesmo ano em que Yuri Gagarin, pela União Soviética, deu sua volta em torno da Terra), a bordo de uma cápsula Mercury, Sheppard foi um dos poucos felizardos que teve a chance de andar sobre a Lua. A imagem é anterior ao lançamento da Apollo 14, que levou ele e mais dois astronautas para a órbita lunar. Encarnando o espírito desbravador e aventureiro, Sheppard levou para a nave, às escondidas, uma bola de golfe, o que permitiu que ele se tornasse o primeiro homem a jogar golfe na Lua. A bola deve estar lá até hoje.
Em seguida, vemos o início do acionamento dos motores antes da decolagem de um ônibus espacial da Nasa, um tecnologia posta em uso no início dos anos 1980.
Saltando para trás no tempo (e de volta à época de Sheppard), vemos um Saturno-5, foguete responsável pelo impulso inicial que permitiu a ida do homem à Lua, se desprendendo da base e iniciando sua espetacular decolagem.
E então voltamos ao final do século 20, com a continuação da decolagem de um ônibus espacial.
E a mesma cena, vista do lado de dentro da nave, com uma câmera se concentrando num trio de astronautas (de uma tripulação de sete) durante a decolagem. É possível ver toda a tensão e a violência com que o ônibus espacial se desprega do chão, tremendo um bocado enquanto os poderosos motores queimam hidrogênio e oxigênio líquidos para impulsionar o veículo maciço para a órbita terrestre.
Enquanto vemos um foguete singrando o ar rumo ao espaço, temos um pequeno vislumbre de quem iniciou a revolução: Robert Hutchings Goddard. Este americano é o responsável pela criação teórica e prática dos foguetes, já sendo visionário em sua aplicação em exploração espacial. Data de 1912 seu primeiro trabalho teórico (ele era físico) a respeito do uso prático de foguetes para ir além da alta atmosfera e, em 1926, Goddard demonstrou o primeiro foguete movido a propulsão líquida. Também foi deve a idéia dos foguetes de múltiplos estágios (recebeu a patente nos EUA em 1914). Por conta de seus feitos, Goddard deu nome a um dos centros da Nasa, quando em 1959 foi fundado em Greenbelt, Maryland, o Centro de Vôo Espacial Goddard (Goddard Space Flight Center).
Já no espaço, nas proximidades da Terra, vemos um foguete desprendendo mais um de seus estágios, para acionar o seguinte e seguir viagem. É a invenção de Goddard tomando forma e levando o homem além da atmosfera terrestre.
É o que vemos na sequência, em uma tomada bastante atual que mostra o estado da arte em termos de trajes espaciais para os astronautas americanos. Apesar de tudo aquilo existir, aquele homem em órbita da Terra é uma peça publicitária; a imagem não faz parte de nenhuma missão real empreendida pela Nasa.
A conquista do espaço continua, enquanto o homem dá seus primeiros passos na superfície lunar. Seis alunissagens (pousos na Lua) foram feitos pelo programa Apollo, de 1969 a 1972. Depois disso, até hoje, ninguém mais caminhou pelo solo do satélite natural da Terra.
Seguindo no tema Lua, vemos o módulo lunar de uma das missões Apollo se preparando para descer à superfície. A imagem foi capturada a partir do módulo de comando, que permanecia em órbita. A missão se dava da seguinte maneira: dos três astronautas, dois iam para o módulo lunar e desciam à superfície. Um deles ficava à espera, girando em torno da Lua no módulo de comando. Na volta, o módulo lunar voltava a se acoplar ao de comando, e ambos partiam na direção da Terra.
Expandindo seus domínios além da Lua, vemos a humanidade lançando uma sonda a Marte. Aqui aparece o robozinho Sojourner, parte da missão Mars Pathfinder, que chegou ao planeta vermelho em 1997. Embora não tenha sido nem a primeira, nem a mais cara, essa ainda está fresca na memória dos telespectadores. Durante a missão, o site do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) foi acessado ferozmente por entusiastas do mundo todo à procura das novas imagens da superfície marciana.
Voltamos à órbita terrestre, com um astronauta fazendo uma caminhada espacial sem estar preso a qualquer veículo, mas perto o suficiente do ônibus espacial (com sua área de carga aberta) para que possamos vê-lo. Mais uma vez, a cena não faz parte de nenhuma missão.
Começamos finalmente a entrar em nosso futuro, com uma visão do que a ISS (Estação Espacial Internacional) deve ser, uma vez que esteja completada. Originalmente os parceiros do projeto (que inclui EUA, Rússia, Japão, Canadá, países europeus e o Brasil) pretendiam concluí-la em 2006, mas atrasos e estouros no orçamento fizeram com que a data escorregasse para 2008. Discretamente, na porção inferior da tela, vemos gráficos animados da descrição dos movimentos de projéteis. O curso parabólico dos projetos foi descrito pela primeira vez pelo cientista italiano Galileu Galilei.
Caminhando mais um pouco rumo ao futuro, vemos um possível sucessor do ônibus espacial americano. A Nasa tem planos para substituir os atuais veículos por outros mais modernos, mais seguros e mais baratos, mas todos os projetos concretos que estavam sendo conduzidos (incluindo o X-33) foram cancelados. A agência está à procura de um novo design.
Adentrando finalmente o universo estabelecido de Jornada nas
Estrelas, vemos o lançamento espetacular da primeira nave terrestre com motor de dobra, a Phoenix. Ela foi construída e lançada pelo físico Zefram Cochrane em 2063.
Em outro ângulo, a Phoenix se prepara para o vôo histórico. A cena foi feita originalmente para o filme
"Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato", mas é reaproveitada aqui. Curiosamente, o movimento da cena aqui foi acelerado levemente com relação ao original, para acompanhar o ritmo da edição.
Na mais enigmática cena da abertura, uma nave terrestre com aparente poder de dobra (a julgar pelas naceles) sobrevoa uma enorme cidade estabelecida sobre a superfície lunar. Numa reportagem da revista "Star Trek Magazine", a nave é descrita simplesmente como um veículo de transporte lunar, mas alguns fãs especulam que essa possa ser a SS Valiant, nave mencionada pelo episódio clássico
"Where No Man Has Gone
Before" que deve ter sido lançada em 2065, apenas dois anos após o vôo inaugural de Cochrane. Nenhum episódio até agora estabeleceu a verdade sobre o misterioso veículo.
Finalmente, após a epopéia humana rumo ao espaço, vemos a Enterprise (NX-01) deixando a órbita terrestre, em 2151...
E partindo para o espaço desconhecido, que aos poucos é mapeado pela equipe de roteiristas escalada pelos criadores Rick Berman e Brannon
Braga.
Salvador
Nogueira, jornalista, escreve regularmente
sobre
a nova série de Jornada nas Estrelas para o Trek
Brasilis
|