A
hora mais sombria de Sisko!
Com
a chegada da edição em DVD da sexta temporada de Deep
Space Nine nos Estados Unidos no começo deste mês de
novembro, torna-se oportuna uma examinada dos episódios que
compõem tal pacote e cuja distribuição (em qualquer forma)
em terras brasileiras ainda é incerta (a última temporada da
série sai em dezembro deste ano na América, e terá
cobertura similar do Trek Brasilis).
Este
artigo apresenta um formato deveras simples, se dividindo em
uma primeira parte que é dedicada a uma breve visão geral da
sexta temporada de DS9 e uma segunda parte mais
extensa, que trata da temporada, episódio a episódio
(incluindo spoilers!).
Breve
visão geral da sexta temporada de DS9
A sexta temporada
de Deep space Nine é lembrada tipicamente pela maioria
de seus fãs tanto por ter sido a mais importante (e mais
sombria) temporada do personagem de Ben Sisko quanto como uma
temporada que poderia ter sido muito melhor (em planejamento e
em execução) do que foi.
A temporada
retrata de forma exemplar o personagem do capitão Sisko como
figura trágica e central tanto do conflito entre a Federação
e o Dominion quanto do inevitável e derradeiro confronto
entre os Profetas e os seus eternos inimigos, os Pagh-Wraiths
(seu papel como Emissário é tratado de forma cada vez mais
direta até o final da série). Sisko é colocado sob imensa
pressão em eventos como: seu trágico conflito com os Jem'hadar
em "Rocks and Shoals", ter a certeza - dada
pelos próprios Profetas - de que nunca encontrará paz como
visto em "Sacrifice Of Angels", sua macabra
"valsa" com um enlouquecido Dukat (na esteira da
morte de sua filha Zyial em "Sacrifice Of Angels")
em "Waltz", personificar o enigmático
escritor Benny Russel no mágico "Far Beyond the
Stars", conspirar com Garak para trazer os Romulanos
para o lado da Federação na guerra, no polêmico "In
The Pale Moonlight", "bancar Salomão" em "The
Reckoning" e finalmente perder o contato com os
Profetas e perder Jadzia (a personagem morre e Terry Farrel
deixa a série) no final da temporada em "Tears Of The
Prophets".
Foi uma grande
temporada também para Bashir que encontra um grupo (apelidado
pelos fãs de DS9 de "The Jack Pack") de quatro
humanos geneticamente aperfeiçoados (como ele) em "Statistical
Probabilities" e é "recrutado" (pelo
personagem Sloan, vivido por William Sadler) para a SEÇÃO31
em "Inquisition".
Ao lado do
crescimento do personagem Nog (que recebe uma promoção de
campo a alferes em "Favor The Bold") e da
introdução do personagem do almirante Bill Ross (vivido por
Barry Jenner e que se apresentaria como o superior imediato de
Sisko até o final da série) temos também o primeiro (e
grandemente aguardado) beijo entre Odo e Kira em "His
Way" (que marca a estréia do personagem do cantor
holográfico Vic Fontaine, vivido por James Darren, o Tony da
série "The Time Tunnel" de Irwing Allen). Worf
recebe Jadzia em matrimônio em "You Are Cordially
Invited" só para ultimamente perdê-la em "Tears
Of The Prophets".
Infelizmente a
temporada também teve alguns sérios problemas. A principal
fonte de tais deficiências brota do fato que manter o arco de
uma guerra das proporções sugeridas na série exige um
grande foco, realmente não dá para esquecer do conflito por
muitos episódios sob o risco de perda de credibilidade.
Coincidentemente os melhores momentos da série nesta sexta
temporada ocorreram em segmentos que enfocavam os seus arcos
principais e os piores se deram em episódios literalmente
alheios ao material central de DS9 (arco do Dominion e
arco do Emissário). Como se este fosse de fato o caminho mais
orgânico e natural a ser percorrido.
Em certas ocasiões
um segmento até enfocava um dos arcos, mas era incapaz de
levar o arco a frente de uma maneira sólida, por vezes até
levantando elementos interessantes, mas que não recebiam uma
apropriada conseqüência em episódios posteriores. E por último
talvez o problema mais grave em que se observa que não
somente faltou propósito a série em certos momentos (como
discutido acima), mas também a qualidade bruta da escrita se
mostrou inferior a das duas temporadas anteriores (apesar de
ainda assim termos alguns dos melhores momentos da série
nesta sexta temporada).
Talvez uma das
causas para tais problemas seja a ausência de Robert Hewitt
Wolfe (substituído na equipe de roteiristas pela limitada
dupla formada por Bradley Thompson e David Weddle) tanto pela
falta do escriba em si quanto pelo desequilíbrio que isto
trouxe a equipe (Ira Behr teve que achar um novo parceiro na
pessoa de Hans Beimler, por exemplo). Felizmente grande parte
de tais deficiências foi identificada e atacada na sétima e
última temporada da série.
A
temporada, episódio a episódio
"A Time to
Stand" (****)
A guerra não vai
bem para a Federação, o almirante Ross decide autorizar uma
arriscada missão em território Cardassiano para destruir um
depósito de Ketracel White. A bordo da nave Jem’Hadar,
obtida em “The Ship”, partem Sisko, Dax, O’Brien,
Bashir, Nog e Garak. Durante a missão Sisko se vê sob fogo
amigo e tem que combater a nave Federada para não derrubar o
seu próprio disfarce. A missão tem sucesso, mas a explosão
do depósito deixa os motores de dobra da nave inoperantes e
assim Sisko e cia. terminam há 17 anos em força de impulso
de uma base Federada.
A
rudimentar trama do episódio não é nem de longe o seu
principal atributo. Ele sim faz um ótimo trabalho em
estabelecer o tom de uma Federação em guerra, usando
brilhantemente os personagens como microcosmo. Bashir não
consegue sorrir, Sisko quebra o vidro de uma mesa em um
momento de frustração e fala em seguida com seu pai sobre o
conflito e como Jake acabou ficando para trás em DS9, na estação
Dukat está confortavelmente instalado de volta em seus escritório,
Quark comenta que as coisas não estão tão ruins quanto no
tempo da Ocupação Cardassiana e Odo decide ordenar a Weyoun
que restabeleça um destacamento Bajoriano de segurança no
Promenade só para se ver (em contrapartida) fazendo parte do
conselho que comanda a estação (junto com Weyoun e Dukat) em
seguida e pensando se a sua ordem foi uma boa idéia em
primeiro lugar. Uma poderosa cena em que Dukat confessa querer
estabelecer um relacionamento com Kira causa choque, nojo e
indica o Cardassiano perdendo o contato com a realidade. Em
suma, um drama sombrio que captura o espectador e nunca o
deixa relaxar, não sobre batalhas em tela, mas sobre as críveis
reações dos personagens a uma real situação de guerra. Um
clássico da série!
(NOTA: A temporada
abre com um arco de seis episódios que culmina com a recuperação
da estação pela Federação. Se incluirmos o final da
temporada passada em “Call To Arms” em que a estação
foi perdida e o prólogo da guerra em “In The Cards”
chegamos fácil a um arco continuo com oito episódios. Algo
absolutamente inédito para Jornada.)
"Rocks and
Shoals" (****)
Mais um clássico
episódio, em que Sisko e cia. (dando seqüência aos eventos
finais de "A Time To Stand") se vêem
acidentados em um planeta onde também caiu um grupo de
soldados Jem’Hadar com o seu Vorta à beira da morte. O
Vorta não poderá controlar os seus soldados por muito mais
tempo, pois o seu suprimento de Ketracel White --droga
fundamental para a estabilidade e obediência dos Jem'Hadar--
está acabando. Então o Vorta (de nome Keevan, vivido de
forma odiosa e genial por Christopher Shea) oferece a Sisko o
plano de ataque dos seus soldados e em troca da ajuda de Sisko
em se livrar de seus comandados ele promete um transmissor que
pode se reparado por O'Brien para tirar todos os sobreviventes
dali. Sisko aceita a oferta, mas ainda tenta dissuadir o líder
dos Jem'Hadar (de nome Remata'Klan, vivido brilhantemente por
Phil Morris) e buscar uma alternativa. Não conseguindo,
devido à nobreza dos Jem'Hadar e sua obediência à
"ordem das coisas", os Jem'Hadar acabam por atacar e
são exterminados pelo pessoal de Sisko. Quando a poeira
abaixa e ninguém mais se mexe chega Keevan, com o
transmissor, e diz que se ele tivesse apenas mais algumas
ampolas de "White", Sisko e seus homens é que
estariam todos mortos estirados no chão. Uma trágica história
que faz dos Jem'Hadar (aqui em sua melhor hora em toda a série)
criaturas extremamente complexas com as quais podemos de fato
simpatizar, um admirável feito do roteirista Ronald D. Moore.
Ao mesmo tempo, na
estação Deep Space Nine, temos uma história secundária em
que Kira começa a se sentir como uma burocrata
"Colaboradora" do Dominion e a ver iminente no
horizonte o fantasma de uma nova Ocupação Bajoriana. Após o
suicídio público da Vedek Yassim (que se enforca em pleno
Promenade, tendo para últimas palavras: "O mal tem que
ser combatido!"), Kira tem certeza que tem que fazer algo
a respeito e inicia um movimento de resistência com Odo. História
também brilhante, como a principal, compacto e denso
material, muito fiel ao âmago dos personagens envolvidos. A
direção extremamente visual de Mike Vejar é brilhante.
"Sons and
Daughters" (*)
O filho de Worf,
Alexander Rozhenko (agora um adolescente vivido por Marc
Worden), decide se alistar no esforço de guerra contra o
Dominion e é designado para a nave de Martok, a Rotarran. Uma
história que tinha por objetivo reavaliar as decisões
passadas de Worf como pai naufraga vergonhosamente, primeiro
por que os motivos de Alexander para se tornar um guerreiro
nunca são feitos claros (o que seria absolutamente necessário,
pois o personagem sempre quis justamente o contrário em suas
aparições anteriores em A Nova Geração) e em
segundo lugar as demonstrações da falta de habilidade de
Alexander para a vida de um guerreiro são exageradas,
beirando o completo pastelão (deixando os espectadores a
imaginar exatamente como ele conseguiu se alistar em primeiro
lugar).
Uma história
paralela envolvendo a reaproximação entre Zyial (vinda de
Bajor) e Dukat tem mais sorte, ainda assim nada que brilhe no
escuro. Dukat parece decidido a reconquistar a filha (que ele
deixou para morrer em “By Inferno’s Light”) e
também Kira, usando a relação entre elas para conquistar
uma depois outra. Uma cena deliciosa é quando Kira recusa um
presente de Dukat que fica desapontado só para em seguida,
virar o rosto, abrir um largo sorriso e dar o presente a Zyial
reconquistando-a Dukat, como sempre, o “herói de sua própria
história”.
"Behind
the Lines" (***1/2)
Como
primeiro ato da célula de resistência de Kira, uma briga
fenomenal no bar do Quark entre Cardassianos e soldados Jem’Hadar
leva a algumas mortes dos dois lados. Quark (cansado de sua
neutralidade) informa a Kira e cia. Que um bêbado Damar
deixou escapar que o campo minado que bloqueia a passagem pela
fenda espacial está para ser derrubado. Rom se oferece para
sabotar tais esforços enquanto Odo lhe dá cobertura. Para
piorar as coisas a Fundadora (Salome Jens) chega a estação e
Odo acaba formando um “elo” com ela. Kira fica furiosa e
ao mesmo tempo apavorada com a perspectiva de “perder” Odo.
Odo promete que não vai repetir o gesto, mas já começa a se
mostrar indiferente a toda a situação. Odo falha em dar
cobertura a Rom, que não completa a missão e é preso. O
comissário neste exato momento realizava um novo “Elo”
com a Fundadora. Mais tarde diz na cara de Kira com toda a
calma que “não pareceu importante”.
A participação
ativa de Quark e o iminente desmantelamento do campo minado
por parte de Dukat e cia. são excelente preparação para os
episódios posteriores. A “Queda de Odo” vista aqui é
nada menos que espetacular (Auberjonois e Jens são ótimos
juntos em cenas que trazem grande senso de deslumbramento
sobre a natureza do “Grande Elo”), ainda que tenha se
mostrado “demais” para os roteiristas lidarem
posteriormente.
Uma excelente história
secundária completa o segmento. Sisko é designado como
adjunto do almirante Ross para estabelecer estratégias
globais para a guerra. As cenas em que Sisko vê a Defiant
partir para uma missão arriscada sob o comando de Dax e
depois retornar com sucesso são simplesmente maravilhosas.
"Favor the
Bold" (***1/2)
O segmento é em
suma um grande posicionamento de peças para a conclusão do
arco no episódio seguinte: Sisko convence o comando da Frota
Estelar a mobilizar algumas das suas maiores Frotas de naves
para retomar DS9 (o principal ponto estratégico do quadrante
por ficar na borda da fenda espacial), Odo introduzindo a
Fundadora ao “sexo sólido” (!) e ficando assustado por
ter passado três dias nos seus aposentos sem perceber, Kira
dizendo a Odo que a relação entre os dois está “muito além
de um pedido de desculpas” (além de “limpar o chão”
com o Damar), Dukat mostrando cada vez a necessidade de ter
algum tipo de validação para os seus atos (vendo em Zyial o
último refúgio de tal aprovação, por ela ser sua filha e
também parte Bajoriana), Quark cada vez mais decidido a
ajudar (principalmente agora com a iminente execução de Rom)
e até mesmo Morn levando para Sisko a mensagem da iminente
queda do campo minado.
Uma cena se
destaca em que Sisko (falando ao almirante Ross) afirma seu
amor por Bajor e diz que está decidido a estabelecer residência
no planeta e viver lá todos os dias que puder. Como uma sólida
preparação o segmento funciona como poucos.
"Sacrifice
of Angels" (***1/2)
Uma frota de cerca
de 600 naves Federadas sob o comando de Sisko a bordo da
Defiant se encontram com uma barricada (!?) de naves da aliança
do Dominion com o dobro de naves. Sisko usa uma estratégia
para furar as linhas inimigas que Dukat na estação planeja
usar contra ele e sufocar os seus esforços.
Damar prende Kira,
Jake e Leeta junto com Rom. Odo fica sabendo pela Fundadora da
próxima execução de Kira e parece despertar do torpor
provocado pelo “Elo”. Sisko lidera um grupo de naves que
se infiltra nas linhas inimigas, quando a Defiant parece que
vai ser esmagada, uma frota de naves Klingons (trazida de última
hora por Martok e Worf) começa a atacar o flanco da Frota do
Dominion dando a chance da Defiant furar o bloqueio e rumar
para a estação. Dukat ordena que nenhuma nave vá atrás
dela, a estação é mais do que páreo para a Defiant.
Quark recruta a
ajuda de Zyial e consegue livrar Kira e cia. do xadrez. Kira e
Rom decidem desabilitar as armas da estação para impedir a
detonação das minas no que são ajudados em cima da hora por
Odo e a sua força de segurança Bajoriana. Infelizmente Rom
desativa as armas um segundo tarde demais. Mesmo com a queda
do campo minado e decidido a retardar de qualquer maneira os
reforços inimigos vindos do Quadrante Gama, Sisko entra na
Fenda Espacial.
Sisko tem uma visão
dos Profetas, que não querem deixar que ele cometa suicídio.
O capitão acaba por convence-los a ajudar Bajor. Eles decidem
ajudar, mas avisam Sisko que ele terá que pagar uma
"pena" por causa disto e que ele nunca encontrará
paz em Bajor, apesar de "ser de Bajor". Os Profetas
fazem desaparecer a Frota do Dominion e fecham a Fenda
espacial (que só reabriria com o final da guerra e da série).
A Defiant emerge
sozinha da Fenda espacial, para desespero de Dukat. Mais naves
da Federação se livram do bloqueio e Weyoum (percebendo que
os reforços não virão do Quadrante Gama e com uma estação
incapacitada) ordena a retirada das forças do Dominion de DS9
(rumo ao território Cardassiano). Com a segunda perda deste
comando e com a morte de sua filha Zyial (que morre pelas mãos
de Damar, após ser descoberta a sua traição), ele tem um
colapso mental (sendo o único soldado da aliança do Dominion
a ficar para trás). Ele devolve a bola de beisebol a Sisko,
dizendo que o perdoa (ou seria Zyial?), que retoma finalmente
o comando de DS9.
“Sacrifice”
funciona como um delicioso thriller de ação (de execução
impecável nestes termos e com talvez os melhores efeitos
visuais de batalhas espaciais vistos na TV Americana até a época
de sua exibição original), mas está muito longe de ser uma
coerente conseqüência dramática para o que veio antes. Não
é difícil identificar várias conveniências (e outros
problemas) de trama na descrição acima (existem de fato
ainda outras) e uma extrema falha com relação aos
personagens na súbita mudança de atitude de Odo,
principalmente por “Behind The Lines” parecer
tornar o comissário tão (extremamente) distante de Kira e
dos demais.
(O acerto de
contas entre Odo e Kira seria reduzido a uma literal
“conversa dentro do armário” no episódio seguinte e o
assunto posteriormente esquecido.)
Apesar deste grave
senão, que acaba sendo talvez o maior problema de todo este
arco (ao lado de “Sons And Daughters” praticamente
todo, é claro), não deve passar sem registro o que acontece
com os personagens de Sisko e Dukat no segmento. É, sobretudo
fascinante observar como a ajuda que Sisko pede aos Profetas
aqui acaba selando o destino do capitão (e de Dukat), como os
próprios deuses de Bajor dizem a ele. Senão vejamos, tal
ajuda leva a queda de Dukat no abismo da loucura, que o leva
ao papel de Emissário dos Pagh-Wraiths e daí ao confronto
definitivo (e mortal) entre os dois no episódio final da série.
"You Are
Cordially Invited" (***)
Funciona
perfeitamente como um bom "episódio-evento" (o
casamento Klingon entre Jadzia e Worf) e os valores de produção
não decepcionam (nada mais que isto). A história é aquela
"típica história de casamento" que é desmarcado e
remarcado seguidamente durante o curso do segmento. Jadzia tem
que provar, para a esposa do general (de nome Sirella e vivida
por Shannon Cochran), que é digna de entrar para a "Casa
de Martok" (da qual Worf agora faz parte). O que ela
acaba conseguindo, com alguma dificuldade (especialmente
devido ao "gênio forte" dela e de Sirella), após
uma conversa com Sisko.
Worf, Martok,
Sisko, Bashir, O'Brien e Alexander por sua vez, se envolvem em
uma espécie de "despedida de solteiro Klingon", que
é obviamente uma sucessão de rituais de dor e sofrimento.
Jadzia também teve uma despedida de solteira, com direito a
danças tribais e engolidores de fogo. Os votos são bonitos e
acabam tendo um interessante "payoff" mais à frente
na temporada em "Change of Heart". É ótima
a idéia de Bashir e O'Brien golpeando Worf com imensos
porretes (somente o som, já sobre os créditos finais).
"Resurrection"
(SEM ESTRELAS)
Bem, os
"Amigos e Amigas do [falecido] Vedek Bareil"
conseguiram finalmente traze-lo de volta a série (ao menos de
certa forma). Neste segmento, Mirror-Bareil (Philip Anglim)
cruza do "universo do espelho" para o "nosso
universo" deixando a major Kira com dificuldades para
entender os seus sentimentos. O que poderia ser uma
interessante Jornada espiritual de um ladrão para abraçar a
religião Bajoriana ou para encontrar redenção de alguma
forma, se transforma em um exercício de previsibilidade com a
chegada da Intendente (Mirror-Kira) que simplesmente está
usando o Mirror-Bareil para roubar um Orb e conseguir uma
vantagem tática (prever o futuro) no seu universo (se o Orb
iria funcionar ou não nestas condições, isto é
desconhecido).
A conclusão é
covarde e banal, com o Mirror-Bareil não roubando o Orb, mas
voltando ao seu universo com a Intendente. O segmento não
modifica nada em nenhum dos dois universos no presente e
tampouco no futuro, não é relevante para nenhum arco de história
e joga ainda mais para escanteio os assuntos pendentes entre
Kira e Odo. Absolutamente lastimável hora de televisão!
"Statistical
Probabilities" (***1/2)
Chegam
a estação Jack, Lauren, Patrick e Sarina, quatro humanos
(usualmente chamados de “Jack Pack” pelos fãs da série)
geneticamente aperfeiçoados (e brilhantes) como Bashir, mas
sofredores (ao contrário de Bashir) de graves efeitos
colaterais devido a tal procedimento, o que os torna
clinicamente insanos. Bashir decide dar a eles “algo o que
fazer”, sendo a falta de um papel na sociedade algo grave
para pessoas como eles. Previsões probabilísticas e projeções
sobre a dinâmica da guerra com o Dominion são feitas pelos
cinco em um período de dias em comparação aos meses que
levariam os especialistas do escritório de inteligência da
Frota. Tudo vai bem até eles chegarem a conclusão que a
derrota é iminente e a Federação deve se render já e
perder “apenas” dois bilhões de vidas no processo...
O episódio
apresenta com clareza a partir deste ponto a megalomania que
brota naturalmente de tais pessoas geneticamente aperfeiçoadas
e do por que a população teme-las e haver leis regulando as
práticas ligadas a sua criação. Bashir é pego na intenção
de socializa-los e na própria arrogância partilhada pelo
quinteto, não percebe isto até quase ser tarde demais, até
quase Jack passar informações confidenciais para Weyoum e
Damar (em missão diplomática na estação) de forma a
permitir uma “vitória rápida do Dominion que pouparia
centenas de milhões de vidas”. Sarina acaba avisando Bashir
que impede que isto ocorra em cima da hora, ficando Jack com
cara de tolo por perceber não ter conseguido levar em conta
nem as lealdades de alguém que ele conhece há anos.
Toca em aspectos
interessantes da sociedade Federada, oferece uma visão
alternativa da guerra e acaba resgatando diversos temas de Jornada
Clássica, apesar de ficar a dúvida sobre a sanidade
mental de quem deixou material confidencial sobre uma guerra
terrível como esta nas mãos de um bando de malucos.
"The
Magnificent Ferengi" (***)
Esta (com as
devidas desculpas antecipadas ao falecido Akira Kurosawa)
"Versão Ferengi para 'Os Sete Samurais' " (TM), tem
uma das mais absurdas histórias de toda a série, que acaba
funcionando milagrosamente (e inexplicavelmente) como um boa e
agradável hora de televisão. Vejamos a (?!) história: o
Dominion rapta (por motivos desconhecidos e aparentemente
inexplicáveis) Ishka (a mãe de Quark e Rom); Zek (o grande
Nagus Ferengi e namorado de Ishka) oferece uma boa recompensa
para quem conseguir libertar a sua amada; Quark monta uma
"equipe de resgate" formada por Rom, Nog, Leck (um
espécie de assassino de aluguel atrapalhado), Gaila (primo de
Quark, visto em "Business As Usual" da quinta
temporada) e (claro) Brunt (que oferece a sua nave na esperança
de conseguir algum favor junto ao Nagus), os quais somados a
Ishka dão os tais "sete Ferengis"; Quark convence a
Frota e ao Dominion a fazer uma "troca de
prisioneiros", Keevan (o odioso Vorta de "Rocks
And Shoals") pela mãe de Quark e a troca de
prisioneiros se dará em Empok Nor (a estação gêmea e
abandonada de DS9 vista em "Empok Nor" da quinta
temporada) sob os auspícios do Vorta Yelgrun (vivido por Iggy
Pop e O AUTOR NÃO ESTÁ BRINCANDO QUANTO A ISTO!). Tal
absurdo se encerra com Keevan morto (com o cadáver animado
por estimuladores neurais - no melhor estilo do filme
"Weekend at Bernie's" - continuamente dando de cara
em uma parede ao final do episódio), Ishka recuperada e
Yelgrun como prisioneiro da Federação. Nada disto faz algum
sentido, mas esta é a história e só de escrevê-la já são
dadas boas risadas.
"Waltz"
(***1/2)
A nave estelar que
transporta Sisko e Dukat, rumando para o julgamento do
Cardassiano, é atacada pelos Jem’Hadar. Dukat consegue
pilotar uma nave auxiliar e salvar a vida do capitão
Federado, este com graves queimaduras e um braço com múltiplas
fraturas. Dukat ativa um transmissor com um sinal de socorro
genérico, e começa a conversar com Sisko a espera do resgate
e à medida que seus demônios interiores afloram (ele tem visões
que tomam forma de Weyoun, Damar e Kira), a real face do
Cardassiano se mostra para Sisko.
O cenário é
incrivelmente simples, mas tanto o texto cheio de nuances de
detalhes de Ron Moore, a direção criativa de Auberjonois e
as performances excepcionais de Alaimo e Brooks são de uma
complexidade admirável. Talvez entrar na mente de alguém
como Dukat seja uma coisa abominável para a maioria das
pessoas (mesmo ficar perto dele já seja temerário para
muitos). Talvez mais repulsivo ainda seja perceber encontrar
alguma qualidade redentora em um homem que admite o ódio que
o Cardassiano admite aqui. E fascinante simplificar um
personagem tão complexo e ainda assim presenciar tão
complexa exibição.
Ao final, Dukat
consegue escapar jurando vingança contra o povo que um dia
oprimiu. Sisko jura, custe o que custar, não deixar Dukat
ferir Bajor novamente. Ambos seguiram o caminho de tais
escolhas até o seu amargo fim.
"Who
Mourns for Morn?" (**)
"Who
Mourns for Morn?" Tinha tudo para se tornar um clássico,
começando pelo título bem sacado e o memorial do personagem
Morn, logo em seu início (com direito a um absurdo discurso
de Quark). Depois deriva em todos os clichês possíveis das
histórias de "Gangs de ladrões que se reúnem depois de
muito tempo para recuperar o produto de um antigo e último
roubo" (começam a aparecer os antigos comparsas de Morn
na estação procurando por ele e sempre dando desculpas
esfarrapadas, obviamente querendo saber onde Morn - que
obviamente não está morto - escondeu o produto
"perdido" do roubo, tudo muito transparente e óbvio,
exceto para o Quark talvez); sem muita energia, sem muitas
surpresas, previsível a maior parte do tempo. Um episódio
fraco, na melhor das hipóteses.
(Mark Allan
Shephard SEMPRE "interpretou" Morn, mascote oficial
de DS9, que nunca pronunciou uma palavra em cena --
apesar de ter a fama de falastrão fora dela -- daí sempre
recebendo como um extra, apesar do esforço envolvido devido a
complexa maquiagem do personagem. O nome "Morn" vem
do nome "Norm" de um personagem da série de comédia
"Cheers", que era justamente ambientada em um bar.)
"Far
Beyond the Stars" (****)
Quando a força de
vontade de Sisko começa a falhar frente à devastação
trazida pela guerra, o capitão sofre uma espécie de desmaio,
e os Profetas lhe enviam uma visão em que ele é um escritor
negro de ficção científica dos anos 1950 de nome Benny
Russell que quer escrever, pasmem, Deep Space Nine. Os atores
de DS9, sem maquiagem, povoam o cenário do Harlem onde se
passa a história. Os personagens vividos pelos atores de Kira
(uma escritora que finge ser um homem devido ao preconceito no
meio), Bashir (também escritor e seu marido), O’Brien (um
escritor perito em histórias de robôs), Quark (um escritor
com aparentes conexões comunistas), Dax (a secretária linda
e burra), Martok (o desenhista) e Odo (o editor) trabalham na
mesma revista (“Incredible Tales”) que Benny. O personagem
do ator de Nog trabalha em uma banca de jornal, o de Worf é
um jogador de beisebol, a personagem da atriz de Kasidy Yates
trabalha em um restaurante e é a namorada de Benny, o
personagem do ator de Jake (que não é filho de Benny) é um
pequeno trambiqueiro, os personagens dos atores de Weyoum e
Dukat são dois policiais racistas e o personagem do ator do
pai de Sisko (Joseph Sisko) é um pastor das ruas.
Um
desenho estilizado da perspectiva do espectador da estação
DS9, chama a atenção de Benny que escreve uma história
sobre a mesma e o seu capitão negro. Seu editor diz que não
pode publicar uma história com um herói negro e lhe passa
outra tarefa lhe prometendo uma capa. Benny começa a ter
flashes dele se vendo como Sisko e acha que está
enlouquecendo, mas mesmo contra todo o bom senso, ele escreve
mais seis histórias sobre DS9. Seu editor fica furioso, mas
acaba aceitando a idéia do restante da equipe de fazer a
primeira história um sonho de um menino negro e seguir a
partir daí. Benny concorda e aguarda o dia da publicação da
edição com sua história da estação espacial.
Ele sai para
comemorar com sua namorada e mais tarde ao ouvir um tiro ele
corre temendo o pior e perguntando o que houve, ele vê
“Jake” morto, tendo sido atingido pela polícia ao ser
pego tentando roubar um carro. Ao agredir um dos dois
policiais, ele é massacrado por ambos (cujas imagens acabam
sendo misturadas em cena com a dos reais Weyoum e Dukat).
Algum tempo depois, ainda se recuperando da épica surra, ele
aguarda na redação com os demais colegas seu editor com a
nova edição da revista. “Odo” anuncia que o dono da
revista ordenou a destruição de todo o número e antes que
os protestos sobre isto aumentassem entre os empregados, ele
também anunciou que Benny estava demitido. Benny não
consegue mais se controlar e tem um colapso nervoso, dizendo
que eles podem nega-lo o quanto quiserem, mas não podem negar
Ben Sisko, a sua idéia, pois “não se pode destruir uma idéia”.
Benny parte em uma ambulância para uma instituição, ele
acorda e percebe ao seu lado o pastor, que já havia aparecido
para ele nas ruas e dito que ele devia “escrever as
palavras”. Ele se vê com o uniforme de Sisko e “estrelas
em dobra” na janela traseira da ambulância, como em uma
nave estelar. “O sonho e o sonhador” reponde o pastor a
pergunta de Benny sobre quem ele é. Sisko finalmente acorda
na enfermaria para felicidade dos seus amigos e familiares.
Impecavelmente
produzido e dirigido pelo próprio Avery Brooks, o segmento
tem grande valor de entretenimento pela total quebra de
formato e ousadia somente, seu enfoque sobre o racismo é
perspicaz e, na maior parte do tempo, bastante sutil. Mas não
se resume a isto. Infelizmente muitos vêem a significância
de “Far Beyond The Stars” simplesmente como um
conto sobre o racismo. Na realidade o segmento tem um
significado mais simples e provavelmente mais abrangente do
que este. Como apresentado em sua resolução, ele é sobre
manter os nossos sonhos vivos e “lutar a boa luta”, até o
final. Partindo do pressuposto que se uma idéia foi
concebida, ela não pode destruída, ela passa a existir por
si só de alguma maneira. O segmento é uma homenagem a todos
os “Benny Russell” que sonharam o nosso mundo e nos
inspiraram a sonhar um futuro, sonhar, quem sabe, com
“tempos que valerão a pena serem vividos”. A cena final
é talvez a mais mágica de todas as Jornadas em que
Sisko olha o espaço ao longe e no lugar da sua imagem vemos a
de Benny. Sisko não pode evitar pensar se DS9 (e todo o seu
universo ficcional) não seria simplesmente fruto da imaginação
de Benny ao invés do contrário. A algo tão tocante neste
“infinito círculo de reflexos entre um sonho e um
sonhador”, que qualquer comentário parece incompleto ao
tentar descreve-lo.
"One
Little Ship" (***)
Este segmento, que
poderia ser facilmente descrito em uma tacada só como:
"Querido [Worf], eu encolhi o Explorador". Tem
provavelmente a história MAIS ABSURDA de toda a série e
talvez de toda a história de Jornada Nas Estrelas. A
Defiant envia, mantendo uma trava de raio trator, o Explorador
Rubicon para o interior de uma anomalia gravitacional (cujas
propriedades de fato reduzem as dimensões da nave auxiliar).
Atacada pelos Jem'Hadar, a Defiant é abordada, o raio trator
se rompe e o Rubicon (com Jadzia, O'Brien e Bashir a bordo),
voltando da anomalia por um caminho diferente do que seguiu
para entrar, permanece miniaturizado (miniaturizado no melhor
"estilo Terra de Gigantes"). Daí a história se
torna como Jadzia e Cia. vão levar o explorador para o
interior da Defiant e ajudar Sisko e Cia. a retomar a nave do
comando dos soldados do Dominion.
O episódio
funciona por não se levar a sério em nenhum momento (isso
seria a sua completa ruína, em virtude da sua premissa
inicial, que é, aliás, ridicularizada pelos próprios
personagens na primeira cena) e dos absolutamente EXCEPCIONAIS
efeitos visuais. Este episódio merece ser assistido nem que
seja só pra presenciar a mágica que o mestre Gary Hutzel
consegue fazer com modelos! Um bom episódio que costuma
deixar um inexplicável sorriso na boca dos fãs.
"Honor
Among Thieves" (***)
O’Brien recebe a
missão de se infiltrar no Sindicato Orion (organização
citada em “The Ascent” e “Simple Investigation”
da quinta temporada) a serviço da inteligência da Frota. O
chefe acaba fazendo amizade com Bilby (Nick Tate) que hipoteca
sua palavra para colocar Miles “na família”. O’Brien
confirma que o Dominion pretende usar o pequeno grupo de Bilby
para provar intriga dentro do governo Klingon através de um
atentado a embaixada local. Os Klingons são avisados e
aguardam para massacrar os mafiosos. O’Brien, entretanto
desenvolveu um grande afeto por Bilby, um homem de família
assim como ele, apesar dos crimes. Ele avisa Bilby que fica
chocado. Se ele for ao atentado ele está morto, se ele não
for, a traição de O’Brien virá a tona e ele também estará
morto (por ter empenhado a palavra pelo chefe), assim como
toda a sua família. Ele decide preservar a vida dos seus e
vai ao encontro da morte, pedindo que O’Brien tome conta do
seu gato, Chester. Uma premissa muito pouco original, mas que
rende belos dividendos dramáticos graças as excepcionais
atuações de Meaney e Tate, que tornam reais todas as cenas e
como realmente genuína a amizade que cresceu entre os seus
personagens. Um belo drama.
"Change of
Heart" (***)
Dax
e Worf são enviados em uma missão para se encontrarem com um
Cardassiano que quer desertar e conseguir asilo Federado,
tendo como peça de barganha os nomes das personalidades do
quadrante Alfa que foram substituídas por Fundadores.
Importantíssima informação estratégica. Dax se fere na
selva e é em última instância deixada na selva por Worf
para morrer enquanto o Klingon vai para encontrar o
informante. Porém Worf muda de idéia a caminho e acaba por
voltar para salvar a sua esposa, deixando o Cardassiano para a
morte certa nas mãos das autoridades do seu governo.
A história aqui
é muito simples e recheada de momentos pra lá de mundanos,
se deve admitir, mas o que diz em última instância, em uma
bela cena de conclusão com Sisko, é bastante válido. Worf
diz finalmente entender o sentido dos seus votos de casamento
em “You Are Cordially Invited” e mostra realmente
que ama Jadzia (pela primeira vez na série a relação dos
dois parece de fato fazer sentido). A ausência de uma corte
marcial por motivos de segurança e a certeza de que Worf
nunca vai ser promovido a uma posição de comando devido as
suas ações são bastante adequadas dadas as circunstâncias.
(Apesar dos
mencionados méritos do segmento é uma pena que um assunto
que deveria ser tão importante como o dos Fundadores
infiltrados no seio da Aliança Federada tenha se tornado tão
secundário para a série.)
"Wrongs
Darker Than Death or Night" (*)
No dia do aniversário
de sua falecida mãe, Kira Meru, a major Kira Nerys recebe uma
mensagem de Dukat dizendo que ele e Meru foram amantes nos
tempos da Ocupação, algo no que Kira não consegue
acreditar. Decidida a descobrir a verdade, ela convence Sisko
a permitir a utilização do Orb do tempo, que a envia ao
passado e onde descobre que de fato sua mãe (ao contrário da
história contada por seu pai) foi “recrutada” como uma
espécie de odalisca, para o harém dos militares Cardassianos
em troca de melhores condições de vida para o seu marido,
uma pequena Nerys com os seus três anos e seus dois irmãos
de colo. Nerys também é recrutada como “acompanhante”
estacionada em Terok Nor, sob o comando de Dukat. Meru fica
fascinada com o relativo luxo de sua vida na estação e se
torna uma presa fácil para o charmoso Dukat que a acolhe como
sua amante oficial. Kira não tolera muito tempo esta situação
e acaba se envolvendo com a resistência daquela época que
lhe dá uma missão de colocar uma bomba nos aposentos de
Dukat para amtar o Cardassiano (e a sua mãe no processo).
Nerys muda de opinião no último momento e acaba salvando
Meru (e por tabela Dukat) da explosão. Apesar disto, de volta
ao presente, Nerys diz a Sisko ser incapaz de perdoar a sua mãe.
O dispositivo de
trama que coloca esta história em movimento também acaba com
qualquer tentativa dramática do mesmo. Se Nerys está
recebendo somente visões (ou recriações) do passado e não
vai poder altera-lo apesar de sua aparente interação com o
mesmo, então a história está estruturada do jeito mais inócuo
e pouco criativo possível, pois simplesmente história não
pode ser de Kira, por que ela não é fato parte dela. Se de
fato Kira podia mudar o passado (possibilidade que parece que
ela nega de saída), então só podemos admitir que os
religiosos Bajorianos, Sisko e talvez os próprios Profetas
sejam todos loucos em permitir tal coisa em primeiro lugar. Um
fatal erro que leva imediatamente o segmento para o poço da
completa e total indiferença. Lamentável!
"Inquisition"
(***1/2)
Sloan
(um estelar William Sadler) e seus ajudantes da
“corregedoria da Frota Estelar” chegam a DS9 para checar
uma recente brecha na segurança. Seus métodos a princípio são
severos, porém aparentemente legítimos, mas uma crescente
fixação do agente em Bashir começa a trazer um senso de
inquietação no ar. Sloan começa a utilizar eventos passados
da vida de Bashir (em um absurdo show de continuidade do
roteiro) para construir uma complexa e verossímil acusação
contra Julian. Ele diz que o doutor é na realidade um espião
programado pelo Dominion e (pior) que não sabe que foi
programado, se tornando um espião perfeito. A acusações de
Sloan vão se tornando tão convincentes que mesmo a tripulação
de DS9 começa ter problemas em acreditar na falsidade das
mesmas, justo quando sloan decide levar Bashir da estação,
ele é transportado a bordo de uma nave do Dominion comandada
por Weyoum que de fato confirma que ele é um espião, Bashir
acha que o Vorta e Sloan estão conspirando juntos, mas antes
de explorar tal teoria ele é “salvo” pela Defiant só
para ser jogado dentro do xadrez a espera de transferência,
sua culpa parece inequívoca. Eis que Bashir percebe a ausência
de uma séria contusão em O’Brien, o que denuncia a
irrealidade da situação.
Neste momento
termina a simulação mostrada em tela até aquele momento e
surge o interior de um holodeck. Sloan e os seus homens são
na realidade membros de uma organização clandestina dentro
da Federação, referida somente como SEÇÃO31. Sloan abduziu
Bashir para testar suas habilidades e lealdades para a Federação
e avisa ao doutor que ele passou e pode receber uma missão a
qualquer momento, o que deixa Bashir chocado com o
descaramento. Ao final, após o doutor voltar a estação,
Sisko diz que o comando da Frota não nega nem confirma a
existência de tal agenda, ao mesmo tempo em que apura que
existia de fato uma divisão com tal nome na carta original de
compromissos da Federação, mas nenhuma confirmação além
disto. O capitão aconselha Bashir a aceitar a tal “missão”
se ele vier para que eles possam saber mais tal organização.
A trama é
excelente, suportando múltiplas assistidas, as caracterizações
muito realistas (e contidas) idem e o conceito da SEÇÃO31
absolutamente brilhante, um produto da mente de Ira Behr a
respeito da famosa frase de Sisko, “É fácil ser santo no
paraíso”, de “The Maquis II”. Behr pensou sobre
quem mantém o paraíso na Terra, sobre quem mantém toda a
sujeira longe dele. Daí surgiu a idéia da Agência.
"In the
Pale Moonlight" (****)
Saibam tudo sobre
este clássico episódio aqui.
"His Way"
(***)
Vic Fontaine, um
cantor holográfico de uma boate ambientada em Las Vegas em
1962, o mais sofisticado programa de entretenimento de Bashir
utilizado nas holosuites do Quark's, decide dar lições a Odo
sobre como conquistar o coração de Kira Nerys. Este episódio
é basicamente uma comédia de situação com muita (boa) música
e grande estilo, mas sem muita substância (especialmente se
comparado a outros segmentos que tratam do relacionamento do
comissário e da major, notadamente "Children Of
Time" da quinta temporada e "Chimera" da sétima
temporada). Neste episódio rola o primeiro beijo entre Odo e
Kira. Destaques para Nana Visitor interpretando "Fever"
e a presença do sempre carismático e talentoso James Darren,
como Vic Fontaine (que voltaria ao papel no curso da série).
"The
Reckoning" (***)
Guiado
por uma visão e por misteriosos rompantes, Sisko traz a bordo
de DS9 um antigo artefato Bajoriano, que ele próprio destrói
posteriormente, libertando um Profeta e um Pagh-Wraith, que
tomam os corpos de Kira e Jake respectivamente. No Promenade,
uma batalha titânica entre os dois seres (prevista em uma
antiga profecia como o evento que marcaria uma nova era de
ouro para Bajor em que “não seriam necessários Profetas ou
Emissários” e que fatalmente levaria a destruição da estação)
é interrompida por uma intervenção inesperada de Kai Winn (Sisko,
praticamente o único em uma estação já evacuada, não
interveio no conflito por não acreditar que os Profetas
deixariam que Jake fosse morto no duelo). O confronto
definitivo entre os Profetas e os Pagh-Wraiths havia sido
adiado (até onde se sabe) para o final da série.
Embora os valores
de produção e a atitude do segmento sejam discutíveis
(incluindo efeitos no “melhor estilo Poltergeist”), o
transparente melodrama épico que se desenvolve tem uma certa
pegada. Temas sobre o Emissário, revisitados por Jake, Kira e
o próprio Sisko ajudam ao segmento a ultrapassar algumas
(obviamente não todas) de suas limitações conceituais.
Apesar da incerteza quanto às motivações do ato final de
Winn aqui, as suas atitudes no segmento a colocam
perfeitamente no caminho sem retorno que levou a sua derrocada
ao final da série.
"Valiant"
(***)
A caminho de
Ferenginar (a bordo de um explorador), Jake e Nog são
atacados por um esquadrão Jem’Hadar e, obrigados a fugir,
acabam no lado do Dominion da atual frente de guerra e os dois
são salvos no último minuto pela Valiant, uma nave da classe
Defiant. A Valiant, operando há oito meses atrás das linhas
inimigas, tem como tripulação um bando de cadetes do Red
Squad (ver “Homefront” e “Paradise Lost” da
quarta temporada) que receberam promoções de campo com a
morte dos seus oficiais supervisores (a nave originalmente
estava em uma missão de treinamento). A tripulação conta
(entre outros) com o “capitão” Tim Watters, a
“comandante” Karen Farris e a “chefe” Dorian Collins.
Nog é
imediatamente promovido a tenente comandante e a engenheiro
chefe e consegue recuperar os motores de dobra da nave. A missão
original da Valiant era a de coletar informações sobre um
novo supercruzador do Dominion, o que agora eles acabam
conseguindo. Só que o “capitão” Watters (que já havia
dado indícios de um caráter autodestrutivo se mostrando um
viciado em estimulantes) decide que a nave deve ser destruída
já ainda em testes e decide (para total incredulidade de Jake)
explorar uma falha de projeto (aliás, muito similar à falha
de projeto da “Estrela da Morte” em “Star Wars”). O
ataque da Valiant não dá resultado e o supercruzador
contra-ataca de forma devastadora. Somente Jake, Nog e Collins
são salvos pela Defiant que capta o sinal de SOS.
Um episódio
bastante incomum, protagonizado pelo menos importante regular
e um recorrente, junto com um bando de crianças como
convidados (e nem todos estes jovens atores convidados
funcionam bem aqui, para dizer o mínimo). Apesar destas
particularidades e de alguns excessos nas atitudes dos
cadetes, um bom conto a respeito da distinção entre
“dever” e “heroísmo” emerge do segmento. Nog (e o seu
desejo de ser um importante oficial a todo preço) e Jake (o
mais longe possível de um militar na série) servem como
ponto e contraponto para tal discussão. Ao final, usando a
personagem mais simpática do Red Squad para mostrar que
apesar de tudo, ela ainda não conseguia ver o que realmente
tinha acontecido foi um grande final.
A direção de
Mike Vejar tem algumas falhas, notadamente na montagem de
preparação para a batalha que parece mais coisa refugada de
alguma paródia Trekker dos “Batutinhas”. Os efeitos
visuais, entretanto são excelentes.
"Profit
and Lace" (SEM ESTRELAS)
"Profit
and Lace", ou melhor, dizendo "DS9 apresenta, o
Bartender Quark, como 'Lumba - a Drag Queen Ferengi' ",
é talvez o pior episódio da série, vergonhoso e
constrangedor.
A sua "assim
chamada história" é algo assim: o grande Nagus Zek
decide permitir que as mulheres Ferengis possam usar roupas em
público e dai participar de negociações e lucrar com isto.
Obviamente Zek é imediatamente deposto devido ao seu
"ato subversivo" e Brunt é colocado temporariamente
em seu lugar. Zek e Ishka vêm a DS9 para pedir ajudar a Quark
e Rom, que acham que devem organizar imediatamente um seminário
para que Ishka demonstre suas habilidades financeiras em público,
algo que deve satisfazer aos membros da F.C.A. Somente um
negociador (de nome Nilva) concorda em comparecer
(aparentemente ele é o responsável pela "Coca Cola
Ferengi"). Nisto Ishka sofre um ataque cardíaco e um
transplante (?) e Quark sofre uma operação de mudança de
sexo para ocupar o seu lugar emergencialmente (!?) (não se
pode julgar Bashir por falta de ecletismo) e vira a
"outra conselheira" de Zek, Lumba.
Obviamente Nilva
fica tarado por Lumba, que tenta se esquivar do negociador
correndo em torno de uma mesa em uma das mais constrangedoras
cenas da história da franquia. Brunt confronta os dois
dizendo que "Lumba na realidade é Lumbo" (TM) o que
obriga Quark a "mostrar os documentos" a todos os
envolvidos, que Nilva atesta serem "suficientemente
femininos" para ele. Nilva acaba convencido mesmo sem
"fazer amor" com Lumba e o futuro de Zek fica
assegurado.
Parece ruim?
Acreditem, é muito pior!
"Time's
Orphan" (*)
Os O'Brien decidem
fazer um piquenique em um planeta conhecido próximo, Molly se
afasta dos seus pais e atravessa um portal temporal, vivendo
por 10 anos no passado daquele planeta. De volta, com 18 anos
e vivida por Michelle Krusiec, ela é incapaz de viver em
sociedade. Após muitas tentativas de tentar trazer Molly18
para o convívio social, os O'Brien tomam a dolorosa decisão
de leva-la de volta para "casa". De volta ao
passado, Molly18 mostra o caminho de volta a Molly8, que volta
aos seus pais, o que efetivamente apaga da existência a sua
versão mais velha.
Boa parte da
premissa do segmento parece largamente arbitrária,
notadamente a existência de tal "portal" em um
planeta conhecido e com propriedades tão especificas (Por que
não tentar examinar o "outro lado" antes de fazer o
procedimento do transporte para traze-la de volta? Por que não
mandar alguém em primeiro lugar para talvez olhar por ela?).
Partindo disto a maior parte das reações dos envolvidos é
crível, apesar de dificilmente tocantes, incluindo a decisão
final (Meaney trabalha muito bem como sempre, mas ele não é
mágico). O dilema moral de eliminar Molly18 em detrimento de
Molly8 é tirado das mãos dos O'Brien no final, em uma
conclusão que parece indistinguível de um reset-button
formal. Uma "fofinha", neutra e inofensiva história
secundária envolvendo Dax e Worf cuidando de Kirayoshi
completa o segmento. Ao lado de "Resurrection"
este é um dos episódios mais "fora de lugar" de
toda a temporada.
"The Sound
of Her Voice" (**)
Voltando de uma
missão a Defiant recebe um pedido de socorro de uma certa
capitão Lisa Cusak que se acidentou em uma planeta a dias de
distância da posição corrente de Sisko e cia. Cusak corre
perigo de vida devido a uma extremamente venenosa atmosfera
planetária. Durante a viagem de resgate da Defiant a sua
tripulação se reveza ao rádio com Cusak. Ao chegar ao local
eles encontram somente os restos mortais de Cusak, na
realidade as mensagens da capitão vinham de três anos no
passado devido a interferência da radiação nativa daquele
corpo celeste.
A idéia do episódio
é bastante clara em tentar trazer uma nova perspectiva a
estes personagens velhos conhecidos à medida que falam com
Cusak, o problema é que infelizmente o material como escrito
não é nem um pouco estimulante ou tocante e Cusak nunca se
torna alguém com quem a audiência possa realmente se
importar (que dirá lamentar pela sua morte). O que finalmente
coloca todo o segmento no caminho da mais perfeita indiferença.
A reviravolta do
cenário do resgate é mais gratuita do que qualquer outra
coisa, principalmente por não ter sido usada à noção do
deslocamento temporal implicitamente antes no episódio
(exatamente como ninguém a bordo da Defiant simplesmente não
pegou a ficha da capitão e “somou dois mais dois” é também
um completo mistério). A cena do memorial de Cusak ao final
é excessiva em apontar a certa morte de um dos membros da
tripulação no episódio seguinte (e curiosamente mesmo
assim, com tamanhos exageros, passa longe de ser comovente em
qualquer sentido e nível). Uma história secundária
envolvendo Quark e Odo, em que o comissário (devendo ao
Ferengi por uma ajuda com Kira) deixa Quark concretizar um dos
seus infames cambalachos ilegais é mais material neutro e
inofensivo.
"Tears of
the Prophets" (***1/2)
Sisko
recebe a medalha de honra Cristopher Pike das mãos do
almirante Ross. Ele é nomeado para liderar a bordo da Defiant
o ataque da Frota Aliada (Federação - Império Klingon - Império
Romulano) em Chin'toka (uma importante posição em território
Cardassiano). O capitão também recebe uma visão dos
Profetas que diz que ele não deve deixar DS9, pois algo terrível
irá acontecer. Ele ignora o aviso (devido à pressão de Ross)
e parte na missão. Dukat liberta um Pagh-Wraith que toma o
seu corpo. Ele vai a bordo de Deep Space Nine, fere Jadzia
mortalmente e liberta o Pagh-Wraith no Orb da contemplação
em exposição no templo da estação. Imediatamente a Fenda
espacial se fecha e todos os Orbs se apagam.
Os Profetas se
comunicam com Sisko à distância, que percebe a tragédia que
acaba de ocorrer na parte culminante de sua missão (que acaba
tendo sucesso). De volta a estação, com a perda de Jadzia e
o desaparecimento dos Profetas, Sisko está devastado. Ele
tira uma licença e volta a Terra com seu filho, levando a sua
bola de beisebol com ele, um sinal de que ele não sabia se
iria voltar ou não a DS9.
Pelo que faz pelo
seu principal personagem, o segmento encerra (apesar dos seus
problemas) a temporada com chave de ouro. Sisko é colocado
com uma decisão crucial nas mãos e ele falha com os Profetas
(e por conseqüência para com Bajor) e também com o seu
melhor amigo, algo que ele acaba não conseguindo mais
suportar. Toda a preparação por contraste apresentada (Quark
e Bashir se lamentando, com direito à deliciosa trilha
sonora, com Vic Fontaine, por terem “perdido” Jadzia e o
desejo de Worf e Dax de terem filhos, por exemplo), que
precede a morte de Jadzia, funciona muito bem. Inclusive as
circunstâncias (ou falta de circunstâncias) da morte da
Trill.
Luiz
Castanheira é editor do Trek Brasilis
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