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Que entre o Klingon!

Com a chegada da edição em DVD da quarta temporada de Deep Space Nine nos Estados Unidos nesta semana, torna-se oportuna uma examinada dos episódios que compõem tal pacote e cuja distribuição (em qualquer forma) em terras brasileiras ainda é incerta (as demais três temporadas da série saem respectivamente em outubro, novembro e dezembro deste ano na América, uma por mês, e todas terão oportunamente cobertura similar do Trek Brasilis).

Este artigo apresenta um formato deveras simples, se dividindo em uma primeira parte que é dedicada às perguntas mais freqüentemente feitas sobre esta quarta temporada de DS9 (FAQ) e uma segunda parte mais extensa, que trata da temporada, episódio a episódio (incluindo spoilers!)

FAQ da quarta temporada de Deep Space Nine:


Por que Worf se juntou ao elenco da DS9 (no primeiro episódio da quarta temporada, "The Way of the Warrior")?

Os executivos da Paramount pediram, em uma reunião com os produtores de DS9 antes do início da quarta temporada, por um elemento que viesse a trazer fãs antigos para a série (mas eles não disseram absolutamente nada sobre qual elemento seria este -- que é a postura-padrão dos executivos do estúdio nessas reuniões). A Paramount iria vender os direitos das reprises em syndication (cinco vezes por semana) ao final da quarta temporada e queria "reenergizar" a série para conseguir um melhor preço no mercado.

Ira Behr foi para casa para tentar racionalizar o pedido em algo que fosse possível e criativamente interessante e consistente com a série até então. Ele então se lembrou de uma fala de um Fundador (posando como o coronel Romulano Lovok), no episódio "The Die is Cast", da terceira temporada, que dizia que, após aquele momento, as únicas forças que poderiam fazer frente ao Dominion no quadrante Alpha eram a Federação e o Império Klingon, e mesmo essas duas forças não o seriam por muito tempo. Ira achou que deveria dar prosseguimento a essa ameaça. Ronald D. Moore gostou da idéia, mas os dois não conseguiram bolar um jeito de fazer tal coisa funcionar. Mais tarde foi que Behr conservou com Berman a este respeito, que se mostrou bastante entusiasmado e ainda sugeriu o nome de Worf. Behr foi meio cético no início, mas acabou topando a idéia já concebendo como seguir em cima do entusiasmo de Berman (cujas contribuições práticas em termos de história são normalmente mínimas). Os executivos aprovaram o conceito com louvor (eles tinham números que apontavam que audiência de Jornada costuma responder bem aos Klingons), tanto que autorizaram um orçamento extra, dando ares de um virtual segundo piloto para o episódio duplo (telefilme) "The Way of the Warrior".



Que o leitor entenda bem o que aconteceu. Behr não tinha a menor intenção de seguir esta rota (ao menos não da forma que foi feito - a "promessa" de "The Die Is Cast" poderia ser "cumprida" de uma infinidade de formas diferentes). Inicialmente, a terceira temporada iria terminar e a quarta começar com um episódio duplo, cuja história acabou se tornando os episódios "Homefront" e "Paradise Lost" desta quarta temporada. Depois, a terceira temporada iria terminar com "The Adversary" e a quarta começar com a mesma história em duas partes. Até que finalmente a história de paranóia envolvendo o Dominion tomou o seu lugar de direito mais à frente na temporada e "The Way Of The Warrior" tomou forma.

Um ano e meio mais tarde, em uma nova reunião com os executivos da Paramount, é que Behr trouxe a idéia de reformar a aliança entre o Império e a Federação. Os "engravatados" não se opuseram, uma vez que a presença Klingon não iria diminuir na série (eles só iriam mudar de lado). Somente ai Behr trouxe a série para o caminho que ele acreditava ser o mais correto. O mentor de DS9 deu um verdadeiro show de jogo de cintura, tirando o melhor de uma situação delicada, sempre se referindo a situação de forma bem-humorada e com uma atitude deveras positiva.

Quais foram as outras mudanças introduzidas na série na quarta temporada?

Foram feitas diversas mudanças cosméticas na série (muitas delas análogas a aquelas feitas no início da terceira temporada de A Nova Geração). A abertura foi modificada para incluir a Defiant e outros detalhes, como pequenos operários soldando o casco da estação em meio a uma nova versão do tema musical principal do programa. Jadzia é promovida a tenente comandante, Bashir é promovido a tenente (e Siddig El Fadil muda o seu nome artístico para Alexander Siddig), O'Brien recebe uma verdadeira insígnia de chefe de operações e Kira ganha um novo penteado e um novo uniforme, agora muito mais delicado e feminino, incluindo até infames sapatos de salto.

Talvez a mais comentada mudança de aparência tenha sido o novo visual de Sisko, careca e com cavanhaque. Algo que foi sem dúvida muito positivo para Avery Brooks que assim se sente muito mais à vontade. Worf mudou para a divisão de comando (uniforme vermelho) e assumiu a posição de "Oficial de Operações Estratégicas" de DS9 e de primeiro oficial da Defiant (algo importante para uma utilização mais racional da nave).

Quão boa é esta quarta temporada?

Curioso que uma "sacudida" tão extrema em uma série não tenha comprometido a sua integridade, e muito menos sua qualidade. Esta quarta temporada é a melhor de uma série de Jornada desde as duas primeiras da Série Clássica e sua qualidade sustentada, episódio a episódio, é realmente digna de nota.

Vinte e três episódios são pelo menos regulares e dos outros três, somente "The Muse" não traz absolutamente nenhuma qualidade. A "mistura de histórias" que engloba humor, ação, "ação de história em quadrinhos", sátira, paródia, drama, filosofia, batalhas espaciais, ficção científica e temas de relevância social se mostra vencedora e produzida com excelentes valores de produção e um infinitamente soberbo elenco.

Ira Steven Behr manteve Robert Hewitt Wolfe, Ronald D. Moore e René Echevarria a bordo da equipe de roteiristas. Behr trouxe ainda, como escriba, Hans Beimler, seu velho conhecido de outros carnavais (por exemplo, da terceira temporada de A Nova Geração, a melhor daquela série). Com esta equipe, e apesar da completa e abençoada ignorância dos executivos do estúdio, Behr começou a definitivamente deixar a marca de sua visão pessoal sobre Jornada nos anais da franquia.

Alguns especularam que DS9 iria se transformar na "série do comandante Worf", o que nem de longe aconteceu. O robusto modelo de legítima "série de elenco" de DS9 foi capaz de aceitar esta adição e distribuir os seus personagens em "protagonistas de fato" e fazer com que carregassem
a grande "mistura de histórias" como desenvolvida. Outros tantos especularam que DS9 se transformaria em uma série de "ação descerebrada" (o que "The Way Of The Warrior" não é de forma alguma, para começo de conversa).

A exibição logo em seguida de "The Visitor" calou imediatamente tal preocupação. O caráter eminente "orientado a personagem" da série e o carinho dos realizadores por Sisko, Kira, Odo, Garak e todos os demais, torna impossível que tal coisa aconteça assim desta forma. Obviamente nem tudo são flores e a certeza de Behr que o caminho de uma guerra total entre a Federação e o Império Klingon não deveria ser trilhado pela série, impede a criação de um óbvio arco global de história neste sentido, mas fincando o pé na noção de que o Dominion estava por trás de tais conflitos entre as duas maiores potências do Quadrante Alfa o tempo todo e que ele era o real inimigo, permitiu que a série voltasse ao seu eixo e mantivesse a sua consistência interna. A verdade sobre os acontecimentos de "The Way of the Warrior" começaria a vir à tona no primeiro episódio da quinta temporada, "Apocalypse Rising".

A Temporada, Episódio a episódio

"The Way Of The Warrior I & II" (****)


Com a crescente paranóia Klingon com relação ao Dominion, uma enorme força tarefa Imperial estaciona em DS9, apesar do seu comandante, general Martok (J. G. Hertzler, fazendo sua estréia com o seu personagem definitivo na série), se negar a dizer ao capitão Sisko, onde irão atacar. Preocupado, Sisko recruta o comandante Worf para que ele possa usar todos os seus contatos remanescentes com os do seu povo para tentar descobrir algo. O filho de Mogh vislumbra finalmente então, que as instabilidades políticas e o recente fechamento das fronteiras de Cardassia apontam, segundo os Klingons, para uma infiltração dos Fundadores naquele governo, algo que o chanceler Gowron não pode permitir. Cardassia enfrenta os seus próprios problemas em meio a um golpe de estado civil. A Federação condena formalmente a invasão de Cardassia pelos Klingons, suspendendo anos de boas relações diplomáticas entre os dois povos. Sisko realiza um miraculoso salvamento do corpo governante Cardassiano que se refugia em DS9. As forças de Gowron atacam e a estação, armada até os dentes para enfrentar um ataque do Dominion, resiste bravamente, mesmo a várias tropas de abordagem Klingon. Com tamanha resistência e os reforços Federados mais próximos, Gowron bate em retirada, apesar de não libertar os territórios já anexados em sua campanha. Worf vitima de uma espécie de crise existencial desde a destruição da Enterprise - D e agora novamente mal visto no Império por ter se voltado contra a decisão de Gowron de atacar Cardassia e depois DS9, decide ficar na estação a pedido de Sisko.

É verdade que os desdobramentos políticos acontecem aqui de forma mais rápida do que teriam qualquer direito de assim o fazer e a ânsia de combate de Gowron se apresenta mais como uma necessidade da trama, para termos o máximo de ação possível, do que qualquer outra coisa, mas isto de forma alguma empana o imenso valor de entretenimento deste ambicioso segmento, que traz em seu bojo as usuais brilhantes caracterizações de DS9 e uma trama política que (a menos de sua comprimida escala de tempo) se mostra sempre interessante e factível. Os valores de produção são excelentes e as atuações da maioria dos atores envolvidos são realmente excepcionais, absorvendo e envolvendo o espectador do começo ao fim.

A ressonância pessoal do episódio cai finalmente nos ombros de Worf, retomando temas caros para esta série desde o seu piloto, como a perda de propósito na vida, trazido à tona quando Sisko lembra ao Klingon do seu dilema pessoal de deixar ou não a Frota Estelar quando da perda de sua esposa. Uma honesta conversa acaba convencendo Worf a ficar em DS9, onde ele se tornaria tão integral quanto à "navezinha valente" que ele por tantas vezes iria acabar comandando.

"The Visitor" (****)


Poucas experiências são tão marcantes para o ser humano quanto perder alguém amado e aprender a lidar com esta perda. Pensar ter visto este alguém na multidão, não querer dar prosseguimento a sua vida por achar que está traindo aquela pessoa ausente, que a está esquecendo, sozinha, em "algum lugar". Estes são alguns dos sentimentos comuns a todos aqueles que passaram pela perda de um ente querido.

Quando DS9 resolveu tratar de tal experiência não poderia ter feito uma escolha mais acertada do que utilizar talvez a relação mais verdadeira de todo a franquia de Jornada nas Estrelas: o elo que existe entre Ben Sisko e Jake Sisko. Em "The Visitor", Jake vivencia e tem de lidar com a morte de seu pai. Este segmento é considerado por muitos fãs como o episódio mais emocionante de qualquer Jornada e é muito comum a sua audiência chorar durante a sua exibição.

O episódio apresenta, no futuro, o "velho Jake Sisko" (Tony Todd, que antes disto já havia vivido Kurn, irmão de Worf, em A Nova Geração) contando, em sua casa em Louisiana, a história de sua vida a uma jovem aspirante a escritora, de nome Melanie (Rachel Robinson, filha de Andrew Robinson, o Garak). "Jake" lembra de como, no presente do episódio, ele perdeu o seu pai, que literalmente desapareceu em um acidente na Engenharia da Defiant, enquanto a nave estava na vizinhança da Fenda Espacial. Porém, com o passar dos anos, Ben reaparecia brevemente para seu filho, de tempos em tempos, não importando se Jake estivesse em DS9, na terra ou em outro lugar.

O escritor aposentado narra como a sua obsessão de trazer seu pai de volta do lugar em que ele ficou preso, o fez perder a sua esposa, sua carreira de escritor e irá levar a sua vida. Ele explica a Melanie que Ben em breve irá fazer uma nova "visita" e que ele chegou a conclusão (após anos de estudo) de que a única forma de restaurar a vida de seu pai é cortar o elo entre eles (ou seja, se matar) quando eles dois estiveram juntos. Melanie agradece por tudo e parte, o "velho Jake" toma a última dose da droga.

Ele pega a bola de beisebol de Ben (o símbolo maior da presença do personagem) e espera. Ben chega e fica devastado por saber que Jake decidiu se matar, seu filho diz que ele faz isto por ele e pelo menino que um dia ele foi e morre nos braços do pai, em um dos maiores e melhores momentos da história de DS9 e de Jornada nas Estrelas.

De volta ao presente, Ben tem um 'insight' e consegue se desviar a tempo e evita o acidente, ele abraça Jake com a voz embargada e diz que está tudo bem agora.

"The Visitor" consegue ser um episódio que, mesmo tendo um formal (e inevitável) "reset - button", apresenta uma ressonância emocional devastadora e simultaneamente não parece nem um pouco manipulativo (a sinceridade da atitude do episódio e desconcertante), mesmo com Todd chorando quase o tempo todo, algo que só o termo: "mágica" parece poder explicar. O episódio imortalizou falas triviais como "obrigado por tudo" e "tudo vai ficar bem", dentre as mais inesquecíveis de Jornada.

Os maiores elogios possíveis a todos os envolvidos, especialmente para: o mestre da caracterização René Echevarria por ter transformado (de forma não creditada) o primeiro rascunho de roteiro de Michael Taylor em uma obra-prima, David Livingston por sua direção absolutamente virtuosa, Dennis McCarthy pelo melhor tema musical da história da franquia e Tony Todd pela infinitamente emocionante caracterização do "Velho Jake Sisko".

Alguns gostam de pensar que Ben Sisko não reteve nenhuma lembrança do que aconteceu ao final do episódio, um ponto recorrente de discussão entre os fãs. Preferem entender que em nossas vidas, quando atravessamos a rua e vem um carro em alta velocidade em nossa direção e "alguma coisa" nos avisa do perigo e nos faz desviar é por que existe alguém no universo que nos ama tanto, que seria capaz de morrer por nós.

Outros preferem pensar que Sisko reteve sim as lembranças de tudo que aconteceu, sendo exatamente por isto que não se despediu de seu filho em "What you Leave Behind" (episódio final da série e que possui vários "ecos" de "The Visitor"), justamente com medo de dar inicio a uma obsessão como a descrita aqui. Seja como for, poucos irão duvidar que este é o melhor episódio desta quarta temporada, um dos melhores da série e um dos melhores de Jornada de todos os tempos. Clássico!

"Hippocratic Oath" (***)

Bashir e O'Brien são capturados e obrigados a trabalhar numa forma de libertar da dependência do Ketracel White a tropa do Jem'Hadar Goran'Agar (Scott MacDonald), que naturalmente se livrou de tal dependência naquele planeta do Quadrante Gama. Bashir fica tão impressionado pela conduta de Goran'Agar, livre do White, que passa a trabalhar com afinco em um cura, que ele agora acredita que possa significar um golpe decisivo no Dominion. O'Brien não acredita nisto e se recusa a ajudar, obrigando Bashir a ordenar que o chefe o ajude. Em última instância, o Engenheiro desobedece e destrói o trabalho do médico, selando o destino de Goran'Agar. Ele manda os dois Federados partirem o quanto antes e permanece no planeta, para matar um a um os seus soldados de uma maneira honrada. Antes que a falta do White os leve a loucura e a uma morte horrível. O conflito entre os dois maiores amigos da série é crível e de acordo com a essência de ambos os personagens e Goran'Agar traz uma bem vinda dose de profundidade aos da sua espécie.

Uma história secundária na estação, em que vemos Worf tentar reviver os seus tempos de oficial de segurança a bordo da Enterprise-D e acabar entrando em conflito com os métodos do comissário Odo, é bastante relevante a respeito da adaptação do Klingon à vida em DS9.

"Indiscretion" (**1/2)

Kira e Dukat se unem para investigar uma há muito tempo desaparecida nave Cardassiana de prisioneiros Bajorianos. Kira tem um interesse pessoal no caso, e não é a única, pois Dukat acaba revelando que uma filha sua bastarda e mestiça Bajoriana e Cardassiana de nome Tora Zyial estava a bordo do transporte e tudo indica que esteja agora em uma mina Breen, bem próxima. A major acaba convencendo Dukat a não matar a jovem (que seria sua única chance de preservar a honra pessoal de volta à terra natal) e ajuda Dukat a resgatar Zyial. Dukat acaba decidindo leva-la para casa, aconteça o que acontecer. A promissora dupla formada por Kira e Dukat decepciona após um início bastante bom. Esta interação dá lugar a uma trama que clama pela consciência de Dukat, que se torna bastante previsível, apesar da curiosa direção que ela ponta para o Cardassiano. Uma constrangedora cena de alívio cômico em que Dukat fura o traseiro sentando em um cacto e em seguida passa um dispositivo médico na região em meio as suas risadas e as de Kira enquanto a câmera dá closes em suas nádegas é absolutamente constrangedora e fere muito ao episódio.

Uma absolutamente inofensiva história secundária na estação nos apresenta as reações de Ben Sisko ao fato da capitã Yates agora ter uma residência permanente a bordo da estação, Esta parte funciona melhor do que tem qualquer direito de assim faze-lo, ancorada na repetição de um infame "Isto é um grande passo", pela maioria dos envolvidos.

"Rejoined" (***)

Uma cientista Trill, doutora Lenara Kahn (Susanna Thompson), vem a bordo da estação para testar uma nova teoria sobre a formação de Fendas Espaciais artificiais. Dax e Kahn já foram casados, ou melhor, Torias Dax e Linale Kahn já foram casados, tendo Torias deixado Linale, viúva. Os dois simbiontes se encontram de novo depois de tanto tempo e eles ainda se amam, só que a sociedade Trill observa um tabu que impede a "reassociação", ou seja, retomar relações intimas deste tipo. O episódio é em última instância sobre o que as duas fazem a respeito do seu amor. Lenara, ao contrário de Jadzia, não consegue se ver arcando com conseqüências de uma "reassociação" (que normalmente acarreta o exílio do Trill) e deixa a estação, terminando o caso antes dele começar.

Aqui temos uma pequena história de amor, que trata de idéias e duras decisões, mas nunca deixa de ser uma história de amor. É de uma elegância admirável como o segmento em nenhum momento sequer insinua a questão do mesmo sexo dos dois hospedeiros. O famoso "beijo" entre as duas apenas serve para colocar em foco o tabu dos Trills e mesmo assim acaba o examinando por diversos ângulos, providos por diferentes personagens. Um trabalho de classe dos envolvidos.

"Little Green Men" (***)

Finalmente, Jornada nas Estrelas ofereceu a sua própria versão dos "eventos" de 1947, em Roswell, Novo México.

Segundo Behr e cia. os "alienígenas que caíram na Terra" naquele tempo e lugar foram na realidade os nossos velhos conhecidos Ferengis Rom, Nog e Quark. Rumando para a Terra para levar Nog para o seu primeiro dia na Academia da Frota Estelar, eles são vítimas de sabotagem, lançados acidentalmente no passado e presos para exame pelo exército Americano (os militares os confundem com Marcianos, vejam só). "Little Green Men" é um bom episódio que faz graça com (aparentemente) todos os filmes do gênero. Isso sem falar nos clichês da própria Jornada, como o sempre mágico tradutor universal e as privadas que ninguém nunca vê. Sem contar que a nave de Quark é guardada no infinitamente infame "Hangar 18" pelos militares. Infelizmente o segmento perde o gás no final, não conseguindo fugir das limitações do "high concept" que lhe deu origem, mas ainda assim constitui uma agradável e curiosa hora de diversão.

"Starship Down" (***)

A Defiant visita o Quadrante Gama para renegociar um acordo de comércio (intermediado pelos Ferengis) entre os Karemma (ver "Rules Of Acquisition" da segunda temporada) e a Federação. Obviamente o Dominion não está feliz com isto e manda uma patrulha Jem'Hadar. O ataque inicial deixa a Defiant seriamente avariada em órbita e no interior da atmosfera de uma gigante gasosa. O grosso do episódio se desenrola então como em uma junção de pelo menos quatro filmes catástrofe:

- Na ponte, temos Kira tentando manter um seriamente ferido Sisko consciente para que ele não caia em um coma. A interação entre Kira e Sisko é uma espécie de continuação do que foi visto em "Destiny" da terceira temporada, no sentido de tratar de como a major lida com o fato de trabalhar para o Avatar de sua religião. Com bons resultados, mas com poucas novidades em relação ao que já havia sido feito sobre o tema.

- Por outro lado, uma tentativa de resgate de Bashir, acaba colocando o médico em um compartimento sozinho com Jadzia. De longe à parte mais "fofinha" do episódio ver os dois esquentando um ao outro. Inofensivo e neutro material.

- Quark, por sua vez, serve de alívio cômico, sozinho ao lado do representante Karemma Hanok (James Cromwell, que depois viveria Zefram Cochrane no filme "Primeiro Contato") e ainda, com a ajuda do alienígena, tem que desarmar um torpedo que não detonou e ficou alojado no casco da nave. O que funciona nos dois sentidos.

- E finalmente Worf tem a sua primeira chance no comando (e mostra claramente o quanto ele tem para aprender, algo que é usado em proveito da história), e da engenharia da Defiant consegue derrotar os remanescentes Jem'Hadar e salvar a nave Karemma.

Ver Worf se ajustar a trabalhar somente com engenheiros é bastante interessante e a experiência de O'Brien é posta para bom uso. Em suma, um episódio que ganha poucos pontos pelo grau de manufatura embutido em sua história, mas que funciona de alguma forma por apresentar um tecnicamente impecável rodízio (através de suas quatro disjuntas histórias) entre todos os principais elementos que costumam compor um bom thriller. Só faltando integrá-los em uma única e coerente história.

"The Sword Of Kahless" (**1/2)

Mais de mil anos atrás, o mundo natal Klingon foi pilhado e muito dos seus mais preciosos tesouros foram levados. Entre eles o Bat'leth de Kahless, a arma pessoal do seu mais reverenciado guerreiro. Reza a lenda que tal artefato será achado um dia e que o seu possuidor então trará a união para o Império. O Klingon Kor (ver "Errand Of Mercy" da Série Clássica e "Blood Oath" da segunda temporada de DS9) descobre uma pista do paradeiro da relíquia e recruta Dax e Worf (cuja ajuda pode trazer dividendos políticos para a Federação e para Worf) em uma expedição que segue a bordo de um explorador.

Eles conseguem encontrar o Bat'leth com certa facilidade em uma escavação Vulcana, mas Toral Duras (ver "Redemption" de A Nova Geração) tem outros planos para o objeto e os persegue no subterrâneo do local e interfere em seu transporte e em suas comunicações para evitar que fujam.

A presença de John Colicos é sempre bem vinda em qualquer episódio e o tom "maior que a vida" que ele traz a cada cena combina perfeitamente com o presente segmento. Os Klingons em geral de fato se adequam melhor a um contexto épico como o retratado em "The Sword Of Kahless". Existe uma bem vinda dose de continuidade com respeito à vida de Worf e um saudável aprofundamento na mitologia Klingon.

Infelizmente, o caráter épico da aventura não se realiza completamente devido às restrições orçamentárias de sua produção. A grandiosidade dos discursos acaba cansando e caindo no terreno da exposição e as cenas nas cavernas tornam-se rapidamente repetitivas (mesmo algumas falhas de direção são aparentes). Ao final, uma interessante noção implícita de que a espada tem alguma espécie de "feitiço" que afeta tanto Worf quanto Kor (que chegam as vias de fato, cada um já acreditando ser o mais indicado para governar o Império, e são tonteados por Dax, após os três terem derrotado Duras e cia.), justifica que a arma seja novamente abandonada, agora no espaço, para evitar, curiosamente ao contrário do que diz a lenda, uma guerra civil no Império.

"Our Man Bashir" (***1/2)

"Our Man Bashir"
é uma excelente sátira aos filmes de espionagem em geral (também os de James Bond, mas não somente os de James Bond) que acaba por transcender esta premissa e oferecer algumas verdades sobre o relacionamento de Bashir e Garak, o qual se modifica após os eventos descritos no episódio.

Pouco depois de Bashir encontrar Garak bisbilhotando em uma sessão privada do seu holoprograma de "James Bond", os dois se assustam ao descobrir que (devido a um bizarro acidente de transporte) a maior parte da tripulação tem os seus padrões de transporte agora literalmente "incorporados" aos personagens do programa.

Bashir não pode simplesmente desligar a holosuite (cujos protocolos de segurança se encontram obviamente desabilitados) com o risco de perder todos os seus companheiros. A aventura é uma das mais bem produzidas da história de Jornada, com um interessante e coerente final e as "versões niners do universo da espionagem" são bastante adequadas (ou seja, MUITO exageradas e caricaturais): Kira Nerys como a coronel russa Anastasia Komononov (com direito a sotaque e tudo), Miles Edward O'Brien como o caolho Falcon, Jadzia Dax como a (tímida e irresistível) professora Honey Bare, Worf como o fiel valete Duchamps e Benjamin Sisko (é claro) como (o super-vilão maligno que quer dominar o mundo) dr. Hippocratus Noah.

"Homefront I" (****)

Um ataque à bomba é perpetrado por um transmorfo na Terra. O antigo mentor de Ben Sisko, almirante Leyton (Robert Foxworth), o chama de volta a sede da Frota Estelar e o nomeia responsável pela segurança do planeta, com função primária de tornar mais eficientes as medidas de detecção de transmorfos em todo o globo. O capitão trabalha pesado com Odo com este objetivo enquanto passa seu tempo livre com Jake e seu pai Joseph Sisko (Brock Peters) no restaurante da família em Nova Orleans. Nog também costuma aparecer no restaurante e diz a Sisko que, apesar de estar se saindo bem na Academia, ainda tem alguns problemas de integração e esta de olho em uma vaga em um esquadrão de elite denominado de "Red Squad".

Temos aqui um brilhante conto sobre paranóia que mostra DS9 em seu melhor enquanto série de drama: temas relevantes e importantes para série com um todo (este é o primeiro episódio a realmente tratar da "promessa" de "The Adversary": "É muito tarde, já estamos em todo lugar"), com complexas e críveis caracterizações.

O pai de Sisko é um personagem simplesmente maravilhoso que serve a preciosa função de ser o representante do "cidadão comum" em meio a crescente paranóia. Tal papel é claramente demonstrado nas duas principais cenas do segmento:

- Em primeiro lugar, Sisko, ao saber da presença de um transmorfo se passando pelo próprio Leyton, tem que aumentar bastante a segurança. O que leva a uma cena em que um oficial da Frota é enviado para coletar o sangue de Joseph, que se recusa terminantemente a permiti-lo e acaba por acidente se cortando e Ben Sisko (e a própria audiência) ficam na expectativa (quase que uma certeza) que de fato ele era um Fundador. Algo que não se confirma, tornando de forma realmente clara, pela primeira vez na série, a real ameaça representada pelo Dominion.

- Mais tarde, ocorre um apagão mundial (tudo indicando ser obra de uma sabotagem do Dominion da grade de força planetária), que leva o presidente da Federação a declarar um estado de emergência, colocando literalmente as tropas na rua e impondo testes de sangue aleatórios a população civil (Sisko deixou DS9, quando eram observados inexplicáveis aberturas e fechamentos da Fenda Espacial, o que alguns acreditavam, sem provas, ser uma frota camuflada de invasão dos Jem'Hadar). Isto leva a uma segunda cena em que Joseph e Jake observam as tropas sendo transportadas, ocupando as ruas do "Paraíso". A menos das restrições orçamentárias que ferem o escopo de algo tão grande como o que é proposto no segmento, ele é irretocável. Clássico!

"Paradise Lost II" (***)

A ameaça de um ataque dos Jem'Hadar a Terra se mostra uma ameaça muito mais próxima. Foi o almirante Leyton que planejou o apagãot mundial (e uma conspiração incluindo os detalhes que apontavam para um ataque do Dominion) de forma a conseguir a declaração de um estado de emergência na Terra e conseguir impor as medidas que ele julgava corretas para preparar o planeta para uma possível invasão. Um golpe de estado na Terra está próximo. Enquanto Sisko pensa em como lidar com Leyton ele se espanta ao encontrar o chefe O'Brien na Terra, só para em seguida reconhece-lo como um Fundador, que diz ao capitão que existem somente quatro deles na Terra neste momento e estes quatro foram suficientes para provocar tamanha crise e também que o medo que os humanos sentem será a sua ruína. Incapaz antecipadamente de cumprir a "promessa" da primeira parte, esta conclusão ainda assim navega em águas por demais rotineiras.

Obviamente um ataque do Dominion nos termos sugeridos em "Homefront" nunca iria acontecer, a alternativa dada é interessante, mas ela acaba desaparecendo rápido demais e de uma fora previsível demais. Sem a força da trama envolvendo a paranóia do Dominion da primeira parte, problemas logísticos e de escopo se tornam mais aparentes também. Não existe nada genuinamente errado com o segmento, mas ele decepciona, especialmente por que a ameaça intrínseca dos Fundadores nunca foi capturada de forma tão cristalina desde então.

"Crossfire" (**1/2)

Este episódio (apesar do curioso título, que mais parece o de um "episódio de ação") tem por claro objetivo retomar a linha de história que diz que "Odo ama Kira secretamente" e resolvê-la em um certo sentido.

O primeiro ministro Shakaar (ver episódio "Shakaar" da terceira temporada) vem à estação para discutir detalhes da entrada de Bajor na Federação (o que acaba não se desenvolvendo no episódio). Uma suspeita de assassinato transforma Odo em seu guarda-costas e coloca o comissário no meio de uma crescente atração entre Kira e Shakaar. O pobre comissário passa por todas as possíveis situações constrangedoras nesta posição: é perguntado por Shakaar sobre as possibilidades dele ter algo com a major, ouve Kira falar sobre o ex-colega da resistência se tornando "algo mais" e chega a passar uma noite a porta do quarto em que tal união é consumada.

Definitivamente um episódio sobre o comissário (o ângulo da tentativa de assassinato é resolvido de forma discreta antes do final do episódio), o segmento funciona devido ao talento de René Auberjonois em expressar toda a angustia do seu personagem, cena após cena. No clímax do episódio, chegando ao seu limite, Odo começa a destruir os seus próprios aposentos e em um muito inspirado "improviso" de Auberjonois, que despenteia o cabelo do personagem, captura de forma brilhante toda a sua confusão. Odo é interrompido por Quark que lhe oferece alguns sinceros conselhos disfarçados na sua habitual sede por lucros, que ajuda o comissário e recobrar o juízo e tratar de sua interação com Kira de uma forma bem mais distante e profissional no futuro. Apesar da dúvida se este tipo material deveria cobrir todo um episódio ou não (muito provavelmente a produção precisava poupar algum dinheiro neste momento da temporada), fica difícil não simpatizar com Odo ou admirar o talento do seu intérprete.

"Return To Grace" (***)

Como resultado de ter voltado a Cardassia com Zyial e a ter assumido como filha, Dukat caiu em desgraça, lhe restando apenas o comando de um velho cargueiro caindo aos pedaços. É Dukat que transporta a major Kira Nerys para uma conferência envolvendo Bajorianos, Cardassianos e Aliados. O local do encontro é encontrado destruído. Responsáveis: Klingons!

O Cardassiano e a Bajoriana se vêem novamente trabalhando com um objetivo em comum e graças à brutalidade do primeiro e a engenhosidade da segunda conseguem tomar a ave de rapina responsável pelo ataque (com direito a um truque de transporte bem similar ao usado por Kirk em "Jornada Nas Estrelas III: À Procura De Spock"). Kira consegue convencer Dukat a deixar Zyial com ela na estação, segura, enquanto ele luta com os Klingons em sua nave solitária.

A interação entre Dukat e Kira funciona de forma mais convincente aqui do que em "Indiscretion" e as conseqüências do salvamento de Zyial por parte de Dukat são bastante interessantes, colocando o Cardassiano em um completamente diferente contexto. Marc Alaimo novamente extrai o máximo de simpatia da situação, mas sempre deixando uma dúvida (ou um aviso?) sobre a índole do Cardassiano para a audiência. Fica no ar o que Dukat realmente tenciona alcançar com a sua decisão final, mas a noção do militar como o "último Cardassiano com espírito de luta intacto" é bastante interessante, com o romantismo sempre se ajustando bem ao ex-comandante de Terok Nor. (O episódio também marca a estréia do personagem Cardassiano Damar (Casey Biggs), inicialmente o braço direito de Dukat, que se tornaria muito importante ao final da série.)

"Sons Of Mogh" (***)

Devido à decisão de Worf de não se aliar a Gowron em "The Way Of The Warrior", o chanceler Klingon retalia colocando a casa de Mogh e todos os seus membros em completa desgraça. Sem lugar no Império, Kurn (Tony Todd), irmão de Worf, vem à estação para que o mais velho da família possa lhe oferecer uma morte ritual com honra (uma vez que o suicídio não é uma opção para um Klingon).

Worf assim o faz, mas Dax percebe o que está acontecendo a tempo e um transporte de emergência para a enfermaria salva Kurn. Sisko dá em seguida a maior bronca da história da Franquia em Worf e Dax. O ritual não é mais uma opção, PONTO!

O episódio é não mostra qualquer maior conseqüência política para o fim da aliança entre a Federação e o Império Klingon, mas as conseqüências individuais para os "filhos de Mogh" são devastadoras. Kurn acaba não funcionando como oficial de segurança da estação devido a um crescente desejo de morrer e durante uma pequena missão voluntária dos dois (para tentar obter dados sobre um campo minado que os Klingons estão estabelecendo próximo à estação), Worf acaba por questionar o quanto Klingon ele ainda é e o quão humano ele nega ter se tornado.

Em um último momento, Worf toma a decisão (extremamente controversa, além do episódio não indicar por que tal coisa é diferente de um suicídio sob o ponto de vista de Kurn) de ter as memórias, personalidade e mesmo aparência física de Kurn modificadas para que ele possa viver uma outra vida em uma família amiga de longa data, sem nunca se lembrar da vida que teve um dia. Worf agora tem certeza que enquanto Gowron viver ele não será bem vindo no Império e que a casa de Mogh apenas existe agora no símbolo que ele ainda teima em usar. O que lhe restou para se manter funcional foi apenas o uniforme da Frota, que terá que bastar.

Definitivamente não a mais original história para Worf (visto o que ele já passou), mas uma que tem algo a dizer ainda assim.

"Bar Association" (*)

Neste segmento, Rom promove uma greve dos funcionários do Quark's, com direito a piquete na porta do estabelecimento e tudo mais. Obviamente isso é contra a lei Ferengi, e Quark, na iminência de perder tudo, faz um acordo "por debaixo do panos" com Rom de forma a ficar bem perante as autoridades do seu povo. Ao final, todos os funcionários voltam ao trabalho com suas exigências secretamente atendidas, exceto Rom, que acaba indo trabalhar na equipe de manutenção da estação (um desenvolvimento muito importante para o personagem, apesar de acontecer em um fraco episódio como um todo). Esta é mais uma "típica comédia Ferengi" que usa uma simplista história (até com algum valor em tese), como mera desculpa para disparar as suas infames 'gags'. Uma das poucas cenas realmente engraçadas é aquela em que Quark tenta utilizar garçons holográficos no bar para substituir a sua equipe. Realmente hilário. (O que é realmente irônico no episódio é que Armin Shimerman, o ator que representa o Quark, tem sido muito ativo na direção de sindicatos durante toda a sua vida profissional). Em uma pequena história secundária Worf se muda para a Defiant.

"Accession" (***1/2) Uma antiga nave solar Bajoriana emerge da Fenda Espacial, e em seu interior traz um poeta Bajoriano de nome Akorem Laan. Akoren fora dado como morto cerca de 300 anos atrás, ele na realidade foi salvo da morte certa pelos Profetas, curado e enviado por alguma razão ao presente. Um vedek fundamentalista de nome Porta o saúda como o verdadeiro "Emissário", uma vez que ele contatou os Profetas antes de Ben Sisko. Sisko abre mão do seu papel como ícone religioso dos Bajorianos, algo que sempre quis fazer e que agora parece justificado, pois Akorem parece mais adequado ao trabalho.

Visões de Kai Opaka e o desejo de Akoren de trazer de volta à vida um arcaico sistema de castas em Bajor (que necessariamente impediria a eventual entrada do planeta para a Federação) faz Sisko repensar a sua posição como real enviado dos Profetas. Confrontando os alienígenas não-lineares no interior da Fenda Espacial, eles dizem que ele é "de Bajor" e que enviaram Akoren "para Sisko". O que clarifica a questão. O poeta volta a sua época e termina o seu trabalho, enquanto Sisko aceita definitivamente o seu papel como Emissário dos Profetas.

Mais uma excelente história de Sisko como Emissário, ainda que a conclusão tenha sido um pouco "fácil" e nenhuma mudança permanente tenha se processado exceto para o próprio comandante de DS9. O episódio é o segundo ato da chamada "Trilogia do Emissário" ("Destiny", "Accession" e "Rapture"). Na também ótima história secundária de "Accession", Keiko volta à estação e informa ao chefe O'Brien que ela está grávida. O restante desta pequena história lida com este fato e de como O'Brien e Bashir ficaram unidos quando da ausência de Keiko. Um doce só!

"Rules Of Engagement" (**) Enquanto comandando, a bordo da Defiant, a escolta de um comboio de ajuda humanitária para Cardassia, Worf se envolve em uma escaramuça com os Klingons. Ao ordenar o disparo em uma nave se descamuflando subitamente na zona de combate, o comandante condena a morte centenas de civis a bordo de tal nave.

Os Klingons fazem um pedido pela extradição de Worf e enviam um advogado de nome Ch'Pok para fazer valer os seus interesses durante os procedimentos.

O episódio parece incapaz de trazer algo novo a surrada idéia de que "Worf de fato não pertence nem ao Império e nem a Federação" e ainda oferece uma das tramas mais lineares e previsíveis da temporada (revelando finalmente que tudo não passava de um estratagema Klingon para incriminar Worf em primeiro lugar).

Por ouro lado, existe uma idéia muito interessante na execução do episódio, que faz com que as testemunhas falem diretamente para a câmera, "entrando e saindo" dos acontecimentos que estão descrevendo, produzindo diversas e muito interessantes variações estilistas de tal idéia. Infelizmente parece que Moore e cia. desenvolveram um certo fetiche por este paradigma e esqueceram da óbvia necessidade de dar alguma substância ao episódio. Uma ótima cena final entre Sisko e Worf sobre as dificuldades do comando não pode redimir um episódio com tantos problemas.

"Hard Time" (****)

O'Brien é condenado a vinte anos de memórias simuladas de aprisionamento por um governo alienígena. Ainda que tenham se passado apenas alguns momentos em tempo real, o chefe realmente acredita que cumpriu tal pena. O'Brien volta a estação na tentativa de retomar a sua antiga vida. Inicialmente alguns hábitos bizarros adquiridos pelo chefe "na prisão" causam alguma estranheza, mas nada de mais grave no lar dos O'Brien, apesar do engenheiro parecer estar escondendo algo.

Tentando voltar ao trabalho, vemos o seu nível de stress subir e ele começa a faltar às sessões de terapia recomendadas por Bashir. Afastado do trabalho e posto em terapia obrigatória por Sisko, O'Brien está a ponto de explodir e atinge o seu limite quando quase agride a sua filha Molly. Desesperado, ele rouba um feiser e fica as portas de cometer suicídio. Bashir encontra o chefe que finalmente revela que na verdade ele tinha sim (ao contrário do que havia dito) um companheiro de cela (de nome Ee'Char) e, em um desentendimento por algo trivial, o matou.

O'Brien não consegue aceitar que levado ao extremo ele tenha agido como um animal, mas Bashir diz que se de fato ele fosse um animal, ele não sentiria a necessidade de morrer pelo que fez. O médico faz o amigo desistir de tirar a própria vida e o leva de volta para a sua família.

"Hard Time
" é o melhor episódio do gênero "Vamos torturar o chefe O'Brien" (TM) e um dos melhores episódios produzidos de DS9. O'Brien é a escolha certa para ser retratado como vítima de tão brutal punição, por ser o típico "homem comum" com quem todos podem se relacionar. Isto faz tudo no episódio parecer mais real e próximo do espectador do que se um outro personagem com uma faceta mais heróica tivesse sido utilizada em seu lugar. Desconcertante em sua simplicidade de "meramente documentar" os primeiros passos do chefe em sua recuperação, o episódio traz uma execução que beira o sobrenatural em todos os níveis e em todos os aspectos. O foco e confiança demonstrados por seus realizadores são realmente dignos de nota.

Colm Meaney, é claro, foi central para o sucesso do episódio, não se fazendo de rogado e produzindo uma das melhores performances da série, trazendo a cada cena uma miríade de emoções e texturas que vendem integralmente a complexidade da experiência pela qual o seu personagem passou. Alucinações de Ee'Char e flash-backs dos "tempos de cárcere" do chefe aparecem de forma transparente e não intrusiva a história, preservando o tom contido e realista do episódio (sem excessos).

O clímax do segmento, quando Bashir convence O'Brien a não se matar, marca com fogo a amizade dos dois, como uma das mais verdadeiras e tocantes de todos os tempos. O final de fato não traz nenhuma "cura mágica" para o chefe, mas coloca apenas a primeira pedra na estrada da sua completa recuperação. Fácil, um dos melhores dramas da história de Jornada!

"Shattered Mirror" (***)

A série Deep Space Nine volta ao "Universo do Espelho", onde os rebeldes estão empenhados, mas com problemas, na finalização da sua própria versão da Defiant para defender a agora sua Terok Nor do iminente ataque das forças da Aliança, lideradas pelo seu Regente (Mirror-Worf).

A Mirror-Jennifer convida Jake para uma visitinha ao "seu lado do espelho", de forma a atrair Ben Sisko para que ele se visse forçado a ajudar na conclusão da nave. O Mirror-O'Brien ("Smiley") havia trazido os planos da Defiant original de sua visita a DS9 um ano antes.

O episódio beira a insanidade absoluta, em seu tom, humor, andamento e tem bom valor de entretenimento, ainda que no melhor estilo de "história em quadrinhos". O destaque do segmento vai para surra que a Mirror-Defiant, com Sisko (que acaba decidindo ajudar) ao leme, dá em um gigantesco cruzador Klingon (com direito a excepcionais efeitos especiais - proporcionalmente mais complexos que os de "The Way Of The Warrior"). A Intendente (Mirror-Kira) foge de Terok Nor, não sem antes matar a Mirror-Jennifer, fazendo Jake e Ben reviverem a sua tragédia familiar, terminando com uma nota trágica esta extremamente superficial (mas divertida) aventura.

"The Muse" (-)

Falando em comédia involuntária... Neste episódio, que é o pior desta quarta temporada e um dos piores de toda a série, temos duas histórias incrivelmente ruins. Na primeira, uma bizarra alienígena (a tal "musa" do título) chega à estação. Ela oferece inspiração a jovens artistas, mas não explica que o preço que cobra é a própria "energia vital" de seus "inspirados" (até a morte deles, aliás), e começa a fazer exatamente isto com Jake, sendo finalmente impedida por Ben Sisko. Na história secundária, Lwaxana "Cuja atriz deveria ser presa por ajudar a escrever este desastre" Troi está de volta, grávida (!) e fugindo do seu marido, membro de uma raça cuja tradição demanda que os filhos sejam criados exclusivamente pelos homens. Odo se voluntaria (!?) para casar com a embaixadora e daí, como tutor legal, oferecer a guarda da criança para a mãe. O único ponto positivo vai para o título do livro que Jake estava escrevendo, "Anslem", uma referência ao clássico episódio "The Visitor" (foi estabelecido - de forma não canônica - nos livros de Deep Space Nine que "Anslem" quer dizer "pai", em Bajoriano). Fora isto, antimatéria pura!!!

"For The Cause" (***1/2)

Mais um excelente episódio com os Maquis. Odo e Eddington falam a Sisko sobre suas suspeitas de que a capitã Yates (a namorada do comandante de DS9) é uma colaborada dos Maquis.

Eles não têm provas concretas ainda, mas Sisko está preocupado uma vez que um carregamento importante de replicadores irá passar pela estação com destino a Cardassia (que vivencia uma grave crise em que se somam à perda da Ordem Obsidiana, o prolongado conflito com os Klingons e os ataques dos Maquis), um óbvio alvo para os Maquis.

A investigação dos oficiais de segurança finalmente confirma o fato e Sisko decide ele próprio comandar a Defiant durante a prisão de Yates. Entretanto, pistas parecem apontar para um plano de afastar Sisko da estação desde o começo. Em DS9, Eddington executa o roubo dos replicadores para os Maquis e depois se comunica com Sisko expondo os seus motivos ao capitão. Sisko não dá a mínima e jura que vai captura-lo custe o que custar.

A capitão Yates deixa sua tripulação partir, mas retorna a DS9 com sua nave para enfrentar as conseqüências do que fez. Ela e Sisko dizem um ao outro que ainda não é o fim para eles. Yates vai para prisão. Apesar de abrupto e de não conhecermos as motivações nem de Yates e nem de Eddington para eles terem feito o que fizeram, não se pode negar o impacto que esta história tem sobre Sisko (apesar de termos que esperar um pouco no curso da série para sabermos disto).

O episódio inicia a chamada "Trilogia de Eddington" ("For The Cause", "For The Uniform" e "Blaze Of Glory"). Na ótima história secundária de "For The Cause", temos a primeira aproximação entre Garak e Zyial (contrariando os desejos tanto da major Kira quanto de gul Dukat). O que é engraçado é que até o último instante Garak acha que a menina está planejando matá-lo (por Garak ter se envolvido de alguma forma nos eventos que levaram a morte do pai de Dukat) e uma hilária conversa com Quark só faz aumentar a paranóia de Cardassiano. O final desta história serve como um belo contraponto à despedida de Sisko e Yates.

"To The Death" (***)

A Defiant chega a DS9 somente para encontrar a parte superior de um dos pilares de atracação da estação destruído. A major Kira informa que ocorreu um ataque surpresa dos Jem'Hadars. Sisko ordena que a Defiant volte ao espaço para caçar os atacantes. Os Federados encontram no Quadrante Gama um caça Jem'Hadar severamente avariado e transportam os sobreviventes a bordo da nave.

O oficial responsável pelo destacamento Jem'Hadar, o Vorta Weyoum (Jeffrey Combs, fazendo sua estréia neste popular papel), explica que tanto DS9 quanto o seu caça foram vitimas de uma mesma facção rebelde dos Jem'Hadars. Tal grupo tenciona fazer funcionar um portal Iconiano (ver o episódio "Contagion" da segunda temporada de A Nova Geração) e com tal vantagem tática, atrair o suporte dos demais Jem'Hadars e tomar o controle do Dominion e fazer "só Deus sabe o que" a partir dai.

Sisko forma uma aliança temporária com Weyoum de forma a enfrentar e neutralizar este inimigo comum. Tentando cobrir material demais em apenas uma hora de televisão, o episódio se mostra excessivamente corrido e sem trazer nada relevante em longo prazo para a série ao seu final. A premissa e o atrito entre os Jem'Hadar e os Federados a bordo da Defiant a caminho do esconderijo dos renegados é muito interessante, mas o final baseado em ação, inconseqüente e abrupto é gravemente insatisfatório. Decepcionante pelo que poderia ter sido, mas interessante a maior parte do tempo.

"The Quickening" (****)

A bordo de um explorador, Kira, Dax e Bashir detectam em um planeta do Quadrante Gama um sinal automático de emergência. A população local é vitima de uma praga incurável, geneticamente engendrada pelo Dominion como uma terrível forma de punição duzentos anos antes. Todos nascem com a doença e muitos morrem ainda na infância.

Esta cultura enfrenta a mais certa extinção. Bashir decide ajudar, desenvolvendo uma cura. Dax e o doutor encontram Trevean, um médico local que pratica abertamente eutanásia nos pacientes terminais, com quem Bashir entra em conflito inicialmente. Os nativos se mostram desconfiados da presença dos Federado ali, mas uma simpática nativa grávida, de nome Ekoria, acaba por quebrar o gelo e Julian abre uma clínica para iniciar as suas pesquisas. Infelizmente, depois de algum tempo, os seus esforços se mostram em vão e, em uma só noite, ele perde todos os seus internos menos Ekoria. Dax e Kira partem no explorador, mas Bashir decide permanecer.

Agora, somente Ekoria aceita os seus continuados cuidados e a receber o soro desenvolvido por Bashir, o que não incomoda o médico Federado. A mulher vive somente o suficiente para ver a face do filho recém nascido, que chega ao mundo, para surpresa de Bashir, curado da praga. O doutor não desenvolveu um antídoto, mas conseguiu chegar a uma vacina que Trevean se sente honrado com a tarefa de distribuir.

Talvez o melhor veículo de Bashir em toda a série. Uma história bastante simples, porém incrivelmente honesta e sincera e com uma execução definitivamente estelar. René Echevarria (novamente não creditado) produz um roteiro bastante sensível e a direção de René Auberjonois (Odo) é soberba em meio a excelentes valores de produção. A cena em que Trevean ergue o bebê em frente a multidão, enquanto Bashir observa de longe é um dos grandes momentos de DS9. Um episódio clássico da série!

"Body Parts" (***)

É muito raro encontrar um bom veículo para os Ferengis em Jornada, mas "Body Parts" é sem dúvida um deles. Primeiramente, a idéia da história secundária em que, devido a um acidente, se transferiu o feto do útero de Keiko para o de Kira foi uma maneira genial de colocar a gravidez da vida real de Nana Visitor na série (a idéia de Kira se mudar para os aposentos dos O'Brien, também foi muito legal).

A história principal lida com um desiludido Quark, com apenas uma semana de vida, e que vende os seus restos mortais no mercado, antecipadamente. Quark posteriormente descobre que ele não vai morrer, mas já é tarde demais e ele vem a descobrir que o comprador dos seus restos mortais foi ninguém menos do que o seu inimigo Brunt. Ele pode morrer em sete dias e honrar o contrato ou quebrá-lo, o que e obviamente proibido pelas leis Ferengis.

Ele considera um assassinato pelas mãos de Garak (definitivamente uma escolha cômica bastante inspirada pelo roteiro) e quando ele pensa que o Cardassiano fez o serviço (em mais outra hilária cena), ele vai parar na "Divine Treasury" (o pós-vida Ferengi e um dos mais interessantes desenvolvimentos desta raça), onde ele encontra Gint (o primeiro Nagus, que guarda uma "tremenda semelhança" com o seu irmão Rom) que o aconselha a quebrar o contrato. Quark descobre que estava sonhando e quebra o contrato com Brunt.

O liquidador toma todos os seus pertences, e fixa um cartaz na porta do Bar, formalmente transformando Quark em um pária, perante o seu povo. Mas para espanto de Quark, um a um vão chegando os tripulantes da estação, todos trazendo um item potencialmente útil a um bar. Rapidamente o bar está de novo em funcionamento e, talvez pela primeira vez na série, Quark parece realmente tocado pela generosidade alheia.

"Broken Link" (***1/2)

Odo começa a ter dificuldade em manter a sua forma humanóide e Bashir prevê uma total perda de coesão em pouco tempo. O doutor Federado não pode curar o comissário e este vai morrer sem um tratamento adequado. Sisko decide então tomar a Defiant com Odo a bordo e tentar entrar em contato com os Fundadores no Quadrante Gama.

Rapidamente a nave é interceptada por um esquadrão de caças Jem'Hadar. A Fundadora (Salome Jens) vem a bordo e explica que a "doença" de Odo foi a forma que os Fundadores encontraram para traze-lo de volta ao "Grande Elo" para que ele fosse julgado pelo seu crime (ter violado a mais sagrada regra entre os Fundadores, "um transmorfo nunca pode ferir um outro transmorfo", matando um outro Fundador, um ano antes, em "The Adversary").

Quando a Defiant chega ao novo planeta dos Fundadores (agora sem registro de navegação por parte da nave da Federação), Odo entra no "Grande Elo" para ser de fato julgado pelo seu povo. Garak (que havia sido trazido a bordo para distrair Odo) tem a sua própria Agenda e planeja acessar os controles das armas da Defiant e destruir o completamente todo o planeta. Worf consegue impedi-lo, mas não sem antes uma briga entre os dois. Odo finalmente recebe a sua sentença e é transformado em um humano. Sisko e cia. voltam a estação onde o comissário tem que remontar a sua vida, depois de revelar aos seus companheiros que sentiu no interior do "Elo" que de fato Gowron, o Chanceler do Império Klingon, foi substituído por um Fundador.

Intimista e saudavelmente contido para um final de temporada, "Broken Link" mostra que Garak está disposto a chegar as últimas conseqüências para deter o Dominion (e ainda introduz a idéia da "morte de Cardassia" na série) e abre novas e interessantes perspectivas de história para o comissário Odo, agora humano.

Ironicamente, a idéia de que o líder Klingon foi comprometido se mostraria o primeiro passo na restauração da aliança entre Klingons e Federados, como visto posteriormente na série. Um excelente encerramento para uma excelente quarta temporada.

Luiz Castanheira é editor do Trek Brasilis