por Luiz
Castanheira
Sinopse Comentada
Futuro - Estamos na terra do futuro, 33 anos após a
Voyager ter se perdido no quadrante Delta. Um noticiário relembra
o retorno da intrépida nave, 10 anos antes, enquanto uma
envelhecida Janeway toma um pouco de chá, sozinha em seu
apartamento.
Na festa dos 10 anos do retorno
da Voyager, vemos o que o futuro reservou para os seus tripulantes.
Naomi Wildman (que não aparece no episódio, assim como sua mãe,
Samantha) tem uma filha pequena chamada Sabrina. Harry Kim
(aparentemente solteiro) é o capitão da nave estelar USS Rhode
Island (semelhante à USS Equinox, vista no episódio
de mesmo nome). Tom Paris parece ser um civil, escritor de holo-novelas.
Tudo indica que B'Elanna Torres também seja uma civil, mas ela é
adida ao
governo Klingon. O Doutor adotou o nome "Joe", acabou de se casar
com uma humana de nome Lana (leia-se "Barbie"), e
tem
uma alta posição na Frota Estelar (aparentemente, os direitos dos
hologramas foram reconhecidos). O emissor portátil dele não é
visto em nenhuma cena no futuro, mas pode ser que estivesse escondido sob a
sua roupa holográfica. Barclay, também solteiro, é
comandante e professor da Academia da Frota Estelar, assim como a
almirante Janeway, que planeja dividir uma disciplina sobre
os Borgs com ele, no semestre que se inicia.
Tuvok está
hospitalizado devido a uma doença neurológica degenerativa, que
lhe roubou completamente a razão. Os primeiros sintomas de tal
doença tinham sido diagnosticados pelo doutor, 26 anos antes. Seven
of
Nine está morta há 23 anos e Chakotay, o seu marido, morreu de
desgosto poucos anos depois. Paris e Torres têm uma filha de 26 anos,
uma alferes da Frota Estelar de nome Miral Paris - o mesmo nome da mãe
de B'Elanna -, que está em uma missão secreta sob ordens da
almirante Janeway. Torres diz que um pedido da almirante, de inclusão
da casa de um certo Klingon Korath
no grande conselho Klingon, está bem encaminhado. Quando a antiga
engenheira-chefe da Voyager pergunta se isto têm algo a ver com a missão
de Miral, a almirante se esquiva.
A almirante Janeway visita Tuvok
para se despedir. Ela também pede ao Doutor uma grande quantidade de uma droga
experimental que
combate o envenenamento por táquions, mas não lhe revela as suas
motivações. Barclay deixa à disposição de Janeway uma nave auxiliar entupida de tecnologia anti-Borg.
Em seguida, ela vai
ao túmulo de Chakotay e diz adeus.
(Aqui já estamos com aproximadamente 15 minutos de exibição e termina a melhor
parte do episódio; a propósito, a Voyager se tornou um museu no pátio do
Presidio. Do gabinete da capitã pode-se avistar Alcatraz.)
Presente
- Os repetidos alarmes falsos do nascimento da filha de Torres levam a tripulação a
instituir um "bolão do bebê", para apostar na hora em
que Miral vai nascer. Chakotay e a capitã Janeway discutem um substituto
para Neelix (que deixou a nave episódios antes). Depois, Chakotay e Seven têm o seu terceiro
encontro.
Tuvok já exibe os sintomas iniciais de sua
doença neurológica, mas o Doutor
mantém a situação entre os dois, a pedido do paciente Vulcano.
Enquanto isso, Seven e Neelix jogam
pelo subespaço, mas a partida de Kadis-Khot
é interrompida quando Seven descobre uma nebulosa aparentemente
infestada de fendas espaciais.
Futuro
- Tuvok
está completamente perturbado após a última visita de Janeway.
O Doutor fica desconfiado e pressiona Barclay, que acaba revelando
o destino da almirante. O holograma médico partilha tal informação com o
capitão Harry Kim.
A almirante, com a ajuda de Miral Paris (um
verdadeiro achado do pessoal de elenco na pessoa de sua atriz), encontrar-se com o Klingon Korath (vivido pelo homem múltiplo de
Jornada, Vaughn Armstrong) para obter uma peça
de equipamento fundamental para a sua viagem. Mas, depois que Korath
se recusa em honrar o acordo original, Janeway rouba o equipamento.
Ela segue em sua nave auxiliar com dois cruzadores Klingons em sua
cola. Porém, a nave da almirante possui uma espécie
de armadura que suporta o poder de fogo combinado das duas naves.
Presente
- A Voyager encontra vários cubos
Borgs no interior da nebulosa e bate em retirada, sob o olhar
atento da rainha Borg (Alice Kriege, retornando ao papel que
interpretou no filme Primeiro Contato).
Futuro
- A nave de Kim intercepta Janeway, mas a
almirante convence o capitão da importância de sua missão e ele
acaba ajudando-a em seu "desentendimento" com
os Klingons. A almirante utiliza o dispositivo de Korath
para abrir uma passagem espaço-temporal até a Voyager do
presente e se transporta para o quadrante Delta.
Presente
(até o final)
- A Voyager fecha a abertura antes que os
cruzadores Klingons possam atravessar também. A rainha observa
incrédula a transmissão da almirante para Voyager.
(Aqui já
estamos com aproximadamente 45 minutos de exibição e o episódio
perde a interessante estrutura narrativa de presente-futuro, o que
acaba por prejudica-lo. Este é o ponto em que o episódio foi
cortado para ser exibido em duas partes nas reprises.)
A almirante propõe que a Voyager utilize a tecnologia de defesa que ela
trouxe do futuro, passe pelos Borgs e entre em uma das fendas
espaciais para voltar para casa. A capitão Janeway aceita a
proposta e são iniciados os preparativos para a missão. A rainha
avisa a Seven, durante um dos ciclos de regeneração, que se a Voyager retornar
à nebulosa ela será destruída.
A tecnologia da
almirante é impressionante. A armadura resiste ao assalto
combinado de múltiplos cubos e os novos torpedos explodem cubos
inteiros, com extrema facilidade. Porém, a almirante não avisa a
tripulação que a nebulosa guarda uma fantástica estrutura que permite que os Borgs posicionem instantaneamente
naves nos quatro cantos da galáxia, provavelmente a maior
vantagem tática da coletividade - um tipo de "hub transdobra". A
capitã então manda dar
meia-volta e ordena que seja feito um plano para destruir tal estrutura. A
almirante é totalmente contra.
As duas Janeways discutem e se enfrantam,
até a
almirante contar sobre o que virá a acontecer a Tuvok, Seven e Chakotay.
Preocupada, a capitã vai até Tuvok, que confirma a
sua doença e diz que a única cura possível é
um elo mental com um dos seus familiares - os quais estão todos no
quadrante Alfa. A almirante também conta tudo para Seven,
na esperança de que a ex-Borg possa fazer a capitão mudar de idéia,
mas a única reação de Seven é romper o relacionamento com Chakotay.
Um plano
arriscado é formulado, só que a capitã quer a aprovação de
todos, devido ao enorme risco envolvido. Kim, sempre o mais
obcecado em voltar para casa, aprova o plano e propõe um brinde
não ao destino, mas sim à jornada da Voyager.
A Janeway do futuro se comove
com os últimos acontecimentos e articula um plano de apoio com a
capitã. A almirante vai ao encontro da rainha Borg em sua
cidadela. Quando
a majestade dos Borgs assimila a almirante, acaba cometendo um erro
fatal. A almirante fora infectada com o agente patogênico
apresentado no episódio "Child's
Play" e a rainha, a cidadela e a nave auxiliar da
almirante são todas destruídas. A almirante dá a vida para levar a
sua tripulação para casa.
A
Voyager entra em um conduite
transdobra, rumando para o quadrante Alfa. Usando os torpedos do
futuro, a nave consegue produzir uma reação em cadeia que acaba por destruir totalmente a
estrutura do hub. Na reta de chegada
para casa, no entanto, a Voyager é surpreendida por uma última esfera Borg.
Próxima à abertura do conduite no quadrante alfa está à espera
uma frota de naves
convocada pelo almirante Paris (presente na sede do projeto "Pathfinder",
juntamente com o tenente Barclay).
Quando
a esfera abre a sua comporta de assimilação, Tom Paris consegue estacionar a Voyager
em seu interior, e
Janeway e cia. acabam explodindo a nave Borg por dentro, chegando em
uma gloriosa bola de fogo ao quadrante Alfa. Em meio à confusão
nasce Miral Paris. Tom desce para Enfermaria e Chakotay assume o
leme, não sem antes trocar um "sorrisinho"
com Seven. Janeway ordena um curso para casa e a Voyager segue
para a Terra escoltada por uma frota de naves da Frota Estelar.
Comentários Principais:
A coisa mais certa
que se pode dizer sobre esse segmento final de Voyager é
que a quarta encarnação de Jornada nas Estrelas "morreu como
viveu". "Endgame" representa
perfeitamente as virtudes e defeitos que marcaram toda a produção
da série. Não se encontra no presente artigo uma justificativa
formal desta afirmação (o que levaria a um gigantesco texto),
mas os comentários sobre o episódio examinam defeitos presentes
na série como um todo.
Provavelmente a primeira coisa que um
espectador vai dizer, após a sua primeira experiência com o episódio,
é: "- Caramba, eu acho que já vi isto em algum
lugar!". A trama principal do episódio é de fato derivada
de forma descarada do episódio "Timeless" (da quinta
temporada da série, o seu centésimo e mais popular episódio),
que por sua vez já era uma variação de um dispositivo de trama
utilizado anteriormente em Jornada inúmeras vezes. Porém, o que
realmente irrita são as incontáveis similaridades de "Endgame"
com o episódio final de a A Nova Geração, "All Good Things"
- um dos mais populares daquela série e que deu a Brannon Braga a
mais importante força criativa da série Voyager: um prêmio Hugo e uma nominação ao
prêmio Emmy. As similaridades são tão numerosas que
aparentemente o citado "All Good Things" deve ter
sido utilizado como um modelo formal para "Endgame".
Isso é algo tão na cara que uma parte específica deste artigo
foi reservada só para tratar dessas similaridades. Assumindo a óbvia
falta de originalidade, continuemos com a análise do episódio.
Antes de chegarmos no núcleo do segmento, a figura da almirante
Janeway, torna-se necessário colocar uma hipótese básica de
trabalho do autor quanto a viagens temporais (de forma bastante
resumida é claro), para estabelecer o referencial para a discussão.
Tal axioma pode ser resumido como: "Um viajante temporal
volta sempre para o passado de um universo paralelo, nunca para o
dele próprio". Tal hipótese elimina a maioria dos paradoxos
associados a viagens temporais (o "paradoxo do avô"
para citar um exemplo óbvio) e também oferece uma maior ressonância
dramática, pois os viajantes sempre acham que estão modificando
os seus próprios universos, mas no fundo estão modificando um universo paralelo,
tornando-as figuras extremamente trágicas.
Então, sob tal ponto de vista, a almirante Janeway é um elemento
de um futuro de um universo paralelo, universo que CONTINUOU a
existir, mesmo com todos os eventos narrados no episódio e no
qual o seu desaparecimento permanece, como disse
"aquele" Tuvok: "um mistério".
Com base
nisto... É cômico (além de ser uma "caixa de vermes"
gigantesca) que um figurão da Frota Estelar tenha acesso aos meios
para fazer a lambança que a almirante faz no episódio. Onde
andará a "polícia temporal" da Federação do século
XXIX nestas horas? Além de ser arbitrário a almirante trazer
supertorpedos e armadura, mas não algum tipo de propulsão
transdobra para simplesmente levar a nave para casa.
O fato de
toda aquela tecnologia do futuro acabar na Terra é simplesmente
ridículo. E ainda: a existência do tal "hub" transforma
o início do filme "Primeiro Contato"
em uma bobagem sem tamanho. De fato, a existência de tal estrutura
transforma todas as táticas da coletividade com relação à Terra
em um amontoado de idiotices.
É irônico que
Voyager, uma série
que produziu um episódio sobre o quanto é infrutífera uma obsessão
em mudar o passado tenha, em seu desfecho, a
protagonista tentando e conseguindo fazer exatamente isto (a
referência aqui é ao duplo "Year Of Hell", da quarta temporada).
Isso
é também verdadeiro para "Timeless",
na figura de Harry Kim. Mas aquele episódio teve resultados tão
mais satisfatórios que o presente "Endgame"
que isso acaba não importando tanto. O principal diferencial é a
associação da falha de Kim a um evento específico, o famoso
"ponto focal", e daí a missão do seu alter-ego mais
velho. Construindo uma obsessão através da culpa pelo desastre
advindo deste evento específico. Tal "foco" faz de fato
a diferença entre os episódios.
É novamente arbitrário, e
mesmo arrogante, o fato de a almirante escolher exatamente sete
anos da missão da Voyager no quadrante Delta como um "ponto
de equilíbrio" entre o estabelecimento dos relacionamentos
da tripulação e a sobrevivência dos membros desta mesma tripulação.
Com os meios e as motivações por trás da missão da almirante
Janeway soando de forma tão arbitrária e não sincera, uma
apreciação mais afetuosa do episódio se torna difícil.
Essencialmente, a história segue com o piloto automático ligado,
percorrendo ponto a ponto de uma trama mecânica, derivada e
previsível.
As cenas do futuro (do universo alternativo),
especialmente os primeiros 15 minutos do episódio, contêm os
seus melhores momentos. Tal futuro é interessante porque nele
temos presentes e ausentes, tragédias e redenções, alegria e
dor. Um cenário com o qual é possível simpatizar, algo que
definitivamente parece com a vida. Isto faz pensar: Será que os
eventos em "nosso" universo, que a almirante Janeway
desencadeou, irão produzir um futuro similar? Será que existirão
outras (ou as mesmas) tragédias pessoais para esta tripulação
no "nosso" futuro?
(Outra coisa que se observa é que os
personagens parecem ter nesse futuro um elo muito mais forte entre
eles do que no presente. Mais um ponto a favor das citadas cenas.)
A impressão final é a de que a Voyager voltou para casa não
pelos méritos de sua tripulação ou pelos esforços do pessoal
do projeto "Pathfinder" mas sim por que uma viajante
temporal apareceu na frente da nave e ofereceu "tecnologia
mágica" com a qual seus tripulantes puderam
"aleijar" os Borgs E voltar ao lar.
O fato de a tripulação
não ter de fato que escolher entre voltar para casa e arrasar os
Borgs é lamentável! Este tipo de situação é que produz real
drama, mas os roteiristas tomaram, como sempre, o caminho mais
fácil.
O mais difícil de engolir é que o único "pagamento dramático"
oferecido para a realização de duas tarefas tão hercúleas e
simultâneas tenha sido apenas a morte da almirante Janeway, que
obviamente era uma clara "comida de verme" desde o
momento que partiu em sua missão. Tudo termina "certinho e
bonitinho", o espectador se sente enganado por causa disto.
Estas são as idéias gerais. Não serão comentados detalhes mais
finos da trama, pois a dita cuja simplesmente não merece o esforço.
(Mais um fato importante é que o episódio perde muito em
andamento, quando a almirante Janeway chega ao presente,
dissolvendo a estrutura de narrativa presente/futuro.)
Personagens
(Onde aparecem os maiores problemas desta série.)
Os personagens funcionam melhor como suas contrapartes do futuro.
É simplesmente inaceitável que suas versões do
futuro alternativo representem, em um certo sentido, um fechamento
adequado para eles em termos da série como um todo.
O grande
problema da caracterização dos personagens do episódio - mas de
forma alguma o único - está no casal Seven/Chakotay. A total e
descarada falta de "setup" de tal relacionamento nos
faz pensar que perdemos ao menos uma temporada, o que não é,
obviamente, o caso. A falta de química entre os dois atores e o
absurdo da situação parece ter afetado os próprios Ryan e
Beltran. Em certos pontos, temos a clara impressão de que uma
"sessão de riso coletiva" está para ocorrer.
(O mais
duro é que tal relacionamento tenha bastante tempo de tela. Depois
dessa bobagem é difícil não concordar com as palavras do Robert
Beltran: "-Os roteiristas de Voyager são uns
idiotas".)
De fato, se não fosse por
essas cenas, Chakotay não
teria muito que fazer devido à forma que o episódio é
estruturado com duas Janeways. A esquecida perspectiva de um
romance de Chakotay com Janeway não é sugerida, mesmo que por
sub-texto, em lugar algum.
O episódio reduz o
"setup" do final de "Human
Error" (potencialmente trágico
para Seven of Nine) a uma "coisa tão simples que um
procedimento médico trivial de fim de tarde pode resolver".
A partir daí, Seven está pronta para experimentar emoções com o
comandante "Comatay". Mais uma reciclagem (via almirante
Janeway) do tema da culpa de Seven, pelos seus tempos na
coletividade, é simplesmente ridícula. A personagem fica muito
mal fechada.
O Doutor tem uma melhor sorte, pois parte do seu
fechamento ficou no bom episódio "Author, Author".
Neste veículo, a possibilidade de um relacionamento dele com
Seven vai para o "toilete", com direito a AINDA MAIS UMA
"cena do Doutor, que, através somente de sub-texto, continua
a tentar conquistar Seven em longo prazo" (a cena é
simplesmente deprimente, apesar do esforço de Picardo). Deve ser
frustrante perder a Seven para um personagem em ETERNO estado de
coma. O Doutor se sai bem como alívio cômico.
Kim continua o
eterno "bobo-da-corte". Seu brinde "não ao
destino, mas sim à jornada", que vai para o ralo com o final
apresentado, beira a comédia involuntária.
Torres foi usada como
alívio cômico, e as cenas funcionam mais pela raça da atriz.
Paris tenta assumir ares mais responsáveis (o que ele até certo
ponto consegue, dentro da sua rasa caracterização). Foi digno de
nota o fato de ambos estarem preparados para criar a sua filha a
bordo da Voyager - é uma pena que o final tenha arruinado isto
também.
A
participação de Neelix foi ínfima (felizmente). Tuvok saiu com
alguma dignidade e a referência a Spock foi simpática. Pena que o
nosso primeiro "Afro-Vulcano-Americano" (ou algo
parecido) tenha sido tão ridiculamente pouco (e mal) desenvolvido
no curso da série. Ele se notabilizou por falas como
"Escudos a 50%" e as suas derivadas, "escudos a
40%", "escudos a 30%"...
A caracterização de
Janeway (no presente caso, das duas Janeways) representa talvez o
maior desgosto do autor por esta série. Aqui temos a personagem
tentando forçar sua patente por pelo menos três vezes, tomando
posições rígidas e radicais e depois "dando um 180"
(não menos radical) sobre tais posições e violando regras e
respeitando outras tantas para fazer o episódio funcionar em seus
termos. É dose!
(Aparentemente a maquiagem da almirante Janeway
era a mais leve dentre todas as versões futuras dos personagens?
Parece que o capitão Kim é mais velho do que ela.)
Nem mesmo o
Klingon Korath funcionou aqui. Ele era um tipo sem um pingo de
honra. Miral Paris foi um prazer de assistir. Barclay foi decente
e os demais não comprometeram. Já a rainha Borg passou de um
interessante conceito que serviu para viabilizar o filme Primeiro
Contato para audiências leigas na franquia, a uma "vilã-padrão"
que acabou por tornar bastante indefinida (especialmente pela
falta de consistência) a própria coletividade. Aqui ela morre...
mais uma vez.
Valores de produção
A direção
de Alan Kroeker é segura e confiante, seja com a câmera na mão
ou na ponta da grua. As cenas com as duas Janeways são
infinitamente bem executadas, sem exageros puramente estéticos.
Da maquiagem aos cenários, o episódio é visualmente soberbo. Um
grande bônus vai para a equipe de efeitos visuais, pelo "hub
transdobra".
Dentre os atores regulares temos: uma raçuda (como
sempre) Dawson, um competente McNeill, um digno Tim Russ, o eterno
malabarista de roteiros ruins Picardo, uma irregular Ryan, um
(eternamente) comatoso e desmotivado Beltran, um usualmente medíocre
Wang e uma pontinha inofensiva de Phillips. O destaque vai para
Mulgrew no papel das duas Janeways, especialmente no da almirante.
Ela protagonizou com Russ a cena mais tocante do episódio, a da
despedida entre a almirante e Tuvok. Apesar de serem estranhas
algumas escolhas da atriz (em certas cenas a almirante parece ter
mais energia do que a capitão), ela se esforçou um bocado para o
episódio funcionar em seus termos propostos.
Schultz fez o seu
bom trabalho usual, talvez só um pouco mais apagado do que de
costume. Armstrong deu o seu melhor na pele do Klingon Korath.
Kriege definitivamente consegue impor uma aura mais malévola à rainha Borg do que Susana Thompson. Mas a indiferença pessoal do
autor com relação à personagem cresceu a tal ponto que isto é
essencialmente "irrelevante". Herd, Intiraymi e os
demais não comprometeram. O destaque absoluto dentre os atores
convidados (especialmente pelo
pouco tempo de tela) , vai para Lisa
Locicero como Miral Paris.
Outro pontos secundários
positivos
- Tuvok e Kim envolvidos no jogo de Kal-Toh;
- Seven e Neelix jogando Kadis-Khot
on-line;
- Chakotay e Janeway
discutindo o substituto de Neelix;
- o "bolão do bebê";
- uma breve referência à espécie
8472;
- uma breve referência ao
episódio "Unimatrix Zero".
Outros Pontos
secundários negativos
- Paris e Janeway se abaixando
enquanto a Voyager passa por baixo de um cubo Borg;
- Janeway se
apresentando como a especialista definitiva sobre os Borgs,
barateando as experiências de Picard com a coletividade;
- inúmeras
possibilidades de boa continuidade perdidas, mas a mais descarada
é o total esquecimento dos acontecimentos de "Unimatrix
Zero", o último "grande" episódio Borg
antes de "Endgame";
- falta de
fechamento para os personagens (especialmente com relação a
questões não triviais envolvendo os Maquis, Tom Paris, Seven e o
Doutor). A sugestão de que os acontecimentos das vidas dos
personagens se desenrolem de forma similar aos apresentados no
futuro alternativo é insatisfatória para dizer o mínimo.
Conclusão
No piloto de
Voyager, "Caretaker", foi estabelecida a
premissa da série de voltar para casa, mas a realização desta
premissa em "Endgame" parece soar
totalmente falsa e desprovida do impacto emocional que deveria
ter. O fato de a tripulação não ter que escolher entre voltar pra
casa e "fazer um bem maior" é totalmente insatisfatório
e o brinde "à jornada e não ao destino" só serve para
esvaziar ainda mais o final (chega até a ser engraçada a combinação
dessas duas situações, mostrando claramente o pouco interesse
dos realizadores da série pela sua conclusão). O retorno da
Voyager, ainda mais da forma realizada aqui, tira da série o seu
único diferencial, deixando um problema para histórias futuras,
mesmo para os livros (ou será que este foi justamente o
objetivo?).
O episódio ainda assim recebe uma boa recomendação.
A recomendação relativamente alta vai para o seu valor de
entretenimento, em grande parte agregado aos excelentes valores de
produção apresentados. O episódio é fortemente recomendado aos
fãs tradicionais da série, pois "Endgame"
é um autêntico exemplar de Voyager, até o último detalhe.
Entretanto, qualquer esforço do autor em levar o episódio a sério
ou extrair algum impacto ou satisfação emocional dele se
mostrou inútil.
O que será deste episódio daqui a uns cinco
anos - talvez em muito menos tempo, aliás - quando a qualidade
dos efeitos visuais desaparecer?
Uma nota final (e bastante cínica)
sobre este episódio (e sobre a série Voyager
como um todo é que, lembrando os títulos dos segmentos finais
das demais séries de Jornada nas Estrelas, Undiscovered Country (Série Clássica),
"All Good Things...(A Nova
Geração) e "What You Leave Behind"
(Deep Space Nine), motivos literários parecem
vir à mente. Lembrando do título do episódio final de Voyager,
"Endgame",
um texto de videogame parece vir a mente. Sinal de tempos mais
descartáveis, aos quais, infelizmente, a quarta série da
franquia se adaptou, e bem.
Recomendação:
Apêndice:
Similaridades entre "Endgame" e "All Good Things..."
(Similaridades associadas - na maior parte - ao futuro alternativo
apresentado no episódio.)
- Uma versão envelhecida da
protagonista;
- os uniformes da Frota Estelar no futuro;
- cruzadores
Klingons futuristas atacando uma nave comandada por uma mulher;
- uma nave da Federação com camuflagem;
- Torres como adida ao Império
Klingon;
- Paris como escritor;
- um único personagem é capitão e
um único personagem é almirante;
- um bizarro casal que ninguém
sabe de onde veio e cuja união possui implicações trágicas no
futuro alternativo;
- é apresentada uma "versão upgrade"
da nave principal da série;
- um personagem sofrendo de uma doença
neurológica degenerativa;
- pulso de anti-táquions para fechar uma
anomalia espaço-temporal;
- Barclay e Janeway se tornam
professores.
Além da trama principal de "Endgame"
ser bastante similar à de "Timeless"
- sem contar com um pequeno eco de "Time Squared",
da segunda temporada de A Nova Geração - , o
que mais salta aos olhos são as similaridades deste com o episódio
final da série da turma de Picard e Data. Além das similaridades
por si, a interação entre elas só amplia a noção de estarmos
assistindo a algo reciclado.)
A estratégia de ataque aos Borgs
da almirante Janeway remete claramente à trilogia
"camuflagem + supertorpedos + armadura", da Defiant.
Também existe uma nave da classe Defiant, dentre as naves que
escoltam a Voyager de volta pra casa.
|