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Janeway vs. Primeira Diretriz, Parte III

Caminhamos um pouco mais, para o quarto ano de Voyager, e grandes mudanças ocorrem no dia-a-dia da intrépida tripulação, com a primeira aparição significativa dos Borgs, a conseqüente introdução de Seven of Nine e a ameaça Hirogen. Obter suprimentos e novas tecnologias, assim como defender-se de espécies hostis, torna-se muito mais difícil, algo além da famosa diplomacia dos oficiais da Federação.

Começamos com "Scorpion", o episódio duplo que abre a temporada. A Capitã Janeway enfrenta a situação provavelmente mais aterrorizante de todos os capitães: depara com a Coletividade Borg. A diferença é que, neste caso, ela não tem o apoio da Frota Estelar ou da Federação.

Embora possua um fantástico arsenal, a USS Voyager é uma nave pequena, projetada para missões de curta duração. A idéia de atravessar território Borg significa morte certa e, após quase três anos de viagem pelo Quadrante Delta, os tripulantes encontram seu maior desafio.

Depois de um rápido confronto com quinze cubos, a nave descobre uma nova ameaça: na 'linguagem colorida' dos Borgs, a Espécie 8472. Trata-se de seres não-humanóides, vindos de um domínio onde vivem sós, um tipo de universo paralelo. A Coletividade tentou assimilá-los, mas não teve sucesso, pois seu sistema imunológico é completamente resistente a agentes biológicos, químicos ou tecnológicos.

Além de provocá-los, os Borgs abriram um portal para a nossa galáxia e iniciaram um conflito que agora estavam perdendo. Nesse meio tempo, o Doutor desenvolve um modo de infectar os 8472 e suas bionaves, usando nanossondas Borgs modificadas.

A capitã então toma uma decisão sem precedentes: faz uma aliança temporária com a Coletividade. A Voyager forneceria um meio de derrotar a Espécie 8472 em troca de passagem livre e segura pelo espaço Borg. Essa foi, possivelmente, a maior violação da Primeira Diretriz na história do seriado --o envolvimento em uma guerra alheia, sobretudo ao lado dos Borgs, sendo que estes iniciaram o conflito. Além disso, a presença dos 8472 trazia motivação e esperança às centenas de espécies sob risco de assimilação pelos Borgs. Janeway, na luta para justificar seu plano de trazer a Voyager para casa, estava disposta a fechar essa janela.

A presença de Seven of Nine a bordo também abre espaço para outras observações. Como Borg, ela nunca se submeteu a uma sociedade dividida em hierarquias, regras e leis de conduta. A vida em uma nave estelar com 150 humanos certamente ofereceu grande dificuldade de adaptação. Em muitas ocasiões ela decidiu agir por conta própria, comprometendo a Primeira Diretriz. Isto será analisado mais detalhadamente quando abordarmos o sexto ano do seriado.

Mas o evento que repercutiu mais claramente foi mesmo o acordo com os Hirogen, no episódio "The Killing Game", em que a nave foi tomada por essa raça de caçadores, e Janeway e sua tripulação submetidos a manipulação mental e expostos a simulações de holodeck extremamente violentas, sem a proteção dos protocolos de segurança que asseguram a integridade física do indivíduo nos cenários. Quando a situação sai do controle para ambos os lados, a capitã, já com sua personalidade recuperada, declara o cessar-fogo com os Hirogen e, em troca de sua nave e segurança dos tripulantes, entrega ao inimigo a tecnologia que permite a criação de holodecks.

O fato de simplesmente entregar tecnologia da Federação a uma espécie que não possui tal conhecimento fere gravemente a diretriz que rege todas as naves da Frota. Esse ato seria inconcebível na cabeça da Kathryn Janeway da primeira temporada da série. Mas, como já foi dito, "os fins justificam os meios". Esse fato isolado vai repercutir no sétimo ano da série, em "Flesh and Blood", em que tanto os Hirogen como a Voyager têm de enfrentar as conseqüências dessa troca de tecnologia.

Daniel Sasaki é co-editor do Trek Brasilis