A Volta da Grande Aventura

A terceira temporada de Voyager foi marcada por mudanças significativas no modo de se contar histórias. "Acho que fomos bem-sucedidos na tarefa de restaurar um maior senso de aventura, destacando a série e trazendo de volta um pouco de humor", disse Jeri Taylor, a principal produtora-executiva daquele ano, em entrevista de 1997.

Nos Estados Unidos, Voyager mudava de horário, passando a ser exibida depois do seriado "The Sentinel". Os índices de audiência caíram quase 20% só no primeiro mês da temporada, indo de uma média de 6.3 para 5.1 no Nielsen ratings. Ainda assim, continuou a ser o programa mais assistido da rede UPN, atraindo de 5 a 7 milhões de telespectadores.

Aquele ano marcou também o fim do reinado de Michael Piller na cadeira de comando da equipe criativa. "Haverá uma diferença", adiantava Taylor na época. "Michael e eu partilhamos um mesmo tipo de sensibilidade na narração das histórias, mas há coisas que sempre me atraíram e que não o atraem". Com certeza essa mudança foi sentida pelo público.

A temporada começou com a conclusão do episódio "Basics, Part I". Não se tratava, entretanto, do desfecho de uma simples história, mas de todo o arco dos Kazons e de Seska, vilões nos quais a série vinha se sustentando desde os primeiros episódios. "Eu particularmente já estava cansada dos Kazons há muito tempo, antes mesmo daquele episódio [Basics] ser produzido ou idealizado, e estou feliz em poder dizer que é a última vez que os veremos", comentou. 

Isso justifica bem a tendência adotada pelos roteiristas nas histórias que seguiriam. Durante o terceiro ano inteiro, a série não se prenderia a raças ou arcos. 

Os níveis de audiência voltaram a subir com o duplo "Future's End", em que a tripulação retorna à Terra, mas desembarca na Los Angeles de 1996. O episódio foi muito bem recebido pelo público, dando início aos célebres roteiros envolvendo viagens temporais.

Popular também mostrou-se "Macrocosm", no qual a capitã vira uma heroína do tipo Rambo para salvar a nave e toda a tripulação. Sozinha, ela engatinha por corredores, corre, escala, joga-se no chão, enfim, tira o atraso nos exercícios físicos.

Mesmo com a USS Voyager permanecendo no quadrante Delta, alguns "velhos amigos" e idéias familiares são reintroduzidos ao público. O capitão Hikaru Suku (George Takei) volta com tudo em "Flashback", episódio que comemorou os 30 anos de Jornada. Mais tarde, no meio da temporada, Q (John DeLancie) retorna ao quarto da capitã, dessa vez com flores, chocolates e propostas românticas...

Os Ferengis do episódio "The Price" (A Nova Geração, 3° ano) são encontrados por Janeway no fraco "False Profits". Dois tripulantes passam pelo Pon Farr em "Blood Fever" e, para fechar a terceira temporada com chave de ouro, os Borgs finalmente mostram a cara em "The Unity" e no extraordinário "Scorpion", que marca a saída de Jennifer Lien (Kes) do elenco fixo da série.

Muitos fãs vinham dizendo que Voyager tinha perdido histórias potenciais ao homogeneizar a tripulação tão cedo. A resposta veio com "The Chute" e "Fair Trade". Em "Worst Case Scenario", os roteiristas conseguiram explorar esse ponto no holodeck. Talvez o episódio tenha representado o rumo que eles deixaram de seguir.

Com certeza, foi uma temporada de aprofundamento nos personagens. Parece que as coisas mais difíceis, as histórias mais desafiantes emocionalmente, acontecem com o Doutor - que não é humano - ou com outros personagens em sonhos, quando estão habitados ou quando estão possuídos por influências externas. B'Elanna tem um amante nos seus sonhos em "Remember", Kes fica irreconhecivelmente agressiva em "Warlord", o Doutor sofre com a morte de sua filha holográfica em "Real Life", e por aí vai.

O ano termina com indícios de que Janeway e Chakotay irão de fato desenvolver um relacionamento mais sólido e, é claro, com o dramático confronto com os Borgs - ocasião na qual a capitã choca os telespectadores ao jogar pela janela os manuais e protocolos da Frota Estelar.


A TEMPORADA, EPISÓDIO A EPISÓDIO

01 - Basics, Part II – Enquanto os oficiais da Voyager lutam para sobreviver em um planeta primitivo, um único tripulante combate os Kazons, que tomaram o controle da nave. Nota: 5,0

02 - Flashback – Tuvok vive as cenas de uma memória reprimida, ligada a sua primeira missão na Frota, sob o comando do renomado capitão Sulu. Nota: 6,5

03 - The Chute – Condenados por um crime que não cometeram, Paris e Kim podem passar o resto de suas vidas em uma prisão infernal. Nota: 5,0

04 - The Swarm – Enquanto a Voyager combate uma nuvem de naves alienígenas, Kes luta para impedir a deterioração dos circuitos de memória do Doutor. Nota: 3,5

05 - False Profits – A tripulação tenta libertar o povo do planeta Takar de dois Ferengis oportunistas fazendo-se passar por deuses. Nota: 2,0

06 - Remember – Torres fica atormentada por uma série de sonhos nos quais parece estar revivendo a vida de outra mulher. Nota: 3,5

07 - Sacred Ground – Para salvar a vida de Kes, Janeway testa suas próprias crenças espirituais ao passar por um misterioso ritual de uma ordem religiosa alienígena.

08 - Future’s End, Part I – A Voyager visita a Los Angeles do século XX para tentar impedir que uma nave temporal destrua o Sistema Solar da Terra no século XXIX. Nota: 8,0

09 - Future’s End, Part II – A tripulação corre contra o tempo para impedir que um industrial do século XX cause um desastre no século XXIX. Nota: 7,0

10 - Warlord – O corpo de Kes é tomado pela mente de um líder político inescrupuloso, determinado a reconquistar o poder em seu planeta. Nota: 3,0

11 - The Q and the Grey – Janeway se surpreende quando Q pede que ela seja a mãe de seu filho, e a capitá é levada ao centro de uma perigosíssima guerra civil na Dimensão-Q. Nota: 6,0

12 - Macrocosm – A Voyager é infestada por um mcrovírus alienígena letal. Nota: 7,0

13 - Fair Trade – Os esforços de Neelix em guiar a tripulação acabam levando-o a um perigoso grupo de contrabandistas. Nota: 5,0

14 - Alter Ego – A obsessão de uma personagem do holodeck por Tuvok ameaça destruir a USS Voyager. Nota: 3,0

15 - Coda – Janeway se encontra presa em um misterioso loop temporal, onde uma série de eventos repetitivamente acabam com sua morte. Nota: 3,0

16 - Blood Fever – B’Elanna sofre as influências do Pon Farr após um tripulante vulcano tocá-la. Enquanto isso, Chakotay faz uma descoberta chocante sobre os invasores de um estranho planeta. Nota: 5,0

17 - Unity – Chakotay se envolve com um grupo de ex-Borgs. Nota: 3,0

18 - Darkling – O Doutor sofre graves efeitos após adicionar diferentes programas a sua matriz holográfica. Nota: 7,0

19 - Rise – A tripulação da Voyager tenta ajudar o povo de um planeta bombardeado por asteróides. Nota: 3,0

20 - Favorite Son – Harry se convence que é nativo do planeta Taresia, predominantemente habitado por mulheres. Nota: 1,0

21 - Before and After – Kes fica confusa quando começa a saltar de volta no tempo. Nota: 8,5

22 - Real Life – Enquanto Paris faz um vôo perigoso sobre uma tempestade de energia subespacial, o Doutor vive alegrias e dores com sua nova família holográfica. Nota: 8,0

23 - Distant Origin – Um professor alienígena seqüestra Chakotay para provar sua controversa teoria sobre a origem de sua espécie. Nota: 9,0

24 - Worst Case Scenario – Uma holo-novela sobre um motim Maquis na Voyager se transforma em ameaça real quando uma versão holográfica de Seska entra em cena. Nota: 7,0

25 - Displaced – A USS Voyager é tomada por uma raça alienígena e sua tripulação relocada para uma prisão idílica. Nota: 3,5

26 - Scorpion, Part I – Ao entrar no tenebroso espaço Borg, a Voyager se depára com um inimigo ainda mais poderoso que a Coletividade, e a capitã se vê forçada a fazer uma aliança sem precedentes. Nota: 10,0


A TEMPORADA EM NÚMEROS

Daniel Sasaki é co-editor do Trek Brasilis