Voyager
- Um estranho entre nós
Embora
venha sendo produzido há quase seis anos e esteja entrando em sua
sétima e última temporada nos EUA, o seriado "Star Trek:
Voyager" só chegará às telas brasileiras em outubro de
2000. Para muitos de nós, o acesso à 4ª série do franchise de
Jornada só foi possível através de convenções e/ou reuniões
de fã-clubes nacionais.
Um dos motivos da negligência sofrida pela Voyager no Brasil (além,
é claro, da tradicional omissão de nossas emissoras na transmissão
de Star Trek) é a atitude dos próprios trekkers brasileiros com
relação a esse seriado. Comenta-se muito coisas do tipo: "Voyager
é inaceitável" ou "A única relação entre Voyager e
a Série Clássica ou Nova Geração é o rótulo Jornada nas
Estrelas".
A verdade é que desde o primeiro dia em estúdio de gravações,
com a escalação de Genevieve Bujold para o papel da Capitã
Elizabeth Janeway, o destino de Voyager tornou-se incerto: após
apenas três dias de filmagens, a atriz desistiu do papel,
comprometendo muito o prazo de estréia da série. Quando Kate
Mulgrew (Cap. Kathryn Janeway) assumiu seu posto, esse impecilho
foi resolvido, mas a partir de então, os problemas só se
agravaram; uma sucessão de roteiristas e produtores-executivos
entraram e saíram da equipe, cada um deixando uma visão única,
muitas vezes conflitante com a dos colegas.
Ao ser lançada, Voyager tomou um rumo completamente diferente dos
seriados anteriores. Ela seria o carro-chefe da nova rede de TV da
Paramount, a UPN, sendo, portanto, exclusiva deste canal. A série
não mais se focalizaria nos klingons, romulanos, nas outras raças
conhecidas de Star Trek ou até mesmo na própria Federação:
perdida no desconhecido quadrante Delta, cerca de 75.000 anos-luz
de casa, a pequena nave encontraria um leque inteiro de novas espécies.
Para a equipe do estúdio, isso implica maiores custos com cenários,
novas maquiagens e elenco secundário (os figurantes deveriam ser
sempre os mesmos).
Porém, diante de tantos obstáculos, temos uma das melhores
premissas já apresentadas no universo de Jornada nas Estrelas e,
na minha opinião, a que melhor retoma a idéia da série de Kirk,
Spock e McCoy. Ao analisarmos a Nova Geração, temos a maior e
mais poderosa nave do quadrante Alfa, uma grande cidade
fortificada e invencível, tripulada por um grupo de lendas vivas,
o mais cobiçado esquadrão da Frota. Nunca realmente tivemos a idéia
de como seria a vida nas demais naves. Na Deep Space Nine, pela
primeira vez desde a Série Clássica, pudemos realmente assitir a
um tema completamente original. Uma velha estação cardassiana,
situada nos limites do território catalogado e na região dos
mais diversos conflitos ideológicos. Embora seja um seriado
excepcional, a falta de mobilidade não agradou a todos, tanto que
em sua terceira temporada foi introduzida a USS Defiant, a
primeira nave de guerra da Frota Estelar.
A USS Voyager é uma nave como outra qualquer da Frota, assim como
a Enterprise de Kirk e, para sua época, uma das menores. Classe
Intrepid, 15 decks (contra os 42 decks da Enterprise-D), tripulação
original de 141 membros. As novidades: pela primeira vez uma
mulher no comando de um seriado Star Trek, um vulcano negro e,
mais recentemente, uma Borg a bordo. Além dos oficiais da Frota,
há os maquis (introduzidos já no seriado anterior). O grupo
precisa batalhar para conseguir suprimentos, aliados, novas
tecnologias. No episódio piloto, por exemplo, o transporte para o
outro lado da galáxia danifica o sistema de replicadores,
portanto eles sempre páram em planetas para coletar vegetais e
chegaram até a reservar um hangar de cargas para cultivar os
alimentos que consomem, o que exprime a realidade da situação
que enfrentam. Temos, ainda, o conflito entre os maquis e os
oficiais federados. Até mesmo a Capitã e seu Primeiro-Oficial
(maquis) discutem muito.
É como um amigo meu disse: "Eu não entendo por que os
outros desprezam a Voyager. É Jornada. Quem diz que gosta de Star
Trek, mas odeia a Voyager, não é de fato trekker."
Tornou-se mania de todos nós reclamar (com toda a razão) da
falta de material na TV brasileira. Agora que o USA Network ouviu
nosso pedido e adquiriu a DS9 (1° e 2° anos), 4° e 5° anos de
Nova Geração e Voyager (1° e 2° anos), cabe a nós agradecê-los
por seu gesto e acompanhar as séries como prova de nossa gratidão.
Não nego que Star Trek: Voyager seja um seriado repleto de
falhas, mas também não concordo com o boicote que os
norte-americanos estão promovendo contra a única série ainda em
produção e seria muito desapontador se os brasileiros fizessem o
mesmo. Levanto aí uma idéia sobre a qual poderíamos refletir
muito...
Daniel
Sasaki é co-editor do Trek
Brasilis
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