Uma
Breve História de Voyager
Quando
Voyager foi idealizada, os criadores sabiam que estavam assumindo grandes
riscos. Em termos de histórias, poderiam começar a parecer repetitivos e o estúdio
já sentia a necessidade de uma inovação na franquia. Ao mesmo tempo, levar a Federação
aonde nenhuma outra série esteve - o outro lado da galáxia, cerca de 70.000 anos-luz
da Terra - era o mesmo que criar um novo universo, novos adversários e novos alienígenas.
"Isso significa fazer algumas coisas muito assustadoras", disse Jeri Taylor, co-criadora
da série, "por exemplo cortar os laços com muitas coisas que são familiares e
confortáveis para nós e a audiência". Talvez o maior desafio fosse inventar
esse universo, modelar o desconhecido e distante Quadrante Delta. "Não há mais
Frota Estelar. Não há mais almirantes para nos dar ordens, para nos dar permissão
para fazer algo. Não há mais Klingons, Ferengis ou Romulanos", completou Taylor.
Todos esses elementos aos quais o público tinha se habituado ao longo dos trinta
anos de Jornada não estariam mais à disposição dos roteiristas. Mas começar
tudo do zero para trazer novas histórias pareceu valer a pena. Durante
os meses de encontros e sessões para desenvolver a série, Jeri Taylor, Rick Berman
e Michael Piller trabalharam arduamente para arquitetar algo inteiramente único
e inédito para os trekkers, ao mesmo tempo mantendo os elementos de Jornada
que tornaram a criação de Gene Roddenberry um fenômeno contínuo. A co-criadora
fala com toda a seriedade que Roddenberry estava presente quando a nova saga ganhou
vida. Voyager apresenta o maior elenco de personagens fixos
de todos os seriados. Criar cada um deles, tornando-os diferentes do que os fãs
já tinham visto, não foi tarefa fácil. O processo foi apressado e levou alguns
meses; a atenção do estúdio estava dividida entre o fecho de A Nova Geração
na TV, a estréia de "Generations" no cinema e a luta de Deep Space
Nine para encontrar seu caminho. O trio de criadores decidiu
então ir de verdade aonde nenhuma Jornada tinha ido, introduzindo a primeira
mulher fixa na cadeira de comando de uma nave. "Essa foi uma decisão que tomamos
porque sentimos que precisávamos de uma nova abordagem na capitania", contou Taylor.
"Se tivéssemos escolhido um homem, em que ele seria diferente dos homens que já
tinham servido corajosamente? Como alguém se igualaria a Patrick Stewart [Picard,
de A Nova Geração]? Tivemos capitães brancos. Tivemos um capitão negro
em Deep Space Nine. Pareceu que era a hora certa de dar esse passo e colocar
uma capitã. A produção estava certa de que ninguém questionaria o comando de Janeway
por ela ser mulher. Ao contrário de Picard, que nunca passava o tempo com sua
tripulação, ela se envolveria na vida de seus oficiais. Só que
as novidades não pararam por aí. Tuvok, o chefe de segurança da USS Voyager era
um Vulcano negro, algo nunca visto nas séries anteriores. O médico-chefe, um holograma
de emergência confinado à enfermaria e aos holodecks. O primeiro-oficial e engenheira-chefe,
ex-rebeldes Maquis. O processo de escalação consumiu muito tempo
e foi cansativo. A produção entrevistou centenas de atores, alguns diversas vezes.
Mas, de todos os papéis, foi o de Janeway, sempre vislumbrada como uma mulher,
que rendeu mais comentários em Hollywood. Correram rumores de que a atriz canadense
Geneviève Bujold, indicada ao Oscar de melhor atriz por sua atuação em "Anne of
the Thousand Days" (1969) estava interessada no papel, embora tivesse se recusado
a se submeter ao teste. Baseando-se apenas no trabalho premiado da atriz, os produtores
a escolheram como a capitã Janeway. Só que, após o início das filmagens, Bujold
voltou atrás em sua decisão, admitindo que tinha cometido um erro e que não conseguia
trabalhar sob as condições estabelecidas. O caminho foi então aberto para Kate
Mulgrew. Complicações com o elenco à parte, Voyager foi
problemática do primeiro ao último episódio, por uma muitas outras razões. Ao
contrário das séries anteriores, não seria transmitida em "syndication", mas lançada
exclusivamente na nova rede de TV da Paramount, um canal ainda sem público e que
não cobria todo o país. O primeiro ano contou com apenas 16 episódios, por causa
da época em que o seriado estreou (no meio da temporada televisiva norte-americana).
O segundo e terceiro anos viram uma perda rápida da audiência, já fragilizada
pela segmentação do mercado da TV. Isso levou, ao final do ano 3, a uma total
mudança nas diretrizes da produção. Talvez a mais significativa delas tenha sido
a notícia de que Jennifer Lien (Kes) não voltaria para a temporada seguinte, sendo
"substituída" pela atriz Jeri Ryan. A entrada de Ryan como a sensual
Seven of Nine definiu um novo padrão para os episódios. Voyager cada
vez menos se preocuparia em enfocar os personagens ou criar arcos de histórias;
cada vez mais se assemelharia a uma série de ação, visualmente atrativa. Os roteiristas
claramente passaram a sustentá-la no trio Seven, Janeway e Doutor, para desespero
de alguns fãs e agrado de outros -- um dos principais motivos por que o seriado
é o mais controverso da franquia. No fim, pode-se dizer que, com suas 7 temporadas
e 172 episódios, Voyager acaba sendo única não por sua nova premissa ou
pelos personagens, mas por diferenciar-se em seu âmago das outras encarnações
de Jornada nas Estrelas. Elenco:
Kate Mulgrew - Kathryn Janeway Robert Beltran - Chakotay Tim Russ
- Tuvok Ethan Phillips - Neelix Robert Duncan McNeill - Tom Paris
Roxann Dawson - B'Elanna Torres Robert Picardo - Doutor Holográfico Garrett
Wang - Harry Kim Jennifer Lien - Kes Jeri Ryan - Seven of Nine |