Uma subdivisão
interessante da literatura de ficção sobre Jornada nas Estrelas
está em suas coletânias de contos curtos e crônicas, como por
exemplo, Star Trek: Strange New Worlds, já com vários volumes,
que são seleções das melhores histórias submetidas por fãs da
franquia. Mais recentemente, uma nova coletânia foi lançada pela
Pocket Books, Star Trek Deep Space Nine: The Lives of Dax.
Quando primeiro tive contato com o conceito detrás da personagem
de Terry Farrel, Jadzia Dax, em Jornada nas Estrelas: Deep
Space Nine, logo de início considerei a sua característica
de várias experiências de vidas como um potencial campo fértil
para muitas histórias pregressas – algo que praticamente salta
aos olhos a respeito da Trill. Bem, esta possibilidade é agora
executada na forma de um livro que tem crônicas sobre momentos
em particular da vida de cada um dos hospedeiros anteriores do
simbionte Dax, de Lela até Ezri. Cada uma destas histórias foi
escrita por diferentes autores profissionais, muitos dos quais
já trabalharam em ficção para a franquia antes, como o casal Judith
e Garfield Reeves-Stevens (co-autores do "Shatnerverso" com Willian
Shatner), Michael Friedman, L.A. Graf, Jeffrey Lang, S.D. Perry,
Kristine Rusch, Steven Barners (responsável pela novelização do
episódio Far Beyond the Stars, meu favorito da franquia) Jill
Sherwin, Robert Simpson e Susan Wright.
Compreendendo um período da história do universo de Jornada
que se estende de meados do século 21 até o final do século 24,
há muito em The Lives of Dax sobre eventos e personagens
conhecidos do fã da série, vistos por uma ótica diferente, através
da perspectiva do Dax de então. E isto resulta não apenas em uma
oportunidade de navegar por estas diferentes épocas universo de
Jornada nas Estrelas, mas também em uma chance de podermos acompanhar
como um personagem pode receber tantas tintas diferentes para
que seja apresentado de muitos modos distintos, seja em gênero,
seja em talentos, em habilidades, em sentimentos, em comportamentos
ou conquistas; no que cada um destes hospedeiros diferem, e no
que se assemelham. A obra apenas arranha estas possibilidades,
claro, mas estas lascas de cada um dos hospedeiros de Dax se mostram
valiosas e interessantes, em diferentes intensidades.
Não existe realmente nenhum elemento muito específico conectando
a ação per se de cada um dos contos, que variam bastante de temática,
foco e mesmo período de vida do hospedeiro sobre os quais tratam
e, na medida do possível, usam como ponto de partida informações
prévias sobre os hospedeiros que tenham sido citadas antes em
tela durante episódios de DS9. Um ponto que eu achei bastante
interessante, contudo, foi notar que havia um interesse em deixar
bastante claro ao longo dos contos pré-Curzon que a informação
sobre os Trills terem simbiontes e tudo relacionado sempre teria
sido um assunto reservado, e pouco conhecido por não-Trills, inclusive
pela Federação. Isto vem a combinar diretamente com os eventos
vistos no primeiro episódio da franquia sobre os Trills, The Host,
de TNG, onde constatamos que a tripulação da Enterprise-D
inicialmente desconhece a natureza simbiótica dos Trills. Acredito
que este ponto deve ter sido uma das coisas que o editor da obra,
Marco Palmieri, deve ter mantido em mente quando do seu trabalho
de coordenar as diversas histórias com os autores destas. Uma
atenção a detalhe que me agradou.
Já um certo problema que tive com The Lives of Dax no seu
geral foi algo que a obra talvez tenha herdado do cânone oficial
da série. Pode ser apenas implicância minha, o que classifica
a coisa como uma de minhas tradicionais cricas, mas achei que
ao longo de suas vidas, Dax escolheu por se aproximar particularmente
de Trills com simbiontes, mais do que eu acredito que seria mera
coincidência. Como bem sabemos, há poucos simbiontes para muitos
candidatos, coisa que resultaria no fato de que a porcentagem
da população total da espécie que possui um simbionte seria razoavelmente
pequena. Assumir que Dax teria sempre interagido de maneira mais
próxima com Trills com simbiontes, como os contos parecem ter
a tendência de sugerir (maridos, esposas, filhos, amigos, colegas)
é algo no mínimo estranho, e dá uma sensação de que os Trills
com simbionte se considerariam uma casta superior que só convivem
com quem possui simbionte.
The Lives of Dax abre com uma história introdutória de
Ezri, segue por cada um dos hospedeiros anteriores, fechando novamente
com a jovem alferes. Neste artigo, vou dar uma rápida passada
por cada um dos textos dos hospedeiros de Dax, com um breve comentário
sobre os contos a nossa disposição. É importante considerar que
estes comentários terão os chamados spoilers, ou seja, informações
referente a tramas de episódios de temporadas de DS9 que
são ainda inéditas no Brasil.
Mas vamos as histórias. São elas...
Second star to the right... (Ezri Dax)
por Judith & Garfield Reeves-Stevens
A primeira das histórias de The Lives of Dax tem para
si a tarefa de introduzir um contexto no qual as demais histórias
irão se seguir. Isto vem a ser desenvolvido na primeira das duas
distintas partes que Second star to the right... possui.
Nesta primeira, Ezri Dax interage com Vic Fontana, o cantor de
Las Vegas holoconsciente, em uma simulação em uma holosuíte de
Quark de mais uma batalha história na Terra, dos arquivos de Bashir
e O`Brien – não pergunte. Na conversa que os dois engatam, vamos
para a segunda parte do conto, que leva acima e adiante uma das
pedras fundamentais da história pregressa de Ezri, sobre como
é que a moça acabou se tornando uma trill unida ao simbionte Dax
em primeiro lugar. É uma história largamente discutida durante
a sétima temporada de DS9, o momento que Ezri embarca no
jogo.
Aqui, em Second star to the right..., temos o detalhamento
destes eventos, com a jovem Trill relatando para Vic os eventos
a bordo da USS Destiny, e como um ataque Jem'Hadar resultou na
urgência de encontrarem um hospedeiro para o simbionte a bordo,
assim, de bate-pronto, e vemos então como é que a moça realmente
se sentiu quando todas as cabeças acabaram-se virando na direção
dela, escalando-a a um procedimento para o qual ela não apenas
nunca se preparou, mas também contra o qual sempre teve razoáveis
reservas, apesar de ser tradição de seu povo e tudo o mais. A
narrativa com Vic não me prendeu tanto a atenção como eu imaginei
que prenderia, e me agradei mais com o relato dos eventos na Destiny;
embora é verdade também que a interação com Vic trouxe mais sustância
em relação a personagem do que a parte na Destiny.
First Steps (Lela Dax)
por Kristine Kathryn Rusch
A primeira hospedeira do simbionte Dax também foi uma pioneira
em muitos campos, como esta primeira trama de The Lives of
Dax, por Kristine Rusch, nos demonstra. Lela Dax foi uma das
primeiras mulheres a conseguir ser membro do Conselho de Trill,
uma espécie de parlamento do planeta, pelo que pode-se aprender
na história relatada. Também importante foi acompanharmos como
esta ainda jovem política e jovem Trill com simbionte foi peça
chave em provocar profundas mudanças na sociedade de seu povo.
A trama se desenrola durante o equivalente ao século 21 terráqueo,
e há inclusive citação por parte de Lela Dax sobre mais um dos
recentes primeiros contatos que os vulcanos fizeram, com uma intrigante
espécie conhecida como "humanos". A se notar também, a participação
de T'Pau, renomada líder vulcana vista antes em Amok Time,
da TOS.
Em First Steps, Lela Dax acompanha mais um dos primeiros
contatos que os Trills tiveram com uma espécie alien. Até aquele
momento, Trill não tivera muito contato com espécies aliens a
não ser com os vulcanos e mais alguns poucos, pois a sociedade
Trill escolheu por se manter afastada do convívio interespécies,
e de muitas maneiras fechada a aliens. Esta política viria a se
mostrar um equívoco quando uma espécie alien tenta fazer contato
com o planeta, e Lela Dax se encontra em uma posição difícil para
alguém ainda tateando por experiência. Ela age conforme sua consciência
parece lhe sugerir; ora tem sucesso, e ora não. O encontro da
jovem conselheira com a então diplomata vulcana T'Pau também é
um dos pontos altos desta interessante trama da primeira vida
de Dax, pois a ajuda a nortear mais o seu comportamento. No todo,
uma trama bem escrita e que inicia a saga de Dax de maneira bastante
adequada.
Dead Man's Hand (Tobin Dax)
por Jeffrey Lang
Seguindo adiante com o próximo hospedeiro, temos Tobin Dax, um
engenheiro. Sujeito intrigante, Tobin. Ele demonstra ser um geek
que parece se sentir um tanto quanto desconfortável mesmo em um
universo que a princípio deveria ser bastante amigável a geeks;
mas não sendo o bastante, nosso segundo hospedeiro de Dax acaba
em uma típica situação de peixe fora d'água, quando a nave de
pesquisa terráquea em que se encontra trabalhando é tomada por
Romulanos, em plena Guerra Humano-Romulana, tão famosa na cronologia
de Jornada. Exceto por ele e por um vulcano, Skon, toda a tripulação
é tomada como refém e os Romulanos se preparam para assegurar
a nave capturada para estudarem as suas capacidades de dobra espacial
– estamos falando de Romulanos desta época aqui, que ainda não
tem tal capacidade, segundo aquilo que se conhece sobre esta guerra.
Cabe a Tobin e Skon, portanto, encontrarem uma maneira de evitar
estes eventos. E nisto, acompanhamos o razoavelmente atrapalhado
Tobin procurando colocar suas inseguranças e temores sob controle
para botar o plano dele e do vulcano em prática. Não vou falar
muito, mas é suficiente dizer que o conto sugere que a solução
deles é que teria inspirado a Frota Estelar a adotar capacidades
de separação de disco em suas futuras naves. Dead Man's Hand
é um bom conto, embora um tanto quanto indeciso, eu diria, em
decidir se é uma trama de ação ou uma análise social, pois temos
de tudo, aqui: visão dos Trills a respeito dos Vulcanos, dos Vulcanos
a respeito dos Trills, e de ambos a respeito dos Humanos. Não
que eu esteja necessariamente reclamando, também – estamos aqui
em The Lives of Dax em busca justamente disto, certamente.
Old Souls (Emony Dax)
por Michael Friedman
O conto sobre o terceiro hospedeiro de Dax, Emony,
parte de uma ótima premissa pré-estabelecida no cânone da série,
ou seja, o encontro que esta Trill e Leonard McCoy tiveram, como
citado por Jadzia durante o episódio Trials and Tribble-Actions,
de DS9. Na ocasião do episódio, a Trill citou para um admirado
Benjamin Sisko que Emony imaginou que McCoy se tornaria um médico,
"pois ele tinha as mãos de um cirurgião". Através desta história
de Michael Friedman, aprendemos como ela teria tido esta impressão,
onde durante uma competição de ginástica no Mississipi, um jovem
McCoy se envolveu romanticamente com a já madura Emony Dax, uma
veterana ginasta e uma das juízas da competição. Pessoalmente,
eu achei que Emony deu mole para McCoy de maneira frívola demais,
como se isto estivesse acontecendo apenas para servir a necessidade
da trama -- o que não deixa de ser uma verdade, de certa maneira.
Seja como for, em Old Souls, temos não apenas este romance,
mas também podemos acompanhar um ainda inseguro jovem McCoy, que
ainda realmente não se decidiu pelo que se guiar para seu futuro.
Aparentemente, os eventos com Emony o influenciaram muito, não
só por ter tido a chance de se tornar íntimo de uma mulher como
Emony era, mas também devido a eventos marcantes ocorridos durante
a competição esportiva, que relacionam um dos competidores, um
Tessmano que também era colega de quarto de McCoy na universidade
que sediava os jogos, e todo o ódio que esta espécie, os Tessmanos,
tinham dos Trills. Questões como aceitar as pessoas como elas
são, e além de tudo, como elas foram, norteiam bem a história
de Emony em The Lives of Dax. Minha ressalvas a esta história
se resumiram mais em como Friedman retratou a Terra do início
do século 23, como sendo ainda um lugar onde aliens, embora presentes,
não eram comuns, um conceito com o qual eu sempre tive reservas
em Jornada nas Estrelas – no meu ver, uma Terra mais cosmopolita
seria algo com tintas bem mais interessantes a se tratar. Ainda
assim, há aqui e ali elementos da capital da Federação os quais
achei bem interessantes.
Sins of the Mother
(Audrid Dax)
por Stephani D. Perry
O conto a respeito de Audrid, a quarta hospedeira
do simbionte Dax, também é um que parte de um conceito pré-estabelecido
em tela, durante o episódio Nor the Battle to the Strong,
no qual ficamos sabendo que Neema, filha de Audrid Dax, passou
mais de oito anos sem falar com a mãe. Em Sins of the Mother,
Stephani Perry, traça o relato do motivo de tal ruptura entre
mãe e filha, com Audrid relatando em uma carta para Neema os eventos
que motivaram a razão de Neema ter se revoltado contra ela. No
caso em questão, Neema acabou por descobrir que Audrid, enquanto
Chefe da Comissão de Simbiose Trill, nada menos, permitiu que
seu próprio marido falecesse sem que o seu simbionte fosse transferido
para outro hospedeiro. Neema jamais perdoou a mãe após tal ato,
e agora, oito anos depois, Audrid relata para a filha na sua carta
os eventos que motivaram sua decisão, e como uma pesquisa científica
a um cometa, liderada pelo casal de Trills e Cristopher Pike (depois
de ter saído do comando da Enterprise) acabou com um terrível
desfecho.
A trama é intrigante, e a narrativa é poderosa e emotiva, na qual
podemos sentir a tensão da missivista. Contudo, o estilo escolhido
por Stephani Perry, como uma longa carta, foi por demais cansativo
de ler, na minha opinião. Poucos diálogos, e todo o rodeio inicial
que demonstra o nervosismo de Audrid Dax fizeram com que a leitura
fosse em muitos momentos um tanto difícil. O texto ter sido impresso
em itálico, para denotar uma narrativa de escritor de um documento,
acabou também colaborando para cansar a leitura per se, pois não
é uma fonte muito recomendável de se usar em longos trechos de
texto. Sins of the Mother se sustenta realmente no peso de sua
trama, tanto em relação aos sentimentos demonstrados por Audrid
como na narrativa dos eventos liderados por ela, seu marido e
o capitão Pike, outro rosto conhecido do fandom que dá
o ar da graça em Lives of Dax.
Infinity (Torias
Dax)
por Susan Wright
A trama que envolve o conto a respeito de Torias Dax, Infinity,
se passa imediatamente antes dos eventos vistos em Jornada
nas Estrelas II: A Ira de Khan e dos dois filmes seguintes.
Contudo, é também de se notar que Infinity também calça
muito de seus elementos naquilo visto em um dos piores episódios
da história da franquia, Threshold, de Jornada nas Estrelas:
Voyager. Susan Wright combina elementos dos filmes, no caso
o projeto de transdobra que envolvia a Excelsior, com as teorias
apresentadas no episódio, segundo o qual se cruzar a barreira
de transdobra significaria estar acima de dobra 10, e portanto,
"acima do infinito", seja lá o que for que isto significaria.
Embora foi agradável termos a familiaridade toda envolvida por
novamente vermos rostos conhecidos, como a então cadete Saavik
e o pomposo capitão Styles da Excelsior, as referências
a todo o tenebroso tecnobable de Threshold me geraram calafrios,
para não falarmos do começo do conto, praticamente idêntico ao
do episódio, onde o capitão Torias Dax pilota um shuttle
acima de dobra 10 em uma simulação. No meu ver, teria sido melhor
deixar de lado a possibilidade que a experiência de transdobra
original que seria utilizada na classe Excelsior tivesse alguma
relação com as experiências da tripulação da Voyager no quadrante
Delta. Este é um bom exemplo de que pode haver situações nas quais
sempre se manter fiel demais ao que existe no cânone não é necessariamente
uma coisa boa.
Mas enfim. De qualquer modo, foi interessante vermos em que circunstâncias
teria ocorrido o incidente que clamou a vida do primeiro hospedeiro
de Dax a ter entrado na Frota Estelar, evento já citado antes
em episódios de DS9, mas nunca detalhado. É de onde Infinity
tira o seu melhor, pois no que tenta estabelecer relação entre
os eventos de Threshold, também não consegue serviço melhor
do que este episódio em tornar convincente ou mesmo interessante
as teorias de "acima do infinito", improváveis até mesmo para
os padrões de ficção-científica de Jornada nas Estrelas.
É até possível que tal tema conseguisse ser adequadamente desenvolvido
enquanto enredo e trama, mas por ora, em duas tentativas, dois
fracassos.
Allegro Ouroboros in D Minor
(Joran Dax)
por Stephani D. Perry e Robert Simpson
Apenas uma única história poderia realmente ser
contada a respeito de Joran Dax, e foi o que tivemos neste esforço
colaborativo entre Stephani Perry e Robert Simpson: as cirscunstâncias
pelas quais Joran se tornou o "hospedeiro esquecido" na linhagem
de Dax, e como teria morrido apenas seis meses depois de ter recebido
o simbionte de Torias. O resultado disto foi que tivemos um bom
conto policial de investigação de assassinato que teve um ar de
"Dragnet do Espaço", de certa forma. Uma dupla de investigadores
Trills seguem a trilha de mortes provocadas por Joran Dax, situação
a qual demonstra bem o desequilíbrio que pode ocorrer em haver
rejeição entre hospedeiro/simbionte, resultado de falha de julgamento
sobre o candidato a hospedagem pela Comissão de Simbiose. Segundo
o cânone pré-estabelecido, é um evento raro, mas que já acontecera
antes.
Portanto, a narrativa não se foca apenas naquilo que se passa
na mente conturbada de Joran Dax, mas também se foca bastante
em Gard e Kov, a dupla de policiais Trills que trabalham no caso,
como eles fazem esta investigação, que leva finalmente Gard a
confrontar Joran, mas não vou revelar muito sobre o desfecho da
trama, que flui de maneira bastante suave (apesar de intercalar
a ação ora em Joran, e ora em Gard) e mesmo elegante, pois o background
de Joran como músico imprime uma certa classe natural à narrativa.
Allegro Ouroboros in D Minor realmente preenche muito bem
os espaços sobre aquilo que se descobriu a respeito de Joran Dax
em episódios de DS9 como Equilibrium, Facets
e Field of Fire. Realmente, o conto é um dos pontos altos
de The Lives of Dax.
The Music Between the Notes
(Curzon Dax)
por Steven Barnes
Curzon é provavelmente o mais conhecido dos hospedeiros
do simbionte Dax pré-DS9, mas apesar disto, raramente tivemos
a chance de o vermos de fato em ação – a chance disto chega agora,
neste conto de Steven Barnes. Adicionalmente, o "personagem especialmente
convidado" para este conto não poderia ser outro senão Benjamin
Sisko, é certo – aqui, um jovem alferes que faz as vezes de lugar-tenente
de Curzon. E não apenas isto, de fato: a narrativa é nos contada
pelo próprio Sisko, em primeira pessoa.
Acompanhamos o relato de Sisko em observar como o Embaixador Curzon
lida com as negociações com duas espécies diferentes, Azziz e
Bactricans, cada uma delas com agendas próprias, as quais deviam
ser levada em consideração por Curzon adicionalmente à da própria
Federação. Sobre a trama em si, tivemos o bussiness as usual de
uma negociação diplomática federada, com Embaixadores de potências
estelares negociando tratados e tudo o mais, em uma estação espacial
da Federação, além de outros detalhes particularmente intrigantes
aqui e ali, como uma nave alienígena onde os componentes e peças
desta são seres vivos conscientes, como o equipamento de navegação,
sistemas de tradução, motor de dobra, enfim, as peças são a tripulação
e são a nave.
Particularmente sobre Curzon, ficou claro que o Trill era um ótimo
sujeito a se conhecer: boa-praça, daqueles que o convida a tomar
um trago e bater um papo, sem se preocupar com supostas hierarquias
que separariam um homem em sua posição do seu convidado. A história
nos dá inúmeros bons momentos de interação de Sisko e Dax, de
diversos modos: embates filosóficos, lições mentor/pupilo, camaradagem
de colegas, enfim, todo um leque de situações as quais serviram
de amostra do que estaria por vir da parceria que Sisko estava
ali formando com o Embaixador; foi daquele momento em diante que
teve início a relação sobre a qual Sisko tanto se refere, na qual
Dax o ensinou a ver a música por entre as notas, como diz a referência
a jazz que o Trill sugere ao humano sempre procurar observar.
Reflections (Jadzia
Dax)
por L.A. Graf
L.A. Graf tinha realmente um desafio a sua frente,
ao se encarregar de Jadzia para The Lives of Dax; o que
falar sobre o mais falado dos hospedeiros de Dax? A premissa em
si do conto foi algo bastante interessante, com Graf nos oferecendo
uma sequencia a um episódio em particular de DS9, de sua
segunda temporada – Invasive Procedures – que de muitas
maneiras foi um crash-course sobre simbiose Trill. No episódio
original, um Trill chamado Verad tentou roubar o simbionte Dax
para si mesmo, o que certamente iria custar a vida de Jadzia.
Aqui, em Reflections, Verad volta a carga, envolvendo uma irmã
de Jadzia no processo, Ziranne, que misteriosamente aparece com
um simbionte na barriga e nenhuma memória clara, seja dela, seja
do simbionte penetra.
Vemos que haveria muito mistério a se investigar nesta premissa,
mas infelizmente sua execução deixou a desejar, eu creio. As coisas
acontecem rápido demais no conto, e antes que você possa dizer
Dax, a coisa parece ter sido resolvida, apesar do senso de urgência
que Graf parece querer manter no seu texto. Adicione a isto uma
certa dose grande demais de biotecnobable envolvido, para se poder
justificar toda as idas e vindas de hospedeiros e simbiontes,
e temos uma mistura que acabou agradando mais por seus aspectos
secundários do que principais. Um bom exemplo disto foram com
as informações de background sobre a relação de Jadzia com sua
irmã Ziranne, relatadas em flashback, com momento sobre as duas
em suas infâncias e também enquanto Jadzia se preparava para os
procedimentos de se tornar Jadzia Dax. Tivesse sido trabalhado
mais nestes aspectos, Reflections teria tido a chance de nos dar
algo realmente diferente sobre Jadzia, e aí sim teria realmente
acertado o martelo bem na cabeça do prego.
… and straight on 'til morning
(Ezri Dax)
por Judith e Garfield Reeves-Stevens
Fechando a sequencia de crônicas, temos basicamente
a conclusão da história inicial de Ezri, com ela e Vic ponderando
sobre os relatos da Trill sobre os eventos das crônicas, as quais
ela relatou ao holograma. Não dá para deixar de pensar que nós
leitores ficamos com o papel de simbiontes de Vic, enquanto absorvemos
os contos que eram para ele relatados, nisto que de certa maneira
serviu para Ezri como uma espécie de versão light do zhian'tara,
o ritual Trill onde as consciências prévias do simbionte assumem
temporariamente o corpo de amigos do atual hospedeiro para que
este tenha um contato diferente, vamos colocar assim, com suas
prévias vidas. Ezri realmente pode fazer bom uso de uma oportunidade
como esta que Vic lhe ofereceu.
Pois fosse como fosse, aqui tivemos Ezri sendo Ezri: ainda razoavelmente
confusa sobre a situação que vive, embora esteja trilhando o caminho
certo para aprender "de ouvido" aquilo que outros Trills levam
anos de preparação prévia antes de sequer se submeterem a avaliação.
Some a isto o certo ar de sonsinha que parece emanar naturalmente
da personagem de Nicole DeBoer e temos uma irresistível combinação,
devo admitir – Ezri Dax parece ter sido moldada para ser exatamente
neste tom (e a sua função de Conselheira da Estação é um toque
de ironia claramente planejado, sem dúvida), e tudo isto com a
função de servir como um contraponto a Jadzia, aquela Dax que
foi uma segura e decidida mulher, que possuía uma elegância majestosa
tanto para trabalhar em complicado tecnobable como para poder
derrubar Klingons sem perder o penteado. Mas é verdade que tanto
Ezri como Jadzia estão em vantagem, aqui em The Lives of Dax,
considerando que ambas são duas das titulares deste livro as quais
podemos também acompanhar detalhadamente em tela.
Enfim, Star Trek Deep Space Nine: The Lives of Dax é uma
leitura altamente recomendada não apenas para devotos fãs da Trill,
mas também para todos os fãs que desejam ler tramas bem lastreadas
em desenvolvimento de personagem, e também com muita informação
geral sobre o todo do universo onde se passa Jornada nas Estrelas.
A análise fecha com uma cotação de três estrelas e meia em quatro,
bem merecida.
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