por Fernando Rodrigues

Hoje existe um fenômeno que é comum a qualquer fandom: as fan-fictions. São histórias escritas por fãs envolvendo personagens, eventos e cenários tirados de suas séries favoritas. Para alguns, escrever uma fan-fiction é o pontapé inicial para a realização de uma carreira como escritor. Para outros, permite vivenciar novas aventuras com seus personagens mais queridos.

Sempre haverá quem escreva, e sempre haverá quem leia.

E, em alguns casos, o seriado envolvido é a pedra fundamental de uma milionária franquia, como é o caso de Jornada nas Estrelas. Quando isso acontece, qualquer interesse manifestado pelos fãs transforma-se quase instantaneamente em uma lucrativa linha de negócios.

O fenômeno explicado acima deu origem a centenas de livros de Jornada nas Estrelas ao longo das décadas. São adaptações de episódios, adaptações de livros, guias de episódios, novelas, romances, contos, biografias, making of's, científicos... a lista é longa!

Aqui você aprende um pouco sobre a história e as origens dessa literatura trekker. Assim como na seção, a história aqui está dividida em duas categorias: Literatura (romances, novelas, adaptações, roteiros), e Referência (todos os demais).


Literatura

A estréia oficial de Jornada nas Estrelas no mundo das livrarias aconteceu ainda em 1967. A editora Bantan Books, inspirada pelo sucesso das adaptações de episódios da série "Além da Imaginação", lançou neste ano o livro "Star Trek", de James Blish. O livro trazia adaptações, em forma de contos, de sete episódios da Série Clássica.

Antes de 1967, Blish era conhecido como um premiado autor de ficção científica, tendo ganho o Hugo por sua novela "A Case of Conscience", em que falava sobre a religião humana, devido à existência de alienígenas. Porém, seu trabalho de maior sucesso, até hoje, seriam as adaptações que realizou para Jornada.

Enquanto seus trabalhos anteriores tinham a tiragem interrompida, os livros de Jornada tiveram 15 re-impressões em apenas cinco anos. A carreira de Blish virou de cabeça para baixo.

Com o sucesso do primeiro livro, ele passou a adaptar todos os episódios da série, sem preocupação específica com a ordem. Nos primeiros volumes, Blish não se preocupava muito em transcrever totalmente o episódio, deixando muitas cenas de fora, e alterando outras. Com o sucesso e a aceitação do público, porém, passou a tentar incluir o máximo possível dos episódios em suas adaptações.

A partir do terceiro volume, passou a incluir um prefácio, onde discutia e discorria sobre a popularidade dos livros de Jornada comparada aos seus, discutia cartas individuais de leitores e respondia a perguntas sobre as eventuais discrepâncias entre o episódio e a adaptação.

Blish viria a falecer em 1975, sem completar a adaptação de todos os 79 episódios. A conclusão do trabalho coube a sua esposa, J.A. Lawrence.

Ainda em 1968, a própria Bantan Books publicou a primeira novela de Jornada, "Mission to Horatius", de Marck Reynolds. Ao todo, foram 19 novelas, publicadas entre 1968 e 1981.

Algumas foram escritas por escritores consagrados da ficção científica, como o próprio Blish ("Spock Must Die!", de 1970), Joe Haldeman ("Planet of Judgement", de 1977), e o pai dos pingos (tribbles) David Gerrold ("World Without End", de 1979). A maioria das novelas, porém, foi escrita por autores contratados pela Bantan, com um nível de qualidade bem baixo. 

Alan Dean Foster, a partir de 1975, fez para a Série Animada o que Blish havia feito com a Série Clássica, novelizando seus episódios. Ao contrário de Blish, porém, que trabalhava a partir de roteiros de episódios com uma hora de duração, Foster partia dos roteiros de desenho, com meia hora de duração. Teve, assim, liberdade para expandi-los, dando às histórias uma profundidade que não seria possível no desenho.

Em 1977, a Bantan iniciou a publicação de uma curiosa linha de livros de Jornada: fotonovelas. A primeira trazia a "fotonovelização" do episódio "The City on the Edge of Forever". Essas fotonovelas eram livros que traziam fotografias do episódio original, sobre as quais eram adicionados balões de fala. Parece estranho, mas conseguiam apresentar o episódio na íntegra. De qualquer modo, acredito que Harlan Ellinson não tenha gostado muito dessa idéia.

Ainda em 1979, a Pocket Books entra no mercado, com o lançamento da adaptação do primeiro filme de Jornada, feita por Gene Roddenberry em pessoa. Até então, a Pocket não numerava os títulos dos livros publicados de Jornada. Apenas em 1984 teria início esta prática, que dura até hoje. A partir de 1981, a Bantan Books perdeu o interesse nas publicações da franquia, deixando a Pocket como única editora reponsável pela publicação de livros "oficiais".




Referência

Se acompanhar a evolução das novelas e romances de Jornada é tarefa que pode consumir toda a vida de um trekker, trabalho ainda maior existe na área de livros de referência. Uma infinidade de livros já foi escrita, entre oficiais e não-oficiais. Eles vão desde bastidores da série até livros de culinária. Nenhum assunto escapa ao fandom, incluindo até mesmo análises sobre o que torna Jornada tão popular. A evolução dos livros de referência transcorreu mais ou menos assim.

O primeiro deles foi publicado com o aval de Roddenberry, e intitulava-se "The Making Of Star Trek". Escrito por Stephen E. Whitfield que, a pedido de Roddenberry, teve livre acesso aos estúdios da Desilu e acompanhou o desenvolvimento da série, o livro ainda contém cópias de memorandos da produção, comentários de Roddenberry, esboços preliminares das naves, entre outros fatos curiosos. O mesmo Whitfield, assinando seu nome real, Stephen E. Poe, seria o responsável, quase 30 anos depois, pelo making of de Voyager, intitulado "A Vision of the Future".

Talvez o mais famoso e controverso livro de referência de Jornada até hoje tenha sido escrito por ninguém menos que Leonard Nimoy, mais conhecido como o Sr. Spock, em 1975, quando publicou sua autobiografia "I Am Not Spock". Quatro anos mais tarde, dando vazão a uma inveja incontida, William Shatner lançaria sua própria autobiografia, intitulada "Shatner: Where No Man...: The Authorized Biography of William Shatner". Como faria com todos os outros livros, Shatner contou com a colaboração de mais dois autores, Sondra Marshak e Myrna Culbreath.

         

Ainda em 1975, surge o primeiro manual técnico, "Star Fleet Technical Manual", de Franz Joseph. Mais do que isso, este foi o primeiro manual ténico publicado nos Estados Unidos baseado em um filme ou série de TV. O livro se tornou referência para todos os que o seguiram, incluindo uniformes, bandeiras, mapas, e esquemas de aparelhos e naves, alguns deles nunca vistos anteriormente na série de TV. Seguindo a mesma linha, em 1976 foi publicado o primeiro manual médico, "Star Fleet Medical Reference Manual", constituído por uma série de artigos de diversos autores, entre eles Doug Drexler, que eventualmente trabalharia na produção das séries. O organizador da obra foi Geoffrey Mandel, outro artista que acabaria na produção de Jornada e que já foi até entrevistado pelo TB (leia aqui).

Em 1976, ano de comemoração de dez anos de Jornada nas Estrelas, foi publicado o primeiro guia de episódios, "Star Trek Concordance", de Bjo Trimble, que continua sendo um dos melhores livros de referência da série. Incluía ilustrações feitas por fãs e considerava a Série Animada como parte do universo oficial, ao contrário das publicações mais recentes. O livro posteriormente seria re-editado pela Pocket, incluindo os filmes e algumas temporadas de A Nova Geração.

A esta altura do campeonato, a abrangência do fenômeno trekker intrigava os mais variados setores da sociedade americana, levando à inevitável publicação de um estudo sobre o assunto. "Meaning in Star Trek", de 1977, foi o primeiro livro a questionar os motivos da popularidade da série. Escrito por Karin Blair, seguidora da escola de Carl Jung, analisa a série dentro de uma perspectiva de arquétipos. Todos os episódios são analisados, alguns mais de uma vez. "Fascinante!". A capa do livro traz um comentário de Leonard Nimoy: "Profundo, inteligente e significativo".

Provando a abrangência da série, em 1978 houve a publicação do primeiro livro de culinária baseado na série. "Official Star Trek Cooking Manual", de Mary Ann Piccard (nome sugestivo, não?), o livro trazia uma introdução assinada por Christine Chapel, onde era explicada a importância de uma dieta nutritiva e balanceada a bordo de uma nave estelar. Entre as receitas, a torta de maçã favorita de Kirk, e pratos Klingons. Pergunto-me se alguém se deu ao trabalho de testar as receitas...

Estes são apenas alguns exemplos de livros de referência, dentre os pioneiros. Muitos outros seriam escritos, ao longo dos anos.


Referências:
http://bboard.scifi.com/bboard/browse.cgi/1/5/753/4521
http://www.well.com/user/sjroby/lcars/index.html
http://www.psiphi.org/cgi/upc-db/
http://www.ridgecrest.ca.us/~curtdan/Novels/Main_x.html