Literatura

 









 

"STAR TREK: ARTICLES OF THE FEDERATION"


Escrito por:
Keith DeCandido

Publicado por: Pocket Books

Lançamento Original: 2005

Formato: Paperback

Páginas: 402

 
Review por Leandro M. Pinto
 

Introdução

Coisa de cinco anos atrás, quando este missivista primeiro teve a idéia de escrever a fanfiction Star Trek: Earth, DC, as premissas básicas para este trabalho eram basicamente duas: primeiro, fazer uma história baseada e ambientada no universo da política federada, de como o governo civil federado é organizado; e segundo, dar uma passada sobre como seria a vida cotidiana na Terra de Jornada nas Estrelas. Desta forma, foi com agradável surpresa que encontrei na lista de lançamentos recentes da Pocket Books o livro Star Trek: Articles of the Federation. O autor, Keith DeCandido, o baseou exatamente na primeira das duas premissas que eu havia desejado para a minha própria história, o que imediatamente serviu de indicação que aquele livro certamente seria uma das mais recentes obras lançadas pela Pocket Books que me interessaria.

Assim, pelo ineditismo do tema no universo de Jornada nas Estrelas (até mesmo em livro), e pelo meu particular interesse do tema já ter previamente me colocado em pesquisa sobre estes aspectos no Cânone e Cronologia de Jornada, acreditei que uma revisão do livro para o Trek Brasilis estaria na ordem do dia. Vamos agora a ela.

Sumário

Naran Bacco assume a Presidência da Federação de Planetas Unidos em outubro de 2379, após uma eleição convocada as pressas devido a renúncia do ocupante anterior do posto, Min Zife. A renúncia ocorreu devido a uma crise interna, por sua administração ter secretamente suprido armas para os Tezwa, um planeta neutro próximo a fronteira com o Império Klingon. Este incidente veio à tona quando os Tezwa acabaram utilizando estas armas para atacarem forças klingons e federadas, e ainda que a revelação tenha sido restrita a apenas um grupo seleto de membros do governo federado, o Presidente Zife não teve outra escolha a não ser renunciar. Esta questão se mantém como uma espécie de bomba-relógio em relação a administração Bacco, a qual não quer eventualmente melindrar os aliados Klingons com a eventual revelação da real natureza dos Tezwa terem obtido equipamento federado.

Naran Bacco é humana natural da colônia de Cestus III, onde foi governadora por vários mandatos, inclusive durante a Guerra Dominion, na qual teve que auxiliar na coordenação das defesas contra ataques Gorn. A Presidente conta com um grupo de assessores liderado pela sua Chefe de Gabinete Esperanza Piñiero, também natural de Cestus III. Abaixo de Piñiero há quatro Subchefes, respectivamente Z4 Blue, um nasatiano; Myk Bunkrep, uma zakdoniana; Xeldara Trask, uma tiburoniana, e Ashanté Phir, uma humana. Outros membros incluem Willian Ross, Oficial Adjunto da Frota Estelar ao gabinete da Presidência da Federação; Fred MacDougan, principal escritor de discursos; o Secretário de Imprensa Kant Jorel, bajoriano; Principal Assessor para Segurança, Jas Abrik, trill; e o secretário pessoal da Presidente, Sivak, vulcano.

Em 2379 faz quatro anos que a Guerra Dominion terminou, e alguns meses após o golpe de estado em Romulos que levou Shinzon a dominar por alguns dias o governo do Império. Aos dois primeiros meses de sua administração, além das necessidades de administração regular do governo federado, Presidente Bacco e seu sênior staff contam com diversas questões que demandam sua atenção, e a situação romulana pós-Shinzon é uma destas questões, com o Império Romulano em uma crise institucional que o coloca a beira do colapso. Conflitos que surgiram após o levante Remano liderado por Shinzon fizeram com que a Federação conseguisse ajuda Klingon para lidar com a situação, e a população Remana no Império Romulano foi assim colocada sob a proteção Klingon com um mandato de protetorado. Aliado a isto, um posto avançado federado detecta uma antiga nave Romulana se dirigindo a ele, carregando refugiados remanos buscando asilo, alegando estarem fugindo de opressão de outros remanos. A situação é delicada devido aos Klingons não verem com bons olhos a Federação eventualmente cedendo asilo a este grupo de remanos, uma vez que os Klingons é que estão com a jurisdição sob esta facção romulana.

Além destas disputa, Bacco também está tendo que gerenciar uma disputa entre os Carreons, um planeta-neutro, e um membro da Federação, Delta. Durante a guerra, o sistema de saneamento de Delta foi sabotado por forças Dominion, e Delta precisa do auxílio temporário do sistema mais próximo a eles para se abastecerem com água; Carreon não é membro da Federação, mas conta com grande capacidade ociosa a qual seria o suficiente para Delta se manter enquanto reparos são feitos no sistema de tratamento água do planeta. Contudo, os carreonanos são desafetos de longa data dos deltanos, e não estão levando realmente a sério as negociações, apenas protelando os deltanos por nenhuma razão em especial. Frente a isto, a presidência da Federação tem que intervir, e depois de tentativas mais amenas de seus assessores, Bacco tem que pressionar os carreonanos na parede durante uma cúpula na Terra entre as duas espécies em disputa, e chamar o blefe deles. Alega ao representante de Carreon que a Federação manteve boa vontade aos carreonanos durante todo este tempo, mas não pode se dar ao luxo de continuar aceitando a protelação sem justificativa deles, e inclusive coloca ameaça militar como peso no seu argumento. Sem muita alternativa, o representante carreonano tem que aceitar os termos originais da troca de favores entre as duas espécies.

Para lidarem com a crescente onda de violência e tensões entre romulanos e remanos, estes últimos os quais foram realocados do hostil planeta Reman para um continente em Romulos, a Federação propõe aos Klingons a realocação da população Remana para um outro sistema estelar neutro, em uma região desabitada a qual os Klingons recentemente anexaram, mas nunca realmente fizeram uso algum. A Presidente Bacco encarrega dois de seus embaixadores para a tarefa de negociação com os Klingons: o próprio embaixador federado em Quo'nos, Alex Rozhenko, filho de Worf, e o embaixador Spock, a qual a Presidente havia requisitado que viesse de Romulos para poder aconselhar seu gabinete sobre o melhor curso de ação na crise romulana.

Os Klingons aceitam a proposta federada de realocação remana, mas mantém a posição de que a Federação deve negar asilo político aos remanos que se dirigem para o Posto Avançado 22, na antiga nave – a viagem do grupo de remanos na antiga nave leva pelo menos coisa de oito semanas, dado que a nave deles só pode desenvolver dobra 3,12. Frente a este problema, o gabinete de Bacco e Spock preparam um plano de modo aos remanos terem uma outra alternativa além apenas do pedido de asilo a Federação, ou a volta à território Romulano controlado pelos Klingons, no qual certamente seriam presos. O plano envolve a USS Intrepid secretamente interceptando a nave remana antes que uma nave Klingon chegue no Posto Avançado 22, para colocar os remanos sob sua custódia. Contudo, algum tempo depois da chegada dos Remanos ao Posto Avançado, eles precipitadamente fazem uma colisão suicida contra o Posto Avançado, o que custa a vida de três federados e de todos os remanos a bordo da nave.

A agenda de temas domésticos de Bacco inclui a necessidade da Presidente fazer indicações para diversos cargos e chefias de departamentos do governo federado, nomeações estas que devem passar pelo crivo do Conselho da Federação. Considerando as relações um tanto quanto hostis entre a sua administração do Palais de La Concorde (sede do executivo federado) e o Conselho da Federação, Bacco antevê disputas políticas acirradas com o legislativo federado sob estas nomeações.

Piñiero e os demais assessores trabalham também na organização da primeira viagem de Bacco por alguns dos planetas-membros da Federação, na qual Bacco irá atender eventos de estudo de genética em Andor, a convenção anual do Conselho de Comércio Federado ocorrendo em Vulcan, e também irá até Cestus III para realizar o arremesso inicial da temporada de beisebol deste planeta. Este evento é meio como a menina-dos-olhos da Presidente, sendo ela fã ferrenha de beisebol, e tendo sido uma das responsáveis pela criação de uma liga profissional em Cestus III. Contudo, Piñiero tem dificuldades de conciliar a agenda para a viagem, pois a janela de tempo é curta para a viagem que ocorrerá por meados do ano, uma vez que logo após a viagem, está marcada a visita de uma delegação diplomática de que ficou de visitar a Terra após um recente Primeiro Contato realizado pela Frota Estelar.

Em maio, após a viagem de Bacco, a Presidência e o Conselho da Federação preparam um jantar de gala oficial para recepcionarem a delegação de diplomatas de Trinni/ek, com os quais a Federação fez Primeiro Contato. A negociação e preparação do evento levou bons meses, pelos quais os Trinni/ek se mostraram muito entusiasmados pela oportunidade. Contudo, bem na ocasião do jantar, com toda a delegação federada reunida no salão em Paris, algo fez com que a delegação Trinni/ek repentinamente se mostrasse extremamente rude e facilmente ofendida – um comportamento completamente oposto aos das conversas anteriores, e um comportamento que o Capitão da nave federada que os escoltou até a Terra, a USS Io, relatou que havia se iniciado logo após eles deixarem o sistema estelar Trinni/ek.

Imaginando que aí pode haver mais do que aparenta, Bacco pediu para a Io investigar, e uma nova tentativa de encontro formal é realizada em agosto, mas novo fiasco, quando Trinni/ek novamente cai doente na câmara do Conselho da Federação. Após uma extensa investigação fisiológica (somado a informação de que a tripulação da Io próximo ao sistema Trinni/ek também está sofrendo efeitos) descobre-se que os Trinni/ek desenvolveram um equilibro de dependência muito forte com o campo eletromagnético do sistema deles, e viagens fora-do-sistema provoca estas reações estranhas. Assim, a Federação e os Trinni/ek decidem que uma espécie não afetada pelo campo eletromagnético da estrela do sistema Trinni/ek servirá bem para intermediar a diplomacia entre as duas nações.

Entre outras aparições públicas de Bacco, há ocasiões como quando a Presidente compareceu ao funeral do ex-Presidente Jaresh-Inyo, e quando discursou para os formandos da classe de 2380 na Academia da Frota. Na ocasião, Bacco relatou os eventos que ocorreram durante a Guerra Dominion, quando a Enterprise visitou o planeta-natal Gorn para iniciar negociações diplomáticas de modo a Federação ter a ajuda dos Gorns na guerra. Mas um golpe de estado ocorreu bem naquele momento, com os Gorns então fazendo um avanço contra território federado justamente atacando Cestus III. Bacco relata como a tripulação da Enterprise usou uma combinação de diplomacia e posição firme para virar o jogo e conseguir resolver a questão com os Gorns e eventualmente ganhar seu apoio.

Uma repórter federada, Ozla Gravin faz uma viagem por Tezwa, para escrever uma matéria sobre as condições difíceis que esta espécie se encontra após o confronto deles contra os Klingons. Durante esta viagem, Ozla esbarra com informação sobre a real origem das peças de artilharia federadas que o então Primeiro-Ministro Tezwa havia obtido para combater os Klingons, através de uma conversa casual com uma ex-amante de um militar tezwano morto. Ozla procura então iniciar uma investigação mais profunda a respeito.

Em agosto, durante os procedimentos para a evacuação dos remanos para o sistema estelar klingon de Klorgat IV, uma das luas deste planeta repentinamente explode sem razão óbvia aparente. Tanto os Klingons como os Federados suspeitam de mão romulana no incidente, particularmente de um Almirante Romulano renegado, Mendak, que conta com algumas aves-de-rapina, e investigações se iniciam, com o Palácio de La Concorde despachando para a região um time do Corpo de Engenharia da Frota Estelar, para avaliar a destruição da lua, ainda que a explosão não tenha realmente matado ninguém por ter ocorrido quando ela se encontrava do outro lado do planeta onde os remanos estão sendo realocados.

Em agosto, com a equipe já contando com Dogayn, substituindo Xeldara como um dos vice-chefe de gabinete, a equipe do Palais articular com alguns representantes planetários no Conselho da Federação para fazer com que uma proposta de continuidade de auxílio à Cardássia seja aprovada pelo Conselho. A informação de que a representante de Alfa Centauri intenciona mudar de opinião, passando a votar “não” para a proposta, acionou o alerta amarelo na equipe de Piñiero – ela nunca vota contra a maré a não ser caso a proposta envolva Alfa Centauri diretamente. Assim, a equipe política de Bacco faz alguns bem-bolados com alguns representantes, incluindo o de Betazed.

Ozla Graniv tem avanços na sua investigação jornalística de modo inesperado. Enquanto estava em Deneva seguindo algumas pistas, a trill é arrancada do chuveiro por dois capangas de um chefe local do Sindicato Órion, Ihazs. Ainda gotejando na frente do jocoso mafioso, uma surpresa Ozla recebe informação relevante de Ihazs. Ele racionaliza que não é interessante ter a trill futricando ali no seu quintal tanto quanto não é interessante mandar eliminar uma jornalista de alto-perfil como ela, o que traria atenção indesejada – assim, Ihazs dá uma palhinha para a jornalista com a condição de que ela deixe Deneva e procure confirmar aquelas informações também com outra fonte, para a usar publicamente, pois Ihazs ficaria muito desgostoso de ser mencionado publicamente. A informação que ele passa é que de fato, eles forneceram o armamento para os Tezwa, e confirma que a origem disto foi através do gabinete do ex-Presidente Zife – e mais ainda, que foi o Almirante Ross quem exigiu de Zife a sua renúncia devido a isto, sob a mira de feiser, nada menos.

Após o SCE confirmar que foi de fato a ave-de-rapina capital do Almirante Mendak a responsável pela cadeia-de-eventos a destruir a lua do sistema Klingon, Bacco faz uma reunião com ambos os embaixadores, K’mtok e Kalavak. O Embaixador Klingon, K’mtok, exige uma resposta militar contra o Império Romulano, mas o embaixador Romulano afirma que Mendak era um renegado que agiu por conta própria, e passa a informação de que ele foi encontrado morto, após cometer suicídio cerimonial, e deixou uma mensagem-manifesto contra o governo romulano atual. Como Bacco e o embaixador klingon confabulam a sós, é certo que isto é uma manipulação do atual governo romulano, ainda que bem feita – contudo, Bacco não pode suportar um avanço militar contra Romulos no presente momento, uma vez que eles não tem dados conclusivos que suportem tal ação (dado que os Romulanos denunciam publicamente Mendak como renegado), e o momento seria inoportuno para uma ação destas, fosse como fosse. Embora um tanto quanto desgostoso, K’mtok aceita a avaliação de Bacco, e a irá levar para o Alto Conselho. Bacco também propõe o embaixador pedir para Markot se encontrar com ela em uma conferência de cúpula dentro de algumas semanas.

Já por outubro, Ozla retorna para a Terra e se reúne com Jorel, o Secretário de Imprensa. Sem delongas, o informa que sabe da real razão da renúncia de Zife, e que a não ser que o Palais tenha uma razão muito boa para ela não publicar a matéria, ela assim o fará. Jorel não dá muito crédito à alegação da trill, mas uma conversa com Piñiero faz com que ele também perceba a gravidade das acusações – e sua fundamentação.

Oito anos antes, no início da administração Zife, a Guerra Dominion estava para estourar, e a paranóia e pânico eram presenças constantes. Koll Azernal, Chefe de Gabinete de Zife, e o Secretário de Inteligência Militar da Presidência, Nelino Quafina, coordenaram um esforço de bastidores para armar as escondidas os Tezwas, de modo que eles pudessem eventualmente servirem de linha de defesa à Federação na guerra. Contudo, anos depois, quando durante a crise Tezwa, o Presidente Zife e seu Chefe-de-Gabinete enviaram uma força conjunta klingon-federada para o planeta, assim o fizeram sabendo que Tezwa estava pesadamente armada com esta artilharia federada, e nada informaram a ninguém. O resultado disto foi inúmeras baixas de ambas as nações antes que a tripulação da nave federada conseguisse neutralizar as armas.

Operativos da Frota Estelar acabam descobrindo a real origem das armas, mas se encontram em uma posição difícil. A mera denúncia destas ações acabaria sendo custosa para as relações entre os Klingons e a Federação, pois o Império no mínimo acabaria exigindo que entregassem Zife para julgamento em Qou’nos, ou na pior hipótese, romperiam os acordos e iriam para a guerra – nenhum cenário que a Federação deseja. Assim sendo, o Almirante Ross exigiu que Zife e seus assessores renunciassem aos seus postos.

Bacco pressiona Ross para confirmar a história completa, e ele o faz. A Presidente da Federação especula como é que o Almirante podia se sentir em posição de cometer uma decisão arbitrária como aquela, no que Ross procura racionalizar que foi para proteger os melhores interesses da Federação ao mesmo tempo em que serviu para um Presidente pagar o preço por seus erros. Além de ponderar a respeito de que a coisa poderia gerar uma gravíssima crise com os Klingons, e em troca da aposentadoria definitiva de Ross, Ozla acaba concordando em não publicar a matéria. Assim, o Almirante concorda em se aposentar da Frota e se retirar da vida pública. Mas no final da conversa, Bacco especula que aparentemente, Ross e seus operativos não fizeram Zife apenas renunciar... ela lembra que o ex-Presidente não pode ser localizado de modo algum para comparecer ao funeral do Presidente Inyo. A isto, Ross é apenas evasivo, e pondera para si mesmo que tem que poupar Bacco desta parte da verdade, tanto para o bem dela, como para o bem da “organização” a qual pertence.

Após alguma relutância de meses, um ministro dos Tzenkethi envia secretamente seu filho de dois anos para uma instalação médica federada. A idéia geral aqui é que uma proeminente médica da Federação, Rebeca Emanuelli, opere o garoto, por ela conhecer bem a fisiologia deles e saber realizar um delicado procedimento. Contudo, Emanuelli se recusa a sequer cogitar a idéia. Ela foi prisioneira dos Tzenkethi durante quatro anos, durante os quais comeu o pão-que-Khaless-amassou na mão deles, sendo obrigada a trabalhar dia-e-noite no tratamento de tzenkethianos, e passou sofrimento considerável, e problemas familiares e emocionais depois que finalmente conseguiu ser devolvida a Federação. A Presidente Bacco tem uma conversa reservada com ela, e argumenta que o sentimento dela é totalmente compreensível, mas da mesma forma, ela não pode se entregar a irracionalidade gerada por isto, e procurar ser melhor que seus captores. Se ela não realizar a operação, tudo o que terão é um garoto morto, um ministro tzenkethiano que aceitou até cair em desgraça e prisão por não revelar que mandou propositalmente o filho para Federação, e um inimigo ainda mais fanático contra eles. Após alguma séria ponderação, Emanuelli acaba aceitando realizar a operação, mas infelizmente já era tarde demais para o garoto, pois a doença estava muito avançada. Apesar de seus melhores esforços, Emanuelli não consegue salvá-lo.

Finalmente, a Presidente Bacco, o Chanceler Martok e a Preator Tal’Aura realizam uma conferência de cúpula em meados de dezembro, no sistema neutro de Grisella. Os três chefes de nação discutem as melhores maneiras de consolidarem as soluções encontradas para a questão remana, e diversos outros itens na agenda klingon-federada também são azeitados, para satisfação de ambas as partes. Martok estava usando a oportunidade para sentir a temperatura da água em relação a Presidente da Federação, a qual estava conhecendo em pessoa ali, e ficou com uma boa impressão dela, por sua postura firme e sua atitude no-nonsense, especialmente relacionado a peitar a Preator romulana. A Preator informa que a Comandante Donatra renegada está prestes a declarar secessão de alguns sistemas romulanos, e que a Federação e os Klingons não devem ajudar estes rebeldes. Contudo, Bacco lembra que foi eles mesmos, Tal’Aura e Donatra inclusas, que armaram esta cama quando se envolveram no rolo com Shinzon – agora que deitem nela.

Finalmente por final de dezembro, a Presidente confabula com sua Chefe-de-Gabinete, momentos antes de iniciarem as cerimônias de ingresso de um novo membro da Federação, os Koas. Bacco desabafa um pouco a respeito de todos os problemas que tiveram neste primeiro ano de administração, mas Piñiero também a lembra de todas as coisas boas que conseguiram e conquistaram, e as que ainda há por virem. Com isto, ambas seguem para iniciarem os trabalhos da cerimônia com o novo Embaixador Koano na Federação.

Avaliação

Em poucas palavras, podemos definir Star Trek: Articles of the Federation como sendo "The West Wing" em Jornada nas Estrelas". O estilo da série de TV da NBC criada por Aaron Sorkin obviamente serviu de inspiração para a premissa do livro, e o próprio DeCandido admite abertamente isto, em algumas postagens nos fóruns da Pocket Books.

É uma idéia intrigante e bem-vinda, sem dúvida alguma, e uma que sempre me interessou. Afinal de contas, por dez filmes e coisa de setecentos episódios espalhados por cinco séries, a franquia nunca realmente detalhou muito como é que seria a organização do governo civil da Federação de Planetas Unidos. Seja devido a premissa da franquia não ser sobre isto, seja para não tirar tempo de tela de tramas mais focadas nos personagens centrais, seja por outras razões, tudo muito bem. Mas depois de se construir um universo tão rico e detalhado como o de Jornada nas Estrelas, é fatal que surja curiosidade para saber mais detalhes de aspectos que não costumamos ver na tela, e a organização social e política desta civilização é um destes aspectos obscuros sobre os quais seria interessante se conhecer mais.

Uma das primeiras coisas interessantes que uma obra como Articles of the Federation nos oferece é dar nome aos bois. Na grande maioria das vezes na franquia, quando se mencionando as ações de um dado governo, sempre é um tal de "Conselho da Federação" para cá, "Alto Comando Klingon" para lá, "Comando da Frota Estelar" para acolá. Nunca tivemos rostos, nomes ou características das pessoas que compõe estes órgãos. Contudo, um problema que ocorre desta oportunidade é que organizar todos os personagens que podem ser utilizados é algo delicado, e da mesma maneira que em Earth, DC, o livro Articles of the Federation tem o problema de acabar tendo personagens até demais – um "elenco de milhares", com personagens indo e vindo por todo o livro, o que pode se tornar confuso e difícil de se gerenciar.

Desta forma, a obra acaba se focando pouco em cada um deles individualmente, e a maioria acaba apenas servindo como peças para manter as tramas andando, sem conhecermos mais detalhes sobre suas personalidades. As exceções ficam por conta das figuras mais notórias da história, como a Presidente Nan Bacco e sua Chefe-de-Gabinete, Esperanza Piñiero. Não demora muito e fica claro que Bacco tem uma personalidade forte, bem no gênero take-no-crap, e é interessante observar que para uma sofisticada política federada, Bacco é desbocada como ninguém mais na franquia... embora tida como excelente oradora, profanidades leves são corriqueiras no vocabulário informal da Presidente. Os desdobramentos iniciais do governo de Bacco são como qualquer governo inicial que ainda está sentido a temperatura da água no ambiente político em que se encontra, e isto é bem retratado pela maneira com que a Presidente se relaciona com o restante do Conselho. Seja hoje em nosso universo imperfeito, seja no futuro da utopia federada, políticos ainda serão políticos, afinal de contas.

Piñiero de muitas maneiras serve como contraponto para manter as atitudes mais ressaltadas de sua chefe em xeque, o que deu um bom equilíbrio entre as duas mulheres. Como Chefe-de-Gabinete, Piñiero é a que mais interage com o restante do sênior staff da Presidência. Acho que até se poderia tentar traçar um paralelo entre a estrutura do staff de Bacco e a organização de uma nave estelar da Frota, com Bacco como Capitão, Piñiero como XO e os demais como a tripulação de ponte, mas seria algo precipitado, pois a maneira pela qual eles interagem entre si difere fundamentalmente da organização mais militar do comando de uma nave – além de os temas serem fundamentalmente diferentes, também. Embora seja um livro basicamente voltado mais a trama do que a personagens, os "arcos de história" se intercalam de modo de que não há realmente nenhuma história "A" principal que se sobressai completamente uma da outra. As crises e questões que surgem no gabinete da Presidência vão sendo tratadas a medida que o tempo avança na trama (que ocupa um ano completo, janeiro a dezembro de 2380). O que mais se poderia considerar como o "fio da meada" geral do livro como um todo é a razão real que levou o Presidente anterior a renunciar, pelo escândalo do fornecimento de armas para os Tezwas; mas mesmo esta trama não toma completamente a atenção para si.

Citações a eventos anteriores de todas as séries de Jornada nas Estrelas são abundantes, e os caçadores de referências se divertirão as encontrando. É apenas natural isto, considerando que a Administração Bacco tem que lidar com as conseqüências e seqüelas de diversos eventos recentes na história da Federação, como a Guerra Dominion e o golpe de Shinzon no Império Romulano – mas mesmo referências até a época de Jornada nas Estrelas: Enterprise tem espaço. Além disto, muitas das questões que surgem na história, como o problema com ex-Presidente Zife e as citações de Bacco sobre o ataque Gorn a Celsus III são eventos que ocorreram em outros livros editados pela Pocket Books, como Star Trek: A Time for War, A Time for Peace, ou também em quadrinhos, como Star Trek: The Next Generation - The Gorn Crisis, editada pela WildStorm Comics. Embora os eventos da literatura e quadrinhos da franquia não sejam realmente cânones, sempre são úteis para se enriquecer qualquer trama na franquia, e são sempre adições bem vindas. Citações aqui e ali a Presidentes anteriores da Federação também são abundantes.

Uma coisa a qual o livro me decepcionou um pouco foi em elaborar mais sobre como é que seria organizado o governo local terráqueo. Mas fora a aparição ocasional do representante da Terra no Conselho da Federação, não há nada que realmente detalhe como é que a Terra em particular é organizada politicamente. Para exemplificar, a minha fanfiction Star Trek: Earth, DC, se foca mais na política da Terra do que apenas na política federada, com a trama "A" da fanfic sendo a eleição justamente do representante da Terra no Conselho da Federação. A falta destes elementos em Articles of the Federation não é algo necessariamente errado da parte de DeCandido, sem dúvida – é uma escolha criativa que o autor fez, de focar mais na Federação do que na Terra. Mas seja como for, é algo que eu esperava que houvesse mais, pois a oportunidade era muito boa para se deixar passar.

Foi interessante ver a organização geral do governo federado que DeCandido extrapolou dos dados cânones já existentes no universo de Jornada, bem como adicionando elementos que ela mesmo desenvolveu. Trocando em miúdos, seria como a Presidência dos Estados Unidos em controle de uma nação como uma União Européia mais formalizada. Algumas características em particular do governo federado retratado é que o Presidente da Federação é quem conduz as sessões de debate do Conselho da Federação, o que combina com a coisa de sempre haver mais citações ao Conselho do que a Presidência nos episódios e filmes, o que indica a grande importância do legislativo no governo federado. A influência da Frota Estelar no governo também é analisada pelo autor, embora também não tanto quanto eu gostaria, e não da maneira que eu preferiria. Em dado momento, durante um discurso, Bacco faz a seguinte citação:

“Starfleet is the glue that holds the Federation together” – (A Frota Estelar é a cola que mantém a Federação unida.)

Nan Bacco, Star Trek: Articles of the Federation

É uma frase que com poucas palavras diz muito realmente sobre a relação Federação/Frota, pois pode ser interpretada tanto de maneira positiva como negativa. De maneira positiva, pode ser utilizada no discurso que Bacco dava para os formandos da Academia, de maneira a simbolizar a importância da Federação e coisa e tal. Mas da mesma forma, é perfeitamente possível se fazer uma avaliação cínica da frase, como uma admissão velada de que aparentemente, a única coisa que mantém a Federação unida é a mão-de-ferro de sua organização militar – e a Frota Estelar é uma organização militar, por mais eufemismos rondenberrianos que o fandom queira usar para não a retratar assim. Assim, um desenvolvimento maior sobre como é exagerada a influência da Frota nos dizeres da Federação como um todo seria muito bem vindo, mas não muito houve em Articles of the Federation a não ser as passagens sobre o papel do Almirante Ross na remoção do Presidente Zife – além também de deixar as dicas que Ross operava em nome da Seção 31 nesta operação.

Bem, no frigir dos ovos, um livro agradável e interessante, embora tenha sido uma leitura que demandou mais atenção do que o costume, para se poder manter em mente as inúmeras tramas correndo paralelas conduzidas por grande número de personagens, algo que o leitor precisa ter em mente, para acabar não se perdendo na leitura. A minha percepção pessoal do livro como um todo, baseado muito no gosto pessoal, justificaria um 3,5 em 4 de nota para a obra, mas eu acho mais adequado utilizar como nota final uma avaliação mais fria e realista, sem muita influência do fato de que o livro certamente me agradaria pela simples premissa em si. Desta forma, um 3 em 4 de nota reflete de maneira mais justa a qualidade da obra, e de modo algum é uma nota depreciativa, muito pelo contrário. Star Trek: Articles of the Federation é uma obra que faltava muito no universo de Jornada nas Estrelas, e sem dúvida irá saciar a curiosidade de muitos fãs que como eu, também sempre imaginaram como é que a Federação de Planetas Unidos é governada e administrada. Se a sociedade federada realmente é vista como uma utopia, como então é mantida assim, e até que ponto realmente é uma.