por
Fernando Penteriche
Com 80 anos recém
completados no mês passado, Walter Matthew Jefferies, mais
conhecido como Matt Jefferies, virou uma referência no universo
de Jornada nas Estrelas.
Apesar de não ter trabalhado em nenhuma das séries modernas do
franchise, seu nome é citado em diversos episódios. Mas não
como o homem que criou praticamente todos os designs da série
original, desde a ponte de comando, passando pelas armas feiser,
até a própria nave Enterprise. Jefferies virou referência como
um tubo.
O
"tubo Jefferies", um corredor na vertical onde ficam
sistemas da nave e que os engenheiros passam boa parte do tempo
quando há algum problema foi uma idéia que Matt usou na época
da série clássica para resolver um dilema. "Uma de minhas
maiores dificuldades", costuma contar Matt, "é que eu
tinha diversas idéias para o cenário da engenharia, mas nunca a
verba disponível ajudava. Um exemplo: eu tinha que arrumar um
lugar para Scotty ficar mexendo quando precisava arrumar as coisas
da Enterprise. E esse lugar não poderia ocupar uma sala inteira.
Resolvi então criar um tubo com todo o tipo de coisas
complicadas, com fios e etc. Eu acredito que funcionou",
completa. "Alguém resolveu dar meu nome ao tubo, e pegou !
Eu mesmo passei a usar 'tubo Jefferies' em alguns dos meus esboços
para o cenário".
Jefferies começou a trabalhar em Jornada nas Estrelas
quando Gene Roddenberry ainda nem tinha um escritório ou secretária,
na época das filmagens de "The Cage". Começou
como um desenhista de sets. O diretor de arte da série na época
era Franz Bachelin. Pato Guzman, amigo de Desi Arnaz (marido de
Lucy Ball e um dos proprietários do estúdio Desilu, onde Jornada
era filmada) era o segundo diretor de arte. Jefferies criou, ainda
como desenhista de sets, a ponte de comando e o exterior da
Enterprise. Quando o estúdio deu o sinal verde para Roddenberry
produzir um segundo episódio piloto, "Where No Man Has
Gone Before", Bachelin e Guzman haviam se desligado do
projeto, e Jefferies assumiu a condição de diretor de arte.
Para criar a nave mais
famosa da saga de Jornada Jefferies fez inúmeros esboços,
começando com uma nave mais achatada, depois com uma enorme bola
na frente e naceles inferiores e até chegar próximo ao desenho
que conhecemos muitos esboços foram feitos. Gene acompanhava de
perto e ia apontando o que mais gostava nos esboços.
Juntando a imaginação
de Jefferies com as opiniões de Gene, a USS Enterprise assumiu o
formato de um disco chato, um pescoço, uma espécie de
"turbina" abaixo com duas naceles na altura do disco. O
prefixo NCC 1701 foi criado também por Jefferies, como ele conta
a seguir:
"Ainda não havia sido decidido qual o prefixo ou número de
serviço que a nave teria, então eu resolvi dar à Enterprise
minha própria designação. Desde a década de 20, a letra N
indica 'Estados Unidos' em termos de marinha americana. A letra C
significava 'comercial'. Eu adicionei um C extra apenas por diversão.
NCC. Após isso, eu teria de pegar alguns números. Eles teria de
ser facilmente identificável a distância, logo os números 3, 8,
6, 9 e 4 estavam fora. Não sobraram muitos, então 1701 foi uma
boa escolha. A razão pela escolha foi que a Enterprise seria a 17ª
nova nave da Federação, e a primeira de sua série: 17-01."
Sobre o design exterior, Matt conta que sempre quis ficar longe do
estilo "disco voador", porém acabou prevalecendo que a
Enterprise tivesse uma seção disco. Após ser informado por Gene
da idéia da dobra espacial, Matt resolveu colocar motores enormes
e potentes (as naceles). E unindo tudo, um casco inferior secundário.
Quando o escritor e produtor de Jornada Gene Coon criou uma
nova raça de inimigos, os Klingons, coube a Matt criar a nave dos
novos alienígenas. Jefferies criou o cruzador Klingon em casa,
pois como passaria tempo demais no estúdio para fazer a criação,
resolveu levar todo o trabalho para casa e trabalhar 24 horas
direto. "Como os Klingons eram inimigos, resolvi criar uma
nave com um aspecto que logo ao vê-la você já poderia ter a
certeza de que não eram amistosos. Teria de ser ameaçadora e
instigante", conta o desenhista.
Enquanto trabalhava na
Série Clássica, todos conheciam Matt como uma das pessoas
mais calmas e pacatas que trabalhavam no estúdio. Quando os
produtores lhe diziam que a verba necessária para a construção
de determinado cenário ficaria abaixo do necessário, ao invés
de Jefferies reclamar ele simplesmente dizia frases como
"Bem... vamos ver o que consigo fazer então". Na
terceira temporada Matt tinha que fazer mágica para construir
alguma coisa apresentável com a dinheiro que estava destinado aos
sets. Jornada trabalhava com um orçamento para um programa
de rádio e não de TV. Mesmo assim em episódios como "Spectre
of the Gun" pode-se notar a criatividade de Matt para
trabalhar com um baixo orçamento.
A contribuição dele para Jornada nas Estrelas foi além
do que foi mostrado na tela. Jefferies trabalhou na AMT
Corporation, responsável pelos kits de plastimodelismo da
Enterprise original. O desenho do kit também foi criado por
Jefferies, e começou a ser comercializado em janeiro de 1967. O
mesmo ocorreu com o cruzador Klingon.
Matt
também criou a nave auxiliar Galileo 7 em Jornada e
participou do processo para criar o kit de montar que também foi
vendido pela AMT. Enquanto a série estava no ar, Jefferies
recebia uma participação na venda dos kits, mas depois que a série
foi cancelada Matt não recebeu mais um tostão.
Em
alguns episódios da série original, quando havia a necessidade
de mostrar outra nave da classe Constitution que não fosse a
Enterprise, kits de montar da AMT foram utilizados. Era muito mais
barato do que construir novas maquetes.
Depois de Jornada, Matt Jefferies ainda trabalhou em
diversas séries da televisão americana, entre elas
"Dallas". Depois dele, Andrew Probert, Rick Sternbach,
Greg Jein e John Eaves seguiram seus passos nas séries seguintes
e filmes de cinema de Jornada. Mas para todos eles, como
sempre dizem em entrevistas, Matt Jefferies é um artista lendário.
Os interiores da
Enterprise ganham vida nas
mãos talentosas de Matt Jefferies
A ponte de comando
Os aposentos do capitão Kirk
A enfermaria
A mesa da sala de reuniões
O hangar de naves auxiliares
Jefferies era mestre na arte
de criar naves
para os episódios da série original
A Botany Bay, nave de Khan
Rascunhos do cruzador Klingon
O artista, calmo e
consciente, fazia milagres
com o orçamento risível do programa
Projetando Vaal, e o resultado
O crédito
A lenda
Walter Matthew Jefferies
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