Publicado originalmente
como coluna, em 2001


Gene Coon: o herói desconhecido
Conheça um pouco mais sobre a vida de um dos menos notórios, mas mais importantes, produtores da Série Clássica de Jornada


 









 


por Lia Matos Viegas

A Série Clássica teve excelentes episódios. Por trás deles, tivemos pessoas como Gene Roddenberry, Bob Justman e outros nomes, que compunham uma grande equipe de produção. Entre esses nomes, um dos grandes foi Gene Coon. 

Criado em Nebraska, atuou durante quatro anos no Japão e na China servindo como fuzileiro dos Estados Unidos após recusar dispensa desse serviço. Depois, foi para Los Angeles, onde trabalhou como escritor feelancer, até conseguir trabalho em programas para televisão.

Nesse meio tempo foi que conheceu Jackie, seu único grande amor e com quem não se casou por ser tímido: ela acreditava que o amor que ela sentia por ele não era correspondido (já que ele não demonstrava seus sentimentos) e começou a sair com outra pessoa, com quem se casou. Ele também saiu com outra mulher e casou-se com ela também. Quis o destino, anos depois reencontrar os dois quando Jackie estava se divorciando. Resolveram que passariam o resto da vida juntos --foi quando Coon se divorciou...

Entre suas qualidades, tinha a de conseguir embutir nos programas em que trabalhava um adorável senso de humor: quem não se divertia vendo as brigas entre McCoy e Spock? Essa e outras entradas engraçadas --mas não absurdas-- foram, por todo o tempo em que Coon foi produtor da Clássica, em grande parte, inseridas por ele.

Autor de episódios como "The Devil in the Dark" --o meu favorito, diga-se-- "Arena", "Errand of Mercy", entre outros, Gene tinha uma capacidade de captar a história: segundo sua própria esposa, Jackie, ele conseguia dormir sem saber como continuar uma história e acordar trabalhando nela, feito louco, e ficaria lá por horas. Quando questionado sobre por que escrevia assim, ele simplesmente respondia: "Tenho que escrever assim. Tenho muita coisa na cabeça que não consigo colocar na máquina com a rapidez necessária".

Outra qualidade do autor era encontrar nas coisas banais um grande roteiro: foi como escreveu "The Devil in the Dark" - Janos Prohaska, criador de diversos "monstros" de Hollywood, como o Mugatu ("A Private Little War") ou Yarnek ("The Savage Curtain"), apareceu nos estúdios com uma bolha de borracha estranha e fez de tudo para mostrar para que ela servia: jogou um frango abatido no meio dessa "bolha", subiu em sua criação e começou a sacudir-se em cima dela, tentando passar a ela uma sensação de vida. Em seguida, arrasta um pouco sua criatura e aparece um esqueleto de frango. Esse monstrinho comedor de frango virou o monstro comedor de mineradores e herói do episódio.

Entre outras contribuições de Coon para Jornada nas Estrelas estão os Klingons, o Tratado de Paz de Orgânia e a Primeira Diretriz --ao contrário do que muitos pensam, não foi Roddenberry que criou tudo isso. 

Mas, como nem tudo são flores na vida, a dele não foi diferente: por motivos desconhecidos do público e mesmo dos envolvidos com a série, Gene saiu do programa durante a segunda temporada. Segundo boatos, foi por intrigas com o outro Gene, mas não a confirmação real disso. Alguns anos depois, ele morreria de câncer.

Ao final, Gene Coon foi uma grande figura em Jornada nas Estrelas, apesar de não ser muito considerado por seu trabalho. Todavia, aquele homem com jeitão de banqueiro mal --e que, na verdade, estava mais para gênio-- foi quem fez a série decolar. A ele, nossa homenagem...