por
Lia Matos Viegas
A Série Clássica teve
excelentes episódios. Por trás deles, tivemos pessoas como Gene
Roddenberry, Bob Justman e outros nomes, que compunham uma grande
equipe de produção. Entre esses nomes, um dos grandes foi Gene
Coon.
Criado em Nebraska, atuou durante quatro anos no Japão e na China
servindo como fuzileiro dos Estados Unidos após recusar dispensa
desse serviço. Depois, foi para Los Angeles, onde trabalhou como
escritor feelancer, até conseguir trabalho em programas para
televisão.
Nesse meio tempo foi que conheceu Jackie, seu único grande amor e
com quem não se casou por ser tímido: ela acreditava que o amor
que ela sentia por ele não era correspondido (já que ele não
demonstrava seus sentimentos) e começou a sair com outra pessoa,
com quem se casou. Ele também saiu com outra mulher e casou-se
com ela também. Quis o destino, anos depois reencontrar os dois
quando Jackie estava se divorciando. Resolveram que passariam o
resto da vida juntos --foi quando Coon se divorciou...
Entre suas qualidades, tinha a de conseguir embutir nos programas
em que trabalhava um adorável senso de humor: quem não se
divertia vendo as brigas entre McCoy e Spock? Essa e outras
entradas engraçadas --mas não absurdas-- foram, por todo o tempo
em que Coon foi produtor da Clássica, em grande parte,
inseridas por ele.
Autor
de episódios como "The Devil in the Dark" --o
meu favorito, diga-se-- "Arena", "Errand
of Mercy", entre outros, Gene tinha uma capacidade de
captar a história: segundo sua própria esposa, Jackie, ele
conseguia dormir sem saber como continuar uma história e acordar
trabalhando nela, feito louco, e ficaria lá por horas. Quando
questionado sobre por que escrevia assim, ele simplesmente
respondia: "Tenho que escrever assim. Tenho muita coisa na
cabeça que não consigo colocar na máquina com a rapidez necessária".
Outra
qualidade do autor era encontrar nas coisas banais um grande
roteiro: foi como escreveu "The Devil in the Dark"
- Janos Prohaska, criador de diversos "monstros" de
Hollywood, como o Mugatu ("A Private Little War")
ou Yarnek ("The Savage Curtain"), apareceu nos
estúdios com uma bolha de borracha estranha e fez de tudo para
mostrar para que ela servia: jogou um frango abatido no meio dessa
"bolha", subiu em sua criação e começou a sacudir-se
em cima dela, tentando passar a ela uma sensação de vida. Em
seguida, arrasta um pouco sua criatura e aparece um esqueleto de
frango. Esse monstrinho comedor de frango virou o monstro comedor
de mineradores e herói do episódio.
Entre outras contribuições de Coon para Jornada nas Estrelas
estão os Klingons, o Tratado de Paz de Orgânia e a Primeira
Diretriz --ao contrário do que muitos pensam, não foi
Roddenberry que criou tudo isso.
Mas, como nem tudo são flores na vida, a dele não foi diferente:
por motivos desconhecidos do público e mesmo dos envolvidos com a
série, Gene saiu do programa durante a segunda temporada. Segundo
boatos, foi por intrigas com o outro Gene, mas não a confirmação
real disso. Alguns anos depois, ele morreria de câncer.
Ao final, Gene Coon foi uma grande figura em Jornada nas
Estrelas, apesar de não ser muito considerado por seu
trabalho. Todavia, aquele homem com jeitão de banqueiro mal --e
que, na verdade, estava mais para gênio-- foi quem fez a série
decolar. A ele, nossa homenagem...
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