A
Ausência da Série Clássica na TV
Há
algum tempo, o canal a cabo USA retirou da grade de sua programação
a Série Clássica de Jornada nas Estrelas. Isso
provocou certa revolta por parte de muitos fãs, pois o USA
era o único canal brasileiro que estava exibindo as aventuras
clássicas.
A justificativa foi que a série estava sendo exibida há muito
tempo, com muitas reprises e, conseqüentemente, a audiência
só diminuia. Em face disso, quero aqui fazer algumas
extrapolações, no sentido de que se a retirada da série foi
um prejuízo para os fãs ou um benefício a longo prazo.
Isso
nos remete ao ano de 1991, quando a Série Clássica,
após longa ausência na televisão brasileira, voltou
a ser exibida em cópias novas, com nova dublagem, pela TV
Manchete. Nessa época, a volta da série foi uma verdadeira
alegria entre os fãs, que estavam sofrendo de uma certa "abstinência"
e havia apenas onze episódios disponíveis em VHS, um deles
o piloto inédito "The Cage".
A Série Clássica, antes da exibição pela Manchete,
foi televisionada pela Bandeirantes, no começo da década de
80. Apenas os fãs mais afortunados tiveram a oportunidade
de gravar alguns episódios em VHS, formato que ainda estava
engatinhando no Brasil. Hoje essas gravações são verdadeiras
relíquias por apresentarem a dublagem
original, muito superior à nova feita em 1991pela
empresa VTI.
A Manchete comprou apenas os dois primeiros anos da série,
pretendendo comprar o terceiro, e último, após a verificação
de boa audiência. Como esperado, a série obteve bons índices,
mesmo com o péssimo horário das segundas, quartas e sextas-feiras,
às 18h00, dentro da chamada "Sessão Espacial".
A boa audiência foi conquistada pelo fato de que não apenas
os trekkers estavam assistindo à série, mas também os fãs
casuais e os apreciadores de séries dos anos 60.
Mas, infelizmente, por problemas financeiros, a Manchete estava
com sérias dificuldades, tanto que encerrou suas atividades
anos depois. E essas dificuldades a fizeram reprisar várias
vezes os dois primeiros anos da Série Clássica,
sem nunca ter adquirido o terceiro, e último.
De novo os fãs estavam sem a série na televisão, porém
o vídeo-cassete já era um formato bem mais difundido e muitos
puderam gravar os episódios em fita. A carência já não era
tão amarga como o fora entre meados nos anos 80 e início dos
anos 90.
E,
em meados dos anos 90, a Record comprou os direitos da série
e passou a exibi-la novamente, sendo que a audiência continuava
boa, não tanto como em 1991, mas o bastante para assegurar
novas reprises durante um certo tempo. Quase que simultaneamente,
o canal a cabo USA surgiu no país e começou a exibir a Série
Clássica também. O terceiro ano foi finalmente adquirido
para exibição no país, sendo transmitido pela Bandeirantes
e pelo USA, que também exibia, enfim, as demais séries
de Jornada nas Estrelas.
Há tempos os fãs não se viam tão felizes, com a televisão
nacional correndo contra o atraso de anos nas exibições da
"Nova Geração", "Deep Space Nine" e "Voyager". Com o passar
do tempo, mais fãs foram gravando os episódios em VHS e as
reprises começaram a perder a importância. Chegou a um momento
em que os fãs já não tinham tempo e paciência para acompanhar
a série, não porque cansaram dela, longe disso, mas sim porque
realmente já não havia mais novidade.
Reprises perdem a importância?
Conseqüentemente, pela baixa audiência, primeiro foi a Bandeirantes
quem parou de exibir os episódios e, após certo tempo, o USA
fez o mesmo. Muitos fãs se enraivaram, a maioria injustificadamente,
pois embora não assistissem mais a série, queriam a permanência
da mesma na TV custe o que custar. Mesmo, como ocorreu com
a Bandeirantes, que o programa fosse exibido pelas manhãs
em um programa infantil (o infame "É o Bicho").
Agora nos encontramos de novo sem a exibição da série na TV
e muitos cogitam se seria melhor que ela permanecesse alguns
anos ausente da nossa telinha para eventualmente voltar com
uma força maior.
Entretanto,
acredito que a Série Clássica jamais volte com força
à televisão da maneira como ocorreu no ano de 1991,
pois hoje não existe mais aquela "abstinência" sofrida pelos
fãs daquele tempo, já que a série já não está totalmente
ausente como esteve antes. Nos dias atuais, a maioria dos
fãs tem episódios gravados em VHS, os DVDs importados com
a série completa podem ser facilmente adquiridos (porém, com
preço bem elevado) e episódios são baixados pela internet
por quem tem banda larga.
A Série Clássica não está ausente; muito pelo contrário,
nunca esteve tão presente na vida dos fãs. E quanto à suposição
de que uma nova geração de telespectadores venha a descobrir
a série futuramente ? É difícil dizer ao certo.
Hoje, uma boa parte dos fãs da Série Clássica são aqueles
que começaram a acompanhar a série a partir de 1991, pela
TV Manchete; outros, de significativo número, são aqueles
que acompanharam a série desde a exibição pela TV Excelsior
- no final dos anos 60 - e, posteriormente, pela Bandeirantes.
Poucos são aqueles que se tornaram fãs a partir das exibições
pela Record em meados dos anos 90. Portanto, a Série Clássica
reside principalmente no âmbito da nostalgia.
Quando essa geração nos deixar, a Série Clássica terá
perdido o seu maior contingente de fãs. A partir desse momento,
a série terá que sobreviver por sentimentos outros que não
o de nostalgia; talvez sobreviva - ou melhor, renasça - por
sentimentos de interesse por uma época distante - os anos
60 - que muito colaborou na cultura e comportamento do ser
humano moderno.
É fato constatado que só tem crescido entre os jovens o fascínio
pelos anos 60, seja pela música, pelo pensamento, pelas liberdades
adquiridas etc. Por que não se cogitar pelo nascimento de
fascínio por séries de TV desse período? Mas que tipo de fascínio
uma série como Jornada nas Estrelas pode trazer para
uma futura geração? A noção de que se tratava de uma série
à frente de seu próprio tempo? Talvez não. A noção da importância
da série no contexto do rompimento do preconceito entre os
homens e da esperança por um futuro melhor? Infelizmente,
esses temas, embora novos nos anos 60, hoje já não representam
novidade, mesmo porque a luta pela igualdade já está mais
do que enraizada na população formadora de opinião - cujos
trekkers fazem parte.
Que
tal então supor que a série será vista tão somente pelo divertimento
que oferece, seja pelos roteiros interessantes que oferecem
bom humor ou uma certa dose de absurdo saudável, ou
pela química dos personagens, pelos cenários falsos etc? Podemos
exemplificar, mas de maneira rude, através de um fato análogo:
nossa geração não habitava esse planeta quando da exibição
de séries dos anos 30, como "Flash Gordon" ou "Buck Rogers",
ou até mesmo dos grandes clássicos de horror da Universal
do mesmo período, como "O Homem Invisível" e "Frankenstein".
Entretanto, essas séries e filmes encontraram numerosos fãs
em gerações futuras exatamente pelo fascínio despertado.
São filmes divertidíssimos, produzidos com paixão e competência
(dentro dos limitados orçamentos), exatamente como a série
original de Jornada nas Estrelas.
Luiz
Felipe do Vale Tavares
é fã de cinema, DVDs e, claro, de Jornada
nas Estrelas.
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