Publicado originalmente
como coluna, em 2001


"The Pegasus": enfim uma explicação
Tudo sobre o episódio do sétimo ano de A Nova Geração que explicou por que a Federação não usa dispositivos de camuflagem


 









 


por Fernando Penteriche

Sempre foi perguntado o porquê das naves da Federação não possuírem o famoso "cloaking device", o dispositivo de camuflagem utilizado nas naves Klingons e Romulanas. Já foi especulado que o motivo seria o formato das naves da Federação, que não permitiriam o uso de tal disposivo (algo desmentido no episódio da Série Clássica "The Enterprise Incident", quando a Enterprise original se camufla), ou ainda que a Federação, uma organização pacifista, não permitiria tais dispositivos em suas naves.



Isso sempre foi muito nebuloso para os fãs. Como uma velha ave-de-rapina Klingon do século 23 pode ter camuflagem e a nave capitânea da Federação no século 24, a Enterprise-D, não o tem? A resposta é um Tratado, como visto em "The Pegasus", excelente episódio do 7º ano e um dos poucos que se salvam dessa fraquíssima temporada.

Tudo começa na data estelar 47457.1, em 2370, quando a Enterprise, em uma missão rotineira de pesquisa, e ao mesmo tempo celebrando o tradicional "Captain Picard's Day" (um evento anual para as crianças da nave), recebe novas ordens para encontrar-se com o almirante Erik Pressman e seguir rumo a um cinturão de asteróide no sistema Devolis, próximo à fronteira Romulana.

Will Riker serviu a bordo da USS Pegasus, uma nave classe Oberth (como a USS Grissom de Jornada III), quando era apenas um oficial recém-saído da Academia. Seu capitão na época foi o mesmo Erik Pressman, hoje almirante. Vale ressaltar que a Pegasus era uma nave que testava muitas novas tecnologias, e algumas delas estão a bordo da Enterprise, lançada sete anos após sua destruição.



Até hoje, a história que se acreditava era que a Pegasus havia sofrido sérios problemas enquanto a tripulação fazia experimentos com seu núcleo de dobra. Houve uma explosão, a nave foi destruída, muitos tripulantes morreram. Só alguns poucos conseguiram escapar em um casulo de fuga, entre eles Riker e o capitão Pressman.

Voltando ao presente: o motivo da ida da Enterprise ao cinturão de asteróides é que a Pegasus não foi completamente destruída, como todos pensavam. Um espião da Federação no Império Romulano passou a informação de que os Romulanos descobriram alguns destroços da nave próximos ao cinturão de asteróides do sistema Devolis. A missão da Enterprise então seria chegar primeiro, encontrar e sumir com esses destroços antes dos Romulanos, pois muita tecnologia da Federação está por lá, e se cair nas mãos dos inimigos...

A Enterprise, chegando no local, encontra a "Ave de Guerra" Romulana Terix, examinando os asteróides em "uma missão científica sem importância", segundo seu comandante Sirol. Fica acordado entre as partes que as naves da Federação e do Império podem pesquisar sem problemas, uma não se metendo na vida da outra.

Algumas horas depois, é descoberto: a USS Pegasus (ou partes dela) está dentro de um grande asteróide do cinturão. A tripulação da Enterprise consegue enganar a nave Romulana, que nem desconfia que está tão perto do objetivo desejado.

Enquanto isso, Picard descobre através de um registro antigo (que ele conseguiu cobrando muitos favores de oficiais de altos cargos da Federação), que na verdade houve um MOTIM a bordo da Pegasus antes de sua destruição. Riker então recebe uma ordem (em particular) de Picard para que revele a verdade a ele, já que um motim em uma nave da Federação é algo impensável, e ainda há o fato de que isso ficou escondido em alguns obscuros arquivos da Federação por 12 anos! Riker recusa-se a falar a verdade, sob ordens do almirante Pressman. Picard então dá um ultimato à Riker: se a Enterprise sofrer alguma ameaça por conta da missão que Riker não quer confidenciar à ele, o capitão então fará uma séria reescala na cadeia de comando da nave, e Riker perderá seu posto de primeiro-oficial. Mesmo assim Riker não cede, e Picard fica às cegas na missão.

A USS Pegasus realmente está dentro do asteróide, e (quase) ninguém sabe explicar o que aconteceu (é óbvio que Pressman e Riker sabem demais). Pressman então ORDENA que a Enterprise seja levada à Pegasus, ENTRANDO dentro do asteróide. Picard é contra, mas como o almirante é quem manda na missão, ele acaba aceitando sob forte objeção, registrada no diário de bordo. Ao chegar dentro do asteróide, próximo à Pegasus, uma imagem chocante e inexplicável: a nave está inserida em rocha sólida, como se tivesse se teletransportado para lá. Pressman decide então descer para a seção de engenharia da Pegasus, que está intacta, junto com Riker, para resgatar uma valiosa peça de equipamento. Enquanto os dois estão na seção de engenharia, a nave Romulana (com a famosa desculpa do "foi sem querer") fecha a entrada do asteróide, deixando a Enterprise presa dentro. Pressman e Riker são chamados rapidamente para voltar à Enterprise, e Pressman traz um equipamento que estava conectado aos sistemas da Pegasus.

Mas o comandante Sirol é bonzinho! Ele propõe à Picard que TODA a tripulação da Enterprise se teletransporte para a nave Romulana, onde após uma breve estadia em Romulus, seriam levados gentilmente de volta ao espaço da Federação. Picard recusa, logicamente, pois se isso acontecer os Romulanos poderão passar a mão em não uma, mas DUAS naves da Federação: a Pegasus e a própria Enterprise!!!

Não é possível utilizar os feisers para abrir um buraco e fugir, nem o uso de torpedos ou qualquer outra arma. Porém Riker tem a solução. A peça que Pressman trouxe da Pegasus é na verdade um PROTÓTIPO DE UM DISPOSITIVO DE CAMUFLAGEM DA FEDERAÇÃO! E além de deixar a nave invisível, esse protótipo ainda transforma a nave em uma espécie de nave-fantasma, ou seja, além de ficar invisível, ela pode passar pela matéria como se ela não estivesse lá... É a única chance que a Enterprise tem de escapar, mesmo com os protestos de Pressman, que diz que a carreira de Riker acabou por esse segredo ter sido revelado. Picard aceita a solução de Riker e ordena a LaForge e Data que dêem um jeito de conectar este dispositivo na Enterprise, para que possam escapar.

Algumas horas de trabalho duro e a Enterprise-D pela primeira e única vez em sua história utiliza-se de um dispositivo de camuflagem. Passando pela rocha sólida que compõe o asteróide, a nave consegue se livrar da armadilha dos Romulanos. Picard então ordena que, mesmo à vista da nave inimiga, a Enterprise desligue o sistema de camuflagem. Já temendo um problema sério com os Romulanos, por ter desobedecido ao TRATADO DE ALGERON --o acordo de paz entre os Romulanos e a Federação, após o incidente de Tomed em 2311, reafirma a existência da ZONA NEUTRA ROMULANA, proibindo a entrada nesse setor por naves dos dois governos, sem autorização e proibindo a Federação de desenvolver um sistema de camuflagem para suas naves--, o capitão envia uma mensagem ao comandante Sirol, dizendo que a Federação contatará o Império Romulano em breve para dar explicações.

Pressman fica possesso com a atitude de Picard, revelando um dos maiores segredos da Federação ao inimigo, porém nada ele pode fazer. O capitão ordena que ele seja preso pela quebra do Tratado, e Riker sente-se no dever de ser encarcerado também.

Depois disso, nunca mais ouviremos falar de dispositivo de camuflagem em naves da Federação, até a chegada da Defiant, em Deep Space Nine. Isso é assunto para o meu amigo Luiz Castanheira escrever em sua coluna de Deep Space Nine, mas apenas resumindo, a Federação cedeu aos Romulanos todas as informações que tinha do Dominion, na época, em troca desse sistema de camuflagem para a Defiant. E ficou combinado que a nave apenas utilizaria este sistema no quadrante Gama.

Observação: No episódio final da Nova Geração, "All Good Things...", é vista a Enterprise-D 25 anos no futuro da série, com sistema de camuflagem. Porém, como aquele era um futuro alternativo manipulado pela entidade Q, não pode ser considerado.