por
Fernando Penteriche
Sempre foi perguntado o porquê das
naves da Federação não possuírem o famoso "cloaking
device", o dispositivo de camuflagem utilizado nas naves
Klingons e Romulanas. Já foi especulado que o motivo seria o
formato das naves da Federação, que não permitiriam o uso de
tal disposivo (algo desmentido no episódio da Série Clássica
"The Enterprise Incident", quando a Enterprise
original se camufla), ou ainda que a Federação, uma organização
pacifista, não permitiria tais dispositivos em suas naves.
Isso sempre foi muito nebuloso para os fãs. Como uma velha
ave-de-rapina Klingon do século 23 pode ter camuflagem e a nave
capitânea da Federação no século 24, a Enterprise-D, não o
tem? A resposta é um Tratado, como visto em "The Pegasus",
excelente episódio do 7º ano e um dos poucos que se salvam dessa
fraquíssima temporada.
Tudo
começa na data estelar 47457.1, em 2370, quando a Enterprise, em
uma missão rotineira de pesquisa, e ao mesmo tempo celebrando o
tradicional "Captain Picard's Day" (um evento anual para
as crianças da nave), recebe novas ordens para encontrar-se com o
almirante Erik Pressman e seguir rumo a um cinturão de asteróide
no sistema Devolis, próximo à fronteira Romulana.
Will
Riker serviu a bordo da USS Pegasus, uma nave classe Oberth (como
a USS Grissom de Jornada III), quando era apenas um oficial recém-saído
da Academia. Seu capitão na época foi o mesmo Erik Pressman,
hoje almirante. Vale ressaltar que a Pegasus era uma nave que
testava muitas novas tecnologias, e algumas delas estão a bordo
da Enterprise, lançada sete anos após sua destruição.
Até hoje, a história que se acreditava era que a Pegasus havia
sofrido sérios problemas enquanto a tripulação fazia
experimentos com seu núcleo de dobra. Houve uma explosão, a nave
foi destruída, muitos tripulantes morreram. Só alguns poucos
conseguiram escapar em um casulo de fuga, entre eles Riker e o
capitão Pressman.
Voltando ao presente: o motivo da ida da Enterprise ao cinturão
de asteróides é que a Pegasus não foi completamente destruída,
como todos pensavam. Um espião da Federação no Império
Romulano passou a informação de que os Romulanos descobriram
alguns destroços da nave próximos ao cinturão de asteróides do
sistema Devolis. A missão da Enterprise então seria chegar
primeiro, encontrar e sumir com esses destroços antes dos
Romulanos, pois muita tecnologia da Federação está por lá, e
se cair nas mãos dos inimigos...
A
Enterprise, chegando no local, encontra a "Ave de
Guerra" Romulana Terix, examinando os asteróides em
"uma missão científica sem importância", segundo seu
comandante Sirol. Fica acordado entre as partes que as naves da
Federação e do Império podem pesquisar sem problemas, uma não
se metendo na vida da outra.
Algumas horas depois, é descoberto: a USS Pegasus (ou partes
dela) está dentro de um grande asteróide do cinturão. A tripulação
da Enterprise consegue enganar a nave Romulana, que nem desconfia
que está tão perto do objetivo desejado.
Enquanto isso, Picard descobre através de um registro antigo (que
ele conseguiu cobrando muitos favores de oficiais de altos cargos
da Federação), que na verdade houve um MOTIM a bordo da Pegasus
antes de sua destruição. Riker então recebe uma ordem (em
particular) de Picard para que revele a verdade a ele, já que um
motim em uma nave da Federação é algo impensável, e ainda há
o fato de que isso ficou escondido em alguns obscuros arquivos da
Federação por 12 anos! Riker recusa-se a falar a verdade, sob
ordens do almirante Pressman. Picard então dá um ultimato à
Riker: se a Enterprise sofrer alguma ameaça por conta da missão
que Riker não quer confidenciar à ele, o capitão então fará
uma séria reescala na cadeia de comando da nave, e Riker perderá
seu posto de primeiro-oficial. Mesmo assim Riker não cede, e
Picard fica às cegas na missão.
A
USS Pegasus realmente está dentro do asteróide, e (quase) ninguém
sabe explicar o que aconteceu (é óbvio que Pressman e Riker
sabem demais). Pressman então ORDENA que a Enterprise seja levada
à Pegasus, ENTRANDO dentro do asteróide. Picard é contra, mas
como o almirante é quem manda na missão, ele acaba aceitando sob
forte objeção, registrada no diário de bordo. Ao chegar dentro
do asteróide, próximo à Pegasus, uma imagem chocante e inexplicável:
a nave está inserida em rocha sólida, como se tivesse se
teletransportado para lá. Pressman decide então descer para a seção
de engenharia da Pegasus, que está intacta, junto com Riker, para
resgatar uma valiosa peça de equipamento. Enquanto os dois estão
na seção de engenharia, a nave Romulana (com a famosa desculpa
do "foi sem querer") fecha a entrada do asteróide,
deixando a Enterprise presa dentro. Pressman e Riker são chamados
rapidamente para voltar à Enterprise, e Pressman traz um
equipamento que estava conectado aos sistemas da Pegasus.
Mas
o comandante Sirol é bonzinho! Ele propõe à Picard que TODA a
tripulação da Enterprise se teletransporte para a nave Romulana,
onde após uma breve estadia em Romulus, seriam levados
gentilmente de volta ao espaço da Federação. Picard recusa,
logicamente, pois se isso acontecer os Romulanos poderão passar a
mão em não uma, mas DUAS naves da Federação: a Pegasus e a própria
Enterprise!!!
Não é possível utilizar os feisers para abrir um buraco e
fugir, nem o uso de torpedos ou qualquer outra arma. Porém Riker
tem a solução. A peça que Pressman trouxe da Pegasus é na
verdade um PROTÓTIPO DE UM DISPOSITIVO DE CAMUFLAGEM DA FEDERAÇÃO!
E além de deixar a nave invisível, esse protótipo ainda
transforma a nave em uma espécie de nave-fantasma, ou seja, além
de ficar invisível, ela pode passar pela matéria como se ela não
estivesse lá... É a única chance que a Enterprise tem de
escapar, mesmo com os protestos de Pressman, que diz que a
carreira de Riker acabou por esse segredo ter sido revelado.
Picard aceita a solução de Riker e ordena a LaForge e Data que dêem
um jeito de conectar este dispositivo na Enterprise, para que
possam escapar.
Algumas
horas de trabalho duro e a Enterprise-D pela primeira e única vez
em sua história utiliza-se de um dispositivo de camuflagem.
Passando pela rocha sólida que compõe o asteróide, a nave
consegue se livrar da armadilha dos Romulanos. Picard então
ordena que, mesmo à vista da nave inimiga, a Enterprise desligue
o sistema de camuflagem. Já temendo um problema sério com os
Romulanos, por ter desobedecido ao TRATADO DE ALGERON --o acordo
de paz entre os Romulanos e a Federação, após o incidente de
Tomed em 2311, reafirma a existência da ZONA NEUTRA ROMULANA,
proibindo a entrada nesse setor por naves dos dois governos, sem
autorização e proibindo a Federação de desenvolver um sistema
de camuflagem para suas naves--, o capitão envia uma mensagem ao
comandante Sirol, dizendo que a Federação contatará o Império
Romulano em breve para dar explicações.
Pressman fica possesso com a atitude de Picard, revelando um dos
maiores segredos da Federação ao inimigo, porém nada ele pode
fazer. O capitão ordena que ele seja preso pela quebra do
Tratado, e Riker sente-se no dever de ser encarcerado também.
Depois disso, nunca mais ouviremos falar de dispositivo de
camuflagem em naves da Federação, até a chegada da Defiant, em Deep
Space Nine. Isso é assunto para o meu amigo Luiz Castanheira
escrever em sua coluna de Deep Space Nine, mas apenas
resumindo, a Federação cedeu aos Romulanos todas as informações
que tinha do Dominion, na época, em troca desse sistema de
camuflagem para a Defiant. E ficou combinado que a nave apenas
utilizaria este sistema no quadrante Gama.
Observação: No episódio final da Nova Geração, "All
Good Things...", é vista a Enterprise-D 25 anos no
futuro da série, com sistema de camuflagem. Porém, como aquele
era um futuro alternativo manipulado pela entidade Q, não pode
ser considerado.
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