por
Fernando Penteriche
Em Jornada nas Estrelas
existem muitos mistérios. Por exemplo, todas as raças falam inglês
fluente, até as encontradas no Quadrante Delta pela Voyager. E não
me venha com essa de "tradutor universal" acoplado na
insígna da Frota (como "explicado" no episódio "The
37's" de Voyager), que eu não engulo. Nas naves
da Federação e com raças conhecidíssimas, como Klingons e
Cardassianos, tudo bem, mas nos demais casos...
E esse é só um dos mistérios que jamais são explicados com
exatidão. Na coluna de hoje quero abordar um destes mistérios: o
porquê de 98% das raças encontradas em Jornada serem
humanóides. Todos são iguaizinhos aos terráqueos, apenas
pequenas mudanças no nariz, orelhas, algumas pintas, testa
diferente e afins. De resto, são dois braços e duas pernas para
todos, sendo que todos os planetas tem gravidade igual à da Terra
(ok, no episódio "Melora" de Deep Space Nine
aparece uma alienígena de um planeta com gravidade diferente da
nossa, mas no momento o que me interessa é A Nova Geração).
Sobre essa incrível disseminação humanóide pela Galáxia, um
episódio em especial traz algumas respostas. É "The
Chase", um episódio do 6º ano bem "Roddenberriano".
O
ano é 2369, e a data estelar, 46731.5. Picard é surpreendido
pela chegada na Enterprise do professor Richard Galen, um ícone
da história da arqueologia, e antigo mestre de Picard nessa matéria.
Para quem não sabe, Picard é vidrado em arqueologia, e no
passado teve que optar se seguiria carreira na Frota ou seria um
arqueólogo, pois, segundo o Prof. Galen, Picard foi um de seus
mais promissores pupilos.
Ocorre que Galen não veio a bordo para fazer uma simples visita
ao "sr. Picard", como ele o chama. Na verdade, o intuito
do professor é fazer com que o capitão abandone temporariamente
o comando da Enterprise para juntar-se a ele em uma missão que
durará cerca de um ano.
Galen
fez uma descoberta que ecoará por toda a galáxia, mas ele só a
revelará para Picard no momento em que ele concordar em juntar-se
ao professor em busca da conclusão da descoberta. Embora o capitão
fique com "água na boca" de se juntar a Galen, ele
declina da proposta, pois suas responsabilidades com a Enterprise
são importantes demais para que ele fique ausente por um período
tão longo. Galen acaba partindo sozinho em sua nave auxiliar.
Algum tempo depois, a Enterprise recebe um pedido de socorro da
nave de Galen: ele está sendo atacado pelos Yridians. A
Enterprise dispara em dobra nove para encontrar-se com o
professor, e ao chegar Worf inadivertidamente acaba por destruir a
nave agressora com um disparo feiser. E o pior é que Galen acaba
sendo seriamente ferido por um disparo a queima-roupa dos Yridians,
e vem a morrer na enfermaria da Enterprise, levando o segredo para
o túmulo.
Na tentativa de descobrir o porquê do ataque à nave do
professor, a tripulação da Enterprise acaba por descobrir 19
estranhos blocos de números armazenados no computador do veículo.
Após a análise desse material, Picard tem a impressão que a
resposta estaria no planeta Ruah IV, que faz parte do sistema
solar inexplorado que Galen visitou antes de contactar a
Enterprise. Deixando de lado uma conferência diplomática da qual
teria que participar, a Enterprise vai ao encontro de Ruah IV, e
talvez de uma resposta. Porém nada é encontrado por lá, e
Picard opta por continuar a investigação no planeta Indri VIII,
onde o prof. Galen planejava ir antes de ser atacado.
Ao
chegar em Indri VIII, a tripulação descobre que tudo o que tem
vida no planeta está morrendo, levando Picard a acreditar que os
blocos de números do Professor Galen têm algo a ver com matéria
orgânica. Após estudar estes blocos, Picard e a dra. Beverly
Crusher chegam à conclusão de que são representações matemáticas
de fragmentos de DNA, um de cada forma de vida de 19 diferentes
planetas espalhados pelo quadrante. Picard decide então que a
Enterprise rume para o planeta Loren III, o único capaz de
sustentar vida na área que o professor estava estudando. Ao
chegar, a surpresa: duas naves Cardassianas e uma nave Klingon estão
em órbita, pelo mesmo motivo da Enterprise.
Após
um confronto inicial, Picard convence a comandante Cardassiana,
Gul Ocett, e o capitão Klingon Nu'Daq a ceder suas respectivas
amostras para acharem um meio de resolver esse mistério juntos.
É descoberto que falta um fragmento de DNA para fechar o
quebra-cabeça, e pelo computador da Enterprise é tida a localização
do planeta em que possivelmente estará o tal fragmento. Quando a
descoberta é anunciada, a comandante Cardassiana se
teletransporta de volta à sua nave, e as duas naves Cardassianas
disparam na Enterprise e na nave Klingon, para impedi-las de
chegarem ao planeta. Então as naves de Cardássia entram em dobra
espacial e seguem atrás do planeta onde está o fragmento
perdido.
Porém
a Enterprise, com o aliado Klingon Nu'Daq a bordo, ajusta curso
para o setor Vilmoran. Logo após a chegada e posterior descida ao
planeta, mais uma surpresa: além da comandante Cardassiana, lá
está ainda um grupo de Romulanos (!), que seguira a nave de Gul
Ocett camufladamente.
Gul
Ocett prefere destruir as amostras de DNA a trabalhar em conjunto
com as outras raças. Enquanto ocorre um "bate-boca"
entre Worf, Gul Ocett, Nu'Daq e os Romulanos, Picard e Beverly
aproveitam para retirar uma amostra de um fóssil do planeta,
utilizando-se do miraculoso tricorder. Ao fazer isso, em conjunção
com os blocos do prof. Galen armazenados no tricorder, um programa
é iniciado, e uma gravação em holograma de um ser humanóide
(sim, o tricorder emite hologramas...) feita há BILHÕES de anos
é ativada, para espanto geral. (É incrível a compatibilidade de
softwares em Jornada nas Estrelas... Enquanto um programa
feito por uma raça já esquecida há bilhões de anos roda em um
tricorder padrão da Federação, eu não consigo abrir o FIFA
2001 no Windows ME de maneira alguma...)
O holograma diz o seguinte:
"Vocês
devem estar imaginando quem nós somos. Quem veio antes de vocês.
O que vocês vêem é a imagem de um ser que deixou de existir há
muito, muito tempo. A vida evoluiu em meu planeta, muito antes de
existir em qualquer outra parte dessa galáxia. Nós saímos de
nosso planeta. Exploramos as estrelas...e não encontramos ninguém
como nós... Nossa espécie viveu por muito tempo... Mas o que é
o tempo de vida de uma espécie, perto do tempo de que dispõe o
Universo? Sabíamos que um dia iríamos embora, e nada do que nós
fomos sobreviveria. Porém, nós deixamos vocês!
"Nossos cientistas semearam muitos planetas como o nosso, porém
apenas os que a vida ainda não havia saído da infância. O código
presente nestas sementes nortearam a sua evolução, transformado
vocês, fisicamente, em seres como nós, como este corpo, que você
vê a sua frente. Esse código das sementes também continha esta
mensagem, que estava espalhada pelo cosmos, em diversos planetas.
Era a nossa esperança que vocês se unissem, com amizade e
cooperação, para buscar essa mensagem, e se vocês estão me
vendo e ouvindo agora, nossa vontade foi feita. Vocês são um
monumento, não da nossa grandeza, mas da nossa... existência.
"Nosso
desejo é que vocês perpetuem a vida, e mantenham viva nossa memória.
Tem algo de nós em cada um de vocês, e algo de vocês, nos
outros. Lembrem-se de nós..."
A explicação de uma antiga raça de "semeadores" é
bem interessante. Uma plausível teoria, em um bonito episódio,
que é a cara de Jornada nas Estrelas. Sem dúvida um
momento feliz da 6º temporada da Nova Geração.
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