Publicado originalmente
como coluna, em 2001


"The Chase": episódio à la Roddenberry
Tudo sobre o episódio do sexto ano de A Nova Geração que explicou por que há tantos alienígenas humanóides na galáxia


 









 


por Fernando Penteriche

Em Jornada nas Estrelas existem muitos mistérios. Por exemplo, todas as raças falam inglês fluente, até as encontradas no Quadrante Delta pela Voyager. E não me venha com essa de "tradutor universal" acoplado na insígna da Frota (como "explicado" no episódio "The 37's" de Voyager), que eu não engulo. Nas naves da Federação e com raças conhecidíssimas, como Klingons e Cardassianos, tudo bem, mas nos demais casos...

E esse é só um dos mistérios que jamais são explicados com exatidão. Na coluna de hoje quero abordar um destes mistérios: o porquê de 98% das raças encontradas em Jornada serem humanóides. Todos são iguaizinhos aos terráqueos, apenas pequenas mudanças no nariz, orelhas, algumas pintas, testa diferente e afins. De resto, são dois braços e duas pernas para todos, sendo que todos os planetas tem gravidade igual à da Terra (ok, no episódio "Melora" de Deep Space Nine aparece uma alienígena de um planeta com gravidade diferente da nossa, mas no momento o que me interessa é A Nova Geração).

Sobre essa incrível disseminação humanóide pela Galáxia, um episódio em especial traz algumas respostas. É "The Chase", um episódio do 6º ano bem "Roddenberriano". 

O ano é 2369, e a data estelar, 46731.5. Picard é surpreendido pela chegada na Enterprise do professor Richard Galen, um ícone da história da arqueologia, e antigo mestre de Picard nessa matéria. Para quem não sabe, Picard é vidrado em arqueologia, e no passado teve que optar se seguiria carreira na Frota ou seria um arqueólogo, pois, segundo o Prof. Galen, Picard foi um de seus mais promissores pupilos.

Ocorre que Galen não veio a bordo para fazer uma simples visita ao "sr. Picard", como ele o chama. Na verdade, o intuito do professor é fazer com que o capitão abandone temporariamente o comando da Enterprise para juntar-se a ele em uma missão que durará cerca de um ano. 

Galen fez uma descoberta que ecoará por toda a galáxia, mas ele só a revelará para Picard no momento em que ele concordar em juntar-se ao professor em busca da conclusão da descoberta. Embora o capitão fique com "água na boca" de se juntar a Galen, ele declina da proposta, pois suas responsabilidades com a Enterprise são importantes demais para que ele fique ausente por um período tão longo. Galen acaba partindo sozinho em sua nave auxiliar.

Algum tempo depois, a Enterprise recebe um pedido de socorro da nave de Galen: ele está sendo atacado pelos Yridians. A Enterprise dispara em dobra nove para encontrar-se com o professor, e ao chegar Worf inadivertidamente acaba por destruir a nave agressora com um disparo feiser. E o pior é que Galen acaba sendo seriamente ferido por um disparo a queima-roupa dos Yridians, e vem a morrer na enfermaria da Enterprise, levando o segredo para o túmulo.

Na tentativa de descobrir o porquê do ataque à nave do professor, a tripulação da Enterprise acaba por descobrir 19 estranhos blocos de números armazenados no computador do veículo. Após a análise desse material, Picard tem a impressão que a resposta estaria no planeta Ruah IV, que faz parte do sistema solar inexplorado que Galen visitou antes de contactar a Enterprise. Deixando de lado uma conferência diplomática da qual teria que participar, a Enterprise vai ao encontro de Ruah IV, e talvez de uma resposta. Porém nada é encontrado por lá, e Picard opta por continuar a investigação no planeta Indri VIII, onde o prof. Galen planejava ir antes de ser atacado.

Ao chegar em Indri VIII, a tripulação descobre que tudo o que tem vida no planeta está morrendo, levando Picard a acreditar que os blocos de números do Professor Galen têm algo a ver com matéria orgânica. Após estudar estes blocos, Picard e a dra. Beverly Crusher chegam à conclusão de que são representações matemáticas de fragmentos de DNA, um de cada forma de vida de 19 diferentes planetas espalhados pelo quadrante. Picard decide então que a Enterprise rume para o planeta Loren III, o único capaz de sustentar vida na área que o professor estava estudando. Ao chegar, a surpresa: duas naves Cardassianas e uma nave Klingon estão em órbita, pelo mesmo motivo da Enterprise.

Após um confronto inicial, Picard convence a comandante Cardassiana, Gul Ocett, e o capitão Klingon Nu'Daq a ceder suas respectivas amostras para acharem um meio de resolver esse mistério juntos. É descoberto que falta um fragmento de DNA para fechar o quebra-cabeça, e pelo computador da Enterprise é tida a localização do planeta em que possivelmente estará o tal fragmento. Quando a descoberta é anunciada, a comandante Cardassiana se teletransporta de volta à sua nave, e as duas naves Cardassianas disparam na Enterprise e na nave Klingon, para impedi-las de chegarem ao planeta. Então as naves de Cardássia entram em dobra espacial e seguem atrás do planeta onde está o fragmento perdido.

Porém a Enterprise, com o aliado Klingon Nu'Daq a bordo, ajusta curso para o setor Vilmoran. Logo após a chegada e posterior descida ao planeta, mais uma surpresa: além da comandante Cardassiana, lá está ainda um grupo de Romulanos (!), que seguira a nave de Gul Ocett camufladamente. 

Gul Ocett prefere destruir as amostras de DNA a trabalhar em conjunto com as outras raças. Enquanto ocorre um "bate-boca" entre Worf, Gul Ocett, Nu'Daq e os Romulanos, Picard e Beverly aproveitam para retirar uma amostra de um fóssil do planeta, utilizando-se do miraculoso tricorder. Ao fazer isso, em conjunção com os blocos do prof. Galen armazenados no tricorder, um programa é iniciado, e uma gravação em holograma de um ser humanóide (sim, o tricorder emite hologramas...) feita há BILHÕES de anos é ativada, para espanto geral. (É incrível a compatibilidade de softwares em Jornada nas Estrelas... Enquanto um programa feito por uma raça já esquecida há bilhões de anos roda em um tricorder padrão da Federação, eu não consigo abrir o FIFA 2001 no Windows ME de maneira alguma...)

O holograma diz o seguinte:

"Vocês devem estar imaginando quem nós somos. Quem veio antes de vocês. O que vocês vêem é a imagem de um ser que deixou de existir há muito, muito tempo. A vida evoluiu em meu planeta, muito antes de existir em qualquer outra parte dessa galáxia. Nós saímos de nosso planeta. Exploramos as estrelas...e não encontramos ninguém como nós... Nossa espécie viveu por muito tempo... Mas o que é o tempo de vida de uma espécie, perto do tempo de que dispõe o Universo? Sabíamos que um dia iríamos embora, e nada do que nós fomos sobreviveria. Porém, nós deixamos vocês!

"Nossos cientistas semearam muitos planetas como o nosso, porém apenas os que a vida ainda não havia saído da infância. O código presente nestas sementes nortearam a sua evolução, transformado vocês, fisicamente, em seres como nós, como este corpo, que você vê a sua frente. Esse código das sementes também continha esta mensagem, que estava espalhada pelo cosmos, em diversos planetas. Era a nossa esperança que vocês se unissem, com amizade e cooperação, para buscar essa mensagem, e se vocês estão me vendo e ouvindo agora, nossa vontade foi feita. Vocês são um monumento, não da nossa grandeza, mas da nossa... existência.

"Nosso desejo é que vocês perpetuem a vida, e mantenham viva nossa memória. Tem algo de nós em cada um de vocês, e algo de vocês, nos outros. Lembrem-se de nós..."

A explicação de uma antiga raça de "semeadores" é bem interessante. Uma plausível teoria, em um bonito episódio, que é a cara de Jornada nas Estrelas. Sem dúvida um momento feliz da 6º temporada da Nova Geração.