A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Episódio dá nova face aos Borgs,
a partir de uma perspectiva individual

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Sinopse:

Data Estelar: 45854.2.

Picard envia um grupo avançado para investigar os destroços de uma pequena nave acidentada em uma lua. Eles encontram apenas um sobrevivente --um Borg adolescente. O capitão inicialmente não demonstra sinais de querer ajudar, mas Beverly acaba convencendo-o a transportar o ser a bordo, apesar do risco de sua estada acabar alertando outros Borgs da presença da Enterprise.

De volta a bordo, Beverly disconecta o centro de comando que permite ao Borg se comunicar com o resto da Coletividade. Troi sente raiva em Picard, que foi sequestrado pelos Borgs quase dois anos antes, mas ele se recusa a discutir seus sentimentos. Entretanto, eles acabam ficando transparentes quando Beverly descobre que os implantes cerebrais de seu paciente estão danificados e pede a Picard autorização para que Geordi construa outros. Picard percebe que se Geordi conseguir mexer com a estrutura de comando do cérebro desse Borg, ele pode destruir a raça inteira --que está interconectada em rede.

Beverly fica chocada ao saber que Picard pretende usar a criatura que ela está tentando curar com fins bélicos. Entretanto, o resto da tripulação concorda com o capitão, citando a história de guerra dos Borgs contra a Federação. Mais tarde, o Borg acorda confuso e desorientado, após ser desconectado da mente coletiva.

No laboratório de ciências, Geordi e uma relutante Beverly tentam se comunicar com o Borg para que o engenheiro possa aprender mais sobre as rotinas de comando em seu cérebro. Conforme eles conversam, descobrem que este Borg é inofensivo e inocente --diferente dos outros Borgs que eles haviam encontrado. Eles dão a ele o nome de Hugh, e Geordi começa a repensar a idéia de programar a criatura para destruir sua espécie. Quando ele diz isso a Guinan, ela reage com medo e raiva. Mais tarde, Picard e Riker descobrem que uma nave de resgate Borg está a caminho.

Guinan visita Hugh e, de forma agressiva, conta a ele como os Borgs destruíram sua raça, mas a criatura reage de forma humilde e cheia de compaixão. Mais tade, Geordi conta a Picard que está em dúvida sobre a decisão de usar Hugh para destruir os Borgs, mas Picard está mais do que certo --até Guinan convencê-lo a falar com Hugh. O Borg imediatamente reconhece Picard como Locutus, a criatura que o capitão virou quando foi assimilado pelos Borgs. Entretanto, Picard fica surpreso ao descobrir que, diferentemente do resto dos Borgs, Hugh está demonstrando emoções humanas.

Persuadido por esse encontro com Hugh, Picard abandona seu plano de destruir os Borgs. Em vez disso, ele oferece a Hugh a escolha de retornar para o local da queda para ser resgatado, ou permanecer a bordo da Enterprise permanentemente. Hugh fica tentado pela oferta de ficar com seus novos amigos, mas opta por retornar ao local do acidente para garantir a segurança da nave. Ele troca tristes despedidas com o pessoal da Enterprise antes de Geordi devolvê-lo ao local da queda. Lá, ele diz a Geordi que não quer esquecer suas experiências após a reassimilação. Conforme Geordi assiste à reintegração de Hugh por um grupo Borg, seu novo amigo olha para ele, dando a esperança de que, mesmo depois da volta à Coletividade, ele ainda vai se lembrar da amizade dos dois.

 

Comentários:

Criatividade é a arte de pensar em coisas que normalmente só conseguimos imaginar depois que nos contam. Faz parte, portanto, de um talento que é manifestado muito mais de forma individual do que coletiva. Os Borgs, raça que ofereceu os melhores inimigos durante A Nova Geração, ofereciam um grande desafio para Picard e sua tripulação, mas seguramente seus fortes não eram a individualidade, e, por consequência, a criatividade.

Isso sem dúvida se traduzia em problemas para um roteirista à procura de uma história envolvendo os Borgs. Seria muito fácil bolar uma grande aventura da Enterprise enfrentando seus mais temidos inimigos, mas o desafio de desenvolver personagens Borgs era um além das perspectivas mais longínquas --isto é, antes de "I, Borg".

O grande mérito deste episódio brilhante, escrito por René Echevarria, é mostrar que há vida além da camada "coletiva" dos Borgs --e ele mostra isso não só para a tripulação da Enterprise, como também para a audiência. Desconectando um Borg da Coletividade, nos chocamos ao descobrir que os zilhões de assassinos sanguinários não passam de vítimas, tão aprisionadas e massacradas quanto os inimigos dos Borgs.

Para Picard e Guinan, dois que odeiam os Borgs por definição, o efeito dessa descoberta é devastador. A produtora Jeri Taylor certa feita disse que os Borgs nunca mais poderiam ser olhados do mesmo modo depois de "I, Borg". Ela estava certa.

Embora episódios tenham sido feitos posteriormente levando Picard de volta à estaca zero com relação ao seu relacionamento com os Borgs (vide o filme "Primeiro Contato"), este segmento é sem dúvida o que melhor expressa a angústia que existe nele --em que o desejo de vingança é muito maior que o discernimento para dar uma chance para desmistificar o inimigo como o Mal encarnado (ou robotizado, como queira).

O episódio oferece mais uma chance de Beverly Crusher mostrar sua força de caráter e sua personalidade forte. La Forge também sai ganhando, e muito, aqui, ao ser o que primeiro estabelece um relacionamento de amizade com o recém-batizado Hugh. Mas o show fica por conta do trio Whoopi Goldberg (Guinan), Patrick Stewart (Picard) e Jonathan del Arco (Hugh).

A cena em que Guinan e Picard estão lutando esgrima é sensacional, pois a El-Aurian mostra, de forma tipicamente inteligente e impactante, todo o seu repúdio à atitude (tomada à contragosto por Picard) de deixar o Borg ser tratado a bordo. "Você sentiu pena de mim. Veja aonde isso o levou", disse ela, dando o tom do episódio. Em resumo, a dúvida que passa pela cabeça dos tripulantes da Enterprise conforme o episódio se desenrola é "Seriam os Borgs dignos de pena?".

E a resposta que ele oferece é das mais intrigantes, salvando a pele desses grandes vilões: "Num plano coletivo, não. Num plano individual, sim". Aprendemos aqui que os Borgs não podem, por mais que seja conveniente pensar assim, ser vistos como uma única entidade. Uma vez desconectado da rede, um Borg é capaz de sentimentos humanos tão nobres quanto os de um humanóide 100% biológico.

Além disso, há tensão de sobra por aqui. É especialmente interessante vermos nossos amigos de sempre como os "bad guys". Por mais odiosos que os inimigos sejam, nada justifica uma extinção em massa. O Picard genocida de "I, Borg" está longe de ser o capitão ético, moral e justo que costumamos ver. É interessante vê-lo reverter à sua nobreza original com um tratamento de choque. Mesma coisa vale para Guinan.

Em resumo, um episódio impecável, que vale a pena ser visto e revisto à exaustão. Infelizmente, depois de "I, Borg", esses malévolos cibernéticos nunca mais foram os mesmos... a história ganharia nova continuação no fim da sexta temporada (em "Descent"), mas não chegaria nem perto do que vimos aqui, em termos qualitativos.

 

Citações:

Hugh - "Why do you do this?"
("Por que faz isso?")
La Forge - "I'm just a nice guy at heart. You're feeling better?"
("Sou só um cara de bom coração. Está se sentindo melhor?")
Hugh - "You are not Borg."
("Você não é Borg.")
La Forge - "That's right. And I hope to stay that way."
("Você está certo. E pretendo continuar desse modo.")

Trivia:

Segundo Michael Piller, "I, Borg" é "tudo o que quero que Jornada nas Estrelas seja". Um dos melhores episódios da saga de Jornada, esse é o quarto episódio da Nova Geração envolvendo Borgs, e uma continuação direta do tema da abdução de Picard em "The Best of Both Worlds".

O ator Jonathan Del Arco, que interpreta o Borg "3 de 5" (mais tarde rebatizado por La Forge de Hugh), é uruguaio. Ele fez uma ponta no filme "Generations", como o Klingon navegador ao lado das irmãs Duras --ele é quem grita que a invisibilidade foi ativada.

Segundo Jeri Taylor, após esse episódio "nós (os produtores) nunca mais poderemos tratar os Borgs da mesma maneira". E segundo Michael Piller, "quando você acha que é seguro odiar os Borgs, nós fazemos neste episódio você olhar nos olhos de um deles e perguntar a si mesmo se você seria capaz de matá-lo."

 

Ficha técnica:

Escrito por René Echevarria
Direção de Robert Lederman

Exibido em 11/05/1992
Produção: 123

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Jonathan Del Arco como o Borg Hugh
Whoopi Goldberg como Guinan

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