No episódio "Conundrum",
Riker e Troi descobrem que têm algum envolvimento emocional após
lerem a dedicatória que a conselheira havia escrito num livro
dado ao comandante. Trata-se de um livro do poeta inglês John
Keats (1795-1821), autor citado mais de uma vez em Jornada
nas Estrelas.
Poeta
morreu aos 25 anos
Keats foi um dos últimos grandes
poetas do Romantismo inglês, que durou aproximadamente entre 1792
e 1822. Havia muitos outros poetas vivendo na mesma época que
ele, vários deles mais famosos, como William Wordsworth e Samuel
Coleridge. Estes eram considerados os "patriarcas"
da poesia romântica inglesa, que começaram a escrever logo após
a Revolução Francesa.
Depois surgiu um grupo de poetas
mais jovens e rebeldes, como Lord Byron e Percy Bysse
Shelley (marido de Mary Shelley, autora de Frankenstein).
O quinto poeta a ser reconhecido pela crítica (infelizmente,
postumamente) foi John Keats. Seu azar foi não se encaixar
no grupo dos mais velhos, por causa de sua pouca idade, nem do
grupo dos mais jovens, pois não era lorde nem pertencia à alta
classe. Ele foi o primeiro poeta "classe média" a
receber atenção do público. A
promissora carreira do jovem poeta, porém, foi prematuramente
encerrada com sua morte por tuberculose, aos 25 anos de idade.
John Keats
A
obra
John Keats publicou seus
primeiros sonetos em 1816 e seu primeiro livro, Poemas, em
1817. As Vésperas de Santa Inês e
Outros Poemas (1819) é considerado seu melhor livro e contém
a obra-prima lírica Ode ao Outono e três outras odes
consideradas entre as melhores da língua inglesa: Ode a uma
Urna Grega, Ode à Melancolia e Ode
a um Rouxinol. Uma ode (do grego odé,
"canto") é um poema para ser cantado acompanhado de um
instrumento musical. Em tom elevado, as odes estão destinadas a
exaltar a vida de um indivíduo, comemorar um feito ou descrever a
natureza.
Depois
de sua morte, foram publicados alguns de seus melhores poemas,
entre os quais estão As vésperas de São Marcos (1848) e La
Belle Dame Sans Merci (1888). Suas cartas, consideradas entre
as melhores cartas literárias escritas em inglês, foram
publicadas em sua edição mais completa em 1931.
Keats
e Jornada nas Estrelas
Além
dessa referência do episódio "Conundrum", Keats
já apareceu indiretamente em pelo menos dois episódios da Série
Clássica. O título "Is There in Truth no Beauty?"
(Não Há Beleza na Verdade?) foi inspirado num verso do poema
Ode a Uma Urna Grega (Ode to a Grecian Urn).
O título
"Who Mourns for Adonais?" (Um Lamento por Adônis)
é um verso tirado do poema Adonais, escrito pelo poeta
inglês Percy Shelley em homenagem ao amigo John Keats, que,
segundo Shelley, havia morrido de desgosto por causa de algumas críticas
virulentas à sua poesia.
No episódio "Conundrum",
o nome do livro que Deanna Troi deu a William Riker é Ode à
Psiquê, título da primeira ode escrita por Keats,
em abril de 1819. Psiquê uma uma figura da mitologia
grega. Segundo o mito, Eros (deus do Amor) apaixona-se pela bela
mortal Psiquê e pede a Zeus que a torne imortal. Psiquê empresta
seu nome ao espírito humano, à alma humana.
Amor e Psiquê, célebre escultura de Antonio Canova
(1787-1793),
conservada no Museu do Louvre, em
Paris.
Ao
celebrar Psiquê em sua ode, Keats na verdade define e celebra as
qualidades da alma humana (representadas por Psiquê) que ele
deseja ardentemente ver preservadas. Nos trechos finais da ode,
ele promete à deusa Psiquê ser o portador dessas qualidades, a
fim de tornar-se merecedor do amor (abaixo, no original e numa
tradução livre).
Yes, I will be thy
priest, and build a fane
In some untrodden region of my mind,
Where branched thoughts, new grown with pleasant pain,
Instead of pines shall murmur in the wind (...)
And there shall be
for thee all soft delight
That shadowy thought can win,
A bright torch, and a casement ope at night,
To let the warm Love in!
===================
Sim, serei teu
sacerdote, e farei um templo
Em algum lugar ainda não trilhado de
minha mente,
Onde pensamentos ramificados, recém-nascidos
com prazerosa dor,
Ao invés de lamentos murmurarão ao
vento (...)
E haverá para ti
todos os suaves deleites
Que pensamentos simbólicos podem
ganhar,
Uma tocha ardente, e uma janela aberta
à noite,
Para deixar o quente Amor entrar!
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