A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

Extras:

Referências
culturais

MANCHETE DO EPISÓDIO
História traz viajante do tempo farsante
e subestima bom senso da tripulação

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Sinopse:

Data Estelar: 45470.1.

A Enterprise presta ajuda a uma colônia humana em Moab IV, um planeta que acreditava-se ser desabitado e que está para sofrer intensos abalos sísmicos em razão da aproximação de um fragmento de núcleo estelar. Picard contata o líder da colônia, Aaron Conor, com uma oferta para evacuar sua população. Conor recusa, contando ao capitão que a evacuação iria destruir sua sociedade geneticamente projetada.

Em vez disso, o líder procura uma solução alternativa e, relutantemente, permite o transporte de Riker, Geordi e Troi à superfície --os primeiros visitantes que a colônia já teve em sua história-- para ajudá-los. Conor escala Hannah Bates, uma cientista da colônia, para trabalhar com Geordi. Riker volta para a Enterprise juntamente com Geordi e Hannah, que deixa a colônia pela primeira vez para trabalhar no salvamento de seu lar.

De volta à Enterprise, Hannah fica fascinada pela tecnologia avançada da nave. Enquanto isso, Troi conversa com Picard, enfatizando a importância de trabalhar para preservar o modo de vida da colônia, apesar da desaprovação do capitão a respeito de engenharia genética. Mais tarde, Hannah e Geordi descobrem que a tecnologia do visor do engenheiro podem ajudar a desviar o fragmento do planeta. 

Troi retorna à colônia e acaba sucumbindo a seus sentimentos românticos por Conor. Na manhã seguinte, ela tristemente diz adeus, percebendo que sua composição genética iria para sempre alterar o equilíbrio engenheirado da colônia. Quando ela se prepara para sair, Geordi e Hannak estão de volta, com o anúncio de que precisarão transportar 50 pessoas para o planeta a fim de instalar o equipamento necessário para proteger a colônia. Sabendo que é o único meio de salvar seu povo sem ter de deixar o planeta, Conor concorda. 

Hannah e Geordi, trabalhando na Enterprise, conseguem desviar o curso do fragmento e salvar a colônia. Mas a cientista não está muito contente --tendo encontrado e trabalhado com tecnologia superior à de seu mundo, ele decide que quer deixar a colônia. Para conseguir isso, ele encena a existência de uma brecha na biosfera que iria exigir a evacuação da colônia. 

Geordi, entretanto, percebe o que Hannah está fazendo e consegue desfazer o truque. Quando Hannah explica suas ações, Conor percebe que não pode mantê-la lá contra a vontade dela, e a autoriza e a outros que queiram deixar a colônia que o façam. Vinte e três colonos, incluindo Hannah, pedem asilo na Enterprise, criando um desequilíbrio irreparável na colônia, fazendo Picard se questionar se a ajuda que ele forneceu acabou sendo tão prejudicial quanto o fragmento estelar poderia ser.

 

Comentários:

"The Masterpiece Society" parece um episódio mais adequado à primeira ou à segunda temporadas da série do que à quinta, quando ele realmente foi produzido. Que não se pense que essa é uma avaliação com base na qualidade. Na verdade, o que o alinha aos primeiros episódios da Nova Geração é o tom.

A história abandona totalmente o desenvolvimento de personagens e, em vez disso, conduz todo o seu foco para o enredo --cujo conteúdo é extremamente moral, com direito à "mensagem trekker da semana", que era tão rotineira nos episódios da série original e nas primeiras temporadas da Nova Geração.

Isso não necessariamente é ruim. Aliás, aqui neste caso, o episódio acabou sendo beneficiado pelo grande entrosamento e desenvolvimento já existente entre os personagens da série para enriquecer uma história totalmente voltada para si mesma, e muito pouco direcionada aos personagens.

Além da discussão já trivial sobre a Primeira Diretriz (onde, diga-se de passagem, é muito reconfortante ver a posição de Picard a respeito da questão, mostrando que a Primeira Diretriz não é feita para civilizações não-humanas, mas para toda e qualquer sociedade cujo modo de vida possa ser alterado pela influência da Enterprise), há um assunto que pouco foi abordado em Jornada nas Estrelas. Qual, afinal, é a natureza da evolução tecnológica?

Seria ela decorrência, como defende Geordi, da necessidade? Ou a curiosidade humana, por si só, já é força motriz suficiente para empurrar a tecnologia adiante? Essa discussão incomoda filósofos há um bom tempo, e não está perto de ser respondida, se é que o será um dia. Entretanto, é possível (e isso o episódio faz muito bem) partir para uma abordagem pragmática da questão, e ver que a necessidade é capaz de oferecer vantagens em princípio imprevisíveis ao desenvolvimento tecnológico.

No caso do episódio, foi o advento do visor de Geordi, criado totalmente a partir de uma necessidade, que forneceu a resposta para a solução de um problema totalmente diverso --o desvio do fragmento estelar. Na história humana, exemplos do tipo também não faltam. O impacto do desenvolvimento da exploração espacial na vida cotidiana está aí para provar, só para citar um ponto auto-explicativo.

Em última análise, "The Masterpiece Society" oferece o seguinte a respeito do tema: quanto mais problemas uma sociedade tem para resolver, maior o número de soluções que ela produzirá. Quanto mais soluções, maior a chance de encontrar aplicações não-intencionais entre os diversos desenvolvimentos. A sociedade engenheirada de Moab IV carecia de problemas para possuir a capacidade adaptativa da tripulação da Enterprise. No fundo, no fundo, a dúvida tem até um caráter darwinista. Se você elimina os fatores de seleção natural (os problemas), não há evolução.

O terreno fica escorregadio quando entramos nas idéias do darwinismo social, por isso não vale desenvolver mais a respeito. De qualquer forma, o tom das discussões demonstra muito bem o grau filosófico deste episódio.

Um assunto que é surpreendentemente pouco abordado, tendo em vista a premissa geral, é a polêmica da engenharia genética aplicada em seres humanos. O episódio se dá por contente em eliminar a discussão de uma vez só, nas palavras de Picard --totalmente adverso à idéia de alterar o DNA de homens e mulheres para "projetar" uma sociedade ideal.

Em princípio, o comentário e o grau de estagnação daquela sociedade são críticas mais do que suficientes, mas seguramente o tema poderia ter sido mais desenvolvido. De qualquer forma, não se pode abraçar o mundo em 46 minutos.

Deixando as questões filosóficas, o episódio, enquanto valor de entretenimento, é bastante agradável. A história flui em ritmo constante, o que pode ser um pouco tedioso, mas pelo menos ela não emperra em alguns momentos, como acontece em alguns episódios.

Troi, por incrível que pareça, se sai muito bem neste episódio. Em vez de passar o tempo todo jogando moralidade na cara dos outros, como costuma acontecer, chegou a vez da conselheira dar a sua pisada na casca de banana. E a cena em que ela conta a Picard o que aprontou no planeta é bastante intensa.

Quando chegamos àquele turboelevador, estamos intensamente curiosos para ver a reação do capitão ao deslize de sua oficial. E Picard reage de uma forma até surpreendente, mas absolutamente condizente com o explorador e humanista que ele é: ele compreende e alivia os ombros da conselheira.

A cena mostra, mais do que tudo, o sentimento familiar que existe entre os tripulantes da Enterprise. Fosse apenas uma cadeia de comando nos moldes militares, Troi receberia uma reprimenda e ponto final. Felizmente, não é assim que as coisas funcionam nas naves espaciais do século 24.

Do ponto de vista da direção e dos efeitos especiais, o trabalho é competente, como de costume, mas não chega a chamar a atenção. Mas basta ver a quantidade de comentários gerada por um único episódio (e olha que muito mais poderia ter sido dito) para chegar à conclusão que "The Masterpiece Society", embora fuja ao tom que melhor consagrou A Nova Geração, vale o tempo gasto com ele.

 

Citações:

Hannah - "If we're so brilliant, how come WE didn't invent any of these things?"
("Se somos tão brilhantes, como NÓS não inventamos nada dessas coisas?")
Geordi - "Well, maybe the necessity really is the mother of an invention. You never really look for something until you need it."
("Bem, talvez a necessidade realmente seja a mãe da invenção. Você nunca procura algo até que precise dele.")

Trivia:

Palavras de Jeri Taylor: "Esse episódio teve uma idéia que eu não gostei desde o começo. Não gostei do conceito, da história e do roteiro. Foi sem dúvida um dos episódios mais fracos dessa temporada". Jeri Taylor era produtora da Nova Geração na época, junto com Rick Berman e Michael Piller.

 

Ficha técnica:

História de James Kahn e Adam Belanoff
Roteiro de Adam Belanoff e Michael Piller
Direção de Winrich Kolbe

Exibido em 10/02/1992
Produção: 113

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

John Snyder como Aaron Conor
Dey Young como Hannah Bates
Ron Canada como Martin Benbeck
Sheila Franklin como alferes Felton

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