MANCHETE
DO EPISÓDIO
História
traz viajante do tempo farsante
e subestima bom senso da tripulação
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episódio
Sinopse:
Data Estelar: 45470.1.
A Enterprise presta ajuda a uma colônia humana em Moab IV, um
planeta que acreditava-se ser desabitado e que está para sofrer
intensos abalos sísmicos em razão da aproximação de um fragmento
de núcleo estelar. Picard contata o líder da colônia, Aaron Conor,
com uma oferta para evacuar sua população. Conor recusa, contando
ao capitão que a evacuação iria destruir sua sociedade
geneticamente projetada.
Em
vez disso, o líder procura uma solução alternativa e,
relutantemente, permite o transporte de Riker, Geordi e Troi à
superfície --os primeiros visitantes que a colônia já teve em sua
história-- para ajudá-los. Conor escala Hannah Bates, uma
cientista da colônia, para trabalhar com Geordi. Riker volta para a
Enterprise juntamente com Geordi e Hannah, que deixa a colônia pela
primeira vez para trabalhar no salvamento de seu lar.
De volta à Enterprise, Hannah fica fascinada pela tecnologia avançada
da nave. Enquanto isso, Troi conversa com Picard, enfatizando a
importância de trabalhar para preservar o modo de vida da colônia,
apesar da desaprovação do capitão a respeito de engenharia genética.
Mais tarde, Hannah e Geordi descobrem que a tecnologia do visor do
engenheiro podem ajudar a desviar o fragmento do planeta.
Troi retorna à colônia e acaba sucumbindo a seus sentimentos românticos
por Conor. Na manhã seguinte, ela tristemente diz adeus, percebendo
que sua composição genética iria para sempre alterar o equilíbrio
engenheirado da colônia. Quando ela se prepara para sair, Geordi e
Hannak estão de volta, com o anúncio de que precisarão
transportar 50 pessoas para o planeta a fim de instalar o
equipamento necessário para proteger a colônia. Sabendo que é o
único meio de salvar seu povo sem ter de deixar o planeta, Conor
concorda.
Hannah e Geordi, trabalhando na Enterprise, conseguem desviar o
curso do fragmento e salvar a colônia. Mas a cientista não está
muito contente --tendo encontrado e trabalhado com tecnologia
superior à de seu mundo, ele decide que quer deixar a colônia.
Para conseguir isso, ele encena a existência de uma brecha na
biosfera que iria exigir a evacuação da colônia.
Geordi,
entretanto, percebe o que Hannah está fazendo e consegue desfazer o
truque. Quando Hannah explica suas ações, Conor percebe que não
pode mantê-la lá contra a vontade dela, e a autoriza e a outros
que queiram deixar a colônia que o façam. Vinte e três colonos,
incluindo Hannah, pedem asilo na Enterprise, criando um desequilíbrio
irreparável na colônia, fazendo Picard se questionar se a ajuda
que ele forneceu acabou sendo tão prejudicial quanto o fragmento
estelar poderia ser.
Comentários:
"The
Masterpiece Society" parece um episódio mais adequado à
primeira ou à segunda temporadas da série do que à quinta, quando
ele realmente foi produzido. Que não se pense que essa é uma
avaliação com base na qualidade. Na verdade, o que o alinha aos
primeiros episódios da Nova Geração é o tom.
A história abandona totalmente o desenvolvimento de personagens e,
em vez disso, conduz todo o seu foco para o enredo --cujo conteúdo
é extremamente moral, com direito à "mensagem trekker da
semana", que era tão rotineira nos episódios da série
original e nas primeiras temporadas da Nova Geração.
Isso não necessariamente é ruim. Aliás, aqui neste caso, o episódio
acabou sendo beneficiado pelo grande entrosamento e desenvolvimento
já existente entre os personagens da série para enriquecer uma
história totalmente voltada para si mesma, e muito pouco
direcionada aos personagens.
Além da discussão já trivial sobre a Primeira Diretriz (onde,
diga-se de passagem, é muito reconfortante ver a posição de
Picard a respeito da questão, mostrando que a Primeira Diretriz não
é feita para civilizações não-humanas, mas para toda e qualquer
sociedade cujo modo de vida possa ser alterado pela influência da
Enterprise), há um assunto que pouco foi abordado em Jornada nas
Estrelas. Qual, afinal, é a natureza da evolução tecnológica?
Seria
ela decorrência, como defende Geordi, da necessidade? Ou a
curiosidade humana, por si só, já é força motriz suficiente para
empurrar a tecnologia adiante? Essa discussão incomoda filósofos há
um bom tempo, e não está perto de ser respondida, se é que o será
um dia. Entretanto, é possível (e isso o episódio faz muito bem)
partir para uma abordagem pragmática da questão, e ver que a
necessidade é capaz de oferecer vantagens em princípio imprevisíveis
ao desenvolvimento tecnológico.
No caso do episódio, foi o advento do visor de Geordi, criado
totalmente a partir de uma necessidade, que forneceu a resposta para
a solução de um problema totalmente diverso --o desvio do
fragmento estelar. Na história humana, exemplos do tipo também não
faltam. O impacto do desenvolvimento da exploração espacial na
vida cotidiana está aí para provar, só para citar um ponto
auto-explicativo.
Em
última análise, "The Masterpiece Society" oferece
o seguinte a respeito do tema: quanto mais problemas uma sociedade
tem para resolver, maior o número de soluções que ela produzirá.
Quanto mais soluções, maior a chance de encontrar aplicações não-intencionais
entre os diversos desenvolvimentos. A sociedade engenheirada de Moab
IV carecia de problemas para possuir a capacidade adaptativa da
tripulação da Enterprise. No fundo, no fundo, a dúvida tem até
um caráter darwinista. Se você elimina os fatores de seleção
natural (os problemas), não há evolução.
O terreno fica escorregadio quando entramos nas idéias do
darwinismo social, por isso não vale desenvolver mais a respeito.
De qualquer forma, o tom das discussões demonstra muito bem o grau
filosófico deste episódio.
Um assunto que é surpreendentemente pouco abordado, tendo em vista
a premissa geral, é a polêmica da engenharia genética aplicada em
seres humanos. O episódio se dá por contente em eliminar a discussão
de uma vez só, nas palavras de Picard --totalmente adverso à idéia
de alterar o DNA de homens e mulheres para "projetar" uma
sociedade ideal.
Em princípio, o comentário e o grau de estagnação daquela
sociedade são críticas mais do que suficientes, mas seguramente o
tema poderia ter sido mais desenvolvido. De qualquer forma, não se
pode abraçar o mundo em 46 minutos.
Deixando as questões filosóficas, o episódio, enquanto valor de
entretenimento, é bastante agradável. A história flui em ritmo
constante, o que pode ser um pouco tedioso, mas pelo menos ela não
emperra em alguns momentos, como acontece em alguns episódios.
Troi,
por incrível que pareça, se sai muito bem neste episódio. Em vez
de passar o tempo todo jogando moralidade na cara dos outros, como
costuma acontecer, chegou a vez da conselheira dar a sua pisada na
casca de banana. E a cena em que ela conta a Picard o que aprontou
no planeta é bastante intensa.
Quando chegamos àquele turboelevador, estamos intensamente curiosos
para ver a reação do capitão ao deslize de sua oficial. E Picard
reage de uma forma até surpreendente, mas absolutamente condizente
com o explorador e humanista que ele é: ele compreende e alivia os
ombros da conselheira.
A cena mostra, mais do que tudo, o sentimento familiar que existe
entre os tripulantes da Enterprise. Fosse apenas uma cadeia de
comando nos moldes militares, Troi receberia uma reprimenda e ponto
final. Felizmente, não é assim que as coisas funcionam nas naves
espaciais do século 24.
Do ponto de vista da direção e dos efeitos especiais, o trabalho
é competente, como de costume, mas não chega a chamar a atenção.
Mas basta ver a quantidade de comentários gerada por um único episódio
(e olha que muito mais poderia ter sido dito) para chegar à conclusão
que "The Masterpiece Society", embora fuja ao tom
que melhor consagrou A Nova Geração, vale o tempo gasto com
ele.
Citações:
Hannah - "If we're
so brilliant, how come WE didn't invent any of these things?"
("Se somos tão brilhantes, como NÓS não inventamos nada
dessas coisas?")
Geordi - "Well, maybe the necessity really is the mother of
an invention. You never really look for something until you need
it."
("Bem, talvez a necessidade realmente seja a mãe da invenção.
Você nunca procura algo até que precise dele.")
Trivia:
Palavras de Jeri Taylor: "Esse episódio teve uma idéia que eu
não gostei desde o começo. Não gostei do conceito, da história e
do roteiro. Foi sem dúvida um dos episódios mais fracos dessa
temporada". Jeri Taylor era produtora da Nova Geração
na época, junto com Rick Berman e Michael Piller.
Ficha
técnica:
História de James Kahn e Adam
Belanoff
Roteiro de Adam Belanoff e Michael Piller
Direção de Winrich Kolbe
Exibido em 10/02/1992
Produção: 113
Elenco:
Patrick Stewart como
Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Elenco convidado:
John Snyder
como Aaron Conor
Dey Young como Hannah Bates
Ron Canada como Martin Benbeck
Sheila Franklin como alferes Felton
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