A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

Extras:

Referências
culturais

MANCHETE DO EPISÓDIO
História traz viajante do tempo farsante
e subestima bom senso da tripulação

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Sinopse:

Data Estelar: 45349.1.

A Enterprise visita o planeta Penthara IV, onde um asteróide maciço atingiu um continente despovoado. Temendo que a nuvem de poeira resultante levasse a um devastador inverno nuclear igual ao que ocorreu na Terra na primeira metade do século 21, a tripulação tenta encontrar um meio de evitar os efeitos da nuvem.

Durante a viagem rumo ao planeta, eles encontram uma anomalia temporal. Ao investigá-la, eles encontram uma nave, de onde um estranho homem se teleporta para a ponte da Enterprise. Ele diz ser o professor Berlinghoff Rasmussen, um historiador da Terra vindo do século 26 que viajou do futuro para estudar a Enterprise. Embora a tripulação esteja desconfiada de Rasmussen, sua presença levanta o interesse pelo futuro. Para evitar qualquer contaminação ou mudança na linha do tempo, Picard insiste que ninguém seja autorizado a fazer perguntas sobre eventos que ainda não aconteceram.

A Enterprise finalmente chega a Penthara IV, e a devastação causada pelo asteróide é bastante aparente. Enquanto Geordi e Data trabalham para salvar o planeta, Rasmussen pede à tripulação que complete longos questionários, para sua pesquisa. Ele também pede para ver vários equipamentos, considerando-os como a relíquias de uma era passada. A tripulação é bastante educada com o professor, mas, quando ele não está por perto, já começa a perder a paciência com ele e seus métodos. Troi está especialmente desconfiada do homem e de quais seriam suas verdadeiras intenções, após sentir uma vibração de que ele estaria tentando confundi-los. 

Quando o plano inicial da tripulação para salvar Penthara IV --uma liberação de gás carbônico na atmosfera a partir de bolsões no subsolo do planeta, gerando um efeito estufa capaz de conter o pouco calor capaz de ultrapassar a nuvem de poeira na porção superior da atmosfera-- falha, Geordi cria uma solução alternativa, que irá ou salvar o planeta completamente ou matar toda a vida que o habita. Em dúvida, Picard pede a Rasmussen conselho sobre o plano, mas o historiador se recusa a ajudar, partindo do princípio de que Picard estaria tentando manipular o futuro. Deixado apenas com sua escolha original de agir ou não agir, Picard segue seu impulso original e ordena à tripulação que implemente o plano --uma ionização induzida das partículas contaminadoras da atmosfera, que depois seriam atraídas para o espaço pela Enterprise. 

Os esforços da tripulação são bem-sucedidos, e Penthara IV é salva. Rasmussen imediatamente se prepara para deixar a Enterprise, mas Picard e a tripulação se despedem do lado de fora da nave dele com o anúncio de que farão uma busca no veículo por vários objetos que desapareceram misteriosamente durante a estadia de Rasmussen. O professor protesta, mas concorda, sob a condição de que apenas Data tenha permissão para entrar a nave, para que ele possa ser depois ordenado a nunca divulgar o que ele viu. 

Uma vez do lado de dentro, Rasmussen aponta um feiser para Data, revelando que ele não é um historiador do século 26, mas sim um inventor do século 22. Ele viajou para a Enterprise a fim de roubar tecnologia para "inventá-la" em seu próprio tempo, e agora pretende levar Data com ele. Por sorte, Picard já havia desativado o feiser, e Data é capaz de subjugar seu oponente. Após se livrar da nave de Rasmussen --que viaja, sozinha, para outra época--, a tripulação entrega o impostor às autoridades.

 

Comentários:

Se o produtor-executivo Rick Berman foi feliz em sua primeira investida como roteirista de Jornada (em "Brothers", do quarto ano), de sua segunda tentativa, "A Matter of Time", infelizmente não se pode dizer o mesmo. Ele mostrou qual é a grande vantagem de ser o manda-chuva em uma série de televisão: é possível produzir a história que quiser, mesmo que ela seja uma porcaria.

Não que o conceito introduzido no episódio seja ruim de todo --ele só foi extremamente mal-executado. A idéia é simples: como reagiria a tripulação da Enterprise ao se encontrar com um homem proveniente do futuro? E a resposta foi dada: a tripulação reagiria muito mal.

É incrível que Rasmussen tenha de roubar metade da nave para que Picard e seus comandados percebessem que o sujeito não era nada do que dizia ser. A empatia de Troi tampouco era necessária. Afinal, em primeiro lugar, que historiador, em qualquer época, aceitaria fazer uma visita a um período pregresso revelando sua identidade e potencialmente alterando a história?

Além do mais, o estilo apatetado e bobo do "professor" não ajuda muito. Ele perde tempo discutindo onde ficava o livro de Picard em seu gabinete e contando passos para calcular as dimensões da sala, como se essas fossem as maiores curiosidades de um historiador voltando dois séculos no tempo. Não é preciso ser da área para dizer que Rasmussen não se comporta como alguém digno de crédito.

Vale dizer que o inventor frustrado do século 22 é um dos visitantes mais chatos que a Enterprise recebeu em sete temporadas de A Nova Geração --quase um par perfeito para Lwaxana Troi.

A história destinada a oferecer o dilema a Picard --dando alguma utilidade à presença de Rasmussen-- também é muito mal-utilizada. No fim das contas, o dilema é resolvido exatamente do mesmo modo que teria sido se o suposto historiador do futuro não estivesse lá. Ou seja, como dizer que uma das tramas ajudou a outra? Elas apenas se tocaram em um determinado momento, para depois se afastarem novamente. Nada que se possa chamar de desenvolvimento brilhante de roteiro.

Tirando esse problema da falta de conexão entre as duas histórias (embora exista uma clara forçada de barra para uni-las), o enredo que envolve a salvação de Penthara IV oferece alguns elementos interessantes para raciocinar a respeito. Um deles é o questionamento do quão difícil é interferir com um ambiente auto-regulatório. Um asteróide causa um efeito, e a tentativa de contrabalançá-lo (com um fenômeno que normalmente olhamos com desconfiança e negativismo --o efeito estufa), embora atinja o objetivo inicialmente, acaba causando outros eventos não-previstos que anulam o sucesso da tentativa. Agora, tudo isso fica por conta da audiência. No episódio mesmo, as coisas estão lá jogadas, sem qualquer esforço para tornar o tópico mais evidente.

A conclusão --um "final feliz" típico de Jornada nas Estrelas-- acabe colocando um ponto final à discussão, quando nossos heróis finalmente são capazes de dominar o ambiente e "corrigi-lo". Romântico, mas, pelo menos com base em nossa experiência atual enquanto espécie, pouco realista. E, mais importante, pouco dramático também.

Até os efeitos especiais, uma marca de qualidade para a série como um todo, deixam a desejar nesse episódio. A nave de Rasmussen, pelo lado de fora, é tão impressionante quanto uma caixa de sapatos. A sequência em que a Enterprise expele a poeira para o espaço também é bastante confusa --se Geordi não tivesse contado o que ia acontecer, provavelmente ninguém entenderia o que estava vendo.

Mas nem tudo é ruim em matéria de efeitos. A abertura da porta da nave do futuro é bastante interessante, assim como a tomada em que a nave dispara feixes do disco defletor e os feisers para produzir uma ignição das partículas da atmosfera --pouco esclarecedor, mas plasticamente bonito.

No fim das contas, é um episódio decepcionante, por fazer tão pouco de sua principal atração --os personagens. Se eles estivessem mais críticos com relação a Rasmussen, ou se o professor fosse mais convincente, o roteiro teria ganho consistência. Faltou história para contar, e lábia para contá-la direito. Digamos que em termos de roteiros da Nova Geração, Rick Berman teve um aproveitamento de 50% --"A Matter of Time" é sua segunda e última contribuição como roteirista. Provavelmente uma sábia decisão.

 

Citações:

Rasmussen - "I came to thank you for answering my questions, though I probably should've asked you to limit yourself to 50.000 words."
("Eu vim para agradecer por ter respondido minhas questões, embora eu provavelmente devesse ter pedido a você que se limitasse a 50.000 palavras.")
Data - "You did ask me to be thorough."
("Você pediu que eu fosse meticuloso.") 

Worf - "I hate questionnaires."
("Eu odeio questionários.")

Data - "I assume your handprint will open this door whether you are conscious or not."
("Eu presumo que sua mão irá abrir essa porta com você estando consciente ou não.")

Trivia:

Rick Berman disse que sempre esteve interessado em um roteiro que trouxesse um viajante do tempo, e que esse viajante roubasse Data da Enterprise. Em seu segundo e último trabalho como roteirista da série, Berman teve enfim essa oportunidade.

O papel de Rasmussen foi interpretado por Matt Frewer, de "Max Headroom". O papel originalmente foi escrito para Robin Williams, porém na época das filmagens de "A Matter of Time" ele estava ocupado filmando "Hook - A Volta do Capitão Gancho".

Sheila Franklin estréia aqui como a alferes Felton. Esse personagem será visto em mais quatro episódios nesta temporada. A alferes Felton ocupa o posto que foi de Wesley Crusher na ponte de comando, e só aparece por lá quando Ro Laren não está disponível.

 

Ficha técnica:

Escrito por Rick Berman
Direção de Paul Linch

Exibido em 18/11/1991
Produção: 109

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Matt Frewer como Berlingoff Rasmussen
Stefan Gierash como Dr. Hal Mosely
Sheila Franklin como alferes Felton
Shay Gramer como cientista

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