A Nova Geração
Temporada 4

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
História explora a importância do sono
na manutenção da saúde mental

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Sinopse:

Data Estelar: 44631.2.

A Enterprise encontra a nave estelar USS Brattain, desaparecida há muitas semanas, à deriva no espaço. Com a exceção do conselheiro Betazóide, toda a tripulação está morta.

Enquanto a tripulação da Enterprise investiga o acontecido, estranhos eventos começam a ocorrer. Deanna Troi é atormentada por pesadelos enquanto La Forge não consegue religar os motores da Brattain e a tripulação da Enterprise começa a demonstrar sinais de uma irritabilidade sem sentido.

A dra. Crusher sugere então que possivelmente o que aconteceu a bordo da Brattain, e que vitimou sua tripulação, possa estar começando a ocorrer a bordo da Enterprise. Picard decide que é melhor a nave deixar a área, porém descobre que os motores da Enterprise, a exemplo dos da Brattain, não funcionam.

Ao longo dos dias seguintes a tripulação começa a sofrer alucinações e desenvolver sentimentos paranóicos. Descobre-se que a causa é a incapacidade para o sono REM ("rapid eye movement", ou "movimento ocular rápido"), que impede que os tripulantes descansem efetivamente ao longo dos dias e organizem seus pensamentos.

Finalmente, Troi acaba descobrindo por que ela é a única capaz de sonhar: seu pesadelo é na verdade uma mensagem, proveniente de uma outra nave, que também está presa na mesma singularidade que mantém a Enterprise e a Brattain imóveis.

Por meio do sonho, a conselheira consegue estabelecer contato com os alienígenas e estabelecer uma cooperação. Por conta disso, as duas naves conseguem escapar, ao provocar uma explosão dentro da singularidade.

 

Comentários:

"Night Terrors" parte de uma questão bastante interessante --o que aconteceria a uma tripulação, caso ela não conseguisse descansar durante o sono?

A idéia de refletir sobre os efeitos da ausência do sono REM entre os tripulantes é interessante, principalmente levando em conta a importância dos sonhos no processo de reorganização das informações no cérebro --muitos cientistas acreditam que seja nesse momento que nossa mente decide que memórias serão gravadas em nosso "disco rígido" e quais serão deletadas de nossa "memória de trabalho", liberando espaço para mais um dia de experiências.

Em última análise, o que eles fizeram com os personagens foi simular os efeitos de uma noite em claro e multiplicar por dez ou vinte. Os sintomas de paranóia, as sensações de presenças inexistentes e o espírito persecutório é que dão o tom dessa história.

Infelizmente, a execução do episódio não foi tão feliz quanto a idéia original poderia permitir. Com o perdão do trocadilho, o episódio chega a ser, em alguns momentos, sonolento. Isso porque não se pode "entregar o ouro" --ou seja, explicar a razão para a perturbação da tripulação-- muito rapidamente, a fim de não destruir o mistério.

Essa necessidade acabou obrigando os roteiristas a extender e repetir muitas vezes as cenas em que a conselheira Troi tenta decifrar as palavras desconexas transmitidas telepaticamente por seu amiguinho catatônico resgatado da Brattain --cenas que, além de chatas, são totalmente dispensáveis da história. Deanna não precisava de um outro betazóide para descobrir que seus pesadelos recorrentes eram uma tentativa de comunicação.

Por outro lado, algumas sequências foram extremamente bem-sucedidas, fruto de acertos de roteiro em conjunto com uma boa direção. O melhor exemplo é o momento em que a doutora Crusher se vê às voltas com vários cadáveres que, subitamente, aparecem todos sentados. As trocas de câmera e a convincente atuação de Gates McFadden contribuem para que o telespectador sinta exatamente o mesmo terror vivenciado pela médica.

Outra cena interessante, desta vez pelo tom cômico, é a que mostra o capitão Picard alucinando e gritando como um louco, sentado no chão do turboelevador, para total perplexidade do pessoal na ponte. Imagine como Jean-Luc, sério e preocupado com sua imagem como ele é, deve ter se sentido ao se ver naquela situação ridícula.

Mas ridícula mesmo, no pior sentido da palavra, foi a atitude de Worf. Por mais perturbado que o tenente estivesse, é difícil acreditar que os Klingons tenham algum tipo de ritual específico para suicídio --a mais covarde das formas de se morrer. Isso acabou rompendo um pouco com a natureza do personagem e de sua espécie.

Já a "tradução" do sonho de Troi é uma das melhores sacadas do episódio, e mostra que às vezes é possível fazer bom uso da conselheira. Suas conclusões são totalmente coerentes, e a idéia de estabelecer a cooperação entre as duas naves presas na singularidade é um bom desfecho para o episódio, apesar da tecnobaboseira necessária à conclusão.

Nota positiva vai para a equipe de maquiagem, que fez um bom trabalho com os cadáveres da Brattain e com os sonolentos tripulantes da Enterprise. Nota negativa fica para as sequências visuais dos pesadelos de Troi, que, embora sejam até esteticamente interessantes, não conseguem ser muito convincentes do ponto de vista técnico. Ou alguém ali realmente teve a impressão de que a conselheira estava voando?

No fim das contas, "Night Terrors" é capaz de entreter, mas não chega perto dos melhores segmentos da temporada. Entre os culpados estão a excessiva alternância entre bons e maus momentos e a falta de ritmo na execução da história.

 

Citações:

Guinan - "That was setting number one. Anyone want to see setting number two?"
("Essa foi a regulagem número um. Alguém quer ver a regulagem número dois?")

Data - "Sir. As my final duty as acting captain, I order you to bed. I shall do the same for all personnel." 
("Senhor. Como meu dever final como capitão interino, eu ordeno que durma. Farei o mesmo com todo o pessoal.")

Trivia:

A placa na ponte de comando da Brattain, criada por Michael Okuda, identifica a nave como da classe Miranda (a mesma da USS Reliant, de Jornada II), e que seu registro é NCC 21166. Segundo a placa, a nave foi construída em "Yoyodyne Division" (uma referência a "Buckaroo Banzai"), que fica no Sistema Solar de 40 Eridani-A . 40-Eridani-A é a estrela do Sistema Solar Vulcano. Estranhamente, na maquete utilizada nas filmagens, o nome da nave mudou para "Brittain".

Referências aos nomes de diversos membros da equipe de produção da Nova Geração podem ser vistos neste episódio. Exemplos: "Mooride Polyronite 4" (Ron Moore), "Takemurium Lite" (David Takemura), "Neussite 283" (Wendy Neuss, produtora associada), "Bio Genovesium" (Cosmo Genovese) e "Hutzelite" (Gary Hutzel).

Brian Tochi, que aqui interpreta o alferes Kenny Lin, participou do episódio da Série Clássica "And the Children Shall Lead", como o pequeno Ray Tsingtao. Mais recentemente ele fez a voz de Leonardo nos filmes de cinema das "Tartarugas Ninjas" e ainda apareceu nos dois últimos filmes para cinema da série "Loucademia de Polícia".

 

Ficha técnica:

História de Shari Goodhartz
Roteiro de Pamela Douglas e Jeri Taylor

Direção de Les Landau
Exibido em 18/03/1991
Produção: 091

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Rosalind Chao como Keiko O'Brien
John Vickery como Andrus Hagan
Duke Moosekian como alferes Gillespie
Craig Hurley como alferes Peeples
Brian Torchi como alferes Kenny Lin
Lanei Chapman como alferes Rager
Colm Meaney como tenente Miles Edward O'Brien
Whoopi Goldberg como Guinan
Deborah Taylor como capitã Chantal R. Zaheva

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