Viagens
no tempo e no espaço, Parte I
Viagem
no tempo sempre foi um tema que estimulou a imaginação de
qualquer ser humano, e por conseqüência foi um tema amplamente
debatido e aproveitado na ficção científica. Em Jornada nas
Estrelas não poderia ter sido diferente. Já em "The
Naked Time", da Série Clássica, tivemos um
gostinho do tema, que só viria a ser desenvolvido completamente
pela primeira vez no franchise no episódio "Tomorrow is
Yesterday", ainda na primeira temporada.
Claro, esses eram tempos onde não havia ninguém na equipe de
produção como o sr. Brannon "Anomalia Temporal" Braga,
e a Série Clássica acabou possuindo apenas seis episódios
que mostravam, de uma forma ou de outra, viagens no tempo. A
Nova Geração seguiu o caminho já traçado previamente por
Kirk e cia, e teve sua própria cota de incursões temporais.
No total, foram produzidos 11 episódios que lidam com incursões
temporais. Claro que, em episódios como esses, os roteiristas têm
um desafio adicional: evitar os famosos "paradoxos
temporais" --alterações realizadas na história por um
viajante temporal que afetam diretamente os personagens ou a galáxia
como um todo. Algumas vezes, os roteiristas criam e resolvem
paradoxos com maestria. Outras...
Já
na primeira temporada da Nova Geração foi exibido o fraco
episódio "We'll Always Have Paris", onde a
tripulação descobre que experimentos realizados em Vandor IV
criaram uma distorção temporal. O efeito notado é uma série de
pequenos paradoxos, onde os personagens encontram a si mesmos em
momentos que variam de alguns segundos no futuro a minutos no
passado ou futuro. As cenas são mostradas com um pouco de confusão
--ora são momentos que se repetem, como um soluço, ora é a
tripulação encontrando a si mesmo. Porém, são pequenos
paradoxos previstos pelos roteiristas para mostrar as alterações
no espaço-tempo que o experimento causara. Não há conseqüências
visíveis, ou paradoxos maiores, mas a trama podia ter sido um
pouco melhor explicada. Claro que aqui ainda não vimos uma viagem
no tempo em si, mas sim pequenas distorções.
A primeira viagem no tempo, efetivamente falando, seria mostrada
no episódio "Time Squared", da segunda
temporada. No episódio, Picard é o único sobrevivente da
destruição da Enterprise, que havia sido sugada por um
gigantesco redemoinho, e sua fuga em uma nave auxiliar acaba o
levando seis horas para o passado, onde a Enterprise ainda está
intacta. O Picard do futuro sofre um violento choque, e não
consegue se lembrar do que ocorrera. Além disso, o computador da
nave auxiliar não pode ser lido. Quando Picard do futuro é
atacado por raios de energia, deduz-se que ele é a chave para a
solução do paradoxo. Picard do presente ordena que a nave rume
direto para o centro do redemoinho, seu alter-ego do futuro
desaparece e tudo volta "ao normal".
Mas
o que seria o normal aqui? Se a Enteprise havia sido destruída,
devemos concluir que a história foi alterada, criando-se uma nova
onde a nave permaneceu intacta. Porém, se considerarmos que a
destruição da Enterprise ocorreu em uma linha temporal paralela,
a trama acaba fazendo muito mais sentido, exceto pelo fato que, se
Picard do futuro continuasse na nave até o momento em que, na
linha alternativa, ela teria sido destruída, ele desapareceria do
mesmo jeito, assim como o redemoinho. A decisão do Picard do
presente de rumar a nave para o turbilhão, afinal, apenas
acelerou os fatos, mas acaba sendo mais dramático em termos de
conclusão do episódio.
Paradoxo
semelhante é encontrado na próxima incursão temporal, "Yesterday's
Enterprise", da terceira temporada --um favorito entre os
fãs, onde a Enterprise-C, fugindo de naves Romulanas que a
atacavam em Khitomer, acaba viajando ao futuro, alterando a história
da Federação. A presença da nave no futuro cria uma linha
temporal onde a Federação está em guerra com os Klingons, e
Tasha ainda está viva. Ao longo da trama, a capitã da Enterprise-C
é morta, e sua tripulação decide voltar ao passado, mesmo
significando o sacrifício de suas vidas. Tasha, ao descobrir,
através de conversas com Guinan, que deveria estar morta, decide
partir com eles. A Enterprise-C volta ao passado, e a linha
temporal é "quase" restabelecida --e os tripulantes da
Enterprise-D nem se lembram do ocorrido.
O "quase" restabelecida do parágrafo anterior diz
respeito a Tasha. Sua presença no passado poderia não ter
causado nenhum dano visível. Porém, em episódios futuros,
conheceríamos Sela, filha de Tasha! Ou seja, houve uma pequena
alteração no futuro. Isso, é claro, se considerarmos que foi na
verdade a Enterprise vista enquanto a Enteprise-C estava no futuro
for, afinal, de uma linha paralela de tempo. Se estávamos lidando
o tempo todo com a mesma linha temporal, ao voltar para o passado
com a Enterprise-C, Tasha teria simplesmente desaparecido --e a
capitã Garrett voltado à vida, ao menos por um breve período.
Vemos, assim, que a "explicação científica" adotada
até aqui pela série lida com infinitas linhas temporais
coexistindo simultaneamente.
Ainda
na terceira temporada, um novo tema lidando com viagens temporais
seria desenvolvido --desta vez em "Captain's Holiday".
No episódio, Picard vai em licença para Risa, mas acaba se vendo
no meio da busca por um poderoso dispositivo do futuro, o "Tox
Uthat". Dois Vorgons do século 27 querem levá-lo de volta a
seu próprio tempo, e sabem que Picard é aquele que pode ajudá-los.
Um Ferengi chamado Sovak também procura pelo dispositivo, assim
como a bela Vash --vista aqui pela primeira vez. Picard acaba
descobrindo que Vash já havia encontrado o tal dispositivo, e os
dois Vorgons reaparecem. Picard, porém, ao invés de
entregar-lhes o dispositivo, pede à Enteprise que o destrua. Os
Vorgons desaparecem deixando a impressão de que era justamente a
destruição do artefato que deveria acontecer. Não há maiores
conseqüência visíveis, uma vez que não sabemos como o futuro
se desenrolará até o século 27.
Já
no fraco "A Matter of Time", da quinta temporada,
a Enterprise recebe a visita de um suposto historiador do século
26, Berlinghoff Rasmussen, que ao final se revela como um inventor
do século 22 que conseguiu colocar as mãos em uma nave do século
26. Não há nenhum paradoxo presente, além dos furos claros no
roteiro, escrito por titio Berman. O maior deles é que Rasmussen
poderia ter escolhido muitos outros meios mais fáceis para roubar
tecnologia que não da nave capitânia da Frota. A decisão de
mantê-lo no século 22 parece ter sido mais sábia, uma vez que
enviá-lo de volta ao seu tempo com os conhecimentos adquiridos
poderia efetivamente mudar a história. Claro que a simples presença
dele também poderia alterá-la, mas a linha temporal
aparentemente permaneceu intacta.
É interessante notar que, já na quinta temporada, não vemos
nenhum episódio em que a tripulação faça uma incursão
temporal (tá bom, tá bom, tivemos um "engasgo
temporal" em "Cause and Effect", do Brannon
Braga, que lida com a repetição interminável dos mesmos
eventos, mas não chega a ser uma "viagem no tempo"
propriamente dita). Isso só seria mostrado no episódio "Time's
Arrow", no final da quinta temporada. Mas isso é assunto
para a próxima coluna.
Fernando
Rodrigues é editor do boletim Base News e escreve
mensalmente sobre a Nova Geração para o Trek Brasilis
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