Ensaio aborda o turismo e a
colonização no espaço e o uso de robôs
FLÁVIO DE CARVALHO SERPA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para que serve a exploração espacial? Um dos principais motivos
levantados pelo jornalista Salvador Nogueira, repórter da Folha,
em seu primeiro livro, Rumo ao Infinito, é a possibilidade de a
humanidade safar-se da extinção como a que vitimou os dinossauros,
fritados e depois congelados pelo impacto de um grande meteoro há 60
milhões de anos. Nogueira vai além do final feliz hollywoodiano dos
filmes "Impacto Profundo" e "Armagedon". Detonar bombas atômicas em
meteoros na rota de colisão com a Terra pode não ser uma idéia tão boa
como parece à primeira vista.
Metodicamente o autor arrola outras soluções científica e
tecnicamente possíveis, como, por exemplo, pintar de branco um dos
lados do meteoro para que a pressão da luz solar desestabilize a
órbita do perigoso projétil. OK, Hollywood não filmaria um roteiro com
Bruce Willis empunhando uma broxa para caiar pacientemente o
pedregulho estelar em vez de arrebentar-se numa explosão gloriosa. Mas
a opção, factível, está registrada em Rumo ao Infinito, para os
apaixonados por essas minúcias.
Trata-se de uma obra de divulgação da saga da conquista humana do
céu, alimentada não só pelos livros mas também por muitas entrevistas
e contatos pessoais do autor com cientistas que protagonizam essa
história em andamento. Salvador questiona apaixonadamente as
argumentações de que a exploração espacial seria um desperdício para
um planeta faminto. Ele compara os gastos anuais da exploração
espacial com o dinheiro envolvido no futebol, "uma atividade não raro
violenta e causadora de mortes". Mas esse pequeno esquerdismo,
perdoável na primeira obra de um escritor jovem e empolgado, é
fartamente compensado pela discussão de questões importantes.
A iniciativa privada, impulsionada pelo milionário turismo
espacial, vai baixar os custos e renovar a tecnologia das viagens
espaciais? Os robôs seriam melhor do que os humanos na exploração
planetária? É possível construir um ecossistema artificial, uma
agricultura espacial capaz de sustentar a vida nas longas viagens de
colonização? A humanidade está mesmo fadada a se tornar uma
civilização galáctica como em Star Trek?
As respostas a essas questões discutidas por Nogueira convenceram
plenamente o tenente-coronel da Força Aérea Brasileira, Marcos César
Pontes, que treina desde 1998 na NASA para ser o primeiro astronauta
brasileiro. Um dia Pontes estava no terminal de espera do aeroporto
internacional de Houston, no Texas, abatido e desanimado com a falta
de verbas do governo brasileiro para patrocinar sua viagem à estação
espacial internacional. Foi quando começou a ler as provas do Rumo
ao infinito. No prefácio que fez para o livro de Salvador, ele
confessa ter ficado tão entretido na leitura que quase perdeu o vôo de
volta o Brasil. "Aquelas páginas recheadas de energia, otimismo
reacenderam minha motivação", testemunha nosso futuro astronauta.
Flávio de Carvalho Serpa é jornalista