'Plano de vôo' para o livro

por Salvador Nogueira

Em janeiro de 2005, antes de mergulhar na redação de Conexão Wright-Santos-Dumont, fiz uma espécie de esquema, capítulo a capítulo (ou ano a ano, como queira), do que eu precisaria cobrir. Incluo-o aqui como referência documental, mas não recomendo que ninguém o consulte para saber o que está na versão final do livro. Conforme a redação foi evoluindo, coisas trocaram de lugar, detalhes foram acrescentados e correções foram feitas. É interessante apenas para que se saiba a gênese do projeto.

CONEXÃO WRIGHT-SANTOS-DUMONT
A incrível história da invenção dos aeroplanos


1896
Lorde Kelvin recebe Lorde Rayleigh em seu escritório em Glasgow. O segundo procura o primeiro para pedir apoio na promoção de uma conferência na Royal Society sobre vôo humano. Kelvin, com sua empáfia de sempre, recusa. Rayleigh é um cético do vôo humano, mas acha que grandes avanços têm sido feitos e acha que o tema merece investigações. Em meio a discussão, eles comentam a recente morte de Otto Lilienthal, na Alemanha, e o experimento de Samuel Langley, membro da Royal Society, reportado por Graham Bell na "Science".

1897
Clement Ader realiza seu experimento com o Avion 3, diante de uma comissão das forças armadas da França. Apesar da suposta decolagem, o vôo é classificado como um fracasso.
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Nos EUA, Octave Chanute segue em seus experimentos com planadores. Comenta com seus colegas o recente sucesso de Sam Langley em obter financiamento para criar uma versão tripulada do seu Aerodrome.

1898
Um jovem brasileiro realiza seu primeiro vôo de balão, na França, e decide que vai perseguir a carreira de projetista e construtor de aeronaves. Seu nome é Alberto Santos-Dumont.

1899
Dois irmão de Dayton, Ohio, escrevem uma carta à Instituição Smithsonian, de Langley, pedindo todas as referências e informações disponíveis sobre o problema do vôo. Desde a morte de Lilienthal, Wilbur e Orville Wright aspiram atacar o problema.

1900
Os Wrights travam contato com Octave Chanute, que está no fim de sua carreira aeronáutica, mas deposita grande fé nos esforços dos dois irmãos. A essa altura, os Wrights estão convencidos de que não será uma única mente a destrinchar os segredos do vôo, e dizem isso a Chanute por carta.

1901
Santos-Dumont chega à consagração ao contornar a torre Eiffel e vencer o Prêmio Deutsch. Passa a ser o representante máximo e paradigma de aeronauta bem-sucedido. Consagra o uso do motor a explosão e prova a dirigibilidade dos balões.
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Os Wrights experimentam fracassos com seu planador de 1901. Há algo errado nas tábuas de Otto Lilienthal e eles estão dispostos a abordar o problema de uma forma exata e experimental. Revolucionam as técnicas de obtenção de dados a partir de instrumentos de laboratório, como o túnel de vento.

1902
SD vai aos EUA e trava contato com Thomas Edison, grande inventor e admirador. Também conversa com Theodore Roosevelt sobre os usos de aeronaves para propósitos de warfare.
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Os Wrights corrigem as tábuas de Lilienthal e projetam um planador mais eficiente, com o qual fazem vôos mais espetaculares do que quaisquer outros com aeronaves do tipo até então. Mas insistem em não revelar os planos de suas invenções a ninguém. Apenas confidenciam seus dados com Chanute.
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Num jornal americano, todos querem saber se é mesmo verdade o que foi ali reportado: teria um imigrante alemão chamado Gustave Whitehead feito grandes vôos com sua aeronave? O pupilo de Otto Lilienthal radicado nos EUA considerou seus vôos um fracasso, pois não tinha como controlar sua aeronave ou mantê-la indefinidamente no ar, mas para quem testemunhava seus vôos, eram feitos extraordinários. O editor que escreveu a matéria jura a seus colegas que foi verdade, mas...

1903
SD continua em seu esforço de promoção da aeronáutica. Conhece e faz voar Aida D'Acosta.
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Langley, em setembro, tenta decolar seu Aerodrome versão tripulada. Quase afoga o piloto, numa missão catastrófica. Para ele, o vôo controlado e sustentado ainda está longe de prático.
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Os Wrights calculam que precisam de um motor de 8 HP para fazer decolar seu planador, de uma pista plana, com os fortes ventos de Kitty Hawk. O peso da aeronave acaba ultrapassando o limite, mas o motor tem força de 12 HP, o que eles acham que devem bastar. Após uma tentativa fracassada em 14 de dezembro, três dias depois eles realizam quatro vôos, saindo do plano, contra um vento de 21 milhas por hora. O maior deles dura 59 segundos. Mandam um telegrama para Dayton e no dia seguinte aparecem nas páginas do jornal local: "Rapazes de Dayton emulam o grande Santos-Dumont!"

1904
SD vai aos EUA, para a Feira de St. Louis. Conversa com Chanute. Eles discutem os feitos dos irmãos Wright, noticiados na Europa, mas francamente desacreditados (até mesmo nos EUA eles não são levados a sério). Chanute jura a SD que a coisa é para valer. Mas o brasileiro continua cético. No entanto, agora está convencido de que é hora de começar a transição dos dirigíveis para os aeroplanos.
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Os Wrights seguem com seus experimentos, fazendo vôos maiores, mas ainda com grandes dificuldades. Seu veículo agora é lançado no ar por uma catapulta, o que dispensa os fortes ventos de Kitty Hawk. Passam a experimentar num campo próximo a Dayton.

1905
Num feito extraordinário, os Wrights realizam um vôo de 39 quilômetros, e conseguem fazer trajetos circulares. Mas a imprensa americana não dá muita bola. Eles consideram o desenvolvimento de seu invento terminado e passam a direcionar seus esforços para a comercialização da máquina para os governos dos EUA e da França. Chegam a abrir negociações.

1906
Depois de ensaiar com um projeto de helicóptero e uma cópia do aeroplano pioneiro projetado por Cayley, no início do século XIX, SD aparece com o 14bis. Os primeiros testes, com um motor de 25 cv, falham em decolar. Substituindo por um motor de 50 cv, ele faz decolagens em setembro e outubro, demonstrando a praticabilidade dos aviões na Europa. Quase é precedido por Louis Bleriot, que quebrou seu trem de pouso durante uma tentativa de decolagem e perdeu a primazia no Velho Mundo.
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Os Wrights reagem dizendo ao capitão Ferdinand Ferber que sua máquina está muito mais adiantada, mas cobram para exibi-la na França. Para Chanute, eles explicam o quanto estão mais adiante do que SD no domínio do vôo sustentado num aeroplano.
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Numa conversa com SD ao comprar um de seus motores, o neozelandês Richard Pearse faz pouco caso de todos os feitos recentes, dizendo ele ter voado antes num avião, na Nova Zelândia. Só temos a palavra dele sobre o caso...

1907
Graham Bell, ainda frustrado com o fracasso de seu amigo Langley, e descrente dos experimentos dos Wrights, pouco noticiados e muito desprezados, cria a Aerial Experiment Association, grupo destinado a projetar um avião. Entre suas fileiras, estava o jovem Glenn Curtiss.
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SD projeta seu Demoiselle, que tem mais elementos modernos do que qualquer outro avião até então, apesar de ser pequeno demais para a maioria dos pilotos.

1908
Depois de obter patentes nos EUA e em diversos países europeus, os Wrights finalmente vão à Europa demonstrar seu invento. Assoberbados pelos vôos imensos realizados, aceitam que, afinal, os irmãos americanos estavam adiante na praticalidade do avião, embora, por critérios adotados internacionalmente, seu vôo ainda não fosse "completo" --a aeronave era lançada por uma catapulta. Ao mesmo tempo, nos EUA, os Wrights faziam demonstração de seu avião para os militares americanos, causando o primeiro acidente mortal pós-invenção do avião. Apesar disso, impressionaram os milicos.

1909
Os Wrights são aclamados nos EUA como os "pais do vôo humano". Mas travam uma guerra legal com Glenn Curtiss e outros aviadores pela patente sobre o invento. A guerra coloca o Smithsonian no olho do furação. Apoiando Glenn Curtiss, a Instituição minimiza os feitos dos Wrights e proclama Sam Langley o inventor do avião.
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Na Europa, a aviação flui com mais naturalidade. Louis Blériot faz o feito mais espetacular da década, ao realizar a travessia do canal da Mancha. O avião era uma realidade. E o Demoiselle de SD se torna o avião mais popular no Velho Mundo.