O funcionamento da TV americana

Uma das coisas mais básicas antes que mergulhemos na produção de Jornada nas Estrelas é entender como funciona a TV nos EUA. Abaixo você vai ter uma boa idéia de como são essas coisas por lá.

1 - Como diferenciar "Network", "Syndication" e "Cable"?
2 - O que é "Strip Syndication"?
3 - E depois do "Strip"?
4 - De onde vem o tamanho de cada temporada?
5 - Como foi a primeira exibição das séries de Jornada?
6 - O que aconteceu com a Clássica depois disso?
7 - Como uma série produzida por um canal passa em outro?
8 - Como interpretar os números de audiência do Nielsen?


 









 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 - Como diferenciar a distribuição de um programa em "Network", "Syndication" e "Cable"?

- "Network" (rede nacional de sinal aberto): Este é o sistema mais antigo. As principais redes de TV americanas atualmente são as seguintes: NBC (grande), CBS (grande), ABS (grande), FOX (média), WARNER (pequena) e UPN (pequena). Um programa passa no mesmo dia e hora em todas as emissoras afiliadas, em todo o país.

- "Syndication" (sistema de emissoras independentes): Os programas são vendidos diretamente para as emissoras em todo o país. Por isso, para um programa em "Syndication" só podemos especificar a semana em que ele foi exibido (normalmente pelo primeiro dia daquela semana, quando o programa sobe para o satélite), pois cada emissora que o comprou pode exibi-lo em qualquer dia e hora durante aquela dada semana.

- "Cable" (canais por assinatura com qualquer tipo de transmissão: satélite, cabo etc.): Este é o sistema mais recente. Alguns exemplos de canais por assinatura americanos: HBO, TNT, Showtime, USA, Sci-Fi Channel etc. A HBO opera uma verdadeira "rede nacional", só que de sinal fechado. Os outros canais têm diferentes porcentagens de cobertura nacional. Um programa passa no mesmo dia e hora em todas as retransmissoras, em todo o país.

2 - O que é "Strip Syndication"?

Quando uma série, em primeira exibição em qualquer um dos três sistemas citados aqui, completa aproximadamente 100 episódios, ela pode ser vendida em "Strip Syndication", que é um pacote de reprises cinco vezes por semana. Tais reprises ocorrem concorrentemente à continuada primeira exibição da série em seu sistema de origem, mesmo que esse já seja "Syndication".

Exemplo: Em quatro temporadas (se tudo correr bem) a série Enterprise terá 104 episódios exibidos e será vendida em "Strip Syndication". Aí reprises das quatro primeiras temporadas irão concorrer em "Syndication" com a exibição dos inéditos do quinto ano na UPN. A cada nova temporada inédita exibida, mais episódios irão para "Strip" até que somente tal pacote irá restar, algum tempo após o final da série.

3 - E depois do "Strip"?

As séries de Jornada são vendidas totalmente em VHS e DVD nos EUA e depois vão para um canal por assinatura. A Nova Geração já seguiu esse ciclo e está sendo exibida com exclusividade pelo canal a cabo TNN (também pertencente à Viacom, a "holding" que também é dona da Paramount). Deep Space Nine e Voyager estarão em breve na mesma situação, seguindo a mesma trajetória. Não existe motivo para achar que será diferente com Enterprise. Em uma nota especulativa, será que um dia a Viacom irá transformar o TNN em seu próprio canal Sci-Fi?

4 - De onde vem o tamanho de cada temporada?

As temporadas normalmente cobrem cerca de oito meses (de setembro a maio), com exibição semanal e alternâncias entre reprises e episódios inéditos, mas não há um número fixo obrigatório de episódios por temporada. As temporadas das séries modernas de Jornada têm usualmente 26 episódios, ao contrário do padrão de 22 episódios típico da TV americana, justamente pelo sistema de "Strip".

Para preencher as reprises cinco dias por semana em uma temporada típica (meados de setembro a meados de maio) são necessários cerca de 180 episódios. Fazendo 26x7 chegamos bem próximo desse número mágico. Fazendo 22x7 temos 154, bem abaixo disso. Isso sem contar que apenas um número infinitesimal de séries chega a sete temporadas.

Considerando isso, a Paramount ("dona" da marca) tem um extremamente competitivo pacote para venda em "Strip" com Jornada. Isso também explica por que as séries modernas (de A Nova Geração para frente) de Jornada não têm mais do que sete temporadas. Não existem datas naturais no calendário de reprises para acomodar esses novos episódios, daí tal excedente não afetaria muito o preço de venda do pacote e acabaria reduzindo a margem de lucro da empresa (pois essas temporadas adicionais teriam de ser produzidas, antes de tudo).

5 - Como foi a primeira exibição de todas as séries de Jornada?

Série Clássica (NBC), Série Animada (NBC), A Nova Geração ("Syndication"), Deep Space Nine ("Syndication"), Voyager (UPN), Enterprise (UPN).

6 - O que aconteceu com a Clássica depois disso?

Após a sua primeira exibição a série teve cada um dos seus episódios reduzido de 51 para 44 minutos e ela foi colocada em "Strip". Da crescente popularidade dessas reprises e da utilização do sistema de audiência por classes, o potencial para transformar Jornada em um gigantesco franchise começou a surgir. Tal gigante nasceu em definitivo com o primeiro filme de Jornada para o cinema, em 1979. No fim dos anos 1990, o Sci-Fi Channel americano preparou uma edição especial da série, com os episódios completos e apresentados por William Shatner (Kirk) e Leonard Nimoy (Spock). O canal a cabo ainda mantém a exclusividade do programa.

7 - Como uma série produzida por um canal passa em outro?

As séries de TV são normalmente produzidas pelos braços televisivos dos grandes estúdios de Hollywood (Fox, Paramount, Dreamworks, Universal, MGM, Warner, Disney, Sony etc.), por produtoras de médio porte (como a Tribune, por exemplo) e por produtoras associadas a canais por assinatura (notadamente a HBO). Raramente são produzidas direta ou indiretamente por redes de TV não-associadas de alguma forma a uma entidade de uma das categorias citadas.

Tomemos o exemplo da "Fox Television", que produz o maior número de séries, dentro todas as produtoras do setor. A "Network" Fox tem prioridade para toda essa produção, o que não quer dizer que a rede vá conseguir ficar com todos os programas, por óbvios motivos financeiros. Todo programa que a rede Fox não compra fica livre para ser vendido para outra rede, um canal a cabo ou mesmo em "Syndication".

O "Canal Fox" que nós assinamos e chega em nossas casas aqui no Brasil também tem a prioridade de todos os produtos produzidos pela "Fox Television" lá nos EUA, mas isso também não quer dizer que ele vá passar toda esta produção. O que ele não aproveitar pode ser comprado por um outro canal por assinatura. Isso não ocorre com freqüência no caso do nosso "Canal Fox", porque ele é um canal com bastante capital. Mas tomem o exemplo do nosso "Canal USA", que tem prioridade para os programas produzidos por Paramount, Universal, USA americano e Sci-Fi Channel americano. Ele, por ser um canal com menos capital, perde inúmeros programas preferenciais para outros canais.

Para saber quem produziu um dado programa basta examinar o final dos seus créditos de encerramento. Normalmente temos (em seqüência) as vinhetas: de uma produtora associada ao criador da atração ou alguém de sua produção (mesmo as empresas de atores principais com produtoras próprias podem ser citadas aqui), depois das produtoras de maior porte associadas à produção e por último de uma grande produtora associada a um estúdio, canal a cabo e algumas vezes a uma rede de TV. Ao menos um desses três tipos de vinhetas vai aparecer.

8 - Como interpretar os números de audiência da TV americana (medidos pelo Nielsen)?

O "Nielsen" é o mais importante instituto de pesquisa de opinião dos EUA. Em outras palavras, ele é o "Ibope" americano. Aqui estamos apenas interessados em interpretar os resultados de suas pesquisas com relação aos programas de TV americanos (episódios de séries semanais de uma hora, mais precisamente) e não entrar em detalhes quanto ao processo utilizado para obter esses dados em primeiro lugar.

Aqui segue uma terminologia básica para compreensão de tais números. O que está aqui escrito cobre os seguintes sistemas de distribuição em primeira exibição ("first run"): "Primetime Network" (horário nobre em uma rede), "Syndication" (emissoras independentes) e "Primetime Cable" (horário nobre em um canal por assinatura). O terceiro caso é muito parecido com o primeiro, com alguns ajustes óbvios (por isso não é muito discutido aqui). O caso de "Syndication" é bastante diferente e tais diferenças são discutidas adiante.

NUNCA compare diretamente números de audiência de sistemas diferentes. Não é possível fazer tal coisa. Na prática eles são drasticamente diferentes, com os seus específicos prós e contras.

Agora, a terminologia...

RANK: A colocação que o programa, em uma dada semana, alcançou.

OVERNIGHT RATINGS: Índices temporários de audiência de um programa, saem em cerca de 14 horas após a sua exibição, atualmente. A diferença desses números "da noite" para os definitivos é que eles levam em conta uma amostra menor de dados, somente das principais cidades ("mercados") do país. O que leva normalmente a resultados mais altos que as estimativas finais, que levam em conta todo o país.

NATIONAL RATINGS: Índices de audiência definitivos de um programa saem uma semana após a sua exibição, aproximadamente. Levam em consideração todos os "mercados" do país.

(HOUSEHOLD) RATINGS: Sem nenhuma qualificação adicional, o termo "RATING" significa a porcentagem (sem o sinal '%') de lares (households) com televisão que assistiu ao programa naquela semana. Ou seja, uma audiência ("RATING") de "4.5" quer dizer que 4.5% dos lares com televisores de todo o país assistiram a aquele programa. Para programas em "Primetime Network" só conta a primeira exibição da semana. Para programas em "Syndication" são computadas todas as exibições (incluindo as suas reprises) da semana em todas as emissoras independentes que o exibem para determinar a audiência do programa.

SHARE: Sem nenhuma qualificação adicional, o termo "SHARE" é a porcentagem dos televisores ligados na hora do programa que estão sintonizados naquele programa em particular. Ou seja, uma quota ("SHARE") de "7" quer dizer que 7% dos televisores ligados no horário do dado programa o estavam o assistindo de fato. O que explica por que o "SHARE" é sempre maior ou igual ao "RATING". Por motivos óbvios não se calcula o "SHARE" de programas em "Syndication".

RECAPITULANDO: Agora se você ouvir falar que um programa de TV americano teve a audiência de "4.5/7". Você pode concluir que ele teve uma audiência de "quatro pontos e meio" e uma quota de "7%", como definido acima e em lares (que é a estatística "default"). Você agora também vai compreender quando esses números forem rotulados ora como temporários ("OVERNIGHT") ora como definitivos ("NATIONAL"). Quanto maior o seu RATING maior o RANK de um dado programa.

VIEWERS: O numero total de espectadores ("viewers") normalmente não é fornecido, pois o que importa realmente são os números de espectadores por faixa (ver a seguir).

DEMOGRAPHICS RATINGS/SHARE: A mesma coisa que consideramos para lares podemos estender para pessoas, dividindo-as em classes ("demographics") que podem interessar aos potenciais patrocinadores de uma forma diferenciada. Por exemplo: dizer que um programa teve uma audiência de "4.5/7 in males 18-49", que dizer que 4.5% de todos os homens (com televisão) entre 18 e 49 anos o assistiram e que 7% de todos os homens (com televisão) entre 18 e 49 anos que estavam assistindo TV na hora em que o programa foi exibido também o fizeram. Podemos ter então as mais diversas classes de audiência e com os seus respectivos números. Esses índices de audiência é que levam a uma escolha mais fina dos patrocinadores de um programa e são fundamentais para o funcionamento da máquina da televisão americana.

SOBRE A AUDIÊNCIA DA SÉRIE CLÁSSICA DE JORNADA: Nos tempos da primeira exibição da série original de Jornada nas Estrelas (em "Primetime Network") na NBC (de 1966 a 1969), não havia tais índices por classes de pessoas (aliás, não havia praticamente televisão alguma nos EUA além das três grandes redes: NBC, CBS e ABC), apenas os números por lares. Esses índices, por classes ("demographics"), foram adotados na temporada seguinte ao cancelamento da Série Clássica e se eles existissem desde o início de sua exibição, a série provavelmente não teria sido cancelada de uma forma abrupta como foi e nem mesmo rotulada como um fracasso como acabou sendo.

SWEEPS MONTHS: Em uma temporada que tipicamente vai de meados de setembro até meados de maio do ano seguinte, eles são os meses de novembro, fevereiro e maio (julho também é um desses meses, mas não influencia diretamente as séries em que estamos interessados aqui). Esses são meses importantes para a checagem da viabilidade comercial (e continuidade) do programa junto aos patrocinadores. Dinheiro extra é gasto em propaganda e na produção do programa. No vocabulário de Jornada, normalmente se programa um episódio duplo e/ou com valores de produção reforçados. No último "SWEEPS MONTH", que normalmente culmina com o fim da temporada, também costumamos ter em Jornada um "CLIFFHANGER": um episódio que fecha a temporada, mas tem o final em aberto, e só vai ser concluído na temporada seguinte.

O motivo de todo esse alvoroço nos "SWEEPS MONTHS" é que o Nielsen coleta uma amostra muito maior de dados nesses meses, tornando as suas estimativas muito mais precisas. Normalmente, após um "SWEEPS MONTH", temos um período de reprises (os hiatos) dentro da temporada. O mais famoso deles é o "Thanksgiving Hiatus" que começa próximo ao dia de Ação de Graças, 26 de novembro.

A AUDIÊNCIA DE JORNADA: A faixa típica da audiência de Jornada é aquela que envolve jovens adultos do sexo masculino. A faixa mais significativa é a "males 18-25". Esse é um dos motivos para o sucesso de Jornada, pois os anunciantes valorizam muito as faixas que caem dentro de "males 18-49", devido ao seu maior poder de compra.