Por Fernando
Penteriche
Planejada
originalmente para ser a última cena do último episódio da sexta
temporada de A Nova Geração, a destruição
da USS Enterprise-D teve de esperar até que a série saltasse da
tela da TV para o cinema. A explicação? Falta de recursos para
fazê-la convincente aos olhos do público, já que o orçamento do
episódio final da temporada (que não seria "Descent", nesse
caso) não permitiria a Ron Moore, Brannon Braga e Jeri Taylor
destruir a nave capitânea da Frota de maneira adequada.
Em "Jornada nas Estrelas: Generations", com a ajuda de
uma ave-de-rapina Klingon com mais de 30 anos, a principal nave
do universo moderno de Jornada finalmente foi abatida, abrindo
caminho para que, no próximo longa-metragem, Picard e cia. ganhassem
uma novinha em folha. A desculpa dos produtores foi simples. "O
design da Enterprise-D não combina com o formato de tela do cinema",
diziam. Mas todos sabiam que isso chamaria o público para os dois
filmes. Em "Generations", para ver a destruição da Enterprise-D,
e no próximo filme, para conhecer a nova nave da Nova Geração.
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O
contratado para criar uma nova Enterprise para "Jornada nas
Estrelas: Primeiro Contato" foi John Eaves, o mesmo artista
que, anos depois, criaria a Enterprise NX-01 de Archer. "Em setembro
de 1995, quando eu estava no departamento de arte de DS9,
o designer da produção Herman Zimmerman chegou em minha mesa e
disse que em janeiro começaria a produção do novo filme da Nova
Geração, 'Jornada nas Estrelas: Ressureição' [posteriormente
modificado para 'Primeiro Contato']", diz John Eaves. "Herman
disse que, claro, haveria uma nova Enterprise e que se eu tivesse
alguma idéia em mente e quisesse apresentá-la, que começasse a
fazer alguns rascunhos. Puxa, a Enterprise sempre foi minha nave
favorita de todos os filmes e séries de ficção científica! Desde
que eu me lembro, sempre tive modelos das naves de Jornada
perduradas em minha sala. Quando criança, eu desenhava a Enterprise
em minhas batalhas pessoais e em descobrimento de novos mundos",
continua. "Minha infância inteira girava em torno dessa nave e
agora, muitos anos depois, eu tinha a oportunidade de criar a
Enterprise-E. Fiquei maravilhado com a oportunidade."
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No
começo, Eaves desenhou mais de cem rascunhos da nave. Porém a
utilização da Enterprise-D como ponto de partida trouxe algumas
complicações, pois o modelo da nave usada na série era de fato
muito difícil para fotografar, logo, não serviria para o cinema.
Os produtores estavam certos. John desenhou então uma Enterprise
mais estreita, porém com naceles curtas, como as da Enterprise-D.
Michael Okuda e Herman Zimmerman gostaram da idéia, mas pediram
que ele trabalhasse com naceles mais compridas.
Lembrando
que em "Jornada
nas Estrelas II: A Ira de Khan", na batalha com a USS
Reliant, o pescoço da Enterprise clássica, que liga o disco ao
casco secundário, foi atingido e que aquele era sem dúvida um
alvo em potencial, Eaves retirou o pescoço e ligou as duas seções
da nave de modo com que um ataque inimigo não pudesse separar
o disco do casco secundário. "Meus desenhos refletem o que tínhamos
em mente para a nova Enterprise", diz John. "Ela não seria classificada
como uma nave que transporta famílias, e sim como uma nave de
batalha, pronta para combater os Borgs", completa o designer.
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Ao
mostrar para um amigo como estava ficando a nave, Eaves recebeu
um comentário inesperado. "Está parecido com um peru de Dia de
Ação de Graças", teria dito ele. De fato, a forma com que Eaves
colocou as naceles lembravam as asas de um peru. Após efetuar
a mudança das naceles, Eaves acreditou que havia conseguido harmonia
entre os elementos da nave e mostrou para Rick Berman, que aprovou
o design. O próximo passo era definir a textura externa e fazer
as plantas para construção do modelo, algo que ficou a cargo do
veterano designer de Jornada, Rick Sternbach.
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Em
janeiro de 1996 o modelo começou a ser construído, e alguns pequenos
detalhes do desenho final de John Eaves tiveram de ser adaptados.
Sternbach deixou a nave com 24 decks, sendo a engenharia principal
nos decks 15 e 16. Eaves conta que colocou detalhes pessoais na
nave. "A Enterprise-E está coberta de pequenos elementos que refletem
pessoas que conheço. Por exemplo, as duas naceles idênticas representam
minhas duas filhas gêmeas, Olivia e Alicia. Mike e Denise Okuda
estão representados pela forma de ponta de flecha na parte de
cima e de baixo do disco. Os dois desenhos triangulares abaixo
do disco são em homenagem a Matt Jefferies, o criador da Enterprise
original, e por aí vai...", conta o designer.
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Quanto estreou em "Primeiro Contato", a USS Enterprise-E
foi muito bem recebida pelo público e principalmente pelos fãs.
E desde o famoso passeio na doca espacial que Scotty proporcionou
ao almirante Kirk em "Jornada
nas Estrelas: O Filme", não tínhamos a possibilidade de
ver os detalhes externos de uma nave de Jornada com tanta
clareza. Em "Primeiro Contato", com a "excursão" que Picard,
Worf e Hawk fazem, andando pelo casco da nave para deter os Borgs
que encontravam-se no escudo defletor, a chance de conhecer detalhes
da nova Enterprise foi dada ao público.
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Em "Insurreição", o penúltimo filme da série para
o cinema, conhecemos mais detalhes da nave, como a possibilidade
de as naceles acumularem gases para algum fim. O iate do capitão
foi finalmente mostrado e até um infame joystick na ponte foi
utilizado por Riker.
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A
ponte chegou a ter um detalhe significativo alterado de "Primeiro
Contato" para "Insurreição". Enquanto no primeiro filme
a tela principal tinha um novo conceito --era virtual, só aparecendo
quando requisitada--, no segundo filme voltou-se ao conceito tradicional,
com uma tela física, que está lá o tempo todo mostrando alguma
coisa.
Todo
fã de Jornada que se preza adora as informações históricas
das naves e dos personagens das séries. Muitas vezes eles não
são ditos ou mostrados em episódios ou filmes, mas os manuais
técnicos lançados pela editora Pocket Books fazem essa parte.
A Pocket é uma empresa ligada à Paramount. Logo, as informações
extraídas de seus livros técnicos são consideradas praticamente
canônicas, ou seja, têm seu valor reconhecido como verdadeiro
no universo "oficial" da série. Confira a tabela ao lado!
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Fernando
Penteriche é editor do Trek Brasilis.
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