Publicado como artigo de
Especiais em fevereiro de 2003



 









 


A Reação dos Críticos

Por Fernando Penteriche

Pode-se esperar boas críticas dos meios de comunicação para um filme cuja franquia a que pertence foi desprezada pelo estúdio proprietário da marca através de um desvínculo que começa nos créditos de abertura e se estende para cartazes, displays e todo o tipo de propaganda? Será que a Paramount, de posse do valor medíocre que Nêmesis alcançou nas bilheterias norte-americanas (aproximadamente US$ 43 milhões até agora), achou que tirando Jornada nas Estrelas do título iria chamar mais público? Essa estratégia obtusa é só mais um exemplo de como anda terrível a situação de uma das maiores franquias do entretenimento, por mais que os alguns trekkers ainda não queiram enxergar.

A UIP, distribuidora do filme no Brasil, não quis apostar em um produto que já teve dias melhores. Lançou poucas cópias em salas da Grande São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Salvador e Vila Velha (!) no Espírito Santo. Os outros Estados receberão suas cópias de Nêmesis assim que elas saírem de cartaz nas praças citadas acima. Imaginem a qualidade dessas cópias quando chegarem após o Carnaval em Belo Horizonte ou em abril em Porto Alegre...

No domingo anterior ao lançamento de Nêmesis em nosso país, as principais revistas semanais do Brasil, Veja, Época e Isto É, já traziam, como de costume, suas opiniões sobre o décimo filme de Jornada nas Estrelas para o cinema. Veja e Época foram mais duras. A revista da Editora Abril disse que "só quem é fã de carteirinha da série pode achar atrativos nesta chocha ficção científica", chamou o roteiro de "anêmico" e os efeitos especiais de "medíocres", cotando o filme como "fraco". A Época dedicou um espaço maior do que a Veja, mas malhou o filme da mesma maneira. "Há tempos não se via uma aventura tão tagarela e tão pouco movimentada", disse o crítico Cléber Eduardo em seu texto, que ainda apontou uma incoerência no roteiro, dizendo que "Nêmesis prega mensagem pacifista, mas pratica a intervenção bélica". A Isto É foi mais leve, e o crítico Apoenan Rodrigues resumiu o filme como "uma história em que maldades, coragem e amizade formam o cinturão intergaláctico de uma diversão totalmente sem compromisso".

Quem abriu algum jornal do eixo Rio-São Paulo na sexta-feira, 14 de fevereiro, dia da estréia do filme, se deparou com o seguinte anúncio abaixo.

Repare que na parte de cima do anúncio há duas frases retiradas das críticas das revistas Isto É e Época. A frase que diz "Vale a Pena" eu realmente não consegui encontrar na Isto É, mas a "Tema Atual..." vem desta frase da Época: "a guerra é justificada como única forma de acabar com as opressões. Tema atual, ainda mais agora, às vésperas de um conflito". É interessante como os responsáveis pela publicidade do filme têm de usar uma lupa para achar um mínimo elogio em algum texto, e às vezes eles são publicados totalmente fora do contexto original na tentativa de promover o produto. Esse "tema atual", para um despercebido, pode ser qualquer coisa. Clonagem, aventura espacial, sacrifícios pessoais, ou, "guerras justificadas para acabarem com a opressão". Gostaria de saber o real significado do "vale a pena"...

Falando em publicidade, é interessante notar que a UIP mudou a frase que está no pôster do filme. No original era "começa a jornada final de uma geração" e em português ficou "tenha medo de seu lado negro". Picard em nenhum momento teve medo de seu "lado negro", ou seja, Shinzon. Aliás, ninguém que viu o filme deve ter levado esse clone inverossímil a sério nem por um segundo, quanto mais ter "medo".

Usando a expressão "lado negro" a primeira coisa que vem a minha cabeça é o "lado negro da Força" de Star Wars. É nítido que a UIP quis pegar alguns Jedis incautos nessa. A estratégia é um primor. Primeiro tiram o nome "Jornada nas Estrelas" do pôster para, provavelmente, não atrair trekkers? Depois colocam essa frase para atrair Jedis? E quem vai ver um filme apenas baseado em um cartaz verde com um careca esquisito erguendo uma faca? Se houvesse a identificação de que se tratava de mais um Jornada, não seria mais interessante? O pessoal de marketing da UIP fez faculdade mesmo?

De qualquer maneira, como nem o título "Star Trek" consta na abertura do filme, é fácil imaginar que a própria Paramount resolveu vendê-lo apenas como "Nêmesis" para o resto do mundo, já que nas cópias que foram exibidas nos cinemas dos Estados Unidos, o nome da franquia está presente.

Sexta-feira, abro os jornais, sendo que alguns acessos pela internet, e não tenho surpresa alguma. A Folha de S.Paulo trouxe, em seu Guia da Folha, uma resenha escrita por Sérgio Rizzo que até elogia alguns aspectos do filme, e a cotação do Guia para Nêmesis é de duas estrelas, ou seja, regular. O caderno Ilustrada do mesmo jornal traz um texto muito consciente de autoria de Pedro Butcher que, embora escorregue no tradicional Dr. Spock, traduz bem o atual estado da série, dizendo que "ela não está encontrando caminhos de renovação capazes de realimentar seu interesse". O outro grande jornal paulista, O Estado de S.Paulo, não trouxe texto algum sobre o filme.

No Rio de Janeiro, O Globo, em texto de Arnaldo Bloch, questiona a falta de ousadia filosófica que, segundo o autor, "sempre diferenciou Jornada nas Estrelas do universo bombom de Star Wars. Por outro lado sobram batalhas, o que o aproxima das cansativas obsessões da saga de George Lucas". Boa observação. Outro trecho digno de nota é "por melhor que seja um longa de Jornada, nunca vai superar um bom episódio".

O Jornal do Brasil apresenta um texto de Ulisses Mattos que não diz muita coisa nova, apenas que Nêmesis é um filme morno que deve agradar quem não é fã da série. O jornal O Dia, também carioca, mostra um tom otimista. Tatiana Contreiras gostou do número musical de Data, dos efeitos especiais e chamou o enredo de simples, mas modernoso. Só a "bizarra aparição" de Whoopi Goldberg foi criticada pela jornalista, pois a famosa atriz aparece em uma cena e faz apenas uma piada sem graça.

Saindo dos jornais e indo para a internet, no site e-Pipoca encontramos a opinião de Rubens Ewald Filho, talvez o mais conhecido crítico de cinema do país e um "simpatizante" dos trekkers. Rubens já foi visto em convenções realizadas em São Paulo e acompanha bem de perto a série. Para ele, Nêmesis é um filme médio e Stuart Baird, o diretor, demonstrou não ter controle nas seqüências dramáticas, porém nada que atrapalhasse o bom andamento da trama. O filme não aborreceu ou irritou o crítico, que porém não escondeu em seu texto que está percebendo que o ciclo de Jornada nas Estrelas no cinema já passou. Uma passagem interessante para ilustrar como críticas são subjetivas é que, enquanto Rubens Ewald Filho acha que Tom Hardy é um ator fraco e que nem se parece muito com Patrick Stewart, além de não ter carisma, uma crítica da Agência Reuters publicada pela Folha Online dizia que "o novato Hardy demonstra carisma no papel de vilão convencional".

As críticas relacionadas acima podem tirar a vontade de alguém em ver o filme? Claro que sim, mas tudo é muito subjetivo. O negócio é você assistir a Nêmesis e tirar suas próprias conclusões pois, quando se trata de Jornada nas Estrelas, a variação dos pontos de vista pode ser grande. E não é mais legal assim?

Confira alguns links para matérias que falam sobre o filme.

Folha de São Paulo

O Globo

O Dia

Jornal do Brasil

The New York Times

Agência Reuters

Veja

Isto É

Época

Revista SET

E-Pipoca (Rubens Ewald Filho)