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Para não dizer que não falei de Klingons

Como andei falando anteriormente de outros povos famosos que existem na galáxia de Roddenberry, este mês resolvi homenagear outros velhos e queridos companheiros de Jornada. Os Klingons devem ser os mais famosos e populares "vilões" até mesmo para aqueles que conhecem superficialmente o que tem sido feito desde o início das aventuras da Enterprise. 

Eles merecem destaque neste universo porque passaram a ser vistos de meros vilões que atrapalhavam os planos da Federação a um povo capaz de seguir sua própria trajetória através dos problemas e das glórias de muitos personagens marcantes. Acho mesmo que talvez um dia a Paramount possa ser mais ousada e fazer uma minissérie centrada neles. 

A maioria dos leitores deve saber que os Klingons foram criados por Gene L. Coon, que ajudava (e às vezes brigava com) Roddenberry. Sua participação ajudou a dar uma dinâmica deferente na evolução dos episódios da Série Clássica. Assim, ficaria muito mais difícil para a audiência entender uma Federação sem "inimigos" pré-determinados, numa realidade marcada pelo bem e o mal. Mas, no caso dos Klingons já se desenhava um quadro onde eles não seriam apenas conquistadores malvados, como foi mostrado no episódio de estréia "Errand of Mercy". Há outros tantos episódios onde eles são mais ridicularizados porque o próprio roteiro é farofa pura, como na vez em que conhecemos uma grande ameaça para eles: os pingos, ou tribbles.

As outras séries de Jornada mantiveram um alto conceito sobre os Klingons, desenvolvendo muito mais o seu potencial. Na Nova Geração, ao longo de vários episódios, Worf passa a ser membro da tripulação da ponte e deixa pra trás aquela imagem de um personagem deslocado no meio dos humanos, que só sabe regular sensores e calibrar os sistemas de armas.

Em Deep Space Nine os Klingons começaram aparecendo como amigos de Dax, beberrões etc. e chegaram a ser os melhores aliados na luta contra a invasão do Dominion. Muito dessa mudança se deve ao fato de o próprio Worf ter ido para a estação, ajudando a estabelecer novamente um canal de maior familiaridade com a audiência, que, na ocasião, não estava em patamares muito satisfatórios. Foram apresentados episódios que ampliaram temas e detalhes de sua vida particular e do relacionamento de seu povo com a Federação.

Em Voyager, infelizmente, só temos B’Elanna com alguns roteiros de "flashbacks" e de situações inusitadas, como uma nave cheia de klingons perdidos na galáxia, atrás de um messias, que eles confundem com a filha dela com Tom Paris.

Entretanto, até chegar nessa condição de maturidade, muito raio foi disparado dos disruptores. Neste sentido, o cinema já foi um momento onde foram dadas algumas pinceladas de transição entre uma visão estereotipada e uma versão mais completa. Não foi só a maquiagem que mudou quando os Klingons apareceram na tela grande. 

As suas aparições no cinema tiveram seu ponto alto através da contribuição de dois grandes atores de mesmo nome. Christopher Lloyd e Christopher Plummer, repectivamente Kruge, no terceiro, e Chang, no sexto filme de Jornada. Em "Jornada nas Estrelas III" os Klingons são de novo os opositores da Federação na busca do segredo do Projeto Genesis. Kruge é o responsável por causar a agonia de Kirk, por causa do aprisionamento de seu amigo Spock, de seu filho David e da tenente Saavik. O conflito aumenta mais ainda com a morte de David e a destruição da Enterprise.



A dor de ter perdido duas coisas importantes faz de Kirk descarregar toda a sua raiva no chefe Klingon, disputando a vitória na base do muque, num planeta que se desfacela por inteiro. É interessante ver nosso herói tentando ainda ajudar o Klingon a se salvar do precipício, mas, dada a tentativa de puxá-lo, Kirk o mata a base de botinadas na sua testa enrugada como casco de tartaruga. Do ponto de vista do Klingon é bom lembrar que o Projeto Genesis seria como uma arma altamente sofisticada, que comprometeria o equilíbrio de poder entre os dois povos. A atuação de Lloyd só não foi maior porque o próprio roteiro estava contido em limites bem estabelecidos, com uma história de transição entre dois momentos bem marcantes no universo de Jornada, por conta do segundo e do quarto filmes.

Outros Klingons que apareceram fizeram bem o dever de casa, cooperando ou trocando escaramuças com a Federação. No sexto filme, o coronel Worf (avô do tenente Worf), também encarnado por Michael Dorn, é quem se sobressai nessa safra mediana de personagens. É claro que esse meu julgamento está contaminado pela conhecida e aplaudida experiência do ator em representar uma figura muitíssimo querida e bem aproveitada ao longo do tempo, conforme disse antes.

Chang é aquele que atiça a dor de Kirk e se envolve num complô para fazer malograr o acordo de paz com a Federação, neste mesmo filme. Aqui a atuação de Plummer é mais ampla, em razão do próprio roteiro e do contexto de fechamento das aventuras de Kirk e sua turma. Ele não é só um Klingon mais vingativo, mas também mais arguto, porque deixa a tripulação da Enterprise à beira do colapso, desde o assassinato do Chanceler Gorkon até o ataque final contra a nave e a tentativa de matar os líderes do acordo de Khintomer. A maneira espetacular como Chang provoca Kirk já tinha começado desde o jantar de recepção a bordo da Enterprise. Lembro aqui quando ele chega a recitar os versos de Sheakspeare com aquele ar de pirata do espaço desprendendo o máximo de malvadeza e elegância, somente comparável ao de Khan, no segundo filme. Não foi à toa que exatamente o último dos filmes da Série Clássica pôde mostrar aquele dentre os Klingons que mais honrou a glória de Kahless. Até agora, sentimos saudades de sua participação, apesar dos outros que vieram depois.

 

Não temos ainda idéia completa de como os Klingons poderão ser apresentados nos próximos filmes, à exceção do tenente-comandante Worf. Resta esperar se teremos outras aventuras da Nova Geração após "Nemesis" e ver como a barca anda. Aposto na idéia de que os Klingons estarão sempre conosco, ajudando a contar boas estórias mais ou menos sérias, apesar da contribuição de outros tantos que povoam nossas telinhas e telonas. Eles só não são melhores porque não existem além da nossa imaginação.

Cláudio Silveira escreve regularmente sobre os filmes com exclusividade para o Trek Brasilis