"Nêmesis"
e a fórmula do sucesso
"Nêmesis"
já parece ser um sucesso de realização da Paramount --pelo menos
já reúne algumas características importantes, segundo a lógica
que rege Holywood. Os produtores não pretendem arriscar muito num
filme que, segundo especulações, poderá ser o fechamento das
aventuras da Nova Geração, embora o próprio Stewart tenha
negado ultimamente.
No
plano interno, o estúdio contratou John Logan, um roteirista de
prestígio, que ajudou bastante nos prêmios recebido por
"Gladiator". Stuart Baird, o diretor, também é
experiente, alguém que conhece o ofício; antes, tivemos David
Carson e Jonathan Frakes (William Riker), que dirigiram bons episódios
na televisão, daí, foram escolhidos para apresentar as aventuras
do pessoal da Frota Estelar no cinema.
Eles conseguiram um sucesso razoável, principalmente no caso de
Frakes, com "Primeiro Contato". Mas, mesmo com o hábito
de passar habilidosamente técnicas de televisão para o cinema, é
sempre melhor contar com alguém capaz de dominar bem a narrativa da
tela grande. Esse é um procedimento considerado válido para atrair
os bons olhos da crítica e do público mais exigente, fazendo
render maior prestígio e retorno financeiro para a franquia e o estúdio.
No plano externo, onde habitam os fãs, alguns ingredientes são de
fato um atrativo seguro para garantir a alegria de todos. A dívida
com os trekkers será paga no roteiro sobre o povo Romulano. Há
muito tempo já se cobrava o desenvolvimento de uma história
baseada num dos "inimigos" tradicionais da Federação,
que apareceram quase casualmente, com personagem isolados, sem
nenhuma influência na trama.
Ao
contrário, agora poderemos ver os Romulanos com mais profundidade.
Foi bem acertada a escolha de mostrar um lado do Império até então
desconhecido para que acompanhou A Nova Geração e Deep
Space Nine. Aí tem outro elemento de segurança para fazer o
espetáculo continuar de acordo com o figurino: uma grande crise no
Império Romulano, que traz como conseqüência um novo modo de
relacionamento com a Federação.
Esta fórmula já foi usada com os Klingons, em "Jornada nas
Estrelas VI: A terra Desconhecida". Agora, os descontentes
são um grupo de pessoas oprimidas em busca de liberdade. Isto é
atraente ao público, conforme já se viu em várias aventuras no
cinema e na televisão. No universo de Jornada, a aceitação do
tema já veio em episódios da Série Clássica, como "The
Apple", "Errand of Mercy" e "The
Cloudminders". O assunto foi desenvolvido daí para frente
nas outras séries da turma da Frota Estelar. A presença de Logan,
contudo, ajuda a pegar carona no tema no argumento de Gladiador.
Outro
elemento que trata contentamento aos fãs é o sempre tão esperado
desfecho do caso amoroso entre os dois pombinhos auxiliares de
Picard. Riker e Troi, enfim, vão se unir pelos laços do matrimônio,
apesar das especulações sobre a ausência de Lwaxana Troi, talvez
já morta, com as graças do produtor e chefão de todas as coisas
de Jornada, Rick Berman. Daí, poderemos ver que pelo menos
alguém se importa em viver de um jeito mais próximo dos mortais e
seus romances.
O
casamento entre os personagens "da ponte" se tornou mais
comum em DS9 e Voyager, contribuindo, assim, para o
gosto do padrão que sempre alegra o público apelando para um
"parzinho" romântico.
A presença de um irmãozinho "deficiente" de Data é também
uma forma de mostrar que Jornada se preocupa com questões
que afligem o ser humano, como já fizeram antes no caso de
deficientes físicos e visuais. Este é um ponto que toca na
sensibilidade de todos considerados "normais", fazendo com
que eles vejam os outros com dignidade, respeito e solidariedade,
sem cair no pieguismo hipócrita e no preconceito. Vale para manter
uma herança do clima politicamente correto assumido pelo seriado
desde o seu início.
Para
os fãs preocupados com o destino de Data, a transferência de sua
capacidade cerebral direto ao circuito do outro andróide pode
funcionar como um modo aceitável de seu "desligamento" e
possível despedida.
O estúdio optou ainda por afastar o fracasso, retomando o tema do
vilão geneticamente engendrado para ser o antagonista do capitão
herói. Tal como em "Jornada nas Estrelas II: A Ira de
Khan", veremos algumas nuances desse tipo de relacionamento
entre Shinzon e Picard. Eu já falei aqui em outro texto que isto
reencarna o hábito do capitão enfrentar a si mesmo, de modo
figurado ou não. Será que não daria para tentar algo um pouquinho
diferente daquilo mostrado no cinema, nos episódios da Série Clássica
e da Nova Geração? Ter Picard vendo "aquele que sou eu
sem nunca ter sido" vai funcionar, mas poderá ser a falta de
originalidade misturada com as características de "O Clone
Assassino".
É melhor acabar por aqui mesmo e esperar que a Paramount apresente
algo diferente no futuro, sem essa de fazer um episódio tamanho família
que nos obrigue a gostar somente das histórias conhecidas. Talvez
possamos um dia ver o estúdio seguir o lema de seu produto
"indo audaciosamente onde ninguém jamais esteve".
Cláudio
Silveira escreve regularmente sobre os filmes com
exclusividade para o Trek Brasilis
|