"Nêmesis":
Será o fim?!
Depois de um
adiamento por conta da situação mundial de guerra não-prevista, a
Paramount deu o sinal de largada para as filmagens de "Jornada
nas Estrelas - Nêmesis". Este é o nome da deusa grega da
justiça feita através da vingança, para reparar alguma injustiça
anterior. Parece estar apropriado com o roteiro adotado por John
Logan, que, como de costume, tem feito alterações de última hora.
Não há muitas dúvidas de que este deve ser o último filme da Nova
Geração. Há poucos dias, como noticiou o Trek Brasilis,
Marina Sirtis (Deanna Troi) deu uma entrevista em que falou sobre
isso e a idéia central da história: as relações familiares.
Foram muitos anos de convivência que estão indo embora. Meu
objetivo aqui é comentar algo relacionado ao que podemos saber
sobre o roteiro até que o filme seja exibido. Daí, falarei sobre o
produto depois de pronto e a sua repercussão no público e na crítica.
"Todas as coisas boas têm o seu fim." Esta é a tradução
aproximada do título da última aventura da Nova Geração,
mostrada na televisão em um episódio duplo. É possível pensar até
mesmo que Picard e sua turma nem precisariam ter ido para a tela
grande. O sucesso já estava muitíssimo garantido com o estrondo
provocado pela grande aceitação da série nos seus anos de produção,
principalmente, do terceiro ao sétimo ano. Já falei nesta coluna
sobre o resultado da transferência da tripulação para o cinema.
De fato, a melhor avaliação foi obtida por "Jornada nas
Estrelas - Primeiro Contato". Os outros dois filmes são
passíveis de muitas críticas e reclamações. Lógico, a opção
de fazer filmes da Nova Geração residiu no fato de tentar
continuar o sucesso e aumentar o faturamento do estúdio. Se "Nêmesis"
conseguir ser bem feito, o jogo sairá empatado, pois está 2 X 1
para o infortúnio. Torcemos para mais uma vitória da qualidade e
da alegria dos fãs. O fato de A Nova Geração ter sido bem
acabada em vida na televisão dificultou seu desenvolvimento no
cinema. O mesmo risco pode ser corrido nas outras séries,
principalmente Deep Space Nine. Espero que a Paramount se
toque do perigo que os longas podem representar.
Então,
é a hora de apagar as luzes e fechar o boteco. As despedidas serão
feitas depois de Data e Picard mostrarem mais uma vez a que vieram,
carregando a trama. Teremos a participação dos Romulanos,
clonagem, casamento, transferência, implante cerebral e desativação?
Aí estão os ingredientes para o bolo e os quitutes da festa de
despedida. A hora para isto acontecer é agora, com os atores cada
vez mais velhos e caros do que antes. Alguns deles se envolveram na
produção e na direção a fim de contribuir com as mudanças e o
desfecho na vida de seus personagens.
Riker e Troi finalmente resolveram tornar a vida comum depois de
encontros e desencontros, casos e solidão. Os dois pombinhos estarão
a ponto de ir para a ponte de uma nova nave, se envolvendo em missões
menos gloriosas e conhecidas.
Eles
encontram o seu caminho próprio até que a morte, ou a vida, os
separe. "Imzadi" para cá, amizade para lá, as coisas vão
seguindo depois de altos e baixos. Riker, enfim, viverá a realidade
do comando de maneira plena, sem ter que dizer "sim,
senhor" várias vezes por missão. Só que antes disso tudo
acontecer, ainda darão uma mãozinha a Picard para resolver uma
pendenga no Império Romulano.
La Forge continuará esquentando os motores da nave, pelo menos por
enquanto. Ele foi um personagem que fez tudo direitinho, cresceu de
posto, virou engenheiro-chefe, se apaixonou várias vezes, mas
continuou chupando dedo. Permanecerá fiel a Picard e se tornará a
bola da vez. Esperamos que arrume um bom comando --um casamento,
pelo menos, parece estar em vista. Ao que tudo indica, La Forge
estará com Leah Brahms, aquela velha paixão vista durante a série.
O caso de Worf é mais complicado. Não dá para entender direito
porque alguém promovido a representante do Império Klingon voltará
à ponte da Enterprise-E para atirar uns raios e uns torpedos nos
outros. Me parece que isso é forçar demais a barra. Os roteiristas
sempre dão um jeitinho, mas haja razão para a sua convocação.
Santa criatividade, Batman!
Ao que parece, Beverly Crusher terá um pouco mais de
aproveitamento, repassando a sua vida ao lado de Picard. Dos sete
personagens, ela sempre foi a menos aproveitada. A sua velha amizade
com o capitão foi mais íntima do que a média. Mas ela tende a
deixá-lo no espaço, seguindo o seu rumo para outro lugar,
aproveitando a sua bagagem acumulada ao longo dos anos. Por causa da
sua especialidade, ela se envolveu mais diretamente com personagens
de outras espécies. Agora é hora de transferir o sua experiência
para o conhecimento da Frota.
Data
continuará vivendo no cérebro de um irmãozinho com capacidade e
habilidade menor? É o que parece. De fato, já não há como Brent
Spiner carregar o personagem na cara, por conta da sua pesada
maquiagem. Também aconteceu o inevitável, com a valorização do
passe de um ator que contribuiu diretamente para o enorme êxito da
série. Certamente, ele foi o mais diversificado de todos, nos
muitos aspectos que foram explorados na sua busca pela humanidade.
No início, parecia um bobo da corte, hoje é o homem de lata com
inteligência artificial avançada mais fascinante da televisão e
do cinema. O filme de Spilberg, "A.I.", ainda pode ajudar
a engordar a bilheteria, atraindo um público não muito acostumado
às aventuras de ficção científica. Será bom também se a sua
performance parecer um pouquinho com o Ulisses, interpretado por
John Malkovich em "Construindo um Cara Certinho".
O problema maior é o destino de Picard. Afinal de contas, é disso
que depende a continuidade das missões da Nova Geração.
Sou daqueles a pensar que já está pegando mal essa de sair por aí
explorando a galáxia. Mesmo que seja "o grande Picard", não
dá para engolir suas aventuras e desventuras por tanto tempo
--embora tudo leve a crer que será essa a conclusão. Picard
permaneceria a bordo da Enterprise como capitão, com uma tripulação
principalmente composta por novatos.
Idealmente,
o que poderíamos esperar do seu desfecho? A primeira possibilidade
é satisfazer algumas especulações anteriores (e a minha vontade)
de tranformá-lo num embaixador, como Sarek e Spock. Assim ele sobe
no telhado, tem uma saída honrosa e pode aparecer aqui e ali no
futuro. A segunda possibilidade é preparar o caminho para a sua saída
como todo bom mortal. Ele pode ser aposentado e resolver comprar uma
nave menor para explorar outros mundos como arqueólogo e turista,
com ou sem alguém do lado. Até que um dia, vá para o além...
Por enquanto, ficaremos na expectativa, vendo nosso herói ter de
enfrentar um clone de si mesmo, criado em pleno Império Romulano.
Hum... não sei não! Essa coisa de Picard lutar contra si mesmo
para salvar a Federação já tinha sido mostrada, de certa forma,
quando foi transformado em Locutus. Além disso, tenho certas dúvidas
da validade de usar um clone humano, vivendo como um escravo para
ser infiltrado na Federação e destruí-la, assim como se revoltar
contra o Império. Isto é meio parecido com os gladiadores que se
revoltaram contra o Império como Spartacus e seus companheiros.
Mas, vindo de John Logan, não pode ser muita surpresa, né? Ele vai
ter que nos explicar direitinho qual o interesse de um povo
oprimido, considerado sub-raça, em tentar um golpe de estado no Império
e partir para cima da Federação. Na verdade, também acho que já
chega de mostrar sempre filmes onde a vida da Federação corre
perigo iminente, como nos últimos três filmes. Tudo bem que aqui e
ali alguém fira os seus interesses e ela tente protegê-los. Porém,
penso que seria melhor tratar de uma aventura de exploração.
Afinal de contas não foi para isso que a série e a nave foram
feitas?
De repente, o resultado pode surpreender positivamente. Vamos ver
como é que fica.
Cláudio
Silveira escreve regularmente sobre os filmes com
exclusividade para o Trek Brasilis
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