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Jornada nas Estrelas e o Oscar

Vez por outra é levantada a questão sobre o fato de Jornada nas Estrelas nunca ter concorrido e ganho nas principais categorias do Oscar. O argumento mais comum é que os filmes de ficção científica somente são valorizados nos aspectos técnicos, como os efeitos visuais, som etc., sendo desprezados quanto aos aspectos dramáticos.

Na história da ficção no cinema, Jornada nas Estrelas foi indicado em categorias como direção de arte ("Jornada nas Estrelas - The Motion Picture"), efeitos sonoros, trilha sonora, fotografia ("Jornada nas Estrelas IV - A Volta Para Casa"), ou ainda maquiagem, efeitos visuais ou edição de efeitos sonoros ("Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida").

Alguns se lamentam do fato de que estes filmes tiveram bom roteiro, boa direção e bom desempenho dos atores principais e coadjuvantes, levando-os a merecer alguma indicação. Além daqueles filmes, alguns gostariam de ver outras indicações em categorias consideradas mais importantes para ostentar a estátua dourada reluzente, mas nada disso deu condições para convencer os membros da Academia de Cinema de Hollywood.

No entanto, há outro argumento menos popular e, a meu ver, mais consistente. Jornada é uma obra essencialmente televisiva. O cinema é um "algo mais". Por isso, ganhar o Oscar é coisa secundária. Isto se explica porque o desenvolvimento dramático é feito ao longo de anos de produção, com um grupo razoavelmente grande de diretores e roteiristas, que partem de uma "bíblia" organizada pelos criadores da série. O conteúdo das aventuras é voltado mais para explorar novas situações do que para os tripulantes da Frota Estelar e os seus personagens. Nisso, muita coisa boa tem sido feita, outras são razoáveis e sofríveis. No geral, o resultado é acima da média do que se vê por aí, segundo público e crítica. Este procedimento é bem diferente de criar um argumento, roteiro ou adaptá-lo de um conto ou romance para apresentá-lo nas telas de todo o mundo. 

O cinema só entrou na história de Jornada por dois fatores conjugados. A Serie Clássica tinha sido interrompida, durando um pouco mais do que a metade do previsto, mas virou um fenômeno de massa anos depois. O outro motivo foi George Lucas, que se deu muito bem com seu inicialmente despretencioso bangue-bangue sideral, "Guerra nas Estrelas". Isto abriu os olhos da Paramount para aproveitar mais uma faixa de mercado.

O desenvolvimento das aventuras de Kirk e sua turma para dar um desfecho do que passara na televisão. Com Picard e a Nova Geração, a situação prevalece, colocando uma azeitona em nossa empada a cada dois anos, mais ou menos.

Para Jornada é mais importante ganhar o Hugo, a maior premiação de ficção científica da televisão norte-americana, o Emmy ou o Globo de Ouro, que reconhecem e valorizam as produções da televisão.

Agora, vamos falar sério! Seria o Oscar um prêmio tão importante assim?! Temos que ver também outros prêmios do cinema, como o do festival de Berlim, Cannes, Espanha, Cuba e até o norte-americano de Sundance. Estes são eventos mais preocupados em premiar filmes de maior qualidade, apesar de alguns escorregarem um pouco na casca de banana do circuitão hollywoodiano.

Jornada teria muitíssimo menos chance nesses festivais porque se trata de outro tipo de filme. Só que o Oscar ficou sendo valorizado demais, não precisaria tanto. Ele não é mais do que um prêmio de uma categoria profissional que faz uma festa, muitas vezes ridícula, prestigiada para arrecadar mais uns cobres para os estúdios: quem viu, vê de novo; quem não viu, sai correndo pra ver.

É claro, serve também para premiar os artistas, muitos de qualidade duvidosa, e aumentar seus salários, como Julia Roberts e um monte de rostinhos bonitinhos de estrelas e galãs. Quando dá na consciência, a Academia resolve premiar de forma especial alguns diretores e atores que valem mesmo a pena. Tem gente que ganha e nem vai lá receber, como já fizeram Marlon Brando e Woody Allen.

Enfim, deixem esse negócio de Oscar pra lá, porque, como já dizia Shakespeare: é muito barulho por nada.

Cláudio Silveira escreve regularmente sobre os filmes com exclusividade para o Trek Brasilis