A
novela que criou Jornada I
Todo
mundo sabe que "Jornada nas Estrelas" não teve vida
longa e próspera na televisão enquanto foi produzida pela Desilu
/ Paramount e foi ao ar pela NBC. Quando a série foi cancelada, o
elenco, a produção e o próprio Gene Roddenberry pensavam que
seria o fim. Isto não tinha nada de mais até vir a reação do público
na famosa campanha de cartas promovida pelo próprio Roddenberry e
por Bjo Trimble, a mãe do movimento "trekker" . Mas,
botar a Entrerprise para esquentar os motores e navegar novamente,
teve muito de idas e vindas, brigas de amor e ódio, disputas de
ego etc.
Muitas destas coisas já tinham sido contadas por Shatner e Nimoy
nos seus livros,publicados no Brasil e traduzidos pela nossa
"trekker" tupiniquim número um : Cristina Nastasi. Sem
deixar de lado o que os dois atores disseram, e importante dar uma
olhada na versão de Roddenberry, de acordo com a sua biografia
oficial feita por D. Alexander, não disponível em português.
Afinal de contas,certo ou errado, ela mostra o sentimento do autor
pela sua criatura e o que fizeram dela para estreiar na tela
grande. E assim foi, procurando atiçar os ânimos dos fãs e do público
em geral, além, é claro, de arrecadar milhões de dólares para
os cofres da Paramount.
Desde o início, o que veio a se tornar "Jornada nas
Estrelas: o Filme" , já sofria de uma certa crise de
identidade. A primeira proposta era que ele fosse um piloto para a
TV, responsável por lançar uma nova série : "Jornada nas
Estrelas : Fase Dois", com o pessoal do elenco original e
novos atores destinados a tomar o lugar de Kirk e Spock ao longo
do tempo. Este também era um jeito de ajudar no lançamento de
uma nova rede, tocada pela Paramount, o que só muito mais tarde
tornou-se viável com a UPN e "Jornada nas Estrelas:
Voyager". Com o retumbante sucesso de "Guerra nas
Estrelas" , da Fox, a Paramount finalmente optou por um longa
metragem com muitos efeitos especiais, um roteiro adequado aos
molde dos fàs de scifi sem um custo muito alto.
Depois de um certo período de reuniões, telefonemas, perda de
tempo e fios de cabelo da cabeça de Roddenberry e dos executivos
do estúdio, a situação tinha sido estabelecida da seguinte
forma em 1977: a Enterprise seria totalmente remodelada num
projeto chefiado por Kirk, que se tornaria um burocrata ; um novo
capitão tomaria o comando meio intimidado pela falta de experiência
e teria que pedir ajuda a Kirk na primeira ameaça de perigo (
olha o filme "JE: A Nova Geração" aí, gente!).
Haveria também um outro jovem oficial, vulcano, chamado Xon, para
substituir Spock, se possível mentor (nos próximos filmes, foi o
que aconteceu com a tenente Saavik). O nosso legendário vulcano
estaria em seu planeta por conta de seus afazeres filosófico-científicos.
A história evoluiria para uma aventura onde a Enterprise seria
tomada por um intruso, não muito bem definido, se um ou muitos.
Certamente seria uma máquina, que faria uma ligação com o
computador da nave e causaria muitos danos à tripulação. Aí
entraria o jovem vulcano para salvar a pátria com sua brilhante
inteligência.
Era clara a intenção de Roddenberry de descartar Spock logo de
cara e ir deixando Kirk se tornar um personagem recorrente na
evolução da história com o formato da série. Mesmo depois que
o estúdio optou pelo formato de longa metragem, a ausência de
Spock era declarada certa por Roddenberry. Ele e Nimoy haviam tido
problemas de relacionamento entre produtor e ator na caracterização
de Spock durante a produção da "Série Clássica", na
remuneração inadequada dos atores nas reprises em
"sindication" , sem falar nos problemas financeiros
relacionados ao piloto de "Projeto Questor" que Nimoy
participou a convite de Roddenberry. Nimoy confirmou estas
dificuldades no seu livro de memórias, dizendo que Roddenberry não
eu a ajuda necessária aos atores diante do estúdio. Mais tarde,
reclamaram na justiça e ganharam os seus direitos, depois de um
acordo com a Paramount.
A direção do filme seria dada a alguém de renome em Hollywood.
A pessoa escolhida foi P. Kaufman ( conhecido depois pelos
brasileiros por dirigir Daniel D- Lewis e Juliete Binoche em
"A Insustentável Leveza do Ser" ). Shatner disse que
outros diretores foram também cotados, mas recusara, como
Spilberg, Coppola, Hill etc. Ele disse ainda que a história a ser
filmada seria outra: um resgate do capitão Kirk feito por Spock,
depois da sua captura por alguns alienígenas.
A turma do deixa disso entrou em campo e pediram a Roddenberry que
ele deveria relevar as implicâncias e diferenças com Nimoy para
o bem do futuro de "Jornada". Gente como Isaac Asimov
lembrou que Spock era um personagem essencial, mas, foram os
executivos da Paramount, como Michael Eisener, que insistiu para
contornar os problemas com Roddenberry e acertar as dívidas com
os atores.Depois de seu convencimento sobre a participação de
Spock, Roddenberry abriu mão de parte dos sus ganhos para
beneficiar Nimoy e Shatner. Entre tapas e beijos, "O Grande Pássaro
da Galáxia" retomou o roteiro e fez muitas modificações, só
que, aí, o estudio puxou a tomada e cancelou o projeto com uma
certa grna já gasta, dizendo que Roddenberry não conseguia
concluir um proposta aceitável a tempo. Ele mesmo admitiu mais
tarde a sua inexperiência em escrever para o cinema, ao contrário
da televisão, tanto que passou a ser considerado consultor
executivo nos próximos filmes. Havia também outro problema.
Adaptar uma série televisiva para o cinema era algo complicado,
que outros escritores de ficção científica não entendiam, ou não
queriam entender : H. Elison , desafeto de Roddenberry, mas o
autor do roteiro do episódio preferido pelos "trekkers"
"A Cidade à Beira da Eternidade" , andou espalhando que
Gene não tolerava interferência em muitos aspectos considerados
por ele centrais na sua obra. A briga continuou já quando R. Wise
foi nomeado o diretor do filme por causa de sua carreira de
sucesso e dois "Oscar" . Assim mesmo, Wise ficou no meio
das desavenças entre ele, o roteirista Livingston, Shatner e
Nimoy sobre o conteúdo e as filmagens da história. Roddenberry
tinha tentado obter ( e conseguiu( apoio de seu amigo e escritor
Asimov para ses pontos de vista sobre o que seria importante
manter no roteiro. Várias foram as mexidas feitas até durante as
filmagens. Tantas outras mexidas foram feitas até que um seleto público
pudesse ver o filme em Washington, DC no Museu Shimstoniano. Até
então, só R. Wise sabia o que tinha na lata até que a moviola
começasse a funcionar.
O resultado é conhecido. O filme foi considerado regular, muito
lento e com pouca semelhança com a dinâmica de
"Jornada" na televisão, apesar de seus efeitos
especiais produzidos pela empresa de G. Lucas. Mas o orçamento oi
inesperado, indo além dos limites da fronteira estabelecida pelo
estúdio, batendo na casa de 45 milhões de dólares. Era
absurdamente caro para o que foi apresentado. Está sendo
aprontada uma nova edição feita pelo diretor, onde cenas inéditas
serão mostradas : a discussão de Kirk com o almirante Nogura,
para retomar o comando da nave, Kirk e Spock juntos na câmara de
V'ger e a explicitção de que W. Decker é filho do comodoro
Decker do episódio "A Máquina da Destruição" . Vamos
esperar prá ver o efeito que tem depois de tantos anos e
reprises...
Roddenberry encarou com naturalidade o fato do filme ter sido
considerado regular. Ele se sentiu satisfeito, apesar de todos os
problemas que teve, embora admitisse que poderia ter sido melhor.
O próprio Ellison admitiu para a imprensa, em um artigo, que as
coisas não foram tão ruins assim, embora conservassem o tom crítico
em seus comentários. Roddenberry respondeu dizendo que Ellison
fez um bom comentário, mas se comportou como um adolescente
porque não queria entender que um filme precisa atender as normas
da indústria cinematográfica, com as várias pressões dos
produtores, atores, diretores, público etc. Por isso nunca o
resultado é exatamente o esperado pelo seu criador. É aquilo que
se pode, não o que se quer. Até porque, outras tentativas
poderiam ser feitas mais tarde. Foi o que aconteceu daí prá
frente, conforme veremos depois.
Não é nada não, mas assim mesmo, o filme rendeu na época 180
milhões.
A aventura estava apenas começando....
Claudio
Silveira escreve quinzenalmente sobre os filmes com
exclusividade para a Trek Brasilis
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