Trek
Brasilis - Seu primeiro envolvimento com o franchise foi em
1979, em "Jornada nas Estrelas - O Filme". Como
você se envolveu com o projeto e o que você fez naquele filme?
Rick Sternbach - Eu encontrei o designer de produção
Joe Jennings no fim de 1977, quando "O Filme"
ainda era a segunda série de TV de Jornada em
desenvolvimento, e, embora não houvesse uma vaga disponível
para o projeto, eu deixei um cartão e um currículo para trás.
Em abril de 1978, logo antes de o filme ser anunciado, Joe me
ligou e perguntou se eu gostaria de vir a bordo. Naturalmente,
eu disse sim. Eu fiz um bom número de rascunhos de cenário,
layouts gráficos de painéis de controle e de sinalização do
interior da nave e alguns designs de equipamento durante um período
de cerca de oito meses.
TB - É verdade que quando você
ouviu sobre uma nova série de Jornada você
imediatamente ligou para Gene Roddenberry para trabalhar nela?
Por que você estava tão ansioso para estar em Jornada
novamente?
Sternbach
- Eu estava em uma auto-estrada quando ouvi a notícia no rádio,
e imediatamente parei em um posto de gasolina e liguei para o
escritório de Gene. Susan Sackett, a assistente de Gene, me
garantiu que as coisas estavam andando e que eventualmente eles
iriam querer ver meu trabalho. Jornada nas Estrelas
sempre foi uma combinação intrigante de personagens
interessantes, histórias de ficção científica e designs de
equipamento espacial, e tudo isso me atraía.
TB - Junto com Michael Okuda,
Andrew Probert, Herman Zimmerman e outros, você desenvolveu o
estilo visual de Jornada pelos últimos 15 anos. Parece
que cada um de vocês tem sua própria especialidade. Como as
tarefas de design são divididas entre vocês?
Sternbach - Um ilustrador de filmes e televisão como eu
tipicamente tem a tarefa de criar desenhos que não são
normalmente vistos na tela, mas são usados para criar outros
elementos que são vistos, como cenários, equipamentos e veículos.
Um artista cênico como Mike tipicamente faz arte que é vista
diretamente no cenário, e o designer da produção supervisiona
o departamento de arte.
TB - John Eaves, Herman Zimmerman e
Michael Okuda já estão confirmados para estar na próxima série
de Jornada, e você está deixando o franchise. Você
pretendia sair? Rick Berman e Brannon Braga deram alguma razão
para não escolhê-lo?
Sternbach - Eu não estou saindo por minha decisão. Eu já
tinha ouvido que Eaves estava sendo colocado para trabalhar nos
designs da Série V antes de fecharmos o departamento de arte de
Voyager, e eu simplesmente esperei para ouvir se eu seria
requisitado para o novo programa enquanto concluía o trabalho
em "Endgame". Quando o pedido não veio, eu
terminei de empacotar minhas coisas e decidi passar a outros
projetos. Ninguém do escritório de produção ou de outro
departamento de arte fez algum contato comigo sobre a nova série,
a favor ou contra, o que é decepcionante apenas pelo senso de
falta de profissionalismo da parte deles. Outros membros da
equipe também relataram experiências semelhantes. Tecnicamente
falando, entretanto, eu havia sido contratado para a última
temporada de Voyager, e a companhia não tinha realmente
nenhuma obrigação de fazer nada além do que eles fizeram.
TB - Até onde sabemos, a nova série
será uma pré-sequência, em uma nova Enterprise. Você sabe de
algo a respeito que possa nos contar?
Sternbach - Não tenho nenhum pista além do que todos
estamos lendo na internet.
TB - Você poderia falar um pouco
sobre as dificuldades que você antecipa para criar um visual
que precede a série original de Jornada? Como você
lidaria com elas?
Sternbach - Eu não caracterizaria o trabalho de design
como tendo alguma dificuldade. Para mim, seria simplesmente uma
questão de encontrar a época envolvida, pegar todos os dados
fornecidos pelo designer de produção, pelos roteiristas e
pelos produtores, e costurar o equipamento e os veículos necessários
a se encaixar nos requisitos. Já sabemos que a época é pré-Clássica,
então as decisões só teriam de ser feitas sobre as
capacidades dos veículos, os painéis e os controles,
pilotagem, armas etc. Eu trabalharia em uma evolução definida
do design; ou seja, mostrar elementos reconhecíveis do
equipamento que vimos na Série Clássica e do que poderíamos
ter hoje, e criar uma síntese. Resta saber se eles vão mesmo
fazer isso.
TB - Após passar 15 anos criando
equipamentos, naves e cenários para Jornada, é difícil
manter as coisas parecendo novas? Como você resolve isso?
Sternbach - Não é tão difícil criar novas aparências
se você entende o material com que está começando. É um
pouco uma questão de balancear, entre inventar algo muito,
muito novo que talvez seja um pouco radical demais e inidentificável,
e algo que parece bastante com as velhas coisas que já vimos.
Alguns dos melhores designs deveriam te remeter, ao menos
subconscientemente, a algo anterior.
TB - Seu último trabalho em Jornada
foi para o finale de Voyager. O que os fãs podem
esperar, de um ponto de vista visual? Muitos efeitos especiais?
Muitas naves novas? Cenários? Alienígenas?
Sternbach - Eu não vi tudo que está sendo feito para o
trabalho de CGI [imagens geradas por computador], mas contribuí
com alguns designs de veículos da Frota Estelar e alguns ítens
Borgs. Claro, haverá muitos novos efeitos visuais; o roteiro
certamente fala sobre algumas empolgantes sequências de ação
espacial. Sobre novos cenários e alienígenas, haverá alguns
novos, outros que já vimos.
TB - Algumas pessoas acham que Jornada
está descendo a ladeira desde o fim de A Nova Geração.
Como você vê o atual estado do franchise e as perspectivas
para o próximo filme e a próxima série?
Sternbach - Eu realmente não sei qual é a batida dos fãs
ou da audiência em geral quando se fala em Jornada, mas
eu imagino que o franchise vai continuar enquanto o estúdio for
capaz de fazer dinheiro com ele, e isso deve acontecer enquanto
os roteiros forem originais e os valores de produção
permanecerem altos.
TB - Quanta interferência existe
sobre seu trabalho de Rick Berman e dos outros produtores? Eles
dão direções limitantes para os designs ou você tem um
grande escopo para trabalhar?
Sternbach - Como mencionei em minhas lembranças para o Startrek.com,
eu tive uma incrível liberdade em meus designs de naves e
equipamentos, com apenas notas ocasionais dos produtores sobre
algo que eles gostariam de ver feito, e então eu trabalhava um
novo desenho com as mudanças requisitadas.
TB - Você tem um design específico
do qual você realmente se orgulha?
Sternbach - Tenho de dizer que a Voyager foi a nave mais
divertida de trabalhar, com o cruzador de ataque Klingon, o
Delta Flyer e o orbitador marciano Ares IV sendo uma mistura de
veículos bem-sucedidos.
TB - E sobre um decepcionante?
Sternbach - Bem, tentamos não fazer ferros-velhos, e eu
acho que não tenho realmente uma opção para um design de nave
ruim. As naves que vimos semana após semana precisam ser bem
feitas, e nós recebemos tempo adequado para desenvolvê-las.
Alguns dos designs de "nave alienígena da semana" não
são exatamente ruins, mas talvez não tenhamos tido tempo em
uma agenda de produção de TV para fazer mais com eles.
TB - Além de seu trabalho em Jornada,
você teve a chance de trabalhar com Carl Sagan e Ann Druyan na
série da PBS "Cosmos". Como foi, para uma pessoa
especialmente interessada em ciência como você, trabalhar com
o Carl? Qual foi sua impressão dele?
Sternbach - Carl era definitivamente entusiasmado sobre
ciência, um grande promotor do artista espacial, e aquele
entusiasmo era contagiante. Apesar de como o público possa vê-lo
como um "popular astrofísico da TV", nós o
conhecemos como um homem devotado a procurar o conhecimento de
quem somos, de onde viemos, para onde vamos, e sobre o que o
Universo é afinal.
TB - Qual foi o seu trabalho na
"Cosmos"?
Sternbach
- Eu fazia parte da equipe de efeitos e arte que basicamente
construiu o Universo em dois anos e meio; não é um truque ruim
para meros mortais. Eu estava envolvido na construção de
modelos planetários, criação de storyboards [sequências de
desenhos que indicam movimento, em esquema similar ao usado em
histórias em quadrinhos] de sequências de efeitos, pintura de
grandes células de animação para tomadas de viagens
estelares, construir equipamento de mão, e geralmente planejar
e supervisionar muitos dos clipes de efeitos para a série.
TB - Você não apenas trabalhou
projetando para Jornada, como também esteve envolvido na
produção de manuais técnicos (junto com Michael Okuda) sobre
a série. Qual é o sentimento de fazer isso? Você sente que
pode dar um uso melhor a alguns trabalhos que, quando chegam à
tela, estão lá por apenas alguns segundos, algumas vezes quase
invisíveis?
Sternbach - Os manuais certamente me permitiram contar
aos leitores coisas sobre o equipamento e os veículos que não
tínhamos tempo de contar nos episódios; quarenta e seis
minutos de tempo no ar não é muito, então os livros assumiram
o papel para os fãs que queriam descobrir mais sobre possíveis
backgrounds e detalhes do hardware.
TB - Algum outro manual técnico ou
livro de referência no horizonte? Voyager precisa de um... não
concorda?
Sternbach - Pelo fato de a Simon & Schuster/Pocket
Books ter colocado seu foco de publicação de Jornada
principalmente sobre a ficção, é improvável que eu faça
algum outro manual técnico para eles. Eu irei, entretanto,
continuar a detalhar algumas das minhas naves e discutir questões
técnicas gerais de Jornada, não só de Voyager,
na revista "Star Trek: The Magazine".
TB - O que você pretende fazer
agora, depois de ter deixado Jornada?
Sternbach - Estou certamente fazendo novos contatos no
mundo do cinema e da televisão, na esperança de embarcar em
uma nova série de ficção científica. Competição é uma
coisa saudável, certo? Também estou trabalhando em alguns
projetos de livro sobre exploração espacial para o grande público,
particularmente "A Spaceship for Earth", um exame do
potencial para vôos regulares para outros planetas do Sistema
Solar usando uma série de veículos grandes e reconfiguráveis.
TB - Você participa de convenções
de Jornada?
Sternbach - Eu nunca tive tempo para comparecer a muitas
nos últimos anos, embora eu já tenha cumprido minha cota de
palestras e shows de slides nelas.
TB - Você conhece o Brasil?
Gostaria de vir aqui para uma convenção?
Sternbach - Eu cheguei tão perto quanto a Venezuela,
durante um cruzeiro de navio, mas esse foi o máximo. Adoraria
fazer uma convenção no Brasil contanto que fosse compatível
com minhas responsabilidades familiares e profissionais.
TB - Alguma mensagem para os
trekkers brasileiros?
Sternbach - Fico contente que estejam por perto!
Continuem assistindo!
Entrevista realizada em 2 de maio de 2001.
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