A Jornada de cada um de nós

Por Salvador Nogueira  

A história de Jornada nas Estrelas no Brasil se confunde com a própria descoberta da série pelos fãs. Tendo isso em vista, nada melhor que tê-los como os contadores da viagem de 35 anos que o franchise completa em 2001. Saiba de como toda a tripulação do Trek Brasilis embarcou nesta jornada, conheça as perspectivas para o futuro e acompanhe a análise do que foi o ano 2000 na opinião de Cláudio Silveira, Daniel Sasaki, Fernando Penteriche, Gustavo Leão, Lia Matos Viegas e Luiz Castanheira.


 









 

 

 

 

 

 

 

 

 
Trek Brasilis - Quando você começou a ver Jornada nas Estrelas?

Cláudio Silveira - Eu tinha 8 anos e ficava deitado no sofá, no colo do meu pai, vendo Jornada nas Estrelas na TV Excelsior (tô velho, né?). O primeiro episódio de que me lembro foi "The Man Trap" ("O Sal da Terra").

Daniel Sasaki - Comecei a assistir por influência de meu irmão, que por sinal hoje em dia já não é um trekker. Lembro também que meus pais gravavam as reprises da Nova Geração na TV Manchete. Tornei-me um fã propriamente dito em 1994, quando a Série Clássica foi reprisada nas tardes de terça e quinta.

Fernando Penteriche - O primeiro contato com Jornada que tive foi quando eu tinha 12 anos, em 1988. Aluguei o filme "Jornada IV" em vídeo.

Gustavo Leão - Quando meu pai me levou pra ver "Jornada nas Estrelas - O Filme" em 1980, e eu até achei muito legal, porque era baseado naquela série de desenhos animados com o cara de orelhas pontudas que passava no Globo Cor Especial.

Lia Matos Viegas - Foi em 94, e eu posso estar muiiiiiiiiiiiiiiito enganada, mas o primeiro episódio que vi foi o "Space Seed" ("Semente do Espaço").

Luiz Castanheira - Tomei contato quando assisti o episódio "Arena" da série original quando eu tinha uns sete ou oito anos (nasci em 30/01/1969), em uma tarde de domingo na extinta rede Tupi. Virei trekker quando assisti ao piloto de Deep Space Nine em uma reunião do Jetcom em 1993.

 

TB - Estamos concluindo o milênio. Como você vê os últimos 35 anos da série e suas perspectivas para o futuro?

Silveira - Acho que é melhor falar do passado, explicando o princípio da Federação Unida de Planetas, com a participação e o envolvimento de Terra, Telar, Vulcano, Andoria e Alfa Centauro. Penso que Jornada ficou um pouco militarista demais, assim como dizia Gene Roddenberry, embora eu goste muito de Deep Space Nine. Devem ser feitos telefilmes com ela e as outras séries, a Clássica e a Nova Geração.

Sasaki - Com certeza Jornada nas Estrelas foi um marco para a televisão mundial. É um verdadeiro fenômeno. As séries e filmes conquistaram milhões de admiradores. Mas creio que, embora tenha um passado glorioso, o franchise está atualmente nas mãos de pessoas apenas interessadas no grande potencial financeiro da marca "Star Trek". Preocupa-me um pouco o lançamento de um quinto seriado já em 2001, dados os números polêmicos do último filme e da última série.

Penteriche - Vejo Jornada como uma série única, que chegou realmente onde nenhuma jamais esteve e estará. Quantas séries com 35 anos têm tantos fãs, que se renovam ano após ano? Esse é o maior trunfo de Jornada, seus fãs. Para o futuro, não vejo grandes novidades. Torço apenas para que a nova série e o novo filme surpreendam a todos com uma excelente qualidade.

Leão - Com os olhos. Que futuro?

Viegas - Bom, Jornada nas Estrelas tem tudo pra crescer e continuar sendo a grande série que já é: tem um público fiel, cada vez cativa mais e mais pessoas, tem roteiros inteligentes e interessantes. Essas características do passado farão o futuro da série.

Castanheira - Eu sempre pensei, e acho que sempre vou pensar, em Jornada como a maior fonte de inspiração e solidariedade da indústria do entretenimento. Estou um bocado desmotivado com o estado atual de Jornada, eu nunca levei Voyager a sério e os "spoilers" sobre o "Filme X" e a "Série V" parecem levar a um caminho distinto daquele que eu gostaria que fosse seguido. Hoje, quando eu penso em Voyager eu já começo a rir. Eu também não gosto hoje da Nova Geração 10% do que gostei um dia --e só não gosto menos por causa da Voyager. A série original sempre vai ser um caso de amor e DS9 um ainda mais profundo e pessoal. Hoje eu já não tenho a menor dúvida de que DS9 vai envelhecer muito bem e se tornar "cult". Atualmente as notícias que mais me interessam são sobre os lançamentos dos novos livros de DS9.

TB - Estamos todos nós envolvidos em um árduo trabalho de tentar divulgar a marca de Jornada no Brasil. Na sua opinião, o ano foi bom para nós?

Silveira - De fato, só é árduo pela falta de tempo maior, em função do trabalho. Sou do tempo em que não tinha internet e a gente ficava um tempão esperando notícias das publicações estrangeiras e as poucas notas nacionais. A globalização cultural tem pelo menos esse lado bom, por facilitar a comunicação. Com as quatro séries na TV, a gente conseguiu mais espaço.

Sasaki - O ano 2000 foi, ao menos para mim, o melhor em termos de Jornada. Esperei quase cinco anos pela estréia de Voyager. A iniciativa do canal USA Network foi louvável. A exibição de episódios inéditos de Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager abriu para o país o "filé mignon" de Jornada e mostrou uma preocupação (inédita) para conosco.

Penteriche - Foi o melhor ano desde que me conheço como fã.

Leão - Foi bom pra mim. Foi pra vocês também?

Viegas - Talvez pudesse ter sido melhor, mas ruim não foi, certamente...

Castanheira - Acho que foi bom, o investimento do USA revitalizou o nome Jornada (ao menos) na mídia especializada, que já iniciou uma resposta. Tanto na Reunião-Trekker-RJ quanto no Trek Brasilis penso estar envolvido em alguma coisa de inegável qualidade, que o meu "eu fã" aprova com louvor. Só gostaria de atingir mais pessoas com estes dois empreendimentos.

 

TB - Qual é o seu sonho dourado para 2001 com relação a Jornada nas Estrelas?

Silveira - Sempre foi visitar os estúdios na Califórnia e conversar com a equipe de produção.

Sasaki - Apenas desejo que as novas temporadas continuem sendo transmitidas no Brasil e que o universo de Jornada finalmente se espalhe por grande parte da população, como acontece no exterior.

Penteriche - Apenas torço para que Voyager se encerre com dignidade, e apague um pouco da má impressão que deixou nestes sete anos.

Leão - Sair com a Jeri Ryan. Ou a Terry Farrell.

Viegas - Meu sonho dourado seria ver o meu grandioso doutor McCoy em cena mais uma vez no décimo filme, mas como eu sei que isso só em sonho mesmo, fico só no sonho... mas espero sinceramente que façam algo interessante para continuar a série (se bem que eu, sinceramente, acredito que está na hora de dar um tempo, rever conceitos, para depois partir em frente).

Castanheira - Para o Brasil, sonho seria se o USA continuasse a comprar as temporadas inéditas e exibi-las aos sábados sem reprises, deixando as reprises para os dias de semana em canais abertos (lembre-se, você perguntou sonho!). Para o mundo, que nem o Filme X e nem a Série V cheguem em 2001!

 

TB - Como foi participar da confecção do Trek Brasilis durante este ano?

Silveira - Já disse antes que é uma honra e um grande prazer, apesar da falta de tempo.

Sasaki - Trabalhar com esse grupo de pessoas foi maravilhoso. O site é pioneiro, tem originalidade e riqueza de informações. A iniciativa foi algo há tempos esperado na internet brasileira. Os editores são capazes e responsáveis. Deixo aqui minha gratidão pela oportunidade de expressar minha paixão por Jornada. O site realmente abriu as portas para mim e para todos os colegas.

Penteriche - Não foi um trabalho fácil, mas me deu muito prazer.

Leão - Interessante... o primeiro site brasileiro de verdade e bem informado do que acontece lá fora horas depois que aconteceu, e ainda por cima organizado por fãs que não sofrem de fobias ou distúrbios emocionais.

Viegas - Foi fera! Me fez sentir útil a uma causa nobre: divulgar Jornada nas Estrelas.

Castanheira - Neste ponto, em se falando de Jornada e de Internet, eu estou fazendo EXATAMENTE o que eu sempre quis fazer. Se o Trek Brasilis não tivesse aparecido eu fatalmente tentaria fazer um site idêntico.

 

TB - O que falta para Jornada decolar de vez no Brasil?

Silveira - Maior divulgação em todas as mídias e grandes eventos.

Sasaki - Falta apenas participação intensa daqueles que acompanham as séries e uma maior disseminação de Jornada pelo país. O brasileiro ainda tem um certo preconceito contra a ficção científica.

Penteriche - Investimento dos setores responsáveis, como canais de TV (USA). E o fim das panelinhas entre os fãs.

Leão - Legendagem, exibição diária no USA e mais espaço na mídia do canal. E não se esqueça da legendagem.

Viegas - União entre os que divulgam a série! Se todos os divulgadores se juntassem pra falar de Jornada, exigir das emissoras respeito (porque é bom e eu gosto), cobrar de seus "ouvintes" uma posição, enfim, se todas as forças estivessem juntas, Jornada decolaria com certeza!

Castanheira - Decolar para ficar tão popular, digamos, quanto o futebol: um milagre! Para ficar popular entre os assinantes de TV paga e atrair algum empreendedor leigo a tentar entender Jornada e a investir nela: o continuado esforço de fãs como nós e o continuado investimento do USA (ou do seu sucessor nos direitos de exibição)!

 

TB - O que será preciso para que Jornada decole mais uma vez nos EUA?

Silveira - Fazer uma boa nova série, longas e telefilmes.

Sasaki - Seria necessária uma avaliação e um remanejamento da equipe atualmente no comando do franchise. Os atos de determinadas pessoas vêm desonrando os fãs e gerando inúmeras críticas entre a imprensa norte-americana.

Penteriche - Mais uma vez? Jornada já atingiu o ápice por lá. É hora de dar um tempinho...

Leão - Fora Berman e Braga. Ou só Braga.

Viegas - A Paramount tomar vergonha na cara???

Castanheira - Se você quiser dizer ficar popular, como nos tempos da Nova Geração, não sei e nem me interessa saber. Jornada, devido à particularidade do seu público-alvo (homens de 18 a 49 anos -- público de maior poder de compra), e ao fato de ser passível de comercialização em um INFINIDADE de artigos derivados dos mais variados, a torna auto-sustentável. Como, de outra forma, uma série com audiência semanal de 4.0 pontos "Nielsen" (agora menos, nesta última temporada de Voyager) poderia se manter com um orçamento médio de DOIS MILHÕES DE DÓLARES POR EPISÓDIO?
O que está faltando é um Executivo da Paramount bancar: "vamos fazer um produto de qualidade e esperar pela reação dos fãs". A Paramount (e a sua companhia mãe, a Viacom) tem "lastro" de sobra pra isto, está faltando "culhão".
Algumas dicas aos responsáveis pelas próximas criações de Jornada: primeiro, desvinculem valor artístico de resultado comercial. Se eu desse a mínima para "aquele que vende mais" ou para "aquele que é mais popular", as prateleiras das estantes da minha casa estariam cheias de CDs do "Michael Jackson" e do "É o Tchan!" e não de "desconhecidos" como: "Black Sabbath", "Rush", "Emerson, Lake and Palmer", "Yes", "Jethro Tull", etc.
Segundo, parem de tentar fazer Jornada por emulação do que já foi feito -- com as interpretações dadas no passado --, vocês tem que mergulhar na coisa, ficar apenas com o fundamental e aí então tomar uma nova direção de forma fluida e com personalidade própria. Para fazer algo parecido com o que já foi feito eu prefiro ficar com as reprises.
Terceiro, parem de tentar produzir um "sucesso comercial de proveta" fazendo engenharia reversa na Nova Geração. Aqueles foram outros tempos e circunstâncias muito específicas.

 

TB - Qual o melhor profissional da história da série?

Silveira - Depois de Roddenberry, Leonard Nimoy.

Sasaki - Na minha opinião foi Ronald Moore, que infelizmente abandonou para sempre Jornada, após deixar a produção de Voyager. Ele contribuiu muito para tornar Jornada um marco. Antes de um profissional, ele é um verdadeiro amante da criação de Gene Roddenberry, e sempre trabalhou com enorme dedicação.

Penteriche - Gosto do Michael Piller e do Harve Bennett. É difícil escolher um, tem o Nimoy ainda...

Leão - Um só? Harve Bennett. Com Piller e Gene Coon logo atrás.

Viegas - Eu acho que foi Gene Coon... não me perguntem por quê!

Castanheira - Esta é uma questão ridiculamente complexa. Vou ficar com um tema e três nomes, está bem?
Como alguém que acha esta "briga" entre a "visão de Roddenberry" e a "visão de Berman" totalmente tola, sem fundamento e totalmente errada de todo jeito, do princípio até o fim, eu vou "cantar" para os "unsung heroes" de Jornada:
Gene L. Coon: O homem (já falecido) a quem todos devem agradecer pelo MELHOR da série original e ao que ela FOI. Não o que Roddenberry queria que ela fosse ou que ele pensava que ela tivesse sido. É flagrante a diferença de qualidade da série com e sem Coon!
Michael Piller: O pai da moderna Jornada nas Estrelas, se não fosse por ele ainda estaríamos assistindo (toda semana) ridículos "episódios de mensagem", com alegorias óbvias e infantis e caracterizações rasas como um pires e transparentes como cristal.
Ira Steven Behr: Aquele que fez Jornada ser Jornada novamente e ao mesmo tempo algo muito diferente e com identidade própria.

 

TB - Alguma mensagem especial para os fãs de Jornada em 2001?

Silveira - Como o tempo é a chama em que consumimos e o futuro, a terra desconhecida, vamos dar o melhor de nós sabendo que o futuro será o que fizemos ontem e o que fazemos hoje.

Sasaki - Se você realmente quer algo, lute por sua concretização; um grande exemplo disso é o Trek Brasilis, que começou como uma tímida iniciativa e hoje tornou-se um trabalho reconhecido. Outro caso é a estréia das novas temporadas no país, resultado de anos e de inúmeras petições. Abraço a todos e obrigado pela participação!

Penteriche - Não desanimem! O futuro de Jornada no Brasil promete muito.

Leão - Espere por 2002. And it's only a tv show. And a movie.

Viegas - "Os fãs unidos jamais serão vencidos!" Jornada nas Estrelas tem muito pra crescer ainda, gente... juntos, veremos a série, cada vez mais, chegar onde nenhuma série jamais esteve!

Castanheira - Corram atrás dos episódios inéditos, corram atrás de informações atualizadas desta maravilhosa série, pois no processo vocês irão encontrar pessoas maravilhosas, que irão modificar vocês, pessoas que vocês irão modificar e que juntos irão torcer para que um dia a humanidade possa além de aceitar as suas diferenças, CELEBRÁ-LAS!

 

TB - Fiquem à vontade para dizer o que mais vocês quiserem... o microfone é de vocês.

Silveira - Muito obrigado pela paciência e atenção ao que escrevo da parte da editoria e dos leitores do Trek Brasilis. Espero que possamos continuar juntos pra ajudar a fazer com que as coisas sejam melhores pra nós aqui e pra todo o mundo.

Penteriche - Quero desejar um Feliz Natal e Ano Novo a todos que acompanham o nosso trabalho no Trek Brasilis, e torcer para que o ano que vem seja ainda melhor do que este.

Leão - Bye.

Viegas - É meu mesmo??? Bom, eu queria mandar um beijo pra minha... brincadeira! Tenho nada mais a dizer, não, a não ser: vão ao site do Trek Project! trekproj.cjb.net

Castanheira - "Eu sonho com um dia onde o homem vai conquistar o espaço e acabar com toda fome e doença. Estes serão os tempos que valerão a pena serem vividos."

"Viva o agora Meribor. O agora é o melhor de todos os tempos. O agora nunca vai retornar."

"Para o meu pai ... que está indo para casa"

"Será que em algum lugar, muito além de todas estas estrelas, Benny Russel está sonhando sobre nós?"



Entrevistas realizadas durante o mês de dezembro de 2000.