George Takei: A alma do capitão Sulu

Por Salvador Nogueira  

Mais do que um participante de uma das séries mais populares de todos os tempos, George Takei é um ícone. O ator é um exemplo de determinação, dedicação, e acima de tudo, simpatia. George é o primeiro ator da Série Clássica de Jornada nas Estrelas a ter vindo ao Brasil, em 1996. Mais uma vez, Takei paga tributo aos brasileiros cedendo uma entrevista exclusiva para os leitores do Trek Brasilis. Acompanhe os comentários de Takei sobre os velhos tempos, os velhos amigos e a nova campanha pela série Excelsior.


 









 

 

 

 

 

 

 

 

 
Trek Brasilis - Há uma campanha em andamento com o objetivo de convencer a Paramount a produzir uma série sobre as aventuras de Hikaru Sulu e a USS Excelsior. O que você acha desta campanha e suas chances de sucesso? Quando seria o prazo final para a campanha?

George Takei - A campanha Excelsior está mantendo a tradição iniciada pelos primeiros fãs de Jornada. Após o cancelamento da série, em 1969, os fãs começaram uma campanha para ressuscitar o programa. Apesar de os executivos da Paramount terem dito que Jornada nas Estrelas estava morta, os fãs iniciaram uma campanha "Jornada vive", consistindo no envio de cartas e protestos públicos. Levou 10 anos, mas eles venceram. Em 1979, "Jornada nas Estrelas: O Filme" foi lançado. Os executivos da Paramount estavam pessimistas sobre o potencial de bilheteria. Novamente, os fãs demonstraram seu enorme apoio por meio das bilheterias, mostrando que realmente havia um público para Jornada. E uma vez mais, apesar dos executivos gostarem de pensar que sabem o que é melhor para os fãs, os fãs tomaram a iniciativa de dizer ao estúdio o que eles querem. Se a história mantém consistência, a campanha Excelsior deve prevalescer. O estúdio e as redes devem estar tomando algumas decisões sobre a nova série de Jornada até setembro de 2001.


TB - O que você acha da idéia em torno da Excelsior? Quais são seus pontos fortes?

Takei - Eu diria que o ponto mais forte na campanha é que está vindo diretamente dos fãs, da audiência. Se os produtores são espertos, eles devem responder ao mercado -- sua audiência. O outro ponto é que a série poderia explorar os 80 anos que estão entre o filme Jornada VI e a série A Nova Geração. Isso corresponde a aventuras suficientes para várias temporadas.


TB - Você acha que a série Excelsior seria um momento decisivo para os atores de origem asiática?

Takei - Eu acho que Gene Roddenberry foi pioneiro com a Série Clássica em ver a nave estelar Enterprise como uma metáfora para a nave estelar Terra, incorporando as grandes diversidades do planeta. Asiáticos, assim como africanos, russos, escoceses e até um Vulcano de orelhas pontudas estavam representados. A Excelsior continuaria nesta tradição, tendo um americano de origem asiática, pela primeira vez, na liderança, interpretando o capitão da USS Excelsior. Isso seria certamente um avanço importantíssimo.


TB - Estamos vendo agora uma campanha por Excelsior, mas a idéia não é exatamente nova. Em 1996, quando esteve no Brasil, você já falava sobre uma série com Sulu. Quais são as raízes desta idéia?

Takei - Quando "Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida" foi lançado em 1991 para celebrar o 25º aniversário de Jornada, vimos pela primeira vez o novo capitão da USS Excelsior, Hikaru Sulu. Quando vi o fim do filme, com o capitão Sulu tendo salvo o dia para Kirk, eu pensei que o próximo passo lógico seria algum projeto centrado na Excelsior. Demorou, mas os fãs decidiram que agora é o momento para eles e lançaram uma campanha ativa junto à Paramount Television.


TB - Quando você esteve no Brasil, você prometeu que se a série do capitão Sulu ocorresse, ela teria um tripulante brasileiro na ponte. Você acredita que poderá cumprir essa promessa? Por que você gostaria de ter um brasileiro em sua tripulação?

Takei - Como Gene Roddenberry acreditava, a diversidade de nosso planeta deve estar representada a bordo das naves da Frota Estelar. O Brasil é uma importante, porém muito pouco representada, parte dessa diversidade global. Eu gostaria que a Excelsior fosse um exemplo brilhante de trabalho para representar essa parte tão expressiva do mundo. E eu certamente lutaria por um brasileiro a bordo da nave com todo o vigor.


TB - Você aceitaria outra proposta, como uma minissérie ou um telefilme sobre a Excelsior, ou só uma série satisfaria?

Takei - O importante é persuadir a Paramount de que há uma grande audiência lá fora esperando pela série Excelsior. Sendo uma minissérie ou um telefilme, uma vez que o estúdio esteja convencido, parece-me que, no fim das contas, ele satisfará a audiência com uma série com a Excelsior. Há muitas boas histórias para se contar.


TB - Quais são suas melhores e piores memórias da época de produção da Série Clássica?

Takei - Minha melhor lembrança da série original é a filmagem do episódio "The Naked Time", onde Sulu mostra sua habilidade como espadachim. Eu escrevi extensivamente sobre essa experiência em minha autobiografia, "To The Stars". Minhas piores lembranças são dos episódios em que Sulu não apareceu.


TB - Na Série Clássica e nos filmes, Sulu e Chekov sempre foram melhores amigos. Isso se traduz na realidade? Você e Koenig são mesmo amigos?

Takei - O que você viu nas telas da televisão e do cinema também é verdadeiro na vida real. Apesar da maioria de meus colegas ter permanecido como bons amigos ao longo dos anos, eu acho que Walter é meu melhor amigo. Conversamos regularmente pelo telefone. A grande bênção de meu trabalho em Jornada é que os colegas de profissão acabaram virando amigos queridos com o passar dos anos.


TB - Muitos atores da Série Clássica expressaram suas reservas sobre Bill Shatner. O que você pensa dele, como pessoa e como ator?

Takei - Eu escrevi em detalhes sobre as dificuldades que todos nós tivemos trabalhando com Bill em minha autobiografia. Eu considero Bill um ator talentoso, mas incapaz de perceber a importância da interação entre outros atores em uma cena para fazê-la funcionar. Ele poderia ter sido tão melhor.


TB - Você conheceu a nova filha de Jimmy Doohan?

Takei - Jimmy e sua esposa, Wende, se mudaram para Seattle, Washington, há alguns anos. Um mês após o nascimento do bebê, eles trouxeram a criança para que nós a conhecêssemos. Infelizmente, eu estava fora da cidade no momento e perdi a chance de conhecê-la. Eu mandei um presentinho para seus felizes pais.


TB - Você assiste às novas séries de Jornada? O que você acha do atual estado do franchise?

Takei - O senso de muitos fãs é de que as recentes spin-offs de Jornada saíram dos trilhos. A brilhante e otimista visão do futuro humano como representada na criação de Gene Roddenberry tornou-se mais obscura e nefasta. Em vez de mostrar a idéia de ter os melhores representantes da diversidade humana trabalhando juntos como equipe, as séries recentes examinaram os mais triviais e avarentos aspectos do homem. Era crença de Gene que a humanidade teria -- certamente deverá ter -- ultrapassado essas dificuldades daqui a alguns séculos, tempo em que se passam as séries de Jornada. Com a série Excelsior, esperamos recapturar esse futuro brilhante da humanidade.


TB - O que você achou do episódio de Voyager que contou com a participação de Sulu, "Flashback"?

Takei - Eu me diverti voltando ao uniforme do Sulu e revivendo a cena de abertura de Jornada VI. Que maravilhosa entrada eles me deram, saindo de uma nuvem de pânico e histeria! E trabalhar com Kate Mulgrew e Tim Russ foi divertido. Apenas lamento não ter tido oportunidade de trabalhar com os outros membros daquele talentoso elenco. Espero poder ter a oportunidade antes que a série termine.


TB - Você achou que foi uma boa escolha matar Kirk em "Generations"?

Takei - A morte de Kirk no sétimo filme foi tão sem sentido, e de anticlímax. Comparada à heróica morte de Spock em "Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan", a morte de Kirk foi um desapontamento. Se a decisão era matar Kirk, muito mais poderia ter sido elaborado para um morte mais coerente com o tipo de homem que James T. Kirk foi em vida. Ele não deveria ter morrido em um simples acidente.


TB - Certa vez, você disputou uma vaga como vereador em Los Angeles e perdeu. Você desistiu completamente da política?

Takei - Certamente, não. Eu sou um apaixonado ativista político e acredito que meu voto é tanto um privilégio como uma responsabilidade. Estarei voando para o Japão semana que vem como comissário representando o presidente Bill Clinton em questões binacionais. Em uma democracia representativa, como o nosso sistema, o importante é a participação de todas as pessoas qualificadas. Sem elas, a democracia sai perdendo.


TB - Quais seus projetos atuais?

Takei - Estou trabalhando em um thriller de ficção científica dirigido por Tony Dow, de nome "Overload". Em duas semanas, estarei voando para Toronto para fazer uma narração para um documentário. Estive fazendo muitos trabalhos de voz recentemente.


TB - Como você definiria o capitão Sulu?

Takei - Meu capitão favorito.


TB - Como você diferenciaria os estilos de comando de Kirk e Sulu?

Takei - Sulu aprendeu seu estilo de liderança de Kirk. Ele ficava particularmente impressionado com a dedicação de Kirk aos laços de amizade e a graça e coragem com que ele demonstrava esse compromisso. Sulu também demonstrou isso quando foi contra o Comando da Frota Estelar, tentando resgatar Kirk em Jornada VI. Ele tem mais em comum com Kirk do que o contrário. As diferenças entre eles estão nas nuances de suas personalidades.


TB - Quando podemos esperá-lo novamente no Brasil? Estamos com saudades!

Takei - Eu também. Eu tive fabulosos momentos no Brasil e estou ansioso por uma próxima oportunidade de visitá-lo.


TB - Como você vê o futuro de Jornada?

Takei - Excelsior!


TB - Como você vê o futuro da humanidade?

Takei - Tenho confiança na nossa capacidade de resolver problemas, nossa criatividade e gênio inventivo. A humanidade prevalescerá.


TB - Alguma mensagem especial para os brasileiros?

Takei - Aos fãs de Jornada no Brasil, obrigado pelo apoio que nos deram ao longo dos anos. Para aqueles que estiveram ativos com a campanha Excelsior, obrigado pelas cartas enviadas a Kery McCluggage, presidente da Paramount Television. Elas estão fazendo um impacto tremendo. E a todos os brasileiros, vamos nos dar as mãos construindo uma ponte de amizade nas américas que servirão como exemplo para a população da Terra. Essa é a filosofia de Jornada nas Estrelas.

Entrevista realizada em 6 de junho de 2000.