Walter Koenig: o Monkee russo vem ao Brasil!

Por Salvador Nogueira

Apesar de ter aparecido apenas em dois dos três anos da Série Clássica, Walter Koenig foi aceito entre os fãs como um dos membros mais queridos da família do seriado original. Seu sotaque russo, "ainda que impreciso", como ele coloca, cativou a todos, no personagem de Pavel Chekov, uma recriação do Monkee Dave Jones para atrair o público jovem. Mas Koenig cresceu ainda mais, para se tornar um ícone da ficção científica, tendo um papel proeminente como Bester, em "Babylon 5", e agora dirigindo uma recriação teatral de "The Twilight Zone". Não poderia, portanto, haver oportunidade melhor para que o ator viesse ao Brasil para contar as novidades.

Trazido para participar de uma convenção do fã-clube paulista Frota Estelar Brasil, Koenig concedeu aos jornalistas uma entrevista coletiva um dia antes de sua aparição na convenção, no hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. O Trek Brasilis esteve por lá para conferir tudo que ele tinha a dizer sobre Jornada nas Estrelas, seu personagem e sua relação atribulada com William Shatner (James T. Kirk). O ator também comentou sobre sua recriação de "Twilight Zone" e sobre como a ficção científica influenciou em sua carreira.

Para concluir, Koenig conversou um pouco em particular com o TB, revelando detalhes de uma parceria criativa dele que é pouco conhecida, com ninguém menos que o criador de Jornada nas Estrelas, Gene Roddenberry. Confira trechos da entrevista.


 









 

 

    

 

 

 

 

 

 

 

 
Walter Koenig - Em nome de todo o elenco original de Jornada nas Estrelas, eu gostaria de agradecê-los por virem aqui hoje. Durante todos esses anos, minha experiência com Jornada foi muito gratificante, e algo surpreendente. Eu pensei, quando Jornada produziu novos "enterprises", por assim dizer, que nós, da produção original, seríamos esquecidos. Para minha grande surpresa, o sucesso de cada série que nos sucedeu parecia adicionar um lustro, um brilho, uma veneração ao seriado original. Em vez de sermos esquecidos, isso mudou nosso status e nos elevou para sermos os grandes sábios de Jornada nas Estrelas. E isso fez nossa existência muito mais viável do que teria sido se não houvesse outras séries a nos preceder. O que acontece é que cada vez que você desenvolve uma nova série, que o império de Jornada cresce, você precisa voltar às fundações. A fundação adquiriu um certo tipo de reverência --claro, a fundação sendo a série original. Então, tem sido muito surpreendente para mim que nós continuamos a ser... que a série original continua a ser uma entidade viável. E eu determinei, ao tentar explicar isso... Deus sabe, essa é pergunta que me fazem mais que qualquer outra, o que você conta para o sucesso de Jornada? E eu concluí que Jornada nas Estrelas é muito parecido com um empreendimento esportivo, em termos de relevância social. Você tem um time de futebol, um time de futebol do Brasil, que é tão incrivelmente bem-sucedido, e os jogadores se aposentam, são trocados, são vendidos, e novos jogadores vêm a bordo, e você ainda tem sua lealdade para com o time. Isso é realmente o que Jornada é. Nós trocamos times inteiros, mas ainda estamos sob a mesma bandeira de Jornada nas Estrelas. Então, com o fim da série original, veio a Nova Geração, e as pessoas que gostavam de Jornada em sua forma original abraçaram a Nova Geração e eles se tornaram o novo time. E assim progrediu com Deep Space Nine, Voyager e agora Enterprise. Isso é parte do mesmo franchise, do mesmo time, e se você gosta do original, você vai seguir todos esses que vieram depois. Esse é meu comentário sociológico sobre o sucesso de Jornada nas Estrelas.


Pergunta - Rick Berman disse há duas semanas que estudava a possibilidade de uma participação especial para atores de outras séries de Jornada nas Estrelas em Enterprise. Se você fosse convidado, aceitaria?

Koenig - Bem, eu acho que foi Shakespeare quem disse, "uma rosa é uma rosa é uma rosa". Um ator é um ator é um ator. E quando lhe é oferecido um papel que tem alguma substância e é propriamente remunerado por sua participação e contribuição, ele certamente consideraria interessante uma oferta de participar em um projeto de Jornada nas Estrelas. Como regra, não penso em Jornada nas Estrelas como sendo uma parte importante do meu futuro. Eu acho que é destrutivo, desmoralizante fazer isso, porque as possibilidades de eu estar envolvido com Jornada novamente são remotas. Eles estão procurando pessoas novas, caras novas, pessoas com quem a população mais jovem possa se identificar, e não sobraria nenhum papel para nós, cidadãos seniores. Apesar disso, se a oferta viesse e se eles dissessem que eu poderia interpretar outro personagem, além de Chekov, ou encontrassem um meio de levar Chekov a bordo, eu certamente alimentaria essa possibilidade, pela diversão. Uma oportunidade divertida de atuar. Primariamente pela oportunidade de atuar, secundariamente porque envolveria Jornada nas Estrelas. Mas, como eu disse, acho importante para o espírito, para o caráter, seguir em frente e não mergulhar no passado. Tenho projetos em que estou trabalhando que são apenas tangencialmente ligados a Jornada nas Estrelas, não primariamente. E outros que não têm nada a ver com Jornada. Esse é o modo que sinto que posso crescer como um artista e como um ser humano, encontrando novas aventuras. É o princípio de Jornada nas Estrelas afinal, não? Audaciosamente ir? Ainda estou tentando audaciosamente ir onde jamais estive. Eu já estive em Jornada nas Estrelas.


Pergunta - E o que você espera dessa convenção no Brasil?

Koenig - Eu espero me divertir muito. Eu tenho muito poucas experiências de convenção que não foram positivas, que não foram cheias de alegria, o entusiasmo dos fãs nunca cansa de me impressionar, e acho tão acalentador --é um bom sentimento sentir a afeição na sua direção-- gramática terrível. Eu ia dizer "amor", mas é um pouco excessivo, eu acho. Acabei de volta de Bonn, na Alemanha, e de Londres, Inglaterra, e a reação foi impressionante. Eu estive em Viena, estive na Inglaterra de nove a dez vezes, e o que todas as experiências me disseram é que, de um modo, em um modo periférico, a Jornada nas Estrelas de Gene Roddenberry foi atingida. As pessoas vão a essas convenções com todas essas etnias, culturas, raças, crenças religiosas, e com um sentimento de unificação de um harmonioso sentimento de fraternidade e amizade. Isso é o que Gene, claro, estava postulando como uma possibilidade para o futuro. E isso foi atingido, nessa pequena área de ida às convenções, e tem sido desse jeito pelos últimos 35 anos. Eu acho que é ótimo quando você encontra pessoas cuja língua você talvez nem entenda, mas você vê o mesmo brilho e o mesmo sentimento, e a mesma sensação de confraternização não apenas com o convidado, mas uns com os outros, como se eles tivessem todos algo em comum, e eles podem sentir essa sensação de unidade e camaradagem com base nisso. Eu sei que parece um pouco romântico e talvez até poético, mas é verdade. Isso é o que percebi. E é o que eu espero perceber em São Paulo também. Essa harmonia de pensamento, esse calor, esse sentimento receptivo, essa quase inocência, e essa falta do cinismo que marca tantos de nós, que vivemos em um mundo que é frequentemente hostil e ameaçador. Falar em convenções se tornou um oásis, um santuário e um lugar para substanciar sua crença de que o mundo é um lugar sobre o qual devemos nos sentir bem e tentar melhorar.


Pergunta - Qual a importância do seu personagem na série original?

Koenig - A relevância de Chekov na série pode ser definida nos termos da razão pela qual ele foi trazido para a série. Ele foi trazido para atrair aos "jovenes" (está certo isso? [perguntando ao tradutor] "Jovens?", é uma palavra diferente), dos oito aos quatorze anos, esse era o público que Chekov deveria atrair. Eles tinha forte apoio dos fãs entre outros grupos demográficos, certamente mulheres, jovens mulheres com o sr. Shatner, e mulheres de todas as idades com o sr. Spock, e os homens abraçariam as aventuras do capitão Kirk, do sr. Spock e dos outros caras. Mas eles queriam alguém que atraísse da mesma maneira que Dave Jones, dos Monkees, atraía suas fãs. De fato, esse é o tipo de cartas que eu recebia, eu recebia cartas em papel de carta, escritas a lápis, me dizendo o quanto eu era "uma brasa". E a coisa divertida é que eu era provavelmente dez anos mais velho que Dave Jones. Parece que é o contrário. Eles sempre procuraram uma versão mais nova de alguém, e acabaram ficando com uma mais velha. Nessa base, minha entrada foi um sucesso. E, porque eles também me envolveram em alguns romances ocasionais, eu era interessante para essas jovens. Muito menos significante, ou pareceu assim para mim na época, foi a influência política, a contribuição de Chekov ser um russo. Se Chekov tivesse sido um patriota agressivo, bombástico, com fortes lealdades que interferissem com seu trabalho na Enterprise, então eu diria que esse teria sido um papel audacioso, porque você teria o conflito de um russo linha-dura durante a Guerra Fria. Chekov era um ursinho de pelúcia, sabe, um bichinho de estimação. Ele começava como, "Oh, não é desse jeito que se faz na Rússia", mas ninguém levava ele a sério. De fato, minha correspondência reletia totalmente o fato de minha audiência não estar nem aí. Eles só diziam que o sotaque era bonitinho, mesmo que impreciso, e que era divertido tê-lo a bordo. Não sei de mais de um punhado de cartas, se tanto, protestando contra a inclusão de um russo durante esse período de tensões aumentadas entre nossos dois países, nossas duas sociedades. Então, eu não acho que ele fez um forte pronunciamento político. Eu acho que o propósito era realmente uma razão de marketing para trazê-lo a bordo. E foi bem-sucedida, bem efetiva. Eu recebi uma grande quantidade de cartas, particularmente durante minha primeira temporada, quando elas descobriram que eu era casado e não tinha 22, mas na verdade 31. O resultado foi exatamente o que o estúdio esperava.


Pergunta - Como você vê a sua relação com a ficção científica, tendo trabalhado em Jornada nas Estrelas, em "Babylon 5" e em outros projetos do gênero?

Koenig - Bem, ela certamente teve um papel dominante na minha vida. Realmente moldou os últimos 35 anos da minha carreira, não há como escapar. Mas de um jeito ou de outro, Jornada e "Babylon 5" e todo o âmbito da ficção científica foram muito influentes em como minha vida progrediu, quase tomando uma vida própria. Não é nada que tenha escolhido fazer, algo planejado, simplesmente aconteceu. Atualmente, por exemplo, estou dirigindo adaptações teatrais de dois episódios de "The Twilight Zone". Estamos fazendo em Los Angeles e deve ser muito bem-sucedida. Eles têm as pessoas que têm os direitos sobre todas as histórias de Rod Serling, as 90 e tantas que ele escreveu, e acho que eles pretendem fazer isso como uma atividade cult, onde as pessoas vão tarde da noite assistir às peças. De fato, os dois primeiros, os dois que eu dirigi, estão estreando este fim de semana. É a única coisa que lamento por estar aqui, é não poder estar lá para a estréia. Sim, é verdade que eles me abordaram por que me viram, eles haviam ouvido sobre minha direção em outros shows que não têm nada a ver com ficção científica (eu dirigi uma meia dúzia de peças em Los Angeles, "Terence Williams", acho que uma peça chamada "The Fastest Clock in the Universe", pelo menos meia dúzia, "Hotel Paradiso"), então eles sabiam que eu tinha alguma habilidade naquela área, mas, certamente, não podemos evitar a associação de que eu estive envolvido com Jornada nas Estrelas e estava dirigindo "Twilight Zone". A mídia imediatamente engoliu isso. Houve literalmente um artigo de três páginas no "Los Angeles Times" sobre esse projeto. Nunca teria saído, nunca teria sido um artigo de três páginas, se fosse algum outro dirigindo-o, talvez até mais especialista, mais experiente como diretor do que eu, mas não envolvido com Jornada nas Estrelas. Então, você vê, mesmo dessa maneira tangencial, tudo volta a Jornada mais vezes que não. Eu não tenho problemas com isso. Não sinto como se estivesse vivendo do passado quando chega a isso, como se fosse uma ameaça a meu senso de bem-estar, porque eu apenas usei isso como uma catapulta, e estamos fazendo outras coisas. E, certamente, dirigir "Twilight Zone", embora seja ficção científica, é uma experiência bem diferente da de atuar em Jornada nas Estrelas, e estou empolgadíssimo com isso. Aqueles roteiros não foram feitos para serem encenados em teatro, sempre iam para a televisão, então há um desafio que acho bem empolgante.


Pergunta - Esse elo com a ficção o prejudicou de algum modo?

Koenig - Eu adoraria ter tido uma carreira mais ampla e oportunidades de trabalhar no espectro total da condição humana e das circunstâncias e situações humanas. Isso foi muito abreviado pela forte associação que eu tenho com Jornada nas Estrelas. Por outro lado, estar envolvido com Jornada tornou possível que eu me mantivesse pelos últimos 35 anos. Tornou possível que minha pessoa e presença estivessem nas consciências, nas mentes das pessoas hoje. E isso, você sabe, mesmo nós sendo de outra era, ainda deixa aquele senso de viabilidade. O que é muito bom de ter, se sentir que não está nas últimas, que você não é a notícia de ontem. Nós somos as notícias de ontem, mas de algum modo eles continuam nos trazendo de volta, sabe?


Trek Brasilis - Walt, obrigado por estar aqui hoje e espero que não esteja tão bravo conosco por fazê-lo acordar tão cedo. Gostaria de fazer duas perguntas, ambas sobre as relações entre os atores na série original. (Koenig se segura na borda da mesa, numa posição como se estivesse se preparando para o impacto, arrancando risos da platéia.) A primeira é uma boazinha. Na série original vemos Chekov e Sulu como grandes amigos. Gostaria de saber se na vida real você e George Takei se dão tão bem quanto os personagens. E a segunda, como você pode adivinhar, é sobre o caso Bill Shatner. Gostaria de saber exatamente qual é a sua atual situação com William Shatner, porque todos sabemos que o elenco de apoio não se dá bem com o Bill, mas nos últimos anos ele disse estar disposto a se reconciliar com seu passado e superar as diferenças. Gostaria saber se a experiência em "Generations" e em tudo que veio depois mudou algo entre você e Shatner.

Koenig - Minha relação com George Takei é muito boa, é muito forte. George recentemente fez aniversário, e ele teve 20 pessoas em sua festa, e eu fui convidado para estar entre eles. Sua mãe morreu há duas ou três semanas, e eu fui convidado para o funeral. Então, nos bons e nos maus momentos, ele me considera um amigo e uma companhia com quem ele gostaria de dividir essas experiências, então me sinto feliz com isso e nos damos muito bem.
(Pausa, então ele olha com uma expressão desmemoriada.)
E quem era a outra pessoa de quem você estava falando? (A platéia cai na risada e aplaude.)
Você sabe, foi muito frustrante passar por aquilo, e vou tentar falar sobre isso. Foi muito frustrante. Você sabe, curiosamente, não foi frustrante para mim durante a série. Na série o sr. Shatner foi muito alegre e cheio de animação, e, sim, havia coisas acontecendo por trás daquilo, mas foi onde elas ficaram, sobre quão grande seu papel seria e quão grande o papel de Leonard seria, e essas coisas foram comentadas, mas eu nunca tive contato direto com isso. Então, ele, como nosso líder durante a série, manteve um clima bem leve nos sets. Foi agradável estar lá. Eu nunca o conheci muito bem, mas não tive qualquer problema com ele de que me lembre. Foi só quando começamos a fazer os filmes e sua responsabilidade ficou tão enorme. Quero dizer, o financiamento para esses filmes dependia do envolvimento dele, e do Leonard. Exceto que temos evidência de que eles teriam seguido em frente sem o Leonard, se ele não tivesse mudado de idéia e decidido fazer o primeiro filme. Mas certamente eles não iriam em frente sem o sr. Shatner. Então, acho que Bill começou a pensar que ele tinha uma responsabilidade com a série que era monumental, e sua contribuição para a série deveria ser de um mesmo tamanho, teria de refletir o que ele percebia como a importância dele para a série. Então, com isso em mente, que ele nunca discutia cenas no escritório do diretor, antes de filmarmos; ele pedia mudanças nas cenas durante as filmagens. Então, se havia uma única configuração para enfocar outro ator, Walter, ou George, ou Nichelle ou Jimmy, e Bill achava que havia outro modo de fazer, que seria igualmente bem-sucedido e razoável, mas que o colocaria como o principal ator, ele falaria com o diretor e eles mudariam as coisas para que ele se tornasse o principal na cena. Certamente ele já tinha cenas suficientes em que ele era o principal, mas ele queria todas, se pudesse tê-las. E isso causou muito ressentimento.
E ele dizia, "bem, qual é o problema, são só algumas palavras aqui, alguns ângulos de câmera", mas quando tudo que você tem são algumas palavras aqui e um ângulo de câmera ocasional como ator coadjuvante, então é difícil ignorar quando eles são tirados de você, e não pelo diretor ou pelo produtor, mas por outro ator, que determina qual vai ser o seu envolvimento na cena. Agora, essa é talvez a primeira premissa de atuar, de estar em uma companhia de atuação, de estar no teatro: o ator, um ator não dita o que vai acontecer com outro ator. Isso é a província exclusiva do diretor, é escolha do diretor --é por isso que ele é o diretor. Bill assumiu esse papel várias vezes em nosso detrimento. E ao longo do tempo isso construiu ressentimento. Eu nunca pensei que ele o fazia por capricho, nunca achei que ele fazia por amargura ou algo dessa natureza. Ele fazia porque... lhe servia bem. Não era para machucar ninguém. Não era para causar sofrimento a ninguém. Mas era como se colocar na posição de ator mais importante na tela o maior tempo possível. E essa foi realmente a base do problema que tivemos. É daí basicamente que tudo veio.
Agora, quando Leonard dirigiu, não tivemos esse problema. ELe não tentava, ou muito poucas vezes ele tentou convencer Leonard a retrabalhar uma cena para que ele estivesse na frente, principalmente, eu acho, porque eles discutiam de antemão --o que, se você vai fazer algo assim, é como deveria ser, não na presença dos outros atores. Agora, as coisas melhoraram?
Quando eu fiz "Generations", sabe, depois de todos aqueles filmes, meu estômago encolheu, porque eu não falava. E, como eu falava a Richard Arnold no caminho para cá no avião, minha raiva tem muito a ver com nada mais que meu próprio temor, minha intimidação, que me impediu de levantar e dizer: "Corta essa. Isso é bobagem." Sabe? "Respeite os outros atores." Eu não fiz isso, nem nenhum dos outros fez. Isso é a maior causa pela raiva residual que eu sinto, eu me culpo.
Claro, havia uma explicação razoável para eu não me erguer, que era "quanto poder o sr. Shatner tem?" Poderia ele dizer, "se Koenig fizer esse próximo filme, eu não vou fazê-lo." Poderia ele ter me colocado para fora? Sempre senti que isso era absolutamente possível. Eu não tinha evidências de que ele faria isso. Mas eu apenas juntei os fatos tais quais os conhecia. Ele era o cara da grana, ele era o líder, era essencial que ele estivesse lá eles tentariam fazê-lo feliz. E eu assumi que era possível que algo assim acontecesse. Independentemente disso, um homem corajoso não avalia todas as possibilidades e então recua porque logicamente não é a coisa certa a fazer. Um homem corajoso vai adiante e arrisca baseado em consciência, em caráter, em princípio --e eu nunca fiz isso. Então tenho de dizer que me culpo um bocado.
Quando fizemos "Generations" e quando fizemos "Star Trek [Starfleet] Academy", e "Generations" éramos só Bill, eu e Jimmy Doohan, e quando fizemos "Starfleet Academy", era só Bill, eu e George Takei, a relação mudou consideravelmente. ELe não sentia a mesma pressão, em nenhum desses projetos, de ser o cara principal. E ele estava muito mais fácil, muito mais acessível, fácil de trabalhar. Então, minhas duas últimas experiências profissionais com Bill foram agradáveis. Quando fomos fazer o "Academy", que é um videogame, entramos num ataque de risos igual duas criancinhas. Deveríamos estar prontos para fazer a cena e estávamos "heeheeheehee...", não conseguíamos parar de rir. Eu nunca poderia imaginar tendo esse tipo de relação com o Bill, então isso foi realmente bem agradável. Ele subsequentemente pediu que nos juntássemos a ele em um vídeo discutindo quais foram os problemas em Jornada nas Estrelas e o que nós pensávamos que havia dado errado, e eu preferi não fazer isso. Pessoalmente, eu não queria cavar aquilo tudo. Eu não queria realmente pensar sobre essas coisas a não ser quando me perguntassem, isso é passado. E não quero mergulhar nisso. E senti também que era, novamente, uma oportunidade para Bill sair como a vítima e o incompreendido, e eu não queria dar a ele essa oportunidade.




Trek Brasilis - Gostaria de perguntá-lo sobre sua experiência como escritor. Você escreveu um episódio da Série Animada, histórias em quadrinhos, livros. E você também foi parceiro literário de Gene Roddenberry no processo de novelização do roteiro que ele havia preparado para o primeiro filme, "The God Thing". Você poderia contar como isso acabou acontecendo?

Koenig - Como você sabe disso?

Trek Brasilis - Eu pesquiso um pouquinho, sabe.

Koenig - Na verdade, estou colocando-o em leilão. Uma cópia da sua primeira metade do livro e a minha segunda metade original. Isso vai a leilão na próxima semana ou duas. Nessa história, Gene ficou sabendo que eu escrevia, e --isso aconteceu depois... essa primeira idéia para o filme de Jornada foi morta pelo estúdio. O homem que era o chefe da diretoria se opunha a uma história que lidasse com religião de forma tão aberta, que falasse de Deus descendo na Terra. Então, ele matou a idéia, mas Gene não queria perder a história, então ele decidiu novelizar. E então, no meio do caminho, ele decidiu que não tinha tempo para terminar, e ele me deu para terminar. O que eu fiz, e ele gostou muito, e eu achei que ia ser publicado. A próxima coisa que ouço é que estavam cancelando a coisa toda, e não seria antes de vários anos que eu descobriria que foi porque a diretoria da Paramount tinha decidido seguir com outra de suas idéias para o primeiro filme de Jornada, e então acho que ele pensou que não precisava mais escrever aquela história. Então, eu fui pago por ela, mas nunca foi publicada.


Trek Brasilis - Você poderia fazer algumas conexões entre o roteiro não-publicado e o quinto filme de Jornada, "A Última Fronteira". Algumas pessoas dizem que muitas das idéias sobre religião daquele filme foram tiradas de "The God Thing"...

Koenig - Eu não vejo isso. Eu realmente não vejo nada disso. Eu acho que era mais como Jornada I, era mais como o que acabou ficando Jornada I. A idéia de uma coisa divina, que acaba sendo V'Ger. Foi realmente mais próximo da história original.


Trek Brasilis - Muito obrigado, Walter. Tenha uma boa passagem pelo Brasil.

Koenig - Muito obrigado.



Entrevista realizada em 14 de junho de 2002.