Walter Koenig - Em nome de
todo o elenco original de Jornada nas Estrelas, eu
gostaria de agradecê-los por virem aqui hoje. Durante todos
esses anos, minha experiência com Jornada foi muito
gratificante, e algo surpreendente. Eu pensei, quando Jornada
produziu novos "enterprises", por assim dizer, que nós,
da produção original, seríamos esquecidos. Para minha grande
surpresa, o sucesso de cada série que nos sucedeu parecia
adicionar um lustro, um brilho, uma veneração ao seriado
original. Em vez de sermos esquecidos, isso mudou nosso status e
nos elevou para sermos os grandes sábios de Jornada nas
Estrelas. E isso fez nossa existência muito mais viável do
que teria sido se não houvesse outras séries a nos preceder. O
que acontece é que cada vez que você desenvolve uma nova série,
que o império de Jornada cresce, você precisa voltar às
fundações. A fundação adquiriu um certo tipo de reverência
--claro, a fundação sendo a série original. Então, tem sido
muito surpreendente para mim que nós continuamos a ser... que a
série original continua a ser uma entidade viável. E eu
determinei, ao tentar explicar isso... Deus sabe, essa é
pergunta que me fazem mais que qualquer outra, o que você conta
para o sucesso de Jornada? E eu concluí que Jornada
nas Estrelas é muito parecido com um empreendimento
esportivo, em termos de relevância social. Você tem um time de
futebol, um time de futebol do Brasil, que é tão incrivelmente
bem-sucedido, e os jogadores se aposentam, são trocados, são
vendidos, e novos jogadores vêm a bordo, e você ainda tem sua
lealdade para com o time. Isso é realmente o que Jornada
é. Nós trocamos times inteiros, mas ainda estamos sob a mesma
bandeira de Jornada nas Estrelas. Então, com o fim da série
original, veio a Nova Geração, e as pessoas que
gostavam de Jornada em sua forma original abraçaram a Nova
Geração e eles se tornaram o novo time. E assim progrediu
com Deep Space Nine, Voyager e agora Enterprise.
Isso é parte do mesmo franchise, do mesmo time, e se você
gosta do original, você vai seguir todos esses que vieram
depois. Esse é meu comentário sociológico sobre o sucesso de Jornada
nas Estrelas.
Pergunta - Rick Berman disse há
duas semanas que estudava a possibilidade de uma participação
especial para atores de outras séries de Jornada nas
Estrelas em Enterprise. Se você fosse convidado,
aceitaria?
Koenig
- Bem, eu acho que foi Shakespeare quem disse, "uma rosa é
uma rosa é uma rosa". Um ator é um ator é um ator. E
quando lhe é oferecido um papel que tem alguma substância e é
propriamente remunerado por sua participação e contribuição,
ele certamente consideraria interessante uma oferta de
participar em um projeto de Jornada nas Estrelas. Como
regra, não penso em Jornada nas Estrelas como sendo uma
parte importante do meu futuro. Eu acho que é destrutivo,
desmoralizante fazer isso, porque as possibilidades de eu estar
envolvido com Jornada novamente são remotas. Eles estão
procurando pessoas novas, caras novas, pessoas com quem a população
mais jovem possa se identificar, e não sobraria nenhum papel
para nós, cidadãos seniores. Apesar disso, se a oferta viesse
e se eles dissessem que eu poderia interpretar outro personagem,
além de Chekov, ou encontrassem um meio de levar Chekov a
bordo, eu certamente alimentaria essa possibilidade, pela diversão.
Uma oportunidade divertida de atuar. Primariamente pela
oportunidade de atuar, secundariamente porque envolveria Jornada
nas Estrelas. Mas, como eu disse, acho importante para o espírito,
para o caráter, seguir em frente e não mergulhar no passado.
Tenho projetos em que estou trabalhando que são apenas
tangencialmente ligados a Jornada nas Estrelas, não
primariamente. E outros que não têm nada a ver com Jornada.
Esse é o modo que sinto que posso crescer como um artista e
como um ser humano, encontrando novas aventuras. É o princípio
de Jornada nas Estrelas afinal, não? Audaciosamente ir?
Ainda estou tentando audaciosamente ir onde jamais estive. Eu já
estive em Jornada nas Estrelas.
Pergunta - E o que você espera
dessa convenção no Brasil?
Koenig - Eu espero me divertir muito. Eu tenho muito
poucas experiências de convenção que não foram positivas,
que não foram cheias de alegria, o entusiasmo dos fãs nunca
cansa de me impressionar, e acho tão acalentador --é um bom
sentimento sentir a afeição na sua direção-- gramática terrível.
Eu ia dizer "amor", mas é um pouco excessivo, eu
acho. Acabei de volta de Bonn, na Alemanha, e de Londres,
Inglaterra, e a reação foi impressionante. Eu estive em Viena,
estive na Inglaterra de nove a dez vezes, e o que todas as
experiências me disseram é que, de um modo, em um modo periférico,
a Jornada nas Estrelas de Gene Roddenberry foi atingida.
As pessoas vão a essas convenções com todas essas etnias,
culturas, raças, crenças religiosas, e com um sentimento de
unificação de um harmonioso sentimento de fraternidade e
amizade. Isso é o que Gene, claro, estava postulando como uma
possibilidade para o futuro. E isso foi atingido, nessa pequena
área de ida às convenções, e tem sido desse jeito pelos últimos
35 anos. Eu acho que é ótimo quando você encontra pessoas
cuja língua você talvez nem entenda, mas você vê o mesmo
brilho e o mesmo sentimento, e a mesma sensação de
confraternização não apenas com o convidado, mas uns com os
outros, como se eles tivessem todos algo em comum, e eles podem
sentir essa sensação de unidade e camaradagem com base nisso.
Eu sei que parece um pouco romântico e talvez até poético,
mas é verdade. Isso é o que percebi. E é o que eu espero
perceber em São Paulo também. Essa harmonia de pensamento,
esse calor, esse sentimento receptivo, essa quase inocência, e
essa falta do cinismo que marca tantos de nós, que vivemos em
um mundo que é frequentemente hostil e ameaçador. Falar em
convenções se tornou um oásis, um santuário e um lugar para
substanciar sua crença de que o mundo é um lugar sobre o qual
devemos nos sentir bem e tentar melhorar.
Pergunta - Qual a importância do
seu personagem na série original?
Koenig
- A relevância de Chekov na série pode ser definida nos termos
da razão pela qual ele foi trazido para a série. Ele foi
trazido para atrair aos "jovenes" (está certo isso?
[perguntando ao tradutor] "Jovens?", é uma palavra
diferente), dos oito aos quatorze anos, esse era o público que
Chekov deveria atrair. Eles tinha forte apoio dos fãs entre
outros grupos demográficos, certamente mulheres, jovens
mulheres com o sr. Shatner, e mulheres de todas as idades com o
sr. Spock, e os homens abraçariam as aventuras do capitão Kirk,
do sr. Spock e dos outros caras. Mas eles queriam alguém que
atraísse da mesma maneira que Dave Jones, dos Monkees, atraía
suas fãs. De fato, esse é o tipo de cartas que eu recebia, eu
recebia cartas em papel de carta, escritas a lápis, me dizendo
o quanto eu era "uma brasa". E a coisa divertida é
que eu era provavelmente dez anos mais velho que Dave Jones.
Parece que é o contrário. Eles sempre procuraram uma versão
mais nova de alguém, e acabaram ficando com uma mais velha.
Nessa base, minha entrada foi um sucesso. E, porque eles também
me envolveram em alguns romances ocasionais, eu era interessante
para essas jovens. Muito menos significante, ou pareceu assim
para mim na época, foi a influência política, a contribuição
de Chekov ser um russo. Se Chekov tivesse sido um patriota
agressivo, bombástico, com fortes lealdades que interferissem
com seu trabalho na Enterprise, então eu diria que esse teria
sido um papel audacioso, porque você teria o conflito de um
russo linha-dura durante a Guerra Fria. Chekov era um ursinho de
pelúcia, sabe, um bichinho de estimação. Ele começava como,
"Oh, não é desse jeito que se faz na Rússia", mas
ninguém levava ele a sério. De fato, minha correspondência
reletia totalmente o fato de minha audiência não estar nem aí.
Eles só diziam que o sotaque era bonitinho, mesmo que
impreciso, e que era divertido tê-lo a bordo. Não sei de mais
de um punhado de cartas, se tanto, protestando contra a inclusão
de um russo durante esse período de tensões aumentadas entre
nossos dois países, nossas duas sociedades. Então, eu não
acho que ele fez um forte pronunciamento político. Eu acho que
o propósito era realmente uma razão de marketing para trazê-lo
a bordo. E foi bem-sucedida, bem efetiva. Eu recebi uma grande
quantidade de cartas, particularmente durante minha primeira
temporada, quando elas descobriram que eu era casado e não
tinha 22, mas na verdade 31. O resultado foi exatamente o que o
estúdio esperava.
Pergunta - Como você vê a sua
relação com a ficção científica, tendo trabalhado em Jornada
nas Estrelas, em "Babylon 5" e em outros projetos
do gênero?
Koenig - Bem, ela certamente teve um papel dominante na
minha vida. Realmente moldou os últimos 35 anos da minha
carreira, não há como escapar. Mas de um jeito ou de outro, Jornada
e "Babylon 5" e todo o âmbito da ficção científica
foram muito influentes em como minha vida progrediu, quase
tomando uma vida própria. Não é nada que tenha escolhido
fazer, algo planejado, simplesmente aconteceu. Atualmente, por
exemplo, estou dirigindo adaptações teatrais de dois episódios
de "The Twilight Zone". Estamos fazendo em Los Angeles
e deve ser muito bem-sucedida. Eles têm as pessoas que têm os
direitos sobre todas as histórias de Rod Serling, as 90 e
tantas que ele escreveu, e acho que eles pretendem fazer isso
como uma atividade cult, onde as pessoas vão tarde da noite
assistir às peças. De fato, os dois primeiros, os dois que eu
dirigi, estão estreando este fim de semana. É a única coisa
que lamento por estar aqui, é não poder estar lá para a estréia.
Sim, é verdade que eles me abordaram por que me viram, eles
haviam ouvido sobre minha direção em outros shows que não têm
nada a ver com ficção científica (eu dirigi uma meia dúzia
de peças em Los Angeles, "Terence Williams", acho que
uma peça chamada "The Fastest Clock in the Universe",
pelo menos meia dúzia, "Hotel Paradiso"), então eles
sabiam que eu tinha alguma habilidade naquela área, mas,
certamente, não podemos evitar a associação de que eu estive
envolvido com Jornada nas Estrelas e estava dirigindo
"Twilight Zone". A mídia imediatamente engoliu isso.
Houve literalmente um artigo de três páginas no "Los
Angeles Times" sobre esse projeto. Nunca teria saído,
nunca teria sido um artigo de três páginas, se fosse algum
outro dirigindo-o, talvez até mais especialista, mais
experiente como diretor do que eu, mas não envolvido com
Jornada nas Estrelas. Então, você vê, mesmo dessa maneira
tangencial, tudo volta a Jornada mais vezes que não. Eu
não tenho problemas com isso. Não sinto como se estivesse
vivendo do passado quando chega a isso, como se fosse uma ameaça
a meu senso de bem-estar, porque eu apenas usei isso como uma
catapulta, e estamos fazendo outras coisas. E, certamente,
dirigir "Twilight Zone", embora seja ficção científica,
é uma experiência bem diferente da de atuar em Jornada
nas Estrelas, e estou empolgadíssimo com isso. Aqueles roteiros
não foram feitos para serem encenados em teatro, sempre iam
para a televisão, então há um desafio que acho bem
empolgante.
Pergunta - Esse elo com a ficção
o prejudicou de algum modo?
Koenig - Eu adoraria ter tido uma carreira mais ampla e
oportunidades de trabalhar no espectro total da condição
humana e das circunstâncias e situações humanas. Isso foi
muito abreviado pela forte associação que eu tenho com
Jornada nas Estrelas. Por outro lado, estar envolvido com
Jornada tornou possível que eu me mantivesse pelos últimos
35 anos. Tornou possível que minha pessoa e presença
estivessem nas consciências, nas mentes das pessoas hoje. E
isso, você sabe, mesmo nós sendo de outra era, ainda deixa
aquele senso de viabilidade. O que é muito bom de ter, se
sentir que não está nas últimas, que você não é a notícia
de ontem. Nós somos as notícias de ontem, mas de algum modo
eles continuam nos trazendo de volta, sabe?
Trek Brasilis - Walt, obrigado por
estar aqui hoje e espero que não esteja tão bravo conosco por
fazê-lo acordar tão cedo. Gostaria de fazer duas perguntas,
ambas sobre as relações entre os atores na série original.
(Koenig se segura na borda da mesa, numa posição como se
estivesse se preparando para o impacto, arrancando risos da platéia.)
A primeira é uma boazinha. Na série
original vemos Chekov e Sulu como grandes amigos. Gostaria de
saber se na vida real você e George Takei se dão tão bem
quanto os personagens. E a segunda, como você pode adivinhar,
é sobre o caso Bill Shatner. Gostaria de saber exatamente qual
é a sua atual situação com William Shatner, porque todos
sabemos que o elenco de apoio não se dá bem com o Bill, mas
nos últimos anos ele disse estar disposto a se reconciliar com
seu passado e superar as diferenças. Gostaria saber se a experiência
em "Generations" e em tudo que veio depois
mudou algo entre você e Shatner.
Koenig - Minha relação com George Takei é muito boa,
é muito forte. George recentemente fez aniversário, e ele teve
20 pessoas em sua festa, e eu fui convidado para estar entre
eles. Sua mãe morreu há duas ou três semanas, e eu fui
convidado para o funeral. Então, nos bons e nos maus momentos,
ele me considera um amigo e uma companhia com quem ele gostaria
de dividir essas experiências, então me sinto feliz com isso e
nos damos muito bem.
(Pausa, então ele olha com uma expressão desmemoriada.)
E quem era a outra pessoa de quem você estava falando? (A platéia
cai na risada e aplaude.)
Você
sabe, foi muito frustrante passar por aquilo, e vou tentar falar
sobre isso. Foi muito frustrante. Você sabe, curiosamente, não
foi frustrante para mim durante a série. Na série o sr.
Shatner foi muito alegre e cheio de animação, e, sim, havia
coisas acontecendo por trás daquilo, mas foi onde elas ficaram,
sobre quão grande seu papel seria e quão grande o papel de
Leonard seria, e essas coisas foram comentadas, mas eu nunca
tive contato direto com isso. Então, ele, como nosso líder
durante a série, manteve um clima bem leve nos sets. Foi agradável
estar lá. Eu nunca o conheci muito bem, mas não tive qualquer
problema com ele de que me lembre. Foi só quando começamos a
fazer os filmes e sua responsabilidade ficou tão enorme. Quero
dizer, o financiamento para esses filmes dependia do
envolvimento dele, e do Leonard. Exceto que temos evidência de
que eles teriam seguido em frente sem o Leonard, se ele não
tivesse mudado de idéia e decidido fazer o primeiro filme. Mas
certamente eles não iriam em frente sem o sr. Shatner. Então,
acho que Bill começou a pensar que ele tinha uma
responsabilidade com a série que era monumental, e sua
contribuição para a série deveria ser de um mesmo tamanho,
teria de refletir o que ele percebia como a importância dele
para a série. Então, com isso em mente, que ele nunca discutia
cenas no escritório do diretor, antes de filmarmos; ele pedia
mudanças nas cenas durante as filmagens. Então, se havia uma
única configuração para enfocar outro ator, Walter, ou
George, ou Nichelle ou Jimmy, e Bill achava que havia outro modo
de fazer, que seria igualmente bem-sucedido e razoável, mas que
o colocaria como o principal ator, ele falaria com o diretor e
eles mudariam as coisas para que ele se tornasse o principal na
cena. Certamente ele já tinha cenas suficientes em que ele era
o principal, mas ele queria todas, se pudesse tê-las. E isso
causou muito ressentimento.
E ele dizia, "bem, qual é o problema, são só algumas
palavras aqui, alguns ângulos de câmera", mas quando tudo
que você tem são algumas palavras aqui e um ângulo de câmera
ocasional como ator coadjuvante, então é difícil ignorar
quando eles são tirados de você, e não pelo diretor ou pelo
produtor, mas por outro ator, que determina qual vai ser o seu
envolvimento na cena. Agora, essa é talvez a primeira premissa
de atuar, de estar em uma companhia de atuação, de estar no
teatro: o ator, um ator não dita o que vai acontecer com outro
ator. Isso é a província exclusiva do diretor, é escolha do
diretor --é por isso que ele é o diretor. Bill assumiu esse
papel várias vezes em nosso detrimento. E ao longo do tempo
isso construiu ressentimento. Eu nunca pensei que ele o fazia
por capricho, nunca achei que ele fazia por amargura ou algo
dessa natureza. Ele fazia porque... lhe servia bem. Não era
para machucar ninguém. Não era para causar sofrimento a ninguém.
Mas era como se colocar na posição de ator mais importante na
tela o maior tempo possível. E essa foi realmente a base do
problema que tivemos. É daí basicamente que tudo veio.
Agora, quando Leonard dirigiu, não tivemos esse problema. ELe não
tentava, ou muito poucas vezes ele tentou convencer Leonard a
retrabalhar uma cena para que ele estivesse na frente,
principalmente, eu acho, porque eles discutiam de antemão --o
que, se você vai fazer algo assim, é como deveria ser, não na
presença dos outros atores. Agora, as coisas melhoraram?
Quando eu fiz "Generations", sabe, depois de
todos aqueles filmes, meu estômago encolheu, porque eu não
falava. E, como eu falava a Richard Arnold no caminho para cá
no avião, minha raiva tem muito a ver com nada mais que meu próprio
temor, minha intimidação, que me impediu de levantar e dizer:
"Corta essa. Isso é bobagem." Sabe? "Respeite os
outros atores." Eu não fiz isso, nem nenhum dos outros
fez. Isso é a maior causa pela raiva residual que eu sinto, eu
me culpo.
Claro, havia uma explicação razoável para eu não me erguer,
que era "quanto poder o sr. Shatner tem?" Poderia ele
dizer, "se Koenig fizer esse próximo filme, eu não vou
fazê-lo." Poderia ele ter me colocado para fora? Sempre
senti que isso era absolutamente possível. Eu não tinha evidências
de que ele faria isso. Mas eu apenas juntei os fatos tais quais
os conhecia. Ele era o cara da grana, ele era o líder, era
essencial que ele estivesse lá eles tentariam fazê-lo feliz. E
eu assumi que era possível que algo assim acontecesse.
Independentemente disso, um homem corajoso não avalia todas as
possibilidades e então recua porque logicamente não é a coisa
certa a fazer. Um homem corajoso vai adiante e arrisca baseado
em consciência, em caráter, em princípio --e eu nunca fiz
isso. Então tenho de dizer que me culpo um bocado.
Quando fizemos "Generations" e quando fizemos
"Star Trek [Starfleet] Academy", e "Generations"
éramos só Bill, eu e Jimmy Doohan, e quando fizemos "Starfleet
Academy", era só Bill, eu e George Takei, a relação
mudou consideravelmente. ELe não sentia a mesma pressão, em
nenhum desses projetos, de ser o cara principal. E ele estava
muito mais fácil, muito mais acessível, fácil de trabalhar.
Então, minhas duas últimas experiências profissionais com
Bill foram agradáveis. Quando fomos fazer o "Academy",
que é um videogame, entramos num ataque de risos igual duas
criancinhas. Deveríamos estar prontos para fazer a cena e estávamos
"heeheeheehee...", não conseguíamos parar de rir. Eu
nunca poderia imaginar tendo esse tipo de relação com o Bill,
então isso foi realmente bem agradável. Ele subsequentemente
pediu que nos juntássemos a ele em um vídeo discutindo quais
foram os problemas em Jornada nas Estrelas e o que nós
pensávamos que havia dado errado, e eu preferi não fazer isso.
Pessoalmente, eu não queria cavar aquilo tudo. Eu não queria
realmente pensar sobre essas coisas a não ser quando me
perguntassem, isso é passado. E não quero mergulhar nisso. E
senti também que era, novamente, uma oportunidade para Bill
sair como a vítima e o incompreendido, e eu não queria dar a
ele essa oportunidade.
Trek Brasilis - Gostaria de perguntá-lo
sobre sua experiência como escritor. Você escreveu um episódio
da Série Animada, histórias em quadrinhos, livros. E
você também foi parceiro literário de Gene Roddenberry no
processo de novelização do roteiro que ele havia preparado
para o primeiro filme, "The God Thing". Você poderia
contar como isso acabou acontecendo?
Koenig - Como você sabe disso?
Trek Brasilis - Eu pesquiso um
pouquinho, sabe.
Koenig - Na verdade, estou colocando-o em leilão. Uma cópia
da sua primeira metade do livro e a minha segunda metade
original. Isso vai a leilão na próxima semana ou duas. Nessa
história, Gene ficou sabendo que eu escrevia, e --isso
aconteceu depois... essa primeira idéia para o filme de Jornada
foi morta pelo estúdio. O homem que era o chefe da diretoria se
opunha a uma história que lidasse com religião de forma tão
aberta, que falasse de Deus descendo na Terra. Então, ele matou
a idéia, mas Gene não queria perder a história, então ele
decidiu novelizar. E então, no meio do caminho, ele decidiu que
não tinha tempo para terminar, e ele me deu para terminar. O
que eu fiz, e ele gostou muito, e eu achei que ia ser publicado.
A próxima coisa que ouço é que estavam cancelando a coisa
toda, e não seria antes de vários anos que eu descobriria que
foi porque a diretoria da Paramount tinha decidido seguir com
outra de suas idéias para o primeiro filme de Jornada, e
então acho que ele pensou que não precisava mais escrever
aquela história. Então, eu fui pago por ela, mas nunca foi
publicada.
Trek Brasilis - Você poderia fazer
algumas conexões entre o roteiro não-publicado e o quinto
filme de Jornada, "A Última Fronteira".
Algumas pessoas dizem que muitas das idéias sobre religião
daquele filme foram tiradas de "The God Thing"...
Koenig - Eu não vejo isso. Eu realmente não vejo nada
disso. Eu acho que era mais como Jornada I, era mais como
o que acabou ficando Jornada I. A idéia de uma coisa
divina, que acaba sendo V'Ger. Foi realmente mais próximo da
história original.
Trek Brasilis - Muito obrigado,
Walter. Tenha uma boa passagem pelo Brasil.
Koenig - Muito obrigado.
Entrevista realizada em 14 de junho de 2002.
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