Dúvida da semana:
"Se o 'jogo' dos Xyrilianos precisa ser jogado a quatro mãos, como eles se masturbam?"
[Alegadamente dito por Jece Valadão, o maior "machão" do cinema brasileiro.]
Abanando o rabinho:
Apenas o esforço de Connor Trinneer salva o episódio de ser pior do que é. Ele faz o que pode para angariar a simpatia da audiência pela situação (absurda) que é forçada sobre o seu personagem, que recebe do roteiro o martírio de todo clichê possível e imaginável sobre gravidez. As idéias do roteiro são tão limitadas que aproveitam sem polimento todas as "piadas" típicas de uma gravidez feminina. Nenhuma idéia original ou criativa é trazida a bordo. Lamentável.
Levantando a perninha:
"Unexpected" ataca com um "high-concept" derivado de um filme
ruim de Arnold Schwarzenegger (que obviamente já não foi o primeiro do gênero) e consegue ser mais previsível (!) e menos sensível (!?) que o "original".
Com a total falta de originalidade e mesmo de ambição da premissa do episódio, a sua única redenção poderia vir na forma de uma execução competente, mas mesmo neste departamento a produção da série deixou a desejar. O visual dos Xyrilianos e do interior de sua nave é bastante ruim (apesar de alguns detalhes da direção de Mike Vejar enquanto Trip se adapta ao ambiente alienígena serem interessantes). Os atores convidados foram péssimos (além do material fornecido não ajudar em nada), e a maioria dos atores regulares de
Enterprise continua devendo melhores atuações (Scott Bakula que o diga).
Talvez o problema mais grave, dentre todos os problemas de execução, seja que, de alguma forma, o formato de quatro atos (ao contrário dos cinco atos, comuns a todos as séries modernas de
Jornada) de Enterprise tem tornado os episódios extremamente lentos. Este é primariamente um problema de escrita que a direção e a edição dos episódios podem, no máximo, minimizar.
(Os roteiros de Enterprise também têm cerca de 20% menos diálogo do que os das séries modernas anteriores de
Jornada, o que leva a um grande número de pausas na leitura dos atores e a bizarros momentos de completo silêncio dentro dos episódios.)
Desliguem os seus cérebros (talvez uma remoção seja até mais aconselhável) antes de assistir a este episódio. NADA aqui é para ser levado a sério (por outro lado, quase nada aqui tem graça, apesar da presença do "holodeck Xyriliano" e da "camuflagem Xyriliana" serem humor involuntário para uma temporada inteira). Não esperem debates sobre bestialismo, estupro, manipulação de menores, aborto, guarda de filhos, responsabilidades paternas etc. Aparentemente a dupla B&B acha que a audiência da série não está preparada para nada disto. Aparentemente eles acreditam que os espectadores estejam mais interessados em "Engenheiros grávidos com mamilos nos pulsos".
Como Porthos anteviu alguns meses atrás (quando as primeiras notícias sobre este episódio começaram a circular na internet), não se trata de uma real gravidez, mas sim de uma espécie de infestação parasítica (e apesar disso ser absolutamente claro, Phlox, o MÉDICO, PELO AMOR DE DEUS, dá os parabéns a Trip, só para acertar o tom do resto do episódio). Tal infestação parasítica é assemelhada a uma "gravidez" pelo roteiro, só para que possamos "brincar com os hormônios de Trip e rir DA CARA DO CAIPIRA PRENHO SÔ!". É incrível que Trip não tenha perguntado se esta era uma infestação "estilo Alien" em que a prole mata o hospedeiro ao nascer, apesar de tal omissão ser esperada de um típico episódio em que "nada significa coisa alguma".
(É extremamente conveniente que Phlox saiba exatamente o suficiente sobre os Xyrilianos para explicar a "gravidez" para a audiência e nada para tentar resolver a situação do engenheiro.)
Como diabos Trip vai saber alguma coisa sobre os motores de uma nave alienígena que ele nunca viu antes? Não seria mais prático e mais seguro se Trip tivesse usado uma roupa de contenção em vez de passar pelo ciclo de descompressão (e perdendo seis horas no processo)? Como diabos estes Xyrilianos não sabem sintetizar água? (Esta última vai para a história, como uma das maiores idiotices já apresentadas em um episódio de
Jornada.)
O visual dos Xyrilianos é tão infeliz quanto o dos Sulibans. Aqui temos uma variação de um "homem-peixe" de um típico "filme B", com direito a "comida crescendo nas paredes", "grama crescendo no chão" e "pedrinhas telepáticas". A reação de Ah'len ao saber do resultado do seu "encontro" com Trip -- "eu não sabia que isso poderia acontecer com outras espécies" -- coloca os Xyrilianos facilmente entre os mais estúpidos alienígenas da história de
Jornada, ao lado de pérolas como os Pakleds e os "seres batatinha" (TM) do episódio
"Tinker, Tenor, Doctor, Spy", de Voyager.
A dupla B&B introduziu um HOLODECK no QUINTO episódio da série (fica difícil levar um troço assim a sério) e o "tradutor universal invisível" voltou com força total nas cenas entre Trip e Ah'len. Com a introdução da "camuflagem Xyriliana", a dupla B&B chama formalmente Spock de ignorante (ver
"Balance of Terror", da Série Clássica) e acaba com o impacto (por exemplo) da aparição de uma nave Romulana camuflada no futuro.
A chegada dos Klingons mais caricatos (e talvez mais mal atuados) da história de
Jornada, só serviu para cumprir a "cota de ação da semana" (TM). Fazer da nave deles uma literal "D-7" foi outro mau passo dos
produtores. O fato de esses Klingons se interessarem pelo "holodeck" e não pelo "dispositivo de camuflagem" dos Xyrilianos, só faz atestar a limitação das suas faculdades intelectuais. O "eu posso ver a minha casa daqui", do comandante Klingon foi idiota, beirando a paródia involuntária.
Também, se os Klingons tivessem ficado com o "dispositivo de camuflagem", a dupla B&B teria sido crucificada por fazer de Archer e cia. os "benfeitores do Império" quanto à obtenção desta estratégica tecnologia. Braga e Berman se enrolaram tanto no episódio que tiveram que tornar os Klingons completos idiotas para cobrir a própria incompetência.
E, antes disto, é também ridículo que Archer e cia. não tivessem se interessado pelo "holodeck" e pela "camuflagem" em primeiro lugar. Especialmente se levarmos em consideração que os Sulibans possuem a
tecnologia de camuflagem.
As piadas que T'Pol tenta fazer com Trip estão mais relacionadas com o desejo da dupla B&B de reviver as rusgas entre Spock e McCoy de qualquer forma do que com qualquer noção de "lógica". Será que a dupla B&B não sabe que o humor tem que brotar da realidade, senão soa forçado?
Alguns anos atrás (e este é um caso largamente conhecido do público), Braga ridicularizou um jovem escritor que tentava vender uma história que era essencialmente a de
"Unexpected". O que mudou? Por que agora a
"gravidez-masculina-com- influência-alienígena" pode ser levada à produção?
Recomendação:
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