Bakula:
galgando as escada do poder?
Pelo
clima que está sendo criado em torno de Enterprise para
seu lançamento, ninguém ousa dizer que a série não será um
sucesso. Nela vão as esperanças de sobrevivência de um
franchise de 35 anos por mais pelo menos sete anos. Não é pouca
responsabilidade.
Rick
Berman e Brannon Braga sofreram intensos ataques de dentro e de
fora de sua equipe enquanto produziam Voyager, seriado que
deu a Jornada nas Estrelas um aspecto "menor", se
comparado ao sucesso de público obtido por A Nova Geração
e o de crítica alcançado por Deep Space Nine. A dupla de
produtores-executivos precisava transmitir uma imagem de
rompimento com o status quo em Enterprise. "Ei, olhem
para nós, dessa vez vai ser diferente!", diziam eles ao público.
Várias atitudes vindas da altas esferas da produção tentaram
imprimir essa nova característica à série, incluindo a mudança
de visual, de século, de personagens, de trilha sonora, de
abertura etc. Mas provavelmente a cartada mais forte da Paramount
para deixar Enterprise em boa situação com o público e
com a imprensa foi a contratação de Scott Bakula para
protagonista da série, interpretando o capitão Jonathan Archer.
A
presença de Bakula traz vários pontos para a nova produção.
Entre os mais óbvios estão o sucesso que o ator faz com o público
feminino (sempre bem inferior ao masculino em se tratando de Jornada
nas Estrelas) e a sinalização por parte dos produtores de
que eles estão dispostos a contratar grandes atores para sua série.
Mas Bakula está muito longe de ser apenas uma peça publicitária
para o franchise.
O ator já demonstrou, ao longo das várias entrevistas que deu
antes da estréia da série, que só aceitou o papel após se
certificar de que seria algo especial --o que por si só já
demonstra que Bakula não ficará apenas sentado deixando os
roteiristas escreverem o que quiserem. Ele deve participar
ativamente, vetando, aprovando e sugerindo idéias para
incrementar a série.
A liderança de Bakula fora das câmeras é ecoada por todos os
outros atores do elenco. Todos eles são unânimes em dizer que o
ex-Leaper traz grande senso de companheirismo, união e clima
amistoso para toda a equipe. John Billingsley chegou a relatar o
entusiasmo de Bakula para obter a melhor tomada enquanto vestia
sua roupa de astronauta, mesmo quando custaria a ele um tremendo
sacrifício físico. "Vamos fazer de novo, acho que posso
sacar minha pistola um pouco mais devagar", disse Bakula na
ocasião ao diretor.
E
por falar em direção, o próprio ator já admitiu que teria
interesse em dirigir episódios da série futuramente, embora
nesta primeira temporada esteja querendo apenas se concentrar em
seu personagem. Bakula demonstra um grande respeito por Rick
Berman e Brannon Braga, pessoas que se mostraram totalmente
abertas para ouvi-lo. Não soa como uma relação patrão-empregado,
mas muito mais como um clima de sociedade.
Claramente, ao longo da série, Bakula se tornará cada vez mais
importante no contexto da produção. Ele está começando como
protagonista dedicado e promotor principal da série junto à
imprensa e ao público, mas já dá mostras de que não irá parar
por aí.
Em contrapartida, Berman e Braga estão visivelmente cansados de
Jornada nas Estrelas. Aparentemente a nova ambientação de Enterprise
deu aos dois sangue novo, mas é incerto que eles permaneçam com
esse mesmo ânimo pelos próximos anos. Por conta disso, não é
um disparate pensar que a Paramount precisará, mais cedo ou mais
tarde, de novos chefões para o franchise.
Normalmente eles viriam da própria equipe criativa da série, ou
seja, dos roteiristas. Foi assim que Brannon Braga, e antes dele,
Michael Piller, Jeri Taylor, Ira Steven Behr e Kenneth Biller
subiram pelos escalões do poder no franchise. Mas não é impensável
a possibilidade de desta vez o posto estar sendo sutilmente
passado a Scott Bakula.
Carisma juntos aos fãs ele tem de sobra, e será muito difícil
que ele perca isso nos próximos anos. Conhecimento prévio de ficção
científica também não lhe falta, depois de cinco temporadas de
"Quantum Leap" e uma possível preparação durante as
primeiras temporadas de Enterprise. Capacidade criativa e
senso de liderança não farecem lhe faltar. Seria Bakula o
sucessor de Rick Berman no comando do franchise?
Ninguém sabe se e quando Berman deixará seu trono, e se Braga
acabará ficando por mais tempo no franchise, mas todos podem
estar certos que Bakula é ao menos um candidato. E um que
apresenta a seus oponentes uma grande vantagem --ele não poderá
ser simplesmente eliminado da série, como poderia ser feito com
um roteirista qualquer. Isso traria o risco de alienar os fãs e
levar o programa ao fracasso.
Os trunfos ele tem. Resta saber se também há a ambição e a
vontade. Só o tempo dirá.
Salvador
Nogueira, jornalista, escreve regularmente
sobre
a nova série de Jornada nas Estrelas para o Trek
Brasilis
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