Resolvi tocar em um número de questões polêmicas
relacionadas a Deep Space Nine, muitas das quais envolvendo
os bastidores da série. Compilei algumas dentre as mais
tradicionais e contei com a contribuição dos participantes do Fórum
do Trek Brasilis para, com as sugestões deles, direcionar
o conjunto de questões a nossa comunidade de visitantes. Não
tomei grandes cuidados em camuflar eventuais spoilers ou localizar
claramente todos os fatos no contexto da série. Quaisquer dúvidas,
é só perguntar.
O
formato final foi o de "entrevista", onde decidi incluir
também alguns rumores não-confirmados, sempre esclarecendo o que
é rumor e o que é fato. E, por falar em polêmica, vamos começar
com perguntas relacionadas a Avery Brooks e ao seu alter-ego,
Benjamin Sisko.
De quem foi a idéia de termos um
protagonista negro em uma série de Jornada?
A idéia brotou dos criadores da série (Rick Berman e Michael
Piller). Em sua gênese, foi mais uma forma de diferenciar DS9
de A Nova Geração do que de apresentar alguma espécie de
"mensagem". Simplesmente um diferente enfoque, assim
como foi a idéia da utilização de uma base em um planeta como
centro de operações para a série, idéia que acabou, por
inviabilidade orçamentária, indo desaguar no conceito de uma
estação espacial.
Os executivos da Paramount nunca estiveram "totalmente
satisfeitos" com a idéia de um protagonista negro e durante
o processo da escolha do ator, eles sempre repetiam a instrução
para que Berman e Piller mantivessem "as suas mentes
abertas" (os executivos tiveram o mesmo tipo de atitude, só
que em relação ao sexo, quando da escolha da atriz para o papel
de Janeway, por parte de Berman, Piller e Jeri Taylor). De fato,
Berman, muita impressionado pela atuação de Siddig El Fadil no
filme "A Dangerous Man: Lawrence After Arabia", o chamou
para um teste. Mas, sem a barba que ele usou no filme, Berman
percebeu que ele era muito jovem para o papel. Daí Siddig acabou
como Bashir.
Phil Morris (bem conhecido por uma infinidade de papéis em Jornada
nas Estrelas e particularmente visível aos brasileiros pelo
seu papel de especialista em eletrônica na última versão
televisiva de "Mission: Impossible", na mesma função
que o seu pai, o falecido Greg Morris, ocupou na versão original
daquela série) e Carl Weathers (bem conhecido dos brasileiros
pelo seu papel de Apollo Creed na série de filmes "Rocky",
com Silvester Stallone) também leram o papel.
Existem certos boatos (que eu nunca consegui confirmar) que dois
outros favoritos de Berman também leram o papel: Tony Todd (que
na época já havia feito o irmão de Worf, Kurn, na Nova Geração)
e Tim Russ (que depois ganharia o papel de Tuvok em Voyager).
Existe um outro rumor de que certos executivos da Paramount não
se importariam se "este protagonista negro" fosse
interpretado por James Earl Jones. O nome de Jones também veio à
tona como um possível substituto para Patrick Stewart, se Picard
não "pudesse" se libertar do domínio da coletividade
Borg, como mostrado em "The Best of Both Worlds".
Avery acabou com o papel de Sisko, mas como comandante, com
cabelo, sem barba e com atuações extremamente contidas.
Aparentemente foi decidido (essencialmente pelo estúdio) que ele
seria um "comandante", não um "capitão" (exatamente
"por que" vai ser sempre um mistério). Ele não poderia
ficar careca, pois aí iria parecer com Picard, e também não
poderia ficar careca com cavanhaque (visual do seu conhecido
personagem "Hawk" e visual natural do ator), pois era um
visual "muito ameaçador", segundo o estúdio. A
Paramount também estipulou que Brooks teria que conter bastante
os seus "maneirismos".
Coincidência
ou não, logo no primeiro episódio sem o nome de Michael Piller
nos créditos como produtor-executivo (ele passou a ser consultor
da série, deixando Ira Steve Behr como responsável direto pelo
programa), "Explorers" (da terceira temporada),
Sisko já usava uma barba (postiça). Ao final daquela temporada
(em "The Adversary"), Sisko era promovido a capitão
e no primeiro episódio da quarta temporada ("The Way of
the Warrior") lá estava ele, careca e de cavanhaque,
"espanando cenário" sempre que a situação exigia, daí
até o fim da série.
No hiato entre a primeira e a segunda temporada, houve um boato
forte que de fato o estúdio queria Brooks fora da série (eles
trariam então um "capitão de verdade" para substituir
o "comandante Sisko"). Esse boato foi tão forte que
acabou sendo tratado em uma polêmica entrevista concedida por
Berman a Michael Logan, jornalista da revista "TV Guide".
Logan tentou de todo jeito "encurralar" Berman, mas o
produtor conseguiu se esquivar.
E mais: o estúdio teve também algumas restrições com a escolha
de René Auberjonois para o papel de Odo. Eles achavam o ator
muito velho e que o personagem acabaria ficando muito parecido com
o personagem do ator na série "Benson", Clayton
Endicott III. Tais dúvidas se dissiparam rapidamente.
Mais algumas verdades sobre Brooks:
Brooks inicialmente teve a preocupação de colocar Sisko de uma
forma distante dos seus comandados, como oficiais comandantes da
"vida real" fazem. Uma atitude bem profissional, que ele
sempre fez questão de manter e defender.
Brooks nunca se considerou a "estrela do espetáculo",
sempre defendendo boas histórias para os outros atores e
desenvolvimento de todos os personagens, inclusive os recorrentes,
como Garak.
Brooks sempre defendeu os atores que procuravam trabalho fora da série.
Freqüentemente "botava o dele na reta" por esse motivo
(várias vezes por Colm Meaney), chegando a se indispor com Berman
por causa disto. Esse tipo de atitude de Brooks foi diretamente
responsável pela permanência de Meaney na série.
Qual é a verdade sobre a
"morte" de Sisko?
Existe uma enorme discussão dentro do fandom de Jornada
sobre quem (dentre os produtores da série) queria
"matar" ou "não matar" Sisko ao final da série
e quais seriam os "motivos ocultos" de cada parte
envolvida. Eu não vejo motivo para tanto alvoroço e nem base
para isso.
Que Sisko ia "transcender" ao final de "What You
Leave Behind" (último episódio da série), eu já sabia
desde o piloto ("Emissary"), pois é isso que os
"Emissários" (e equivalentes) fazem, ao final de suas
histórias. Brooks é que tinha um certo problema com o fato de
Sisko deixar a sua segunda esposa (Kassidy Yates) esperando o
segundo filho dele, um óbvio estereótipo racial para a
comunidade negra. Com uma pequena mudança de diálogo (que, com a
ajuda do conceito de "não-linearidade" da existência
dos Profetas, garantia o retorno de Sisko), isso foi resolvido
para a satisfação de todos.
Se Sisko não conseguisse se desapegar da sua existência corpórea,
ele não iria conhecer "nada além de mágoa" em sua
nova vida com os Profetas, outro elemento recorrente em grandes épicos.
Quando Sisko se despede de Kassidy, ele está muito mais distante,
como se de fato a própria natureza de sua existência tivesse
mudado.
O fato de Sisko não dizer adeus ao seu filho, pode ser
racionalizado como uma preocupação por parte do capitão em não
dar início a alguma espécie de obsessão em Jake, como sugerido
em "The Visitor". Para falar a verdade, existem vários
"ecos" de "The Visitor" em "What
You Leave Behind".
O fato de a Fenda Espacial se abrir, na cena final de "What
You Leave Behind", sem a passagem de nenhuma nave, também
é um belo toque.
(Antes de responder às duas próximas questões, devo lembrar que
todas as decisões executivas de uma série de TV visam sempre
melhorar a sua audiência. A principal preocupação é: não
trocar qualidade por audiência fácil e respeitar o seu público.)
Por que foi introduzida a Defiant (no
primeiro episódio da terceira temporada, "The Search, Part
I")?
O recente e excelente artigo do Fernando
Penteriche sobre a Defiant toma o grosso desta questão. Só
gostaria de acrescentar o seguinte:
A Defiant não foi introduzida para termos episódios do estilo
"tradicional" de Jornada, ela foi trazida para a
série para que tais episódios (que já estavam sendo feitos de
qualquer forma) como "Shadowplay"
(da segunda temporada) pudessem ser feitos de uma forma mais
consistente. A idéia da introdução da Defiant data de meados da
segunda temporada.
A nave tem uma história pregressa muito interessante (que serve
para enriquecer o personagem de Sisko, que se apresenta como um
brilhante engenheiro, o primeiro capitão em tela a projetar e
ajudar na construção da própria nave) e acaba sendo introduzida
no momento certo, logo após a destruição da Odyssey, o que
clamava por uma manobra mais radical por parte do Comando da Frota
Estelar.
Como muita coisa em DS9, a Defiant é muito diferente de
tudo que foi visto em Jornada antes (não tem naceles e
possui um dispositivo de camuflagem, além dos seus interiores
lembrarem os de um submarino) e presta algum tipo de homenagem à Série
Clássica (a placa de identificação da Defiant traz a famosa
fala de Kirk, "Tudo que eu peço é uma grande nave e uma
estrela para me guiar").
Ira Steven Behr ficou furioso porque no filme "Primeiro
Contato" a Defiant (que foi projetada para lutar contra
os Borgs) aparece toda avariada em tela. A fala de Will Riker
sobre a "navezinha valente" foi idéia de Behr.
A Guerra Dominion como conceito já existia (na cabeça dos
produtores) desde pelo menos o episódio duplo "Improbable
Cause/The Die is Cast", da terceira temporada. Se
não fosse pela entrada de Worf e a crise com os Klingons, a
guerra provavelmente teria sido iniciada antes do que foi (no último
episódio da quinta temporada, "Call to Arms").
Por que Worf se juntou ao elenco da DS9
(no primeiro episódio da quarta temporada, "The Way of the
Warrior")?
Os
executivos da Paramount pediram, em uma reunião com os produtores
de DS9 antes do início da quarta temporada, por um
elemento que viesse a trazer fãs antigos para a série (mas eles
não disseram absolutamente nada sobre qual elemento seria este --que
é a postura-padrão dos executivos do estúdio nessas reuniões).
A Paramount iria vender os direitos das reprises em syndication
(cinco vezes por semana) ao final da quarta temporada e queria
"reenergizar" a série para conseguir um melhor preço
no mercado.
Ira Behr foi para casa para tentar racionalizar o pedido em algo
que fosse possível e criativamente interessante e consistente com
a série até então. Ele então se lembrou de uma fala de um
Fundador (posando como um comandante Romulano), no episódio "The
Die is Cast", da terceira temporada, que dizia que, após
aquele momento, as únicas forças que poderiam fazer frente ao
Dominion no quadrante Alfa eram a Federação e o Império Klingon,
e mesmo essas duas forças não o seriam por muito tempo. Ira
achou que deveria dar prosseguimento a essa ameaça. Ronald D.
Moore gostou da idéia e sugeriu o nome de Worf. Behr foi meio cético
no início, mas acabou gostando da idéia. Berman ficou contente
com a idéia, e os executivos também, tanto que autorizaram um orçamento
extra, dando ares de um virtual segundo piloto para o episódio
duplo "The Way of the Warrior".
Alguns especularam que DS9 iria se transformar na "série
do comandante Worf", o que nem de longe aconteceu.
Alguns especularam que DS9 se transformaria em uma série
de ação descerebrada (o que "The Way of the Warrior"
não é de forma alguma, para começo de conversa). A exibição
logo em seguida de "The Visitor" calou
imediatamente tal preocupação.
Toda a verdade sobre os acontecimentos de "The Way of the
Warrior" só viria a tona no primeiro episódio da quinta
temporada, "Apocalypse Rising".
Existe um real problema entre Berman e
Ira Steven Behr?
Berman ajudou a criar a série e foi sempre o responsável pelo
programa perante a Paramount (o homem sempre teve a última
palavra), fazendo uma ponte entre o estúdio e a equipe de
produtores-roteiristas. Mas de forma alguma a série é a sua visão.
Berman sempre esteve envolvido em todo o processo, mas usualmente
no contexto de uma pessoa que discute opções postas a mesa e não
de quem as propõe.
A partir da quarta temporada de DS9, com a confirmação
das vendas das reprises em syndication, os executivos da Paramount
(satisfeitos) começaram a "dar um refresco" a Berman,
que aproveitou para deixar Behr mais à vontade com DS9 e
começou a se concentrar em Voyager (devido à crescente
pressão por parte da rede UPN). Daí que Berman começou a se
aproximar de Voyager e se afastar de DS9. Uma
contingência estritamente comercial, mas que foi benéfica,
criativamente falando, para DS9.
Em se aproximando de Voyager, Berman acabou se aproximando
cada vez mais de um ambicioso Brannon Braga, que viu aí a sua
chance de fazer definitivamente o seu nome no franchise e criar
uma série, a quinta da marca, agora conhecida como Enterprise.
DS9
(no melhor e no pior) é a visão de Ira Steven Behr. Ira sempre
fez a consciente decisão de produzir uma ótima série para um
reduzido número de pessoas em vez de produzir uma "boa série"
para um grande público. Ele teve bastante liberdade do estúdio
para fazer o que ele fez. Obviamente ele precisou ter "muito
jogo de cintura" em certas ocasiões, especialmente para
serializar a série, algo que o estúdio sempre se mostrou contra
(por que normalmente as reprises em syndication são exibidas fora
de ordem).
E mais: Braga (após a sexta temporada de A Nova Geração)
teve uma oferta para a segunda temporada de DS9, que ele
recusou (graças a Deus!). Por outro lado, René Echevarria (após
o final de A Nova Geração) quase foi parar em Voyager
em sua primeira temporada, por lealdade a Jeri Taylor. Felizmente
Piller o convenceu a ir para DS9 em sua terceira temporada.
Por que a equipe de produtores e
roteiristas da série saiu do franchise após a conclusão da série?
Após a saída de Piller os roteiristas começaram a se afastar
cada vez mais de Berman (ou vice-versa) e, daí, de uma chance em
novos projetos de Jornada. Simples assim. Acredito que
tenha sido melhor para todos eles, como a conturbada passagem de
Ronald D. Moore pela produção de Voyager, no começo da
sexta temporada da série, veio a demonstrar.
Existe um real problema entre Berman e o
elenco de DS9?
Este
é um boato que retorna de tempos em tempos. Parece existir de
fato alguma espécie de mal-estar ou de ressentimento de alguns
dos atores com relação a Berman. Mas os reais motivos dessa
problemática nunca vieram à tona e "quando vieram"
pareciam mais coisas saídas de algum livro sobre "conspirações
secretas".
Um dos meus boatos favoritos sobre o assunto é de que o episódio
"Far Beyond the Stars" (da sexta temporada da série)
aproveita em sua história informações dos bastidores da produção
da série. Isso é só especulação, mas será que tem algum
fundo de verdade? Dificilmente iremos saber.
Como é o relacionamento entre os
produtores-roteiristas da série?
Ira Behr deu o primeiro emprego profissional como roteirista a
Hans Beimler (que se juntou a DS9 na quarta temporada), na
série "Fame", e a Robert Hewitt Wolfe, na primeira
temporada de DS9. Behr se tornou uma espécie de mentor de
ambos e foi parceiro de escrita de Wolfe nas primeiras cinco
temporadas e de Beimler nas duas últimas de DS9.
Behr
também deu a sua opinião positiva quando Ronald D. Moore foi
contratado na terceira temporada da Nova Geração e tentou
contratar René Echevarria também, na mesma época (o que não
aconteceu, pois Echevarria permaneceu como free-lancer até a
quinta temporada). Cabe lembrar que Behr só participou da Nova
Geração em sua terceira temporada e deixou a série alegando
que "esta não é a série pra mim" e foi a primeira
pessoa lembrada por Michael Piller quando o conceito de DS9
começou a tomar forma.
Nunca
houve nenhum problema grave entre os roteiristas da série. Peter
Allan Fields e James Crocker deixaram a série ao final da segunda
temporada sem nenhum atrito, sendo que o primeiro chegou a
escrever episódios como free-lancer em temporadas posteriores da
série. Michael Piller deixou a série nas mãos de Behr ao final
da terceira temporada, também de uma forma bastante natural (como
criador da série ele se tornou consultor criativo de DS9).
Robert Hewitt Wolfe deixou a série amigavelmente ao final da
quinta temporada e continuou a assistir, chegando a escrever mais
um episódio como free-lancer.
René, Ron, Ira, Hans e Robert se mantêm em contato
constantemente e realmente gostam da companhia um do outro. Isso
era mostrado na tela, nos episódios de DS9.
Como é o relacionamento entre os atores
da série?
A maioria dos atores de DS9 tem uma postura profissional
extremamente séria e concentrada, dando um ar muito mais sério
aos dias de filmagem em DS9 do que aquele das outras séries
de Jornada. O que algumas pessoas confundem (erradamente)
com uma atmosfera ruim de trabalho.
Os relacionamentos mais fortes entre os atores são similares aos
relacionamentos mais fortes entre os personagens. Brooks
praticamente adotou Lofton e foi uma espécie de mentor para
Farrell. Auberjonois e Shimerman são grandes amigos, idem para El
Fadil e Meaney e a "inseparável família Ferengi":
Shimerman, Grodénchik, Eisenberg, Masterson e mesmo Lolita Fatjo
(a responsável pela pré-produção da série e namorada de Grodénchik).
Isso sem falar na amizade entre Visitor e El Fadil, que acabou até
em casamento, e em outras amizades perenes.
É verdade que os atores de DS9 e da Nova
Geração não se davam bem?
Eu ouvi falar que o ator que interpreta o Worf em A Nova Geração
não suporta o ator que faz o Worf em DS9. Em outras
palavras: NÃO! Simplesmente uma fofoca maldosa.
A lenda que relata o fato que alguns
conceitos empregados em DS9 consistiram de "apropriação indébita"
de algumas idéias e conceitos do J.M. Straczynski (que havia
oferecido "Babylon 5" à Paramount algum tempo antes da
estréia do show) procede ou é puro folclore?
Eu vou guardar toda esta discussão DS9 versus "B5" para
um artigo especial em 2002. Quero adiantar que sou fã das duas séries
e elas fazem muita falta no mundo SCIFI televisivo. As duas séries
são bastante diferentes.
Só vou fazer uma correção sobre uma coisa que foi postada no Fórum
do TB recentemente. O piloto de "B5" ("The
Gathering") estreou em 22 de fevereiro de 1993, o de DS9
("Emissary") em 4 de janeiro de 1993 (mais de 45
dias antes). O primeiro episódio regular de "B5"
("Midnight on the Firing Line") estreou em 26 de janeiro
de 1994, já no curso da metade da segunda temporada de DS9.
DS9 foi a única série de Jornada que
nunca ficou uma temporada sequer sozinha no ar, ou seja, sem a
interferência de suas irmãs. Isso foi um fator decisivo na audiência?
Não sei se foi um fator decisivo, mas sem dúvida afetou a
popularização da série. Ela ficou meio que espremida entre A
Nova Geração e Voyager, como uma espécie de "filha-do-meio"
do franchise. Isso também afetou o número de prêmios e indicações
recebidos pela série.
Houve algum ator de A Nova Geração além
de Michael Dorn cogitado para atuar de forma regular na série?
Tivemos um grande número de especulações, mas nada de concreto.
No final da série, em 1999, havia aquele
sentimento de que se havia feito uma obra hermética, sem qualquer
perspectiva de continuação sob a forma de telefilmes ou no
cinema?
A série acabou com um pensamento uniforme por parte de todos os
envolvidos de que, a menos dos livros, aquele era o final da história
de Terok Nor. Em uma nota pessoal, eu espero que assim seja para
sempre.
Terry Farrell saiu da série ao final da
sexta temporada por quê? Questão salarial, desavenças com o
resto do elenco ou vontade de ter novos desafios na carreira de
atriz?
Quando Worf foi trazido a bordo, foi natural utilizar o passado de
Dax com os Klingons e construir um relacionamento entre os dois.
Farrell sempre viu isso com bons olhos e o tal relacionamento
levou ao casamento dos personagens (em "You are Cordially
Invited", da sexta temporada).
Porém um efeito colateral é que Jadzia acabou se tornando cada
vez mais uma companheira de aventura para Worf do que uma
personagem por si. Não me entendam mal, ela teve bastante tempo
de tela, mesmo após a entrada de Worf, só que o último episódio
realmente orientado a personagem (ou melhor, ao lado Trill da
personagem) foi "Rejoined", da quarta temporada.
Isso era uma coisa que incomodava Farrell.
Após seis temporadas, os contratos dos atores chegaram ao fim e
uma renovação era necessária para a sétima e última temporada
da série. Farrell não chegou a um acordo e foi a única a deixar
o programa. Daí, ela ajudou a formar o elenco de apoio da popular
série "Becker", essencialmente um projeto
"solo" de Ted Danson. Recentemente, Farrell e o resto do
elenco de apoio fizeram uma "greve branca" para forçar
uma renovação de salários mais vantajosa (curiosamente a série
"Becker" também é produzida pela Paramount). Sua ida
para "Becker" não teve um grande impacto em sua
carreira cinematográfica (na época de sua saída de DS9,
se especulava que ela poderia fazer o papel da Mulher Maravilha no
cinema --um boato que nunca se tornou realidade).
Os produtores usaram a voz de Farrell (falas antigas de Jadzia) no
episódio "Penumbra", algo que a Paramount não
acordou com a atriz, deixando-a bastante zangada. Por isso não
temos nenhuma cena com Jadzia na montagem final da série em "What
You Leave Behind". Cabe esclarecer que esse problema foi
entre Farrell e os executivos da Paramount, que deram luz verde
para os produtores usarem tais falas. Farrell esteve na festa de
encerramento de DS9, muito contente e falando muito bem da
série.
Em uma nota pessoal, eu concordo com Michael Piller que Jadzia
deveria ter morrido antes do que morreu: o personagem simplesmente
chegou a um beco sem saída, além de ter sido o mais problemático
personagem no começo da série.
DS9 é a melhor série da história do
franchise?
Esta foi uma noção que começou a nascer após o final da quarta
temporada da série, tanto na crítica especializada (SCIFI)
quando na crítica leiga (não-SCIFI). Quando do encerramento da série,
revistas como "Starlog", "Cinefantastique" e a
"TV Guide" (a "bíblia" da TV americana)
elegiam DS9 como a melhor do franchise, chamando a atenção
para isso nas capas de suas edições comemorativas. Eu me recordo
de ler uns 30 artigos sobre o encerramento da série e mais da
metade saudava DS9 como a "melhor Jornada de
todas". Foi o próprio Michael Logan que cunhou a famosa
frase: "quando olhamos pra trás vislumbramos a mais bem
atuada, escrita, produzida e sobre qualquer possível ponto de
vista a melhor de todas as Jornadas".
A única dúvida que eu sempre guardei sobre estas declarações
é se a opinião posicionava a Série Clássica como "hours
concurs" ou a colocava como passível de eleição também.
Acho que a segunda opção era o caso na maioria das vezes.