Fundamentos
ideológicos e validade moral do levante contra a Federação
Os
colonos e as motivações relativas ao seu grupo social como um todo
-
Olhe lá fora.
[Eddington aponta um disruptor klingon contra Sisko, que afasta uma lona]
- Estas pessoas? Eles eram colonos em Salva Dois. Eles tinham
fazendas, e lojas, e lares e escolas... então, um dia, a Federação assinou um
tratado e entregou o seu mundo aos cardassianos... bem deste jeito. Eles tornaram
estas pessoas refugiados da noite para o dia. - Não
é tão simples assim e você sabe disto. Estas pessoas não precisam viver assim...
nós oferecemos realocação. - Eles
não querem ser realocados. Eles querem ir para casa para as vidas e lares que
eles construíram.. --
Eddington e Sisko, For
the Uniform. A
paixão e o entusiasmo pelo qual os Maquis se pegam a sua causa é admirável, e
merece uma avaliação mais cuidadosa. Ao longo de todo o arco, as raízes desta
rusga foram estabelecidas meramente como sendo a questão do tratado com os cardassianos.
Assim, é importante considerar que na questão Maqui, jamais houveram razões ideológicas
realmente profundas como motivação para o levante destes cidadãos federados contra
seu governo. Em
momento algum do arco, jamais se estabeleceu que os participantes do movimento
tivessem quaisquer divergências de cunho racial, religioso, econômico, social
ou qualquer outro aspecto destes contra as políticas da Federação antes
que a Federação tivesse o posicionamento que teve em relação ao acordo com os
Cardassianos e sua entrega das colônias. Mesmo uma eventual tentativa de se aplicar
a minha chamada "Velha Máxima", sobre "Não ter sido visto em tela
não quer dizer que não exista", não é possível, pois houveram ao longo do
arco inúmeros momentos onde a menção a estas outras questões ideológicas teriam
sido adequadas ou até mesmo fundamentais, caso realmente tivessem existido. Até
como comentei anteriormente, não houve sequer uma eventual crítica a "Não
Vivemos no Paraíso, Façam Algo" que existisse bem antes da questão
da devolução surgir foi colocada como eventual pano-de-fundo ideológico para motivação.
Mas como vimos, nada disto ocorreu. Desta forma, considero seguro afirmar que
nenhum daqueles rebelados federados realmente tinham rusgas ideológicas profundas
contra a Federação além daquelas que se encaixam na questão de "Perdemos
Nossos Lares" e "A Federação Nos Abandonou". Estas
são de fato razões plenamente compreensíveis de um homem se rebelar contra um
sistema de governo. Contudo, apenas por si mesmas, e considerando todo o contexto
social onde tais homens estavam inseridos, também não querem dizer que torna tais
razões completamente justificáveis, e assim, o levante Maqui pode, sim, ser questionado
quanto a sua validade moral. Ele pode, sim, ter sido algo fundamentalmente errado
de os colonos fazerem. Enquanto
estava tudo bem e tudo bom, supostamente não havia nada de errado com nenhuma
política da Federação, como vimos. Não interessaria como e sob que circunstâncias
a Federação teria conquistado aquele território, e se isto seria justo ou não,
o que interessava para os colonos é que agora era território federado. Contudo,
quando a política colonial federada teve que ser revista, então nisto, e apenas
e tão somente nisto, o levante Maqui surgiu com o discurso de "Opressores"
e "Feddies Go Home". Nunca se tratou de ideologia, de se acreditar em
ideais, de se questionar as tradicionais posturas e valores federados. Nunca se
tratou de serem contra o eventual imperialismo federado. Tratou-se de que, quando
as políticas federadas, com as quais sempre concordaram, passou a agir contra
eles, aí sim tais políticas aparentemente se tornaram imorais e questionáveis;
aí sim a Federação passou a ser vista como maligna. Ou seja, se tratou de eles
terem perdido a ferramenta do imperialismo federado, ferramenta a qual eles nunca
tiveram objeções algumas, e ferramenta absolutamente necessária para eles.
Pois
segundo consta, o cidadão federado é alguém que está plenamente consciente de
que o bem-estar do todo de sua sociedade é algo que deve vir primeiro, algo que
deve se sobrepor aos seus próprios desejos e interesses pessoais. Atitudes egoístas
e meramente em proveito próprio são conceitos que supostamente o típico cidadão
federado já deixou para trás na evolução de sua sociedade. As necessidades da
maioria se sobrepõem as necessidades da minoria... ou a de um só.
Mas,
como alguns outros federados já nos mostraram, também existem situações onde a
necessidade da minoria é a que se sobrepõe, e leva pessoas a cometerem atos que
se pode classificar com traição por um ângulo, mas também como alta lealdade por
outro. Assim, eu não quero dizer com esta análise que os posicionamentos dos colonos,
se realmente aplicado como sendo algo que fizeram, tenha sido algo necessariamente
ruim para a série, muito pelo contrário. Poder haver uma leitura das atitudes
dos colonos de modo a os retratar como humanos que tem falhas, humanos que tem
agendas próprias e que podem desejar agir mais em seu próprio interesse do que
no interesse de sua comunidade, que é supostamente o que se esperaria de bons
federados, é de fato algo interessante e que ajuda a dar texturas mais palpáveis
a estes humanos, uma boa adição ao contexto social onde se passa o universo de
Jornada. Mas são avaliações importantes de serem feitas.
Eddington
e suas motivações pessoais -
Eu conheço você. Eu já fui como você, mas então eu abri os meus olhos. Abra os
seus olhos, Capitão. Por que a Federação é tão obcecada com os Maquis? Nós nunca
lhe fizemos mal. E mesmo assim nós somos constantemente detidos e acusados de
terrorismo. Suas naves estelares nós caçam por toda a Badlands e nossos simpatizantes
são assediados e ridicularizados. Por que? Por que nós deixamos a Federação, e
esta é uma coisa que vocês não podem aceitar. Ninguém deixa o paraíso. Todos deveriam
querer ser membros. Mas que diabos, vocês querem até os Cardassianos como membros.
Vocês estão somente lhes enviando os replicadores pela certeza de que um dia eles
irão ocupar o seu "lugar reservado" no conselho da Federação. Sabe,
de certo modo vocês são piores do que os Borgs. Pelo menos eles avisam sobre seus
planos de assimilação. Vocês são mais insidiosos. Vocês assimilam pessoas, e elas
nem mesmo sabem disto. --
Eddington, For
the Cause. Como
visto em "For the Cause", o Comandante Michael Eddington, attaché
de Segurança da Frota Estelar para DS9, traiu a Federação ao agir como o principal
operativo Maqui na obtenção de replicadores industriais destinados para os cardassianos,
e conseguiu pegar todo o comando de DS9 com as calças na mão. Ao final do segmento,
se despede de Sisko com um ótimo dialogo com ele, no qual inclui o monólogo acima.
Eddington
levanta excelentes pontos neste seu discurso, inúmeros dos quais eu mesmo compartilho
e concordo plenamente. Só que Eddington se pega em omissões e falácias para procurar
argumentar suas justificativas. Ele afirma que os Maquis nunca lhes fizeram mal.
Eles queriam deixar a Federação e ficarem onde estavam? Muito bem, mas da mesma
maneira, aparentemente não queriam, ou não tinham como se tornarem cidadãos da
nação a qual estava chegando ali no local, Cardássia. O que fazem? Entram em conflito
com os cardassianos, e ainda que possam ter reagido como defesa, sabidamente também
atacaram alvos civis e fizeram muito das suas. Com isto, quer desejassem ou não,
eles tornaram a coisa um problema também da Federação, mas Eddington é desonesto
e intransigente demais para admitir isto, uma vez que isto, obviamente, rasparia
fora parte da santidade que quer aplicar a seu discurso.
Ocultar
quaisquer motivações pessoais de Eddington antes de "For the Cause"
era algo de se esperar, sem dúvida alguma, a fim de manter o elemento de surpresa
sobre a traição de um dos tripulantes secundários da estação ao qual estávamos
tão acostumados a encararmos como um leal operativo federado no time de Sisko.
Em relação ao cerne da questão Maqui, não há realmente nada a considerar diretamente
-- Eddington não era um colono ou tinha relação direta com as colônias de alguma
forma, então não tinha realmente nenhuma ligação pessoal com o levante.
Contudo,
após Eddington claramente ser estabelecido como Maqui, poderíamos esperar um maior
aprofundamento nas motivações que o levaram a ingressar no movimento... mas não
muito mais temos além desta frivolidade mal embasada do seu discurso inicial,
além também das reações dele à vendeta pessoal de Sisko contra si, coisa que ele
interpreta como a obsessão federada em os perseguir supostamente sem motivação,
como ele menciona em seu discurso. Por
ambos os episódios "For the Uniform" e "Blaze of Glory",
não temos rigorosamente nenhum indício que indique que o próprio Eddington tivesse
um posicionamento ideológico fundamentalmente contra as políticas federadas anterior
a todo o problema colonial com os cardassianos, da mesma maneira que para os demais
Maquis, bem como outras questões fundamentais a sociedade federada a qual fizeram
parte. Sim, tem a parte que ele comenta em seu discurso que "abriu os olhos",
mas omite qualquer outra questão mais específica que justifique suas ações, e
no lugar disto apenas faz alegações vagas sobre assimilação disfarçada, em um
ranço geral que, ainda que não tenha soado falso, soou claramente desprovido de
real substância. Pois é importante se considerar algo importante sobre tão badalado
discurso: na parte em que ele compara a Federação ao Borg, ele já passou o que
fala para um ponto que seria mais ideológico do que qualquer coisa, um ponto que
é uma crítica a Federação em geral, e tal crítica, tal visão, é algo basicamente
ideológico, e não há nenhum indício de que Eddington tinha sequer pensado a respeito
disto antes de deixar a Federação. E ter se levado em consideração tais elementos
teria sido algo a mais a se inserir não apenas no personagem, mas também no arco,
e acredito que teria incluindo tintas ainda mais interessantes em ambos.
Há,
claro, também o elementos de busca da glória de líder em tempos difíceis, sobre
o qual Sisko especula em determinados momentos de "For the Uniform"
e "Blaze of Glory", e é um elemento que não pode ser ignorado.
Sisko analisa a admiração que Eddington demonstra por Os Miseráveis, o
romance francês escrito por Victor Hugo, e como há mais na comparação feita por
Eddington a Sisko e o livro – o próprio Eddington se vê na mesma situação. Eddington
quer partir de modo grandioso, de modo significativo, e isto principalmente poderia
ser incentivado por sentimentos ideológicos, ou egocêntricos. Como o primeiro
é algo que a causa Maqui toda carece, e também Eddington, ficamos com o aspecto
de glória pessoal para satisfazer o próprio ego, que Eddington pinta com tintas
nobres a associar isto a uma causa maior. A
incapacidade federada em lidar com o problema Maqui -
Capitão, o senhor alguma
vez lembrou a Frota Estelar de que eles colocaram Eddington aqui em DS9 porque
eles não confiavam em mim? - Não. - Faça, por favor. --
Odo
e Sisko, "For the Uniform". Ao
longo de todos os episódios relacionados a crise Maqui, desde "Journey's
End", em A Nova Geração, a Federação demonstrou uma incrível capacidade
de meter os pés pelas mãos em tratar do problema, e de muitas maneiras, em uma
situação onde tinha que optar por uma decisão entre várias possíveis, ela sempre
optava pela pior possível, especialmente nas situações em que todas as opções
eram de certa forma ruim. Em
situações deste tipo, havia muitos personagens que consideram que a Federação,
já que está frente a isto, uma situação onde não há saída, onde todas as opções
colocam a Federação em uma posição desfavorável, então ela deveria ir pelo menos
pela opção que satisfaz o seu próprio pessoal. Por este ângulo, eu poderia entender
a eventual seguinte opção federada: "Embora poderia admitir que estivesse
errada inicialmente sobre ter ocupado aqueles setores, o que aconteceu, aconteceu.
Assim, a Federação deveria escolher lutar ao lado de seu povo, ao invés de abandoná-lo,
e deveria fazer isto quer estivesse certa ou errada a respeito do real direito
sobre as colônias. A defesa do seu pessoal ali deveria se sobrepor a isto tudo."
Este
posicionamento, basicamente o mesmo do cenário número 3 que discutimos anteriormente
neste artigo, embora eu pessoalmente o consideraria inadequado, seria um posicionamento
no qual a Federação pelo menos teria a decência de pisar firme por algo em que
acreditaria ser aquilo que deve prevalecer em relação a toda a situação, algo
nas linhas de "Sim, teria sido errado ocupar as colônias em primeiro lugar,
tudo bem, mas a esta altura do campeonato, mais errado ainda seria abandonar os
colonos, então não iremos ceder". E assim, federados e colonos, conscientes
de sua escolha, certa ou errada, enfrentassem juntos e firmes as conseqüências
de seus atos. De
muitas formas, isto seria semelhante ao que Israel tem feito ao longo dos anos,
desde que ocupou a Cisjordânia após a Guerra dos Seis Dias, em 1967: embora se
pode constatar claramente que a ocupação é ilegal após se fazer uma avaliação
racional da situação, e assim tal situação é condenada pela comunidade internacional,
Israel também não pode negligenciar o fato de que, tenha sido certo ou errado,
colocou colonos no local e tais colonos fizeram ali seus lares. Retroceder agora
e entregar sem mais nem menos o controle da região para os Palestinos é colocar
aos colonos a seguinte situação: ou deixam seus lares e retrocedem para Israel,
ou ficam no meio de um estado que é hostil a sua presença ali. Basicamente, a
mesma situação na qual a Federação colocou os seus próprios colonos. Eu não tenho
como concordar com esta eventual posição e racionalização da situação, mas entendo
quais poderiam ser os sentimentos que poderiam levar a ela. Posteriormente
a implantação do tratado, inúmeras vezes a Federação também demonstrou não saber
lidar adequadamente com o conflito que resultou desta decisão. Particularmente
aos últimos três episódios do arco, Eddington percebeu claramente que Sisko estava
levando suas operações contra os Maquis, particularmente se voltando contra ele,
mais por questões pessoais do que qualquer outra coisa, como desejar que uma situação
estável retorne a região. Apesar disto, em um raro surto de bom senso, o Almirantado
federado faz com que o Capitão em comando das operações contra Eddington mude,
para o Capitão Sanders. Contudo, mesmo esta mudança de comando não melhora a situação,
e depois, a Federação não tem como impedir que Sisko retome as rédeas, e também
não demonstram reservas a esta atitude ou as suas táticas. Com
a sua expertise prévia em procedimentos federados, Eddington sem dúvida utiliza
isto muito bem a seu favor, aproveitando-se da suprema incapacidade e incompetência
federadas de conseguirem coordenar o que quer que seja, para com isto dar um baile
nos operativos federados enviados contra ele, e na turma da Defiant em
particular. O que não quer dizer, é claro, que esta inaptidão federada em lidar
adequadamente com a crise não tinha como virar-se contra ele. É o que de fato
ocorre, com a iniciativa de Sisko em utilizar ele mesmo armas de destruição em
massa contra as posições maquis na Zona Desmilitarizada. Eddington desdenha da
ameaça de Sisko como quem chama o seu blefe, mas o Capitão federado mostra-se
impassível e plenamente firme e decidido, e Eddington pode reconhecer a seriedade
de Sisko. Chega
a ser irônico, de muitas formas. Desde as mais remotas raízes da crise, vindas
da guerra cardassiana da década de 2350, a Federação demonstrou uma capacidade
sem igual de meter os pés pelas mãos e fazer as piores escolhas possíveis, mesmo
em cenários onde só haviam escolhas ruins. E agora, se aproximando do apagar das
luzes da crise, ela se vê frente a uma situação onde um oficial de campo seu se
valeu de armas de destruição em massa, sem sequer ter a mais ínfima autorização
do governo federado para isto. E como visto ao final de "For the Uniform": -
Benjamin, eu estou curiosa... o seu plano de envenenar os planetas maquis... você
não providenciou a autorização com a Frota Estelar primeiro, providenciou?
- Eu
sabia que tinha esquecido de fazer algo. --
Dax e Sisko, "For
the Uniform". Sisko
sequer considera as eventuais conseqüências de seus atos, e sequer demonstra preocupação
aqui neste momento com Dax. O resultado final é o que importa, e quanto a trâmites
e considerações burocráticas, isto não o vai impedir de agir firme -- é como se
ele já soubesse de antemão que a Frota Estelar e o governo Federado não vão fazer
absolutamente nada em relação a esta sua atitude. Duas hipóteses para esta aparente
segurança demonstrada nesta cena: ou ele sabe que seus superiores são realmente
um bando de bananas-sem-espinha que controlam um governo criminalmente omisso,
e cuja opinião pública federada é composta de uma população apática e desinteressada,
ou então ele sabe que estes mesmos superiores concordariam com o seu uso de armas
de destruição em massa da maneira que fez, e não se opõe a uma situação em que
a decisão de se usar tais armas está meramente com o comandante local. Ambos os
casos não são atitudes moralmente justificáveis por Sisko e/ou pelo governo federado,
para se dizer o mínimo. "Ah,
mas ninguém se feriu", "Ninguém foi morto". Verdade. Mas isto não
muda o fato de que Sisko empregou armas de destruição em massa sem a autorização
do governo federado, e absolutamente nada foi demonstrado como conseqüência deste
ato, que supostamente deveria ser questionado por este governo. Mas, como de praxe,
nada temos vindo do apático e ausente governo federado, e querer se racionalizar
a decisão de Sisko e a falta de conseqüências a ela como algo justificável nas
bases do "Ah ninguém morreu" é ignorar completamente as razões que fez
da atitude de Sisko algo moralmente questionável em primeiro lugar. O
Embate entre Eddington e Sisko -
Sabe qual é o seu
problema, Capitão? Você está levando isto para o lado pessoal. Não tinha que ser
assim, isto não era sobre mim... eu não tenho antipatia ou ressentimentos contra
você. - Eu gostaria de poder dizer o mesmo. - Realmente vale a pena arriscar
a você mesmo, sua nave... sua tripulação... em uma vendeta pessoal? A Frota Estelar
aprovaria? --
Eddington e Sisko, "For
the Uniform". De
muitas maneiras, a interação entre Eddington e Sisko, entre o final de "For
the Cause" até o final de "Blaze of Glory" serve como
um microcosmos de todo o arco, e das posições federadas e maqui nas questões da
crise. Sisko segue um senso de dever racional para encarar o problema, mas sem
perder de vista que de certa maneira, os maquis tem suas justificativas para lutar.
Seu senso de dever contudo não faz com que ele abandone a sua convicção de que
a solução federada encontrada é a que deve ser mantida, apesar de seus problemas,
e a medida que o problema avança, a resolução deste se torna uma obsessão para
si. Eddington, por outro lado, olha a crise toda como uma causa completamente
justificável a ponto de ficar admirado em constatar que podem existir pessoas
que pensam diferente do que ele, e para garantir a suposta validade moral daquilo
que defende, faz racionalizações imprecisas e baseadas em falácias, ignorando
aspectos específicos de todo o problema, no caso destes aspectos atrapalharem
suas intenções de defesa de causa grandiosa. Sem
dúvida, a interação entre estes dois personagens são o ponto alto destes três
episódios em particular. Temos um Eddington completamente diferente daquele que
costumávamos ter, que até então fazia sua participação nas tramas de uma maneira
tão neutra e tranqüila que praticamente soava como ruído branco. A isto, se contrapõe
as reações de Sisko, e embora ele siga no seu melhor e não perca o rebolado em
momento algum, Sisko não conseguia pegar o Maqui de guarda abaixada de modo a
ele estar com a iniciativa – quando Sisko finalmente conseguiu isto, com a sua
própria utilização de armas de destruição em massa, não hesitou em momento algum
a aproveitar a oportunidade para o golpe final do embate. Posteriormente, ele
soube conduzir melhor sua interação com Eddington na missão de parar os supostos
mísseis maquis. E embora "Blaze of Glory" não tenha sido realmente
o melhor dos três episódios ("For the Uniform" o é), o seu diálogo
com Eddington durante a missão está entre os melhores momentos entre os dois adversários,
e um dos melhores de Sisko no geral. Mas embora Sisko estivesse sob controle da
situação, isto não impediu Eddington de ter uma surpresa escondida no final, claro,
ao revelar que aquele ardil todo era meramente um plano B para resgate de eventuais
sobreviventes maquis. No frigir dos ovos, ao final de "Blaze of Glory",
Sisko foi quem restou de pé na arena, mas com um sentimento de "Bem jogado,
Eddington, bem jogado" do que um nas linhas de "Eu venci, e na sua cara!"
Uma pena realmente que "Blaze of Glory" seja realmente o final
das possibilidades de interação entre dois tão fantásticos e bem construídos personagens. Continue
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