"O
que se leva desta vida..."
Por
Luiz Castanheira
Muitos
e muitos anos no futuro, em um começo de tarde na cidade
do Rio de Janeiro, uma tarde de intenso verão, tarde
daquelas que acham fim em forte chuva. Na velha casa, um único
e gasto morador, daqueles que aparentam muito mais que a real
idade, alguém que, lembrando ironicamente de uma adorada
imagem da juventude, lamenta ter desistido da prática
do xadrez, algo que talvez servisse para angariar um pouco
mais de tempo. Agora, justo agora, que jaz há muito
derrotado o seu senso de imortalidade e cada reflexão
sobre sua vida traz embutido o temor de ser a definitiva.
Tais pensamentos pareciam por demais apropriados naquele dia,
mas ainda assim seriam facilmente derrotados pelo sono se
alguém não tocasse providencialmente a campainha.
Pela
janela se via uma bela jovem, lá pelos seus vinte e
poucos anos, estava sozinha. O velho indagou o motivo da visita.
"Pois
não?"
"Meu
nome é Diane e venho fazer um trabalho para a faculdade,
posso entrar para conversarmos melhor?"
O
velho examina o interior de sua casa, a si próprio
e o rosto da jovem e após algum pensar decide abrir
a porta.
"Em
que posso ajudar-te?"
"O
senhor é Luiz Castanheira, do Trek Brasilis?"
Ele
pensara nunca ser chamado assim de novo, era algo que o fazia
se lembrar de uma época tão distante como se
passada em uma outra vida, mas ao mesmo tempo próxima
como a refeição que acabara de realizar.
"Sou"
"Eu
quero entrevistá-lo."
Tomando
aos poucos consciência do surrealismo daquela situação,
já com a jovem lhe apresentando a documentação
pertinente, o velho homem apenas ficou parado e pensativo
ali, por alguns momentos.
"Você
deve entender a minha desconfiança a respeito das credenciais
de uma repórter que queira fazer uma reportagem comigo?
Não é nada pessoal ou algo assim."
A
única resposta que a jovem deu foi um sorriso capaz
de vender aquecedor residencial no verão carioca, só
restando ao confuso velho convidá-la a entrar. Nem
mesmo se dando ao trabalho de verificar on-line aquelas
informações passadas pela estudante.
Já
comodamente sentados e abastecidos com um bom suprimento da
concorrente da Coca-Cola da época, começava
a assim chamada entrevista. Enquanto a jovem observava a colossal
bagunça de livros do quarto do seu anfitrião,
este se decidira a desistir de adivinhar quando a "armação"
(que tinha como certa devido ao inusitado da situação)
seria revelada e "entrar no espírito da coisa",
seja lá que "coisa" fosse esta. Concordou
mesmo em permitir que a moça tirasse algumas fotos
para documentar o encontro, além de gravar as perguntas
e respostas. Aparentemente o telefone dela só faltava
falar.
"O
meu orientador passou diversos temas para monografia, mas
um me chamou a atenção em particular. A história
de um antigo website a respeito de uma antiqüíssima
série de televisão, algo feito completamente
de graça, mas com uma seriedade e profissionalismo
que até hoje impressiona. E digo "até hoje",
pois de fato ele está no ar "até hoje"."
"Como?
Nós encerramos as atividades faz anos. Como ele pode
ainda estar no ar?"
"Aparentemente
uma pessoa (talvez mais de uma) adotou o site e fez questão
de mantê-lo no ar por anos a fio. Existe uma trilha
de mais de uma dezena de servidores que hospedaram o site
ao longo dos anos."
"De
fato, quando decidimos encerrar as atividades, determinamos
que iríamos preservar o site no ar enquanto fosse possível
e para nossa surpresa, alguém que nunca descobrimos
"quem", passou a pagar anualmente pela manutenção
do site. A realidade é que nunca quisemos de fato descobrir
a respeito deste "benfeitor", parecia ser o certo
a ser feito, mas nem em meus mais insanos sonhos eu podia
imaginar que isto poderia continuar por tanto tempo. É
simplesmente incrível. Toda a equipe do site ficou
com a imagem integral do conteúdo do Trek Brasilis
como uma recordação, mas saber que é
possível que existam pessoas que até hoje o
acessem é... [suspiro] Oh Boy!"
"Começando
a perceber o motivo de eu ter vindo aqui? O conteúdo
do site é extenso demais, eu precisava de alguém
para me oferecer uma base de trabalho e quem melhor que alguém
que era parte da equipe? Eu preciso terminar esta monografia
para me formar, afinal de contas."
O
velho já tinha a sua curiosidade de fato despertada
e começava a não se importar se aquilo tudo
era uma grande "charada organizada" ou não,
na pior das hipóteses serviria para preencher uma tarde
de folga, até que as eventuais visitas chegassem à
noite. Ao mesmo tempo ele começava a notar uma certa
familiaridade naquela jovem e uma quase certeza que o que
fosse que ela estivesse fazendo ali, era feito por bons motivos.
"O
que você deseja exatamente e quanto tempo tem disponível?"
"Quero
que conte a respeito da história do TB, como
se eu fosse alguém capaz de entender cada detalhe,
como se eu fosse uma das leitoras daquela época. Não
quero saber de uma cronologia passo a passo, quero saber das
primeiras imagens e palavras que vierem a tua mente. Eu tenho
tempo, meu carro está em uma vaga coberta."
O
velho então decidiu dar exatamente o que a sua visitante
queria, por mais louco que pudesse soar o seu discurso a um
não iniciado em Jornada, ele daria exatamente
o que ela queria, no que de melhor a sua memória ajudasse.
"É
verdade. Eu estava lá, em 1999, no crepúsculo
da franquia de Jornada nas Estrelas, numa época
em que a idéia de um site como o Trek Brasilis
era apenas algo imerso na mente de Salvador Nogueira. É
curioso que um bando de apaixonados se junte para divulgar
algo em amplo declínio. O contrário é
muito mais comum, de fato é quase a regra. Devo confessar,
entretanto, que o meu próprio interesse por Jornada
também diminuiu com o tempo, abrindo espaço
para o crescimento exponencial do meu interesse por Cinema.
Apesar disto o meu amor pela Série Clássica
e principalmente por Deep Space Nine foram mais do
que suficientes para abastecer a minha participação
no TB por todos os anos em que o site esteve em produção."
A
face do velho parecia ganhar aos poucos um novo brilho, como
se o brotar destas memórias de alguma forma disfarçasse
as suas rugas e escurecesse o grisalho de seus cabelos.
"Você
devia estar lá, no ápice do Trek Brasilis,
em que éramos capazes de produzir material inédito,
preciso e crítico sobre Jornada, semana após
semana, frente a qualquer dificuldade e circunstância.
Lembrando disto agora, a tarefa parece ser tão tremenda
que beira o impossível e o assustador, mas de alguma
maneira ela era realizada. Nós não tínhamos
nada de especial enquanto indivíduos, dizer o contrário
seria completamente faltar com a verdade, mas juntos tínhamos
uma espécie de "centelha" que fazia de fato
as coisas brilharem. Bons tempos aqueles em que, apesar de
sermos tão diferentes, e pode me acreditar nós
éramos de fato muito diferentes, ainda assim sentíamo-nos
completamente à vontade para completar as idéias
uns dos outros, como se elas fossem inicialmente nossas e
propor as nossas idéias como se elas fossem de todos
nós desde o nascedouro."
"Uma
coisa que sempre fizemos com orgulho foi dar crédito
às pessoas e grupos responsáveis pela divulgação
de Jornada no Brasil antes de nós. De acordo
com que disse em certa ocasião o talvez mais inteligente
dos homens: "nos apoiamos nos ombros de gigantes".
Fascinante como as pessoas do fandom nacional que nos inspiravam
acabavam sempre participando do site de uma maneira ou de
outra, como se o TB tivesse uma capacidade natural
de aglutinação que acabou por torná-lo
muito maior do que a soma dos responsáveis por ele.
Obviamente existiam alguns fãs descontentes com a postura
do site, mas isto é algo cuja memória me traz
hoje mais orgulho do que mágoa."
"Por
que então vocês decidiram encerrar as atividades?"
"Em
um determinado momento nós sentimos que, devido ao
acúmulo de indicadores surgidos ao longo dos anos,
o nosso objetivo original de fomentar o pensamento crítico
e embasado em torno de Jornada havia sido atingido.
Lembro de leitores que tinham dificuldade para identificar
o nome de um ator e mesmo eram incapazes de escrever duas
linhas logicamente encadeadas em nosso Fórum,
tornarem suas presenças ao longo dos anos tão
(ou mais) relevantes para a comunidade de fãs como
um todo quanto qualquer um da equipe do próprio site.
Não digo isto como espécie de testemunho de
nossa grandeza, mas como uma forma de registrar o meu agradecimento
àquelas pessoas por terem permitido que partilhássemos
aqueles dias com elas. Acima de tudo, foi importante dizer
adeus em uma época em que ainda muitos pediam pela
nossa permanência, preservamos aquele legado, para o
melhor e para o pior. Sem lamentos ou arrependimentos chegava
à hora de deixar o TB para trás."
"Muito
bem. Gostaria de começar agora a entender os motivos
que os levaram a realizar esta empreitada em primeiro lugar.
Começando do "por que" do seu interesse por
Jornada nas Estrelas."
"Acho
que só posso de fato responder por mim, mas espero
que sirva de alguma maneira para ajudar a entender o estado
de espírito dos demais também."
"As
duas idéias mais fortes que sempre associei a Jornada
foram a de redenção (do indivíduo e da
humanidade como um todo) e a de princípios sendo testados.
A primeira é bastante simples, está relacionada
ao conceito de uma terrível tempestade que se aproxima
e se conseguirmos sobreviver a ela, os anos de calmaria "valerão
a pena serem vividos". Do fato de que sempre irão
aparecer tempestades, de tempos em tempos, vem a garantia
que a vida progrida como ela tem que progredir. A outra se
mostra ao colocar personagens extremamente éticos em
honestas situações em que tais ideais podem
ser postos verdadeiramente a prova. É fácil
de perceber que justapôr estas duas idéias leva
naturalmente ao conflito, propulsor do drama. Isto garante
em um certo sentido a consistência interna de Jornada
nas Estrelas e a sua relevância."
"De
um destes princípios, o da tolerância, e também
do próprio cenário em que se passa a série,
surge a principal mensagem de Jornada, o conhecido
IDIC. Que aponta que: "A suprema glória
da criação reside na Infinita Diversidade e
na Infinita Combinação desta diversidade".
Devemos abraçar as nossas diferenças, nossas
diferenças nos fazem mais fortes e não mais
fracos. Cabe observar novamente que tais diferenças
levam ao conflito e daí a consistência dramática."
"É
comum o erro, a escritores, analistas e fãs de Jornada,
de que a apreciação da marca é um processo
em que predomina o intelectual ao emocional, o que não
poderia ser mais distante da realidade. Ao esquecer desta
simples verdade muitos escritores se perderam em meio ao cenário
onde se passa a série, confundindo superfície
com substância, se emaranhando em um fetiche estéril
que marcou a decadência artística de Jornada.
Favor não confundir "relevância" com
alegoria ou premissa, o que via de regra soa forçado,
transparente e automaticamente datado. Em suma, um episódio
de verdadeira relevância se resume em síntese
e lembrança a uma estrutura de pelos menos três
bons momentos entre personagens (trágicos ou cômicos,
não importa) e uma ausência de momentos de fato
ruins. Jornada, eu insisto em lembrar, é algo
sobre pessoas simples como eu e você e pessoas simples
querem ouvir histórias sobre os seus pares, não
sobre a "praga espacial da semana"."
O
velho parece agora cheio de energia, tão elétrico
como se fosse se levantar e passar a declamar em um "inglês,
britânico e impostado" algum famoso monólogo
do velho bardo, mais curioso ainda ele executava periodicamente
"puxões" em sua vestimenta, ajeitando-a,
o que para sua interlocutora parecia um tanto... Peculiar.
"Eu
acredito então que desta sua particular visão
de Jornada venha o seu maior apreço por esta
ou por aquela série, por este ou por aquele episódio."
"Perfeitamente."
"Gostaria
de saber agora, do "por que" da sua participação
na equipe do TB."
"Querer
participar da divulgação de Jornada no
Brasil foi sempre algo inerente ao meu gosto pela série
e ao meu desejo em torná-la mais acessível (em
diversos sentidos) aos demais fãs e potenciais fãs,
como uma forma de retribuir ao que outros fizeram por mim
anteriormente, este foi o motivo principal. Um outro motivo
é que eu sempre gostei de escrever, e escrever sobre
Jornada foi sempre uma experiência fascinante,
pela complexidade e pela simplicidade do tema. E o terceiro,
e talvez mais tolo, motivo é de que eu queria manter
viva de alguma maneira aquela idéia da equipe de roteiristas
de DS9. Sempre foi uma imagem inspiradora ver aquelas
cinco pessoas maravilhosas sentadas na ponte da Enterprise
original ("quanto mais as coisas mudam mais elas permanecem
as mesmas", você sabe?) e principalmente nos momentos
mais difíceis da vida do TB eu me lembrava "daqueles
cinco patetas" e de algum modo o impossível não
parecia mais tão inatingível assim."
Da esquerda
para direita, o staff de produção da série: René Echevarria,
Ira Steven Behr, Ron Moore, Hans Beimler e Robert Hewitt Wolfe
(sentado)
"Chegamos
a um ponto importante. O senhor era responsável pela
seção de DS9 do TB e nunca foi
segredo que esta era a sua série favorita, então
gostaria de saber: Por que Deep Space Nine?"
"Eu
acho que as duas grandes herdeiras da Série Clássica
foram a série de filmes de Meyer & cia. para o
Cinema e, é claro, Deep Space Nine, que foi
sua herdeira natural na TV. DS9 também foi uma
série do seu tempo, ainda que, no seu melhor, tratando
de assuntos fundamentais e que sempre serão relevantes
e atuais, enquanto o homem for homem. DS9 desafiou
ao máximo o significado do que é ser Jornada
nas Estrelas, ao mesmo tempo em que sempre abraçou
a sua herança, talvez nisto resida a sua maior virtude
e a origem da minha paixão por ela."
"Eu
trouxe fotos representando diversos episódios de DS9,
gostaria que o senhor dissesse a primeira coisa que vem a
mente ao ver cada uma destas imagens. A lembrança mais
espontânea possível."
"Pode
começar a passar as fotos."
HOURS
CONCURS... "Trials and Tribble-ations"
"A
maior e melhor homenagem feita a Série Clássica
e ao mesmo tempo um episódio tão ou mais genial
do que o episódio homenageado. A forma com que a interação
entre as tripulações foi concebida é
particularmente brilhante."
31...
"Past Tense I"
"A
crueza dada ao tratamento do tema dos "abrigos"
e de como eles se transformaram em verdadeiras prisões
urbanas sempre me impressionou, assim como o caráter
quase profético do roteiro de Ira Steven Behr e cia."
30...
"The Quickening"
"A
arrogância e a ingenuidade de Bashir são estilhaçadas
de maneira brutal para só dai o bom doutor chegar a
ser um herói, mas em circunstâncias realistas
e de forma extremamente satisfatória."
29...
"The Wire"
"Uma
escrita tão brilhante que faz mentiras terem significado,
serem "verdades". Melhor atuação de
Robinson na série. Segmento incrivelmente lúcido
com respeito ao tratamento em tela do problema do vício."
28...
"Treachery, Faith, and the Great River"
"É
antológica a cena em que o clone defeituoso de Weyoum
morre nos braços de Odo. A idéia do "Grande
Rio Ferengi" é uma das mais brilhantes de toda
a série."
27...
"Whispers"
"Grande
homenagem a Rod Serling. Um mistério, talvez o melhor
de Jornada no gênero, que, fato raro, também
funciona perfeitamente como drama."
26...
"Homefront"
"Brilhante
história sobre paranóia, mostrou-se cada vez
mais relevante nos anos que se seguiram."
25...
"Shadows and Symbols"
"A
volta de Benny Russel foi incrível e surpreendente
e a maneira como as três histórias do episódio
atingiram simultaneamente a sua resolução foi
extremamente empolgante."
23...
"The Way of the Warrior"
"Lembrado
por muitos por suas grandes batalhas espaciais, porém
sempre lembrado por mim por suas diversas e ótimas
cenas com personagens, o destaque ficando para a conhecida
"cena da cerveja" entre Garak e Quark."
22...
"Crossover"
"Outra
ponte de ligação com a Série Clássica.
Brilhante direção, valores de produção
convincentes, memoráveis atuações de
Meaney e Brooks e uma absolutamente matadora Nana Visitor
como a Intendente."
21...
"A Time to Stand"
"Estabelece
perfeitamente o tom da guerra com o Dominion e de como ela
iria afetar os personagens."
20...
"Nor the Battle to the Strong"
"Arriscado
conto de guerra sob o ponto de vista de uma pessoa comum (Jake
Sisko), extremamente original, honesto e tocante."
19...
"Children of Time"
"Uma
aula em como fazer um episódio envolvendo paradoxos
temporais, para um máximo de efeito dramático.
Fazer o futuro Odo sacrificar uma civilização
inteira pelo seu amor por Kira foi colossal."
18...
"Chimera"
"Melhor
história de amor de Jornada, seu final em que
Odo se transforma em uma espécie de aurora boreal e
envolve Kira celebrando o amor entre os dois é uma
das imagens definitivas da série."
17...
"Hard Time"
"Brilhante
conto sobre humanidade. Meaney tem fantástica atuação
e a cena final, em que Bashir convence O'Brien a não
se suicidar, imortaliza a amizade entre os dois na história
de Jornada."
16...
"Inter Arma Enim Silent Leges"
"Uma
maneira irretocável de se combinar uma trama complexa
com temas perturbadores. Bashir é perfeito como a reserva
ética e moral da Federação."
15...
"The Siege of AR-558"
"A
mais visceral história trazida pela guerra Dominion,
uma experiência quase surreal que coloca uma face a
cada distante e anônima baixa do conflito."
14...
"The Changing Face of Evil"
"Do
ataque à Terra até a destruição
da Defiant, um momento arrebatador atrás do outro.
Deixo aqui um pequeno tributo aos ditos "vilões"
de DS9, simplesmente inesquecíveis. A redenção
de Damar foi uma brilhante idéia dos realizadores."
13...
"Necessary Evil"
"Melhor
exemplo de "Trek Noir". Excepcional escrita e execução
com René Auberjonois literalmente "quebrando tudo"
em duas épocas distintas como o comissário.
A cena final em que Odo confronta Kira sobre o crime que ela
cometera é definitivamente especial."
12...
"In the Cards"
"Perfeita
"dramédia". As duas idéias que mais
ressonam pessoalmente são a dos "efeitos colaterais
da bondade" e é claro daquela que diz que: "mesmo
no coração da escuridão sempre existirá
algo que o fará sorrir"."
11...
"Rapture"
"A
jornada espiritual de Sisko sempre foi algo central para a
série e um dos elementos que a definiu e a diferenciou
das demais. É fascinante como Brooks consegue vender
a experiência das suas visões sem necessidade
de imagem alguma. Extremamente inteligente e emocional."
10...
"Far Beyond the Stars"
"É
o episódio que eu gostaria de ter escrito, simples
assim. Alguns acreditam até hoje que esta história
é sobre o racismo, o que não poderia ser mais
incorreto. A cena final é o mais perto de real mágica
que Jornada jamais chegou."
09...
"Rocks and Shoals"
"Quando
os "vilões" se tornam tão complexos
que começamos a lamentar por suas mortes, temos a certeza
do surgimento de mais um clássico. Isto é dilema
humano no seu melhor. Na estação, a indignação
de Kira por perceber estar se transformando em uma colaboradora
também é extremamente potente."
08...
"In Purgatory's Shadow"
"Incríveis
reviravoltas (incluindo a definitiva traição
de Dukat no horizonte), diálogos e brilhante execução
cedem lugar na memória para a cena da morte de Enabran
Tain, em que Garak pede que o velho Cardassiano admita na
hora derradeira que ele era de fato o seu pai. De cortar o
coração."
07...
"Call to Arms"
"Provavelmente
o episódio todo merece destaque. Mas principalmente
a tensa conversa entre Weyoum e Sisko, o inesquecível
discurso de despedida de Sisko, Dukat encontrando a bola de
beisebol de Sisko (como um aviso de que o capitão iria
retornar) e a tomada final da Defiant e da Rotaran se encontrando
com a força tarefa Federada."
06...
"The Visitor"
"Talvez
o mais emocionante episódio de todas as Jornadas. Retratando
talvez o mais verdadeiro relacionamento (Ben e Jake) de todas
as série de Jornada. Uma direção
virtuosa, uma música assombrosa e um texto que parece
uma antologia, elogios nunca serão suficientes para
este completo e absoluto vencedor."
05...
"Tacking into the Wind"
"O
último clássico da série. Destaques:
conversa entre Ezri e Worf em que a Trill diz que o Império
Klingon merece morrer, Worf matando Gowron e entregando o
cargo de chanceler a Martok e o tenso confronto em que Damar
tem que matar um velho amigo para que Cardassia ainda tenha
uma chance de sobreviver. Fala inesquecível (de Kira):
'Que tipo de Estado tolera o assassinato de crianças
e mulheres inocentes?'"
03...
"Improbable Cause" & "The Die Is Cast"
"A
própria definição da perfeição
em termos de escrita, com uma execução não
menos legendária. A solidão compartilhada por
Odo e Garak é infinitamente tocante e a cena final
de "The Die Is Cast" permanece como a minha favorita
de todas as Jornadas."
02...
"Duet"
"'O
primeiro clássico a gente não esquece', diriam
alguns. Episódio que transformou muitos fãs
ocasionais em Niners convictos. Brilhante alerta sobre os
perigos das generalizações. Kira se desenvolveu
mais neste único episódio do que inúmeros
personagens das demais séries em centenas. Harris Yulin
foi provavelmente o melhor ator convidado de todas as Jornadas."
01...
"In the Pale Moonlight"
"A
obra prima da série. Poucas horas de TV que já
vi na vida têm a intensidade deste segmento. De fato
"não se pode ir para a cama com o Diabo sem ter
sexo com ele", como diria o ator de Garak, Andrew Robinson.
Fala inesquecível (de Sisko): 'Se eu tivesse que fazer
tudo novamente, eu faria!'"
"Do
que o senhor mais lembra da série?"
"Das
pequenas coisas, das palmas invertidas Bajorianas, da imagem
de uma bola de beisebol assinada pelos amigos, de Morn sentado
na ponta do bar, Bashir e O’Brien saindo ou entrando
em uma holo-suite com alguma fantasia ridícula, de
Sisko cozinhando e fazendo alguma piada com seus vegetais
favoritos, de Vic Fontaine cantando "The Way You Look
Tonight"... Talvez este seja o único teste que
seja válido de verdade, se em um dia triste e difícil
a lembrança lhe trouxer algum conforto, alguma luz,
é sinal que a obra foi feita por pessoas que se importavam,
que teve significado."
Neste
momento, o homem para um pouco para molhar a garganta. Falar
de tantas coisas pessoais em um sentido ou outro para uma
(até que se prove o contrário) completa estranha
pareceria errado para qualquer um que visse a cena de fora,
mas enquanto falava ele notava no semblante da jovem que grande
parte do que dizia tinha ressonância nela sim e que
claramente, mesmo que o trabalho da faculdade não fosse
uma invenção, ela não estava contando
toda a história. E para o homem isto simplesmente não
importava.
"Houve
um momento particularmente difícil no TB?"
"Eu
me lembro do ano de 2003, por diversos motivos tanto o Salvador
quanto eu estivemos muito ausentes da administração
do site naquela época e devemos muito ao Fernando Penteriche
por ter carregado o piano naqueles momentos difíceis.
Mas devo dizer que também foi um ano de boas lembranças,
na esteira do aniversário de quatro anos do site e
da cobertura-monstro da vinda do ator Leonard Nimoy ao Brasil,
recebemos um número recorde de e-mails nos felicitando
pelo trabalho e nos apoiando para darmos continuidade aos
nossos esforços. Algo que talvez nunca tenhamos agradecido
o suficiente. De fato certos elementos que surgiram justo
naquele ano nos permitiram dar vôos cada vez mais ousados
em anos seguintes."
"O
senhor ainda pensa neles?"
"É
claro, não existe maior aventura que lembrar dos grandes
amigos."
"Acho
que já tenho material suficiente, podemos parar por
aqui."
"Muito
bem. Vou deixar a bandeja na cozinha e já volto."
Alguns
minutos depois, já na varanda da casa os dois sentem
o cheiro da terra molhada, não caia mais água
do céu.
"Quem
é você, Diane?"
"Uma
amiga. Pelos menos eu gostaria de ser. Conhecer você
foi como rever um antigo e querido amigo."
"Espero
que tenha encontrado o que veio procurar aqui."
"Eu
realmente espero que sim. Obrigada por tudo e é claro...
Feliz aniversário!"
A
jovem lhe dá um beijo na face e parece lhe dizer com
os expressivos olhos que talvez esta não seja a última
vez que os dois venham se encontrar. Ela dobra a esquina a
pé e momentos depois retorna dirigindo um improvável
Fusca conversível. Ela acena e parte, o homem responde
ao aceno, existe grande satisfação no seu semblante.
De
volta ao interior da casa, que agora parece mais dele do que
velha, ele tem o pensamento de tomar um banho e esperar por
eventuais campainhas. Mas um pedaço de papel em cima
do teclado do seu computador pessoal lhe chama a atenção,
não é difícil de adivinhar do que se
trata. Ele acreditou na moça, a partir de um certo
ponto, sem pestanejar, por que parecia a coisa certa a fazer,
para os dois.
Alguns
toques de teclado depois e uma checagem para saber se o drive
de disco estava realmente vazio, chegava a tela uma imagem
tão familiar, tão querida. E não somente
parecia com o que ele se lembrava, tudo funcionava como sempre
funcionara, e à medida que navegava naquele velho amigo,
uma "melodia de McCarthy" enchia a sua mente e páginas
de html se tornavam como as de um álbum de recortes.
E pela primeira vez em muito tempo ele se sentiu jovem, como
quando o mundo era novo.
"...
é o que se deixa para trás."
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