Segmento tenta desenvolver Hoshi num sonho chato e redundante
Sinopse
Data: Desconhecida
Hoshi Sato e Trip Tucker estão em uma missão num planeta desabitado, estudando as ruínas de uma antiga civilização que lá viveu. Os dois ainda tinham muito o que explorar, quando Archer contata Trip e avisa que os dois precisarão voltar à nave rapidamente, em razão de uma tempestade muito forte que se aproxima daquela região.
Não fosse apenas a violência dos ventos e da chuva, que impediam o retorno com a cápsula auxiliar, outra tempestade, de natureza eletromagnética, também se deslocava para o local. Sem alternativa, Archer decide que os dois terão de voltar via teletransporte.
Hoshi está com muito medo de ter suas moléculas desfeitas e refeitas pela máquina, o que faz com que Trip vá primeiro. Se ele chegar são e salvo, diz a alferes, ela irá em seguida. O engenheiro concorda e se teletransporta. Da nave, ele contata Hoshi e diz que ela pode subir.
Hoshi, então, desaparece e volta a aparecer, em segurança, na Enterprise. Apesar disso, a alferes começa a se sentir cada vez mais estranha. Em seus aposentos, olhando no espelho, ela tem a impressão de que a experiência fez com que uma marca de nascença dela se deslocasse. Preocupada, Hoshi vai até a enfermaria, para que Phlox possa fazer um exame.
O médico entende o estresse pelo qual a alferes está passando, mas garante que ela está absolutamente sadia. Mesmo assim, ela começa a passar por experiências cada vez mais intrigantes. Primeiro, ela vai até o refeitório, onde Travis, Trip e Malcolm parecem simplesmente não lhe dar atenção. Lá, o trio lhe conta a história de Cyrus Ramsey, o primeiro voluntário num experimento de teletransporte — que nunca se materializou novamente.
Ela volta à sua cabine e, depois de dormir mais do que o normal, é acordada subitamente, atrasada para assumir seu posto na ponte. Ela é chamada para resolver um problema: Travis e Trip, que voltaram à superfície para buscar a cápsula auxiliar, foram capturados como reféns pelos alienígenas locais.
Hoshi vai à ponte, absolutamente intrigada: não havia ninguém vivo lá embaixo. Segundo Archer, eles ficaram ofendidos com a invasão e o estudo de suas ruínas sagradas. Ela precisa se comunicar com os alienígenas, mas é incapaz, com ou sem tradutor universal, de entender sua língua. Sem paciência, Archer a troca pelo oficial Baird, que rapidamente resolve a situação. Hoshi é dispensada do serviço.
Mais tarde, de novo no refeitório, ela se junta a T’Pol, que conta como Baird solucionou o problema e confirma que ela está dispensada permanentemente, substituída pelo oficial. Pior: agora não só seus colegas parecem não lhe dar atenção, mas as portas parecem não responder mais à sua presença. E, no banho, ela tem a impressão de que suas mãos desapareceram por um momento.
De volta à enfermaria, ela garante a Phlox que há algo errado. O médico novamente confirma que está tudo bem e recomenda dar a ela um sedativo, para que possa descansar. Hoshi se recusa. Em vez disso, ela vai à sala de ginástica da nave, onde Trip está se exercitando. Ela pede desculpas por não ter sido capaz de resolver a crise de reféns, mas o engenheiro entende. Ele diz que ela passou por maus bocados e deveria pedir ao doutor Phlox um sedativo. Respondendo que os homens são todos iguais, Hoshi é deixada a sós na sala de ginástica.
Depois, quando resolve sair, ela descobre que não consegue mais tocar as coisas, como se estivesse se dissolvendo. Pior, lentamente seu reflexo desaparece do espelho. É como se ela tivesse sumido.
Hoshi passa a noite na sala de ginástica e é acordada de manhã pelo barulho de T’Pol e Trip entrando lá. Os dois estão investigando o desaparecimento da alferes e, apesar de ela estar lá, eles não conseguem vê-la. Aproveitando, entretanto, que os dois abriram a porta, ela sai e os acompanha pela nave.
Na enfermaria, Phlox explica o que houve. Aparentemente, suas leituras mais detalhadas mostraram que Hoshi realmente sofreu um problema durante o transporte, que causou instabilidade em suas moléculas. Segundo o doutor, a essa altura, só serão encontrados resíduos da alferes. O médico e Trip acabam achando os resíduos em um dos dutos da nave, supostamente confirmando a morte de Hoshi.
Mas ela está lá! Enquanto ouve os lamentos de Trip sobre sua morte, ela também percebe certa movimentação nos dutos. Descobre, então, um par de alienígenas instalando uma bomba na nave. Ela corre para tentar avisar o capitão Archer, que, na ocasião, está comunicando ao pai de Hoshi a morte da alferes.
Apesar de Archer não conseguir vê-la, Hoshi consegue fazer com que um painel pisque em código morse. Ela primeiro envia “SOS”, que Archer consegue pegar. Depois ela tenta enviar “Hoshi”, mas o capitão não está tão familiarizado assim com o morse. Ele e T’Pol acabam concluindo que o SOS foi uma coincidência.
Hoshi decide, então, que vai ter de impedir os alienígenas sozinha. Ela consegue atrasá-los um pouco, mas eles acabam tendo sucesso, fugindo numa plataforma de transporte. Sem alternativa, ela vence o medo e sobe na plataforma. Quando é teleportada, se materializa na sala de transportes da Enterprise.
Tucker informa a alferes de que ela acaba de retornar das ruínas, após a tempestade. Malcolm teve dificuldades em reintegrar seu padrão e ela passou alguns segundos semimaterializada, o que permitiu que ela tivesse toda aquela alucinação. Mas tudo não passou de um sonho. Até mesmo Cyrus Ramsey nunca existiu, a não ser no inconsciente de Hoshi.
Comentários
“Vanishing Point” foi rotulado pelo produtor-executivo Rick Berman como um episódio aparentado com “The Inner Light”, de A Nova Geração. Só se for no gênero paródia, penso eu.
É um sacrilégio comparar seriamente um segmento tão profundo e emocional com seu atual travesti. O que vemos aqui é o mesmo mecanismo para contar uma história (uma alucinação induzida), mas usado de forma muito mais mundana e coloquial.
Não há uma experiência extremamente pessoal, sobre o que uma vida poderia ser e não foi; não há uma vida inteira vivida sob outra identidade; não há uma civilização tentando desesperadamente não ser relegada ao esquecimento. Em vez de tudo isso, há um simples acidente. Um acidente. Não dá para comparar.
Em “The Inner Light”, não há nenhuma intenção por parte dos roteiristas de esconder da audiência que Picard está sofrendo uma alucinação por parte da sonda. Já sabemos logo de cara que nada daquilo está, de fato, acontecendo e, por essa razão, se torna muito mais interessante explorar aquela situação. Aqui, somos trapaceados, levados a crer que o transporte de Hoshi de fato foi concluído e que toda aquela doideira está, de fato, acontecendo. Só no final somos confrontados com a cena “enganei um bobo, na casca do ovo”.
Esse truque poderia valer a pena se aprendêssemos um pouco mais sobre a psique da alferes Sato. Mas tudo que o episódio nos oferece é mais do mesmo: as mesmas fobias, a falta de adaptação da alferes à exploração espacial, o medo do teletransporte… e sua posterior superação, ao fim do episódio. Essa parece ser a fórmula básica dos episódios de Hoshi. “Fight or Flight” vem logo à mente.
Antes da exibição, o episódio também havia sido comparado a “The Next Phase“, da Nova Geração. Mas, claramente, seu parentesco maior é com “Remember Me”, que lida com a fobia da dra. Crusher de ver toda a tripulação desaparecendo. Aqui a premissa é apresentada às avessas — Hoshi é quem está desaparecendo.
Mesmo assim, o que todos os episódios citados conseguiam fazer, sendo ou não verdade o que estava acontecendo, era manter um certo ar de que, ao menos, poderia ser verdade. Aqui, as alucinações de Hoshi só conseguem transparecer que, se tudo for mesmo verdade, trata-se do pior episódio já escrito.
Não só por muito pouco de seu enredo fazer sentido (seu desaparecimento é uma viagem absurda, assim como a situação dos reféns, a presença dos alienígenas e por aí vai), mas pelo fato de esse enredo, apesar de livre das restrições da realidade, ser extremamente enfadonho. A gente quase torce para a Hoshi desaparecer de vez, só para o episódio acabar. É sonolento à beça.
Ele não chega a agredir os personagens, como o infame “A Night in Sickbay”, mas também não o faz simplesmente por não os apresentar — todos são ilusões de Hoshi. A única que poderia ter algum desenvolvimento, a própria alferes, não apresenta nenhuma novidade com relação a suas aparições anteriores.
Do ponto de vista técnico, o episódio também não é particularmente marcante. A maioria absoluta das cenas se passa a bordo da Enterprise, o que não ajuda a tornar o segmento mais interessante. O único elemento que pareceu genuinamente interessante no delírio de Hoshi foi a lenda urbana de Cyrus Ramsey — que, descobrimos ao final, não passou de imaginação dela.
A direção é razoável, com alguns toques de brilhantismo, como na cena em que Phlox está explicando a Archer como Hoshi desapareceu, enquanto a câmera gira para nos mostrar a própria alferes, ao fundo, fora de foco. Mas nada disso é capaz de nos salvar de um roteiro derivativo e enfadonho.
Sobra muito pouco para elogiar em “Vanishing Point”. Apesar de seu ponto de partida estar firmemente calcado na premissa da série (a tecnologia é nova e o transporte ainda não é 100% confiável), a sucessão de erros na roteirização e execução, além da evidente falta de criatividade, minou qualquer chance de sucesso para o segmento. Um dos pontos mais baixos da temporada.
Avaliação
Citações
“I think this says ‘tall guys are popular.'”
(Acho que aqui diz ‘caras altos são populares’.)
Tucker
“You go first. If you get back to Enterprise in one piece, I’ll be right behind you.”
(Você vai primeiro. Se você voltar à Enterprise num pedaço, estarei logo atrás de você.)
Hoshi
“Next think you’ll tell us is that ya never heard of the Easter Bunny.”
(A próxima coisa que você vai nos dizer é que nunca ouviu falar do Coelho da Páscoa.)
Tucker
“I’m not talking about the storms, I’m talking about my molecules!”
(Eu não estou falando das tempestades, estou falando de minhas moléculas!)
Hoshi
“I hope you don’t plan on ‘beaming’ me anywhere for a long time!”
(Espero que você não pense em me ‘transportar’ para lugar nenhum por um longo tempo!)
Hoshi
Trivia
- Berman chegou a comentar o episódio, antes da exibição. “Esse vai ser um episódio bem incomum que terá certas qualidades meio similares ao episódio “The Inner Light”.”
- O ator Keone Young já havia aparecido em Jornada, interpretando o imaginário Buck Bokai, em “If Wishes Were Horses” (Deep Space Nine). Morgan H. Margolis já havia interpretado o visitante vaskano em “Living Witness” (Voyager).
- As filmagens começaram em 2 de outubro de 2002 e foram até o dia 11.
- “Vanishing Point” apresenta o primeiro uso do termo “beaming” para o teletransporte na série.
Ficha Técnica
Escrito por Rick Berman & Brannon Braga
Dirigido por David Straiton
Exibido em 27 de novembro de 2002
Títulos em português: “Ponto de Fuga”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Keone Young como pai de Hoshi
Gary Riotto como alienígena 1
Morgan H. Margolis como tripulante Baird
Ric Sarabia como alienígena 2
Carly Thomas como Alison
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria