Os episódios finais da 3ª temporada de Discovery tiveram a surpreendente revelação de que foi Su’Kal, um kelpien, que, quando criança, causou a Queima, através de sua ligação única com o dilítio. Sua explosão emocional com a perda de sua mãe viajou através do subespaço, tornando o dilítio inerte em toda a Federação e além, causando a explosão de naves em dobra.
Em um bate-papo ao vivo com o site Gold Derby, após o final da temporada, os produtores executivos de Discovery e co-showrunners Michelle Paradise e Alex Kurtzman discutiram a temporada, incluindo o desenvolvimento da história da Queima. Kurtzman contou como ele e Michelle desenvolveram a história durante caminhadas, antes de reunir a sala de roteiristas:
Nas primeiras conversas, surgiu o conto The Ones Who Walk Away from Omelas, de Ursula K. Le Guin. É uma história de ficção científica muito famosa, centrada em uma criança e uma aldeia. Não é exatamente uma analogia um-para-um, porque nossa história é diferente. Mas foi uma inspiração. Foi quando tivemos a ideia de que tudo isso foi causado por uma criança. Acho que isso veio do instinto de que queríamos que a resposta fosse algo que você não esperasse ou não visse acontecendo, mas que faria sentido quando chegasse lá. Para que isso funcione, você tem que saber para onde está indo e você tem que plantar pistas ao longo do caminho, que o público, consciente ou inconscientemente, esteja acolhendo, de modo que, quando você chegar a essa revelação, você percebe que tudo se soma em alguma coisa.
Sabíamos que haveria um mundo de sonhos. Sabíamos que era sua própria versão de Matrix. Não sabíamos exatamente como seria, e levou uma temporada inteira para atualizá-lo e as regras e a lógica para isso. Mas sabíamos desde o início que era para lá que queríamos ir.
The Ones Who Walk Away from Omelas é uma das histórias mais famosas de Ursula K. Le Guin, incluída em sua coletânea de contos The Wind’s Twelve Quarters, que ganhou o prêmio Hugo de melhor conto em 1974 e é frequentemente usada em salas de aula, para discutir ética na literatura. Conta a história de Omelas, uma cidade utópica de felicidade e deleite, cujos habitantes são inteligentes e cultos. Tudo em Omelas é agradável, exceto pelo terrível segredo da cidade: a boa aventurança de todos na cidade exige que uma única criança seja mantida infeliz, presa na sujeira, escuridão e miséria, e que todos os seus cidadãos descubram isso quando tiverem idade para compreender, normalmente entre os oito e os doze anos.
Como um aceno à contribuição de Le Guin para a temporada, uma da naves da Federação do século 32 foi nomeada em sua homenagem e mencionada no episódio “Scavengers”. A premiada autora faleceu em 2018 e nunca foi capaz de se ver adicionada ao cânone de Star Trek. Após o episódio mencionando a USS Le Guin, os representantes da autora falecida enviaram um tweet dizendo que ela ficaria feliz pela referência.
#StarTrekDiscovery S3E6 introduces the USS Le Guin. Ursula would be very tickled! Thank you Peter O'Brien for bringing this to my attention and (I assume) writer/producer @acofell for making it happen. pic.twitter.com/vxJjetoY1Q
— Ursula K. Le Guin (@ursulaleguin) December 17, 2020
Na semana passada, a CBS compartilhou a arte conceitual para a USS Le Guin e outras naves da Federação do século 32 (veja aqui).
Durante o mesmo bate-papo ao vivo, a co-showrunner de Kurtzman, Michelle Paradise, falou sobre chegar a uma resposta não convencional para a Queima, e como ela se vinculou ao tema da temporada:
Foi algo que falamos desde o início da temporada, em termos do que era a Queima, e o que a teria causado. E uma das coisas que Alex e eu estávamos falando muito cedo foi: o que isso significa? Uma das coisas que estávamos explorando muito na terceira temporada era essa noção de conexão e desconexão. E quando estávamos chegando ao final da temporada, era: “Qual é a maior metáfora ou símbolo de desconexão que existe?” Essa ideia de desconexão, chegando a um momento muito emocional, e uma desconexão entre essa criança e sua mãe, entre duas pessoas. Qual é a coisa mais emocional? Isso é o que estávamos tentando achar como um símbolo de desconexão. Não conseguíamos pensar em nada mais emocional do que isso.
E a ideia de que este mundo também foi criado pelo amor de sua mãe por ele, e tentando fazer do seu mundo um lugar melhor, mesmo em sua ausência. E as maneiras pelas quais ela continuava a alcançá-lo são muitas das maneiras pelas quais nossos personagens têm se aproximado ao longo da temporada. As maneiras pelas quais os personagens que nasceram neste mundo, como o almirante Vance e Book e todos esses outros personagens, que estiveram à deriva uns dos outros, e se desconectaram, alcançando e tentando se conectar. Queríamos que o mundo em que Su’Kal vivesse fosse um símbolo disso.
Fonte: TrekMovie e Gold Derbie