TB analisa o Blu-Ray de Star Trek

Star Trek BD fnac françaO Trek Brasilis teve acesso em primeira mão ao disco Blu-Ray francês do novo filme da franquia, Star Trek, dirigido por J.J. Abrams. A França foi um dos primeiros países a receber esse filme para venda, em DVD e Blu-Ray, cerca de um mês antes do lançamento nos EUA. Embora sem restrição de região (roda em qualquer aparelho Blu-Ray), esse disco europeu não tem áudio e nem legendas em português, nem mesmo de Portugal, embora contenha legendas de praticamente todas os idiomas da Europa Ocidental. De qualquer forma, com exceção das opções de idioma e legenda, o disco é absolutamente idêntico ao americano e ao nacional quanto à qualidade de imagem, som e conteúdo dos extras.

A edição americana tem um terceiro disco, com uma cópia digital para exibição em aparelhos portáteis, como celulares e iPods, além de demonstrações de novos jogos para PC e Xbox-360. A edição francesa, usada nessa resenha, foi comprada na loja Fnac de Paris e acompanhou como brinde uma revista em qudrinhos com uma história romulana como prelúdio do episódio Balance of Terror da Série Clássica.

O Filme

Jornada nas Estrelas já foi grande. Gozou de prestígio do público e crítica. Criou novos padrões para a televisão. Gerou milhões de fãs em vários países. Tudo isso quase foi perdido nos últimos 10 anos. Mas agora, Jornada nas Estrelas voltou a ser grande. O diretor, J.J. Abrams, entregou um produto divertido, dinâmico e com um certo conteúdo que o diferencia de outros filmes-pipoca mais recentes. Nunca exigi que o novo Star Trek fosse espetacular, mas pelo menos muito divertido e fiel às suas raízes. E foi esse o filme que eu vi.

Não vou me ater muito no roteiro e na história, porque grande parte dos fãs aqui leitores certamente já assistiram o filme. Mais importante, as resenhas dos demais colegas do Trek Brasilis, Salvador Nogueira, Leandro Martins e Fernando Penteriche, datadas de maio de 2009, já fizeram um excelente trabalho de cobertura do filme. Esses textos podem ser encontrados facilmente no histórico de matérias do Trek Brasilis, aqui.

Apenas ressalto aqui o fato do roteiro, embora muito simples, funciona quase com perfeição. Em resumo, o vilão Nero e o Spock original, intepretado por Leonard Nimoy, voltam no tempo por acidente, 126 anos antes. Nero chega primeiro e, durante um ataque à primeira nave da Federação que aparece, a USS Kelvin, seu capitão é morto e o primeiro oficial, George Kirk, assume o comando pelo tempo suficiente para evacuar a nave e salvar os sobreviventes, dentre eles sua esposa no momento do parto do seu filho, James T. Kirk. George morre. A partir desse momento a linha do tempo é alterada e surge uma realidade alternativa, preservando o que já aconteceu nos filmes anteriores, mas estabelecendo essa nova realidade alternativa, o que abre o leque para novas interessantes possibilidades futuras.

O filme, após essa introdução inicial, passa a intercalar a infância de Kirk e Spock e como ambos optaram por ingressar na Frota Estelar. Lá o filme apresenta aos poucos os demais personagens (McCoy, Uhura, Sulu, Checov e Scotty) e como se unem durante a primeira viagem da Enterprise, para combater o vilão Nero e salvar o planeta Terra.
J.J. Abrams acertou em cheio no ritmo acelerado, mantendo o filme ágil e divertido durante seus 126 minutos, que passam num piscar de olhos, sem cansar. A melhor descrição é de uma montanha russa de emoções. Tudo isso sem perder de foco os personagens, justamente a “alma” da Série Clássica.

A química entre os atores funciona que é uma maravilha e é evidente na tela que todos estão curtindo muito os papéis que lhe foram entregues. O famoso triunvirato, Kirk, Spock e McCoy ficou perfeito na interpretação de, respectivamente, Chris Pine, Zachary Quinto e Karl Urban. Kirk é o personagem principal do filme e, em função disso, Chris Pine está praticamente em todas as cenas. O grande macete é mostrar, de forma verossímil, como Kirk, um jovem desajustado do interior dos EUA, resolve se alistar na Frota Estelar apôs um sermão do capitão Pike (um grande momento do filme) e, após três anos, se mostrar um líder nato, pró-ativo, como o antigo Kirk que conhecemos. É o crescimento interior desse personagem que alicerça o filme. Ao final, Pine personifica a figura do capitão da Enterprise, sem emular os trejeitos do William Shatner. Ponto positivo.

Quinto está ótimo como Spock, mas sentimos falta daquela postura de nobreza que Leonard Nimoy conseguiu impor ao personagem. As comparações são inevitáveis ainda mais porque o próprio Nimoy está no filme, interpretando o Spock já idoso, e sua presença é majestosa. Karl Urban é um assombro como McCoy. É o único que efetivamente emula o ator original que interpretou o mesmo personagem, DeForest Kelley. A perfeição é incrível, principalmente porque não se trata de uma simples cópia de atuação, mas sim uma homenagem digna de aplausos. Por isso, é o meu personagem preferido no filme.

Os demais atores que intepretam Uhura, Chekov, Sulu, Scotty estão ótimos e, ainda que não se pareçam fisicamente com os atores originais, conseguem atribuir a necessária caracterização para torná-los mais reais, mais humanos, mas perder as qualidades que conhecemos e adoramos nesses personagens. Eric Bana é o ator menos aproveitado.  Interpreta o vilão Nero, que busca vingança pela destruição, no futuro, do seu planeta natal, Romulus. O problema é que Nero tem apenas umas quatro ou cinco cenas e o roteiro se preocupa mais em estabelecer seu papel vingativo do que suas motivações. Em uma cena de flashback é explicado rapidamente porque busca vingança, mas é tudo muito apressado e sem a exposição necessária. É um vilão que serve ao propósito do filme, mas poderia ser muito melhor.
Quanto à produção do filme em si, é simplesmente espetacular. Os efeitos especiais são excelentes.

A minha única ressalva nesse ponto é a própria Enterprise. Eu gostei muito do novo design da nave e de sua nova ponte de comando. Tudo muito moderno e com alguns itens reminescentes da Série Clássica. Mas considero que faltou capricho nas demais áreas. A engenharia, por exemplo não possui um desenho muito bem definido e tem visual muito poluído (cheio de tanques, encanamentos, tubulações etc), o que contradiz o aspecto mais “clean” de outras seções da nave. Ao assistir os documentários no disco dois, de extras, é explicado que as filmagens foram feitas em fábricas de cervejas, para conferir maior realidade ao cenário. Não concordo muito com esse ponto de vista e espero que isso seja “ajustado” no próximo filme.

Também senti falta de algumas tomadas espaciais a mais da Enterprise. Não tanto como fizeram no primeiro filme para o cinema (Star Trek – The Motion Picture, de 1979), mas um meio termo seria apropriado. A trilha sonora de Michael Giacchino é muito boa, mas faltou um tema de destaque. Aliás, curioso que essa é uma das características que está se perdendo nas trilhas sonoras atuais. Filmes como Batman, Homem de Ferro, Homem-Aranha, etc, não possuem nenhum tema musical marcante, daquelas que ficam na nossa cabeça dias e dias após assistirmos o filme. A última trilha que me marcou de verdade foi a da trilogiais Senhor dos Anéis. Depois disso, difícil me lembrar de outra com a mesma qualidade.

Da mesma forma, após assistir ao novo Star Trek, a única música que ficou comigo é a dos créditos finais que, aliás, não é do Michael Giacchino, mas sim do Alexander Courage, justamente a música de abertura da Série Clássica dos anos 60. Nada como música clássica!

Mas não sejamos muito críticos com essas questões, pois o filme tem tantos pontos positivos que não é justo criticar em demasia. São 126 minutos de pura emoção e aventura, que prende não só o fã como o público em geral. A excelente bilheteria inicial do filme já atesta esse fato e o absoluto sucesso financeiro do filme.

Um ponto controvertido e que poderia trazer problemas para os roteiristas é a tal “linha do tempo alternativa” criada pelo vilão Nero ao voltar ao passado e destruir a nave Kelvin. Muitos fãs criticaram muito essa jogada do roteiro, pois comprometia uma premissa do filme: como os personagens se conheceram e começaram a trabalhar em equipe. Verdade, se é uma linha do tempo alternativa, assistimos no filme uma outra realidade, talvez diferente da original, pelo qual os personagens se encontraram de forma totalmente diferente. Mas enxergo por outro aspecto. O roteiro do filme atesta que é o destino que uniu a tripulação da Enterprise, independentemente das motivações e circunstâncias que colocaram cada personagem no seu devido lugar na ponte da Enterprise. Ou seja, essas pessoas estavam predestinadas a trabalharem juntas e salvarem a Terra e o Universo. Achei muito bacana esse lance do roteiro.
Ademais, a participação do Spock original na trama, interpretado por Leonard Nimoy, é um instrumento engenhoso para validar essa história de linha do tempo alternativa.

Para os não-fãs, que não conhecem a história original da série, o filme marca um ponto inicial, que não se prende muito ao que foi estabelecido pela cronologia original. Já para os fãs, a presença do Spock original demonstra a continuidade, pois o personagem veio do futuro e presenciou todas as aventuras que assistimos desde sua primeira aparição no episódio piloto The Cage. Inclusive, o fato do personagem estar no filme e lembrar desses eventos, comprova que a cronologia original está intacta, sem modificações e que a nova linha do tempo introduzida com esse filme é alternativa, não modificativa. Assim, os eventos que conhecemos da série original, podem ou não ocorrerem da forma como vimos. Como diria o próprio Spock, “sempre há possibilidades”.

Em suma, um grande filme e um novo começo mais do que merecedor para a série Jornada nas Estrelas. Que tenha vida longa e prosperidade.

O Blu-Ray

Menus

Os menus são simples, mas muito elegantes e, principalmente, de fácil navegação. Ninguém se perderá entre telas e telas de acesso ao material do filme e extras, pois aqui tudo está contido na mesma tela, com acesso por meio do sistema de raízes.

Imagem

Proporção: 2.35:1
Resolução: 1080p
Codec de video: MPEG-4 AVC Video

Infelizmente a constatação aqui é que dificilmente os cinemas brasileiros são dotados de equipamentos de imagem e som que façam jus à qualidade original do filme exibido. Tive a oportunidade de assistir Star Trek em três diferentes cinemas da Capital paulista, todos tidos como alto padrão para a projeção. Na primeira exibição, achei a projeção muito escura; na segunda um tanto fora de foco; a terceira foi a melhor, com excelente nitidez e fidelidade de cores, mas o som estava fraco.

Nesse contexto, posso assegurar que só experimentei a qualidade total desse filme, da forma como pretendida pela produção, ao assistí-lo em Blu-Ray em uma TV de 40 polegadas Full HD. Sim, a TV poderia ser maior, mas para o tamanho da minha sala, está absolutamente perfeito. De início, um ligeiro susto, pois o logo da Paramount, logo nos primeiros segundos do filme, apresenta severos artefatos digitais, principalmente nas nuvens. No entanto, logo após o logo, a imagem se estabiliza.

O que mais impressiona nesse filme é a riqueza de detalhes nos cenários, nas roupas e equipamentos. Tudo é renderizado com grande riqueza na tela da TV. As cores são ricas, com variada paleta, o que pode ser verificado principalmente nos uniformes. O dourado, o azul e o vermelho representam essas exatas cores, sem aquelas variações que costumamos ver no DVD, onde, por exemplo, o vermelho tem ligeira inclinação para um tom escuro de laranja.
Também impressiona o grau de granulação, que certamente estava presente na película original usada para criar o master desse Blu-Ray. A exibição tem todas as características de “filme”, não de conteúdo digital (no sentido de uma limpeza digital na imagem).

Som

O áudio principal é exibido em inglês no formato Dolby TrueHD 5.1 (3603 kbps 5.1 / 24-bit/ 48 kHz). Para quem não tem um home theater compatível com Dolby TrueHD, o áudio será convertido para Dolby Digital 5.1. (48 kHz / 640 kbps). É simplesmente fenomenal na fidelidade e resolução, com excelente separação entre os canais para provocar a necessária imersão do espectador. Embora existam formatos mais dinâmicos, como DTS-HD Master Áudio 7.1, a Paramount não trabalha com esse formato. Mas se deixe desanimar, pois o áudio desse disco é espetacular.

Destaque para o áudio durante a cena do elo mental entre Kirk e o velho Spock, para constatar um exemplo de como a técnica empregada para separação de canais pode conceder um grande efeito nesse momento específico do filme.
Os demais idiomais (francês, italiano etc) estão todos em Dolby Digital. Como já mencionei, esse disco francês não tem legendas em português, nem mesmo de Portugal.

Extras

Hoje em dia é prática mais do que comum entulhar o segundo disco, seja de DVD ou Blu-Ray, com uma série de documentários e entrevistas sobre os bastidores da produção. No entanto, nos últimos anos tem faltado um certo capricho nesse material, muitas vezes redundante, com aquelas entrevistas típicas de pré-lançamento no cinema, em que todos elogiam o trabalho de todos na produção, mas não oferecem maiores detalhes de como a idéia nasceu, se desenvolveu e chegou ao seu produto final.

Como exemplo, uma das grandes decepções, no quesito de extras, foi o Blu-Ray do Batman, o Cavaleiro das Trevas, com material superficial e um tanto desinteressante. Em suma, um grande desperdício, talvez porque a Warner esteja esperando o lançamento do próximo filme para relançar uma edição melhor do segundo filme; ou seja, teremos que pagar novamente pelo produto.

Bom, aqui com Star Trek é o oposto. Ambos os discos estão recheados de material de ótima qualidade, abrangendo absolutamente tudo da produção, desde sua gênese, desenvolvimento, escolha do elenco, inspirações, pré-produção, produção e pós-produção. Tudo é apresentado com grande empolgação e emoção por todos os envolvidos no filme.
É simplesmente surreal ver as imagens dos primeiros testes de maquiagem no Leonard Nimoy no já distante outubro de 2007.

Um dos destaques mais interessantes são as cenas deletadas, principalmente do período de prisão de Nero em Rura Penthe. Todas as cenas foram filmadas, mas para não perder o ritmo central do filme, foram descartadas em última hora. Assim, esse material é muito interessante para conferir o que se passou com Nero durante aqueles 25 anos de espera pela chegada do Spock velho. Os Klingons aparecem todos com capacete, não possibilitando muita visão de suas feições, salvo os olhos, os narizes e as bocas. O visual me pareceu mais animalesco e selvagem. Também é interessante a cena deletada que mostra como Kirk conseguiu trapacear no teste do Kobaiashi Maru.

Outro material que os fãs vão adorar é o passeio interativo pelas renderizações CGI da Enterprise e da Narada, para conferir de perto todos os detalhes dessas naves. Na Enterprise é até possível disparar feisers e torpedos fotônicos.
Infelizmente, um extra muito legal que não pude conferir, por falta de hardware, é a “realidade estendida”, que exige uma webcam; logo, apenas os possuidores de computadores com drive de Blu-Ray ou da câmera de video do Playstation 3 poderão usufruir desse material.

É difícil explicar como funciona, mas a embalagem do Blu-Ray é codificada pelo programa para simular em suas mãos, pela webcam, um modelo da Enterprise, que se move de acordo com os movimentos da mão. Ainda não pude conferir os comentários em áudio durante o filme, mas quem já ouviu garantiu que é obrigatório para saber sobre fatos inusitados da produção.

Segue uma listagem dos extras:

Disco 1  • Comentário de áudio pelo diretor J.J. Abrams, roteiristas Robert Orci and Alex Kurtzman, produtor Damon Lindelof e produtor executivo Bryan Burk.  • NASA News: Acesso pelo BD-Live, através da conexão do player com a Intenet, para acesso de notícias da NASA.  

Disco 2  • To Boldly Go: Documentário de 16 min, sobre os desafios de relançar a série de Jornada nas Estrelas nos cinemas. – Mini documentários adicionais:  The Shatner Conundrum / Red Shirt Guy / The Green Girl / Trekker Alert!  • Casting: Documentário de 29 min, sobre a escolha do novo elenco. • A New Vision: Documentário de 19 min, em que J.J. Abrams explica como pretendeu inserir um visual inovador ao filme.  – Mini-documentário: Savage Pressure  • Starships: documentário de 24 min, sobre o novo visual das naves, especialmente a Enterprise. – Mini documentários adicionais: Warp Explained / Paint Job / Bridge Construction Accelerated / The Captain’s Chair / Button Acting 101 / Shuttle Shuffle / Narada Construction Accelerated  • Aliens: Documentário de 16 min sobre a criação e maquiagem dos alienígenas que aparecem no fime. – mini-documentários adicionais: The Alien Paradox / Big-Eyed Girl / Big Bro Quinto / Klingons / Drakoulias Anatomy 101  • Planets: Documentário de 16 min sobre a criação dos mundos alienígenas, incluindo Vulcano e Delta Vega. – Mini-Documentários Adicionais: Extra Business / Confidentiality  • Props and Costumes: documentário de 9 min. sobre os equipamentos criados para o filme e como se manteram fiéis aos originais, como tricorders, hypo-sprays etc – Mini-Documentários Adicionais: Klingon Wardrobe  • Ben Burtt and the Sounds of Star Trek (BD-exclusive) : Documentário de 11 min sobre os efeitos sonoros. • Score: Documentário de 2 min em que Michael Giacchino explica como criou a trilha sonora do filme. • Gene Roddenberry’s Vision: documentário de 9 min sobre a visão otimista de Gene Roddenberry sobre o futuro.  • Cenas deletadas, nove ao todo, com opção de comentários em áudio.  • Starfleet Vessel Simulator: simulação em CGI da Enterprise e da Narada, totalmente interativa, para melhor conhecer os mínimos detalhes de cada nave. • Gag Reel: 7 min de erros de gravação.

Conclusão

Um dos grandes filmes de 2009, apresentado em um dos melhores discos Blu-Ray de 2009. Excelente imagem e som.
Extras relevantes e que valem cada minuto de duração. Altamente recomendado e obrigatório para a coleção de trekkers e não-trekkers.