Enredo previsível e diminuto se aproveita de conceito científico real
Sinopse
Data: Desconhecida
A Enterprise encontra um planeta errante, provavelmente desgarrado do sistema solar onde se originou. Depois que T’Pol confirma a presença de formas de vida em torno de fontes gasosas alimentadas por energia geotérmica na superfície do astro perdido, Archer fica interessado. E a curiosidade só aumenta quando uma nave é detectada no solo. O veículo não responde aos chamados e o capitão decide enviar um grupo de descida para investigar.
Chegando lá, o grupo, composto por Archer, T’Pol, Reed, Tucker e Sato, acaba cercado por alienígenas. Embora eles pareçam agressivos a princípio, o pessoal da Enterprise consegue esclarecer suas intenções pacíficas e estabelecer contato. Archer descobre que eles são os eskas, uma raça de caçadores. Eles estão lá para abater espécies locais, uma honra concedida a um caçador muito raramente e por um período muito curto, devido à necessidade de preservar o ecossistema para as futuras investidas. Já há nove gerações os eskas visitam o planeta para caçar.
Archer agradece pela simpática acolhida dos caçadores em seu acampamento e Reed pede permissão para participar de uma das caçadas. Ele promete ao capitão não atentar contra os animais, mas apenas observar os eskas, no intuito de aprender sobre suas táticas, que tão habilmente cercaram os tripulantes da Enterprise momentos antes.
Archer autoriza seu oficial de armamentos a prosseguir. Em contrapartida, ele planeja acompanhar seus outros tripulantes em uma expedição para observar as fontes gasosas que estão perto dali. Mas, antes que todos partam, eles descansam no acampamento, para se preparar para as atividades intensas que viriam depois. Hoshi decide voltar à nave e é acompanhada até lá por seus colegas, à exceção de Archer e Reed, na cápsula auxiliar. O capitão começa a cochilar, quando ouve uma voz feminina chamando-o na floresta. Ele decide procurar que o está chamando por seu primeiro nome, o que o leva a uma mulher trajando um leve vestido azul.
Quando ele decide ir atrás, ela desaparece. Archer retorna ao acampamento e relata o ocorrido. Mas, como nenhuma forma de vida daquele tipo havia sido detectada no planeta, fato que foi corroborado pelos relatos dos eskas, todos, inclusive seus oficiais, acreditam que se trata de um sonho particularmente vívido do capitão. Mas Archer está certo de que o que tinha visto era real.
No dia seguinte, Reed acompanha a caçada, cujo desfecho não é dos melhores. Um dos caçadores é ferido por uma estranha criatura e está em estado grave. Archer também enfrenta problemas, quando volta a avistar a mulher, sozinho, e ela diz que precisa de sua ajuda. O capitão, depois de enfrentar o ceticismo de T’Pol e Tucker, opta por não revelar que a viu de novo.
De volta ao acampamento, os eskas estão perturbados pelo estado de seu colega, que provavelmente obrigará o fim prematuro da caçada. Archer se oferece para ajudar, levando o caçador ferido até a Enterprise, onde ele poderá receber tratamento médico adequado, enquanto os outros seguem com sua tarefa no planeta. Após alguma relutância, o líder eska concorda.
No retorno à Enterprise, Phlox trata o homem ferido e encontra traços da criatura no ferimento — estranhamente, entretanto, os resíduos que ele encontra são muito exóticos, como se pertencessem a uma criatura que podia mudar sua própria estrutura, um transmorfo. Depois de providenciar o tratamento do caçador eska, Archer retorna à superfície e volta a encontrar a mulher. Ela revela que pertence à espécie que os caçadores estão procurando e que pode se transformar em qualquer forma que queira.
O diálogo é interrompido pelos caçadores, disparando contra ela. Ela foge e Archer entra em conflito com os alienígenas. Mas eles mantêm sua atitude e o capitão fica só a matutar como agir nessas circunstâncias. Informado de que os eskas só conseguem encontrar os transmorfos, chamados de wraiths, porque eles emitem uma substância detectável quando estão com medo, Archer pede que Phlox desenvolva uma substância para camuflar as presas.
Ele entrega a substância à mulher, que consegue com ela salvar seus colegas dos ataques eskas. Os caçadores deixam o planeta descontentes com o resultado de sua caçada, mas sem saber que foram sabotados pela ação de Archer e seus tripulantes.
Comentários
Para não perder tempo enrolando, “Rogue Planet” seguramente é o pior episódio da primeira temporada de Enterprise. Há vários problemas com a história toda, mas o principal deles, e o que define a qualidade do produto final, é que simplesmente não há enredo suficiente para 45 minutos. Com o que eles tinham, daria para 20 minutos, no máximo.
A premissa toda não é ridícula. Não há problemas insolúveis de continuidade ou de conteúdo científico, embora, em geral, seja preciso uma boa dose de suspensão da descrença para acreditar que um ambiente inóspito como um planeta errante poderia abrigar uma fauna e uma flora tão ricas, somente com base em energia geotérmica. O roteiro não é muito convincente nesse sentido, mas, ao menos, o roteirista se preocupou em explicar como aquele “milagre” era possível, eliminando o problema da cabeça do telespectador.
Os que esperam alguma espécie de “Spock’s Brain” vão se decepcionar. Em compensação, vão achar que talvez tivesse sido melhor um episódio totalmente “lobotomizado” do que o que acabou saindo. Isso porque, se não é bobo, “Rogue Planet” é chato até dizer chega. Tudo pelo fato de a história não ser suficiente para cobrir o tempo de tela, o que nos obriga a ver as mesmas cenas e as mesmas dúvidas e os mesmos problemas de novo e de novo e de novo.
Quem vê os primeiros 15 minutos já sabe exatamente o que vai acontecer nos 30 seguintes — exceto por Archer e cia., o que não ajuda nem um pouco a construir a fama de competência que, ao menos, o capitão da Enterprise deveria ter. Aliás, o pobre Jonathan é a maior vítima do episódio, ridicularizado até o último fio de cabelo. Por um momento, parece até que o roteirista faz de propósito.
Quer exemplos? Veja a discussão em que Reed e Archer debatem sobre suas “carreiras” pregressas como escoteiros. O oficial de armas não só revela ter ganhado mais medalhas de honra ao mérito que seu capitão (28 contra 26), como ainda se presta a consolar Archer, com uma frase do tipo “Vinte e seis é muito bom, senhor”. Pobre Jonathan…
Mais tarde, quando Archer tem sua primeira e segunda visões da mulher misteriosa, ninguém acredita nele. Nem mesmo seus próprios oficiais! E os alienígenas ainda têm a cara-de-pau de zombar do capitão, sugerindo que ele tenha “bons sonhos” com a gatinha. Até T’Pol diz a Archer que ele não estaria tão preocupado com isso se fosse um barbado lá na floresta! Pobre Jonathan…
Em vez de mostrar, nesse momento crítico, seu espírito de liderança, Archer fica tão intimidado pelas zombarias e pelo descrédito que finge não ter visto nada quando a mulher faz a segunda aparição e, logo depois, T’Pol e Tucker chegam à “cena do crime”. Pobre Jonathan…
E, depois de tudo isso, ainda precisamos ouvir o capitão perguntando a Tucker se seu amigo já o tinha visto fazendo alguma coisa realmente estúpida. A frase produz risos involuntários, depois de tudo o que vimos Archer fazer nos primeiros episódios da série.
Certamente, o capitão mereceria melhor caracterização que essa. Não parece ser o mesmo capitão agressivo e confiante que vimos em “Broken Bow”. Pior, parecia um pateta. Muitos fãs confundiram esse problema na caracterização de Archer com um problema de atuação, culpando Scott Bakula pelo mau desempenho. Claramente, não é o caso. Fosse o roteiro mais condizente com o personagem e o papel que ele deveria desempenhar na série, certamente a história do episódio seria outra.
Mesmo considerando que Archer tivesse de passar por uma “crise de liderança” pelo descrédito que as aparições da mulher transmitiram, seria possível fazer deste um bom episódio, analisando mais a fundo a personalidade do capitão e mostrando como ele poderia superar esse problema. Outra boa alternativa para salvar o episódio seria se concentrar no aspecto puramente “ficção científica”, explicando por que transmorfos adoram planetas errantes (os fundadores do Dominion também moravam em um planeta errante, como visto em “The Search, Part I”), ou, ainda, como toda aquela vida foi florescer naquele mundo abandonado até por seu sol. Infelizmente, nenhuma dessas alternativas foi selecionada e “Rogue Planet” segue sua trilha previsível e entediante até o final.
Os personagens regulares são estranhamente maltratados aqui, como nunca antes havia sido feito na série. Dessa forma, nem mesmo a interação entre eles e o bom humor foram capazes de salvar o episódio, como já havia acontecido em outras ocasiões. E, óbvio, quem mais saiu perdendo nesse sentido foi Archer, apesar de ser o que tem mais tempo de tela. Por incrível que pareça, os caçadores eskas foram mais bem trabalhados que os regulares! Só deixou a desejar sua maquiagem, novamente aquele estilo inócuo de “alienígena com testa da semana” que consagrou Michael Westmore por tantos anos em A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager.
Em termos técnicos, o episódio até que se salva. Embora os cenários sejam repetitivos (sempre aquela floresta), pouco inventivos (plantas mais terrestres do que nunca) e mal iluminados (num planeta em que é sempre noite), o diretor Allan Kroeker consegue tirar o melhor deles. E as tomadas espaciais do planeta errante e da Enterprise na escuridão, embora curtas e insignificantes em termos de enredo, dão uma plástica especial ao episódio.
Apesar dessas poucas qualidades, “Rogue Planet” vai ficar marcado como o mais esquecível segmento do primeiro ano de Enterprise. Com justiça.
Avaliação
Citações
“Follow me.”
“Why don’t you let me play captain for a while, Malcolm?”
(Sigam-me.)
(Por que você não me deixa brincar de capitão um pouco, Malcolm?)
Reed e Archer
“We spot any more creatures like that and we’ll earn our exobiology badges.”
“Actually… I already have that one.”
(Se encontrarmos mais criaturas como essa vamos ganhar nossas medalhas de exobiologia.)
(Na verdade… eu já tenho essa.)
Archer e Reed
Trivia
- John Billingsley foi um dos que comentou o episódio. “Aterrissamos num planeta em que um grupo de caçadores parece estar caçando as bestas nativas”, diz. “Mas acaba que as bestas nativas não são bestas, mas transmorfos peculiarmente evoluídos, que tentam comunicar ao capitão a urgência de seu pedido para acabar a matança.”
- Nas primeiras versões do roteiro, o principal alvo dos caçadores eskas não eram os wraiths, mas os dalakian elks.
- A atriz Stephanie Niznik já apareceu em Jornada antes, como a oficial trill Kell Perim, de “Insurreição”. Já Conor O’Farrell havia participado de “Little Green Men”, de Deep Space Nine, como o professor Jeff Carlson. Eric Pierpoint interpretou o embaixador Voval, em “Liaisons”, de A Nova Geração, o capitão Sanders em “For the Uniform”, de Deep Space Nine e Kortar em “Barge of the Dead”, de Voyager. Finalmente, Keith Szarabajka já havia vivido o vedek Teero Anaydis, em “Repression”, de Voyager.
- Andre Bormanis, consultor científico de Jornada e incorporado aos roteiristas de Enterprise durante a primeira temporada, rebateu as críticas sobre o uso supostamente pouco científico do planeta errante (rogue planet) neste episódio. “O planeta estava em uma base científica bem firme. Há planetas errantes em nossa galáxia. Atividade geológica tem pouco ou nada a ver com forças de maré [que exigiriam a presença de outros corpos maciços, como um sol ou luas]; é conduzida pelo calor interno do planeta, que vem principalmente do decaimento radioativo de seu núcleo e, em menor quantidade, da energia de acreção residual (energia de formação). Sobre as folhas das plantas, elas poderiam ser grandes para recolher os fótons da luz estelar (se você já esteve em algum lugar completamente isolado da luz artificial, você sabe quanta luz pode ser vista das estrelas e da Via Láctea), ou as folhas podem não ter nada a ver com fotossíntese. As folhas também são importantes para a respiração em plantas. Uma das coisas que eu esperava que o episódio poderia fazer era estimular a discussão entre fãs da série interessados em ciência sobre se um ambiente classe-M poderia ou não ser sustentado em um planeta errante. É uma questão muito interessante, sem nenhuma resposta pronta disponível.”
Ficha Técnica
História de Rick Berman & Brannon Braga & Chris Black
Roteiro de Chris Black
Dirigido por Allan Kroeker
Exibido em 20 de março de 2002
Títulos em português: “Planeta Errante”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Stephanie Niznik como a mulher
Conor O’Farrell como Buzaan
Eric Pierpoint como Shiraht
Keith Szarabajka como Damrus
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria