Continuando com a entrevista concedida ao site The Trek Movie, agora em sua terceira e última parte, o produtor Ron Moore falou mais um pouco a respeito de Jornada. Ele comentou sobre o primeiro filme que escreveu para o cinema, e que incluiu a morte do capitão Kirk, além de opinar sobre J. J. Abrams e sua visita ao cenário do novo filme da franquia.
A primeira e a segunda partes dessa entrevista, já estão publicadas no TB. Veja a seguir os pontos mais importantes dos comentários de Moore numa retrospectiva final de seu trabalho na franquia.
Não sei se foi você quem disse isso ou foi Rick Berman, que o melhor tema para o primeiro filme de A Nova Geração teria sido “Yesterday’s Enterprise” ao invés de Generations. O que você acha disso?
Moore: “Creio que foi o Berman quem disse. Eu acho que provavelmente é um ponto válido. Se você observar os comentários no DVD de Jornada nas Estrelas: Generations, verá que Brannon (Braga) e eu conversamos abertamente sobre nossa insatisfação com o filme e as razões do porquê não ficarmos felizes com o resultado. Eu senti como se tivesse perdido a oportunidade e um filme que não agregou ao objetivo. Yesterday’s Enterprise teria sido um grande filme. Certamente teria feito um filme bastante significante. Teria sido sombrio, assustador. Eu fiquei surpreso do Rick (Berman) ter gostado disso, porque a Enterprise alternativa era tão sombria e belicosa, completamente diferente da Federação e de uma espaçonave da série. Teria passado muito mais um sentimento de tensão e dureza para a telona. Você teria de expandir essa idéia, do significado da Enterprise estar numa guerra, senão todo o filme seria sobre isso. Teria sido muito legal”.
Leonard Nimoy leu o script de Generations e disse que não gostou, não gostou da parte de Spock no filme, além de se negar a dirigí-lo. Também achou a morte de Kirk gratuita. O que pensa desse fato?
Moore: “Bem, eu sabia disso. Leonard rejeitou o script, negou a cadeira de direção do filme e sabia que ele não havia gostado da história. É duro dizer que nesse ponto ele estava errado. Creio que a morte de Kirk em nossa mente foi perfeita para o filme porque era um filme sobre morte. Foi um filme sobre mortalidade. Um filme sobre Picard alcançar uma certa idade e perceber que existem muito mais dias passados por ele do que os que viriam a sua frente. Seu irmão havia morrido, a própria Enterprise-D morreu e esse herói místico teria um fim. A despeito de nós sermos mortais, você segue em frente, continua vivendo sua vida e ainda faz muito por ela. Isso era o que o filme estava tentando mostrar. Eu acho que Brannon e eu não estávamos prontos para escrever esse filme. Nós excedemos o nosso alcance. Não tivemos a maturidade como escritores para enfrentar essa coisa grandiosa e uní-la a um filme de ação-aventura de Jornada. Então, os instintos de Leonard estavam certos. Ele claramente pôs o dedo na ferida. Não me encontrei com ele, mas lembro que após ele se encontrar com Rick, o Rick passou-nos as reservas que ele tinha quanto ao filme e porque não gostava dele. Ele pôs o dedo certo nos problemas”, disse o produtor.
“O Nexus era um problema”, continuou a explicar Moore, “Nexus foi um conceito difícil que nunca fomos capazes de decifrar e a morte de Kirk não compensou o tema do jeito que queríamos que fizesse. Naquela época estávamos fazendo o melhor que podíamos e achávamos que iria funcionar. Acreditávamos nesse projeto, mas estávamos escrevendo para séries de TV ao mesmo tempo. Fazendo um retrospecto é fácil olhar para trás e dizer que “aqui estavam todos os problemas” e que “aqui era onde você cometeu erros”, mas naquele momento estávamos todos dedicados a tentar fazer o melhor filme e achávamos que tínhamos um bom filme em nossas mãos”.
A morte de Kirk em Generations é pública e entendo a razão de Shatner não estar nesse novo filme. Como ressuscitar alguém e fazê-lo ter uma ponta no filme? Existe um grande clamor dos fãs em trazer Kirk de volta a vida, para reverter o que você fez. Qual a sua opinião a respeito disso?
Mooe: “Eu acho que eles estão fazendo. Até onde sei, eles estão fazendo Kirk, fazendo o Spock. Eu não sei. Gosto do Bill (Shatner). Não tenho nada contra ele. Mas não sei se existe a necessidade de irmos além de Generations, em termos do Bill e trazê-lo de volta em alguma coisa. Eu não tentaria fazer isso porque há uma grande discussão para fazer ou não. Eles estão voltando ao começo e bem do começo. Estão trazendo Leonard (Nimoy) de volta e eu entendo que seja um desejo de estabelecer a ponte entre a velha e a nova Jornada, mas para mim isso é como uma grande oportunidade para começar de novo. Creio que o novo filme será mais sobre o novo Kirk, o novo Spock, o novo MacCoy do que sobre ligações do passado”.
Quais os elementos chave para termos um grande filme de Jornada? O que teria dito a J. J. Abrams quando ele estava no início de seu projeto para a franquia?
Moore: “Isso é difícil de dizer, porque Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato foi feito num tempo muito específico e num lugar e contexto onde referiam-se a esse ponto. Com relação ao ponto no tempo, o padrão de ouro foi A Ira de Khan e ninguém queria fazer A Ira de Khan que fosse com outro nome. Mesmo em Generations estávamos falando sobre A Ira de Khan. Esse filme diz que “aqui é como se faz um filme de Jornada“. É uma ação-aventura. Você tem um grande vilão. Pega temas sobre envelhecimento e grandes momentos de pequenos personagens, pequenos momentos de humor, intercalados ao longo da história. Isso abraça todos os personagens. Você acha graça deles, você chora com eles. O fim é amargo, mas com uma nota de esperança. É simplesmente um grande filme. Primeiro Contato bate em muitas desses pontos também, mas foi feito com um restrito orçamento. A Paramount (na época) não queria gastar muito com filmes da franquia. Então o quociente de ação foi de modo brando. Se você olhar as sequências de ação, elas não são excitantes realmente. Nós ficávamos nos reunindo na produção para contar tiros de phaser e falar sobre dinheiro. Era um absurdo o modo de fazer um filme como aquele. Estávamos trabalhando com muitos temas de viagem no tempo e o significado para o ser humano, alcançar as estrelas e seguir em frente”.
Continuando o produtor, agora falando sobre J. J. Abrams, “Se J. J. tivesse me perguntado eu não sei que avisos daria a ele sobre os filmes de Jornada. Eu acho que ficaria mais preocupado em tentar capturar o espírito da série original. Sou mais interessado, como um fã, nisso. Voltar a capturar esse sentimento de estar na fronteira, no limite de algo que fosse parte da série original. A Enterprise estava sempre de base em base estelar e as mensagens levavam muito tempo para retornarem. Havia um grande senso de que eles estavam lá fora por conta própria e que ninguém iria ajudá-los. Havia um grande sentido de fronteira, do desconhecido e não saber o que viria a seguir. Creio que isso foi afastado nas séries subsequentes. Começamos trazendo a Federação e havia outras naves envolvidas, mas a Federação nunca estava tão distante. Mesmo em Primeiro Contato, eles acabam por retornar a Terra. Existe uma batalha com muitas naves envolvidas. Quando eles retornam no tempo, estão por conta própria, mas isso tudo dentro de um contexto muito propagado no universo de Jornada. No entanto, existe algo de grandioso em Hornblower (livro que inspirou Gene Roddenberry) e seu navio veleiro solitário no Pacífico, muito distante do Comando Maior, tendo de enfrentar navios que surgem de lugar nenhum: as habilidades de Hornblower e a força da coragem desse homem em manejar as armas. Eu diria que esse é o espírito que eu tentaria capturar nesse filme”.
Você teve a chance de visitar os cenários de gravação do novo filme. O que pode nos dizer sobre o script?
Moore: “Virtualmente nada, e eu na verdade não perguntei por ele. Não queria saber, além do que foi a primeira vez, depois de um longo tempo, que pude me aproximar de um desses trabalhos de Jornada como um fã e eu apenas queria preservar isso. De certa forma me foi permitido olhar este teaser trailer por um longo tempo. Eu apenas caminhei dentro de uma nave da Federação outra vez e gostei da excitação de não saber a que cena se referia e não saber que personagem no canto era aquele. Apenas observei com um fã por um momento e não sei muito sobre lá de dentro”.
Você viu o cenário da Enterprise? O que achou dela?
Moore: “Sim, vi. Eu gostei. Gostei da estética e do design de produção. Fiquei muito satisfeito com o visual dela. Creio que eles têm muita confiança no que estão fazendo. Há muito segredo na produção. Mas eles todos parecem realmente empenhados no que eles estão fazendo. Acredito que irá funcionar”.
Ron Moore tem como planos futuros a produção de uma trilogia do gênero ficção científica com a MGM/UA ainda sem definição. Tem tamblém um projeto a ser exibido pela Fox chamado Virtuality, que captura a idéia da NASA de realidade virtual para astronautas em longas missões. Sem contar com o seu atual sucesso Battlestar Galactica, e com o futuro spin-off Caprica.
Fonte: TrekMovie