TOS 1×17: The Squire of Gothos

Episódio cria bela alegoria sobre a infantilidade da guerra

Sinopse

Data estelar: 2124.5

A USS Enterprise está a caminho da colônia Beta 6 com um carregamento de suprimentos quando subitamente os sensores passam a indicar a presença de um planeta não mapeado próximo ao curso da nave. Spock estranha a ausência deste dado nos registros, mas Kirk lembra que não há tempo para investigações devido à urgência para a entrega das provisões em Beta 6.

Kirk manda que Uhura notifique a Frota Estelar sobre a descoberta, mas ela reporta forte interferência nas comunicações, que pode estar sendo causada pelo planeta recém-descoberto. Kirk manda Sulu mudar o curso para distanciar-se do planeta, mas, enquanto tenta fazê-lo, subitamente o piloto desaparece da ponte. Logo em seguida é Kirk quem desaparece. Spock coloca a nave em alerta.

A Enterprise permanece em órbita do planeta misterioso, e Spock conduz uma busca em toda a nave e na superfície do planeta usando os instrumentos da Enterprise, mas, após quatro horas, nenhum sinal de Kirk ou Sulu é encontrado, o que leva o tenente DeSalle a pedir permissão para levar um grupo de desembarque à superfície, no que é imediatamente apoiado por McCoy.

Spock, entretanto, está preocupado com a segurança dos membros da tripulação, pois as informações coletadas pelos sensores informam que as condições na superfície são extremamente nocivas à vida humana: ausência de vegetação, solo estéril, temperaturas extremamente elevadas, atmosfera tóxica, tempestades de tornados e erupções vulcânicas.

Enquanto se discute qual ação a ser tomada, Uhura recebe uma mensagem incomum em um dos seus monitores : “Greetings…and felicitations.” (Saudações e felicitações). Intrigado, Spock manda Uhura enviar uma mensagem destinada à superfície do planeta solicitando alguma identificação, esperando que quem mandou a primeira mensagem recebesse a comunicação da Enterprise. Como resposta, uma frase ainda mais intrigante apareceu no monitor : “Hip-hip…hoorah” e “tallyho”.

Apesar de zombeteira, a mensagem aponta a existência de algum tipo de forma de vida na superfície, o faz Spock decidir-se por mandar um grupo investigar. Scott pede para ser incluído neste grupo, mas Spock nega, sob a alegação de que o engenheiro não pode ser substituído em suas funções. A mesma alegação vale para o próprio Spock, que decide por enviar DeSalle, McCoy e o geofísico Jaeger. O grupo é transportado para as coordenadas de onde foram enviadas as mensagens com ordens de estabelecer comunicação com a nave assim que chegarem à superfície.

Porém, assim que o grupo é materializado, eles se veem em um ambiente agradável e confortável, totalmente adequado à sua sobrevivência, em total contraste com as leituras feitas em órbita. Apesar disso, não conseguem estabelecer comunicações de forma alguma com a nave. Enquanto procuram um melhor local para tentar estabelecer contato, o grupo encontra uma estrutura similar à entrada de um antigo castelo medieval.

Eles vão investigar a estrutura, e em seu interior encontram uma decoração idêntica à da Terra do período napoleônico. Também encontram Kirk e Sulu paralisados como estátuas de cera, porém vivos. Subitamente ouvem uma música e, quando se voltam para a fonte do som, se deparam com um homem vestido em trajes do exército francês do século XVIII tocando cravo. Ele dá as boas-vindas ao grupo e desperta Kirk e Sulu de seu sono forçado com um simples gesto de mão. A pedido do capitão, que parece ignorar os eventos desde seu desaparecimento, McCoy resume os fatos das últimas quatros horas.

O anfitrião informa que eles estão no planeta Ghotos e pede desculpas pela forma como foram levados até ali, mas que ele não pôde resistir ao vê-los passando. Kirk se identifica como capitão da nave e, após novas saudações, o anfitrião se identifica como General Trelane, parecendo sempre muito solícito e cordial. Entretanto, DeSalle lembra a Kirk que eles estão presos, sem comunicação com a nave.

Ignorando as preocupações de DeSalle, Trelane parece surpreso com o fato de os humanos poderem viajar pelo espaço, o que não estaria de acordo com suas “observações”. Jaeger percebe que a decoração do lugar lembra um período histórico de cerca de 900 anos antes – segundo seus cálculos, o período que alguém poderia enxergar olhando para a Terra daquele ponto do espaço. Tal conclusão aborrece Trelane, por ele ter sido incapaz de recriar um ambiente familiar a seus convidados forçados.

Trelane insiste na tese de que são todos convidados de seu pequeno império e que deseja discutir com eles as campanhas de conquista na Terra, aparentemente tendo como referência o período da expansão militar francesa sobre a Europa conduzida por Napoleão. Apesar do esforço de Kirk para lhe mostrar a missão atual da Enterprise, de exploração científica pacífica, Trelane permanece fixado no propósito de estudar a beligerância da Terra.

Quando DeSalle tenta usar o feiser contra Trelane e Kirk ordena que o tenente use a arma em modo tonteio, Trelane identifica o nome do navegador da Enterprise como sendo de origem francesa, inclusive falando algumas palavras em francês. Tal origem é confirmada por DeSalle, que informa ter antepassados nascidos neste país, o que faz Trelane declarar sua admiração por Napoleão Bonaparte.

Kirk estende então as apresentações ao restante do grupo: Sulu, McCoy e Karl Jaeger. Trelane identifica a origem alemã deste último, inclusive falando com ele também nesta língua. Jaeger afirma a Trelane ser cientista, não militar, afirmação posta em dúvida pelo anfitrião. Pensando que Trelane estivesse distraído, DeSalle tenta usar o feiser contra ele, mas é paralisado antes que possa disparar.

Trelane pega o feiser de DeSalle, rapidamente descobrindo como a arma funciona e como pode ser mortal, ao disparar com carga máxima contra algumas das estátuas que “enfeitavam” o lugar – e isto o deixa admirado. Kirk toma de volta a arma, temendo que Trelane possa querer testá-la em algum dos membros de sua equipe.

Trelane deixa transparecer não ser esta sua intenção e diz que a reação de Kirk era esperada, uma vez que a reação de todo humano diante do desconhecido é temê-lo. Ele antecipa o desejo de Kirk de saber como Trelane criou todo aquele ambiente e diz que seu povo inventou um dispositivo que permite o controle da matéria, transformando-a em qualquer coisa que queiram.

Kirk continua a questionar Trelane, que começa a ficar entediado com tal comportamento, e quando Kirk ameaça ir embora, Trelane diz que precisará lhe dar uma demonstração de sua autoridade. Com um gesto, faz o capitão da Enterprise desaparecer, para ser colocado em um lugar com ambiente irrespirável. Segundos depois, Trelane traz Kirk de volta e diz que o lugar onde esteve era um exemplo da real atmosfera do planeta, longe de sua influência. Trelane ameaça ficar mais “bravo” caso seus convidados não se “comportem”.

A bordo da Enterprise, Spock e Scott conseguem alterar o equipamento da nave, permitindo que eles identifiquem uma pequena área estável o suficiente para a sobrevivência do grupo de desembarque. Ele planeja teletransportar a bordo qualquer forma de vida detectável nessa área, imaginando que, caso os membros do grupo estejam vivos, só poderiam estar ali.

De volta a Ghotos, Trelane está discursando para uma plateia pouco atenta sobre períodos violentos da história humana, enquanto seus “hóspedes” estão mais interessados em discutir entre si a origem de Trelane e seu propósito, uma vez que as leituras do tricorder de McCoy não registram a presença dele de forma alguma.

Jaeger percebe que o fogo da lareira está aceso e queimando, mas não emite calor algum. Kirk junta este fato aos enganos cometidos por Trelane quanto a ao período histórico da Terra atual para concluir que Trelane, apesar do poder que tem, é passível de muitos enganos, o que lhe dá a esperança de poder usar isto de alguma forma para livrar-se de seu anfitrião indesejável. Trelane percebe que estão comentando sobre ele, mas isto o deixa animado, ao invés de aborrecê-lo.

Kirk tenta convencê-lo a libertá-los, mas Trelane não demonstra ter tal intenção. Ele diz a Kirk que estava muito “aborrecido” antes que Kirk e seu grupo chegassem e que eles devem ficar. Kirk insiste e, enquanto tenta convencê-lo, deixa escapar que existem mulheres a bordo da Enterprise, fato que deixa Trelane surpreso e satisfeito. Ele faz menção de trazer algumas mulheres para a superfície, mas, antes que isso possa acontecer, o grupo recebe um sinal de transporte da nave, indicando que Spock conseguiu romper a barreira que impedia sua localização. O grupo desmaterializa-se sob os protestos de Trelane.

A bordo da Enterprise, Kirk pergunta a Spock como ele foi capaz de localizá-lo na superfície, e Spock responde que simplesmente mandou trazer todas as formas de vida localizadas naquela área. Como Trelane não foi transportado, McCoy conclui que ele não é uma forma de vida, conforme suspeitavam.

Na ponte, Kirk ordena partida imediata, mas, antes que isto possa ser feito, Trelane aparece na ponte da nave, perguntando a Kirk por suas armas e querendo saber quem era Spock, responsável pela fuga do grupo de desembarque, fato que o teria aborrecido. Quando Spock se identifica, Trelane espanta-se pelo fato de ele não ser humano.

Trelane leva o grupo de volta a Ghotos para um “jantar”, incluindo desta vez Spock, Uhura e a ordenança Teresa Ross, as quais passa a galantear, isto após mais uma tentativa de ataque de DeSalle a Trelane ser impedida por ele sem nenhum esforço. Não há represálias, mas Trelane ameaça mais uma vez não ser tão indulgente, caso eles continuem sendo “mal comportados”.

Apesar disto, Spock mais uma vez deixa claro a Trelane que desaprova suas atitudes. Ao invés de se irritar, Trelane exulta em ver como o vulcano se opõe a ele, atribuindo tal fato à parte humana de Spock. Trelane faz com que Uhura agora toque o cravo, enquanto dança com a ordenança Ross.

Enquanto isso, o grupo volta a discutir o que fazer e como se livrar do incômodo anfitrião. Diante dos poderes de Trelane, Kirk decide aceitar sua “hospitalidade” até que consigam um modo de escapar. McCoy reclama que a comida servida não tem gosto, o que Spock encara como sendo algo esperado, uma vez que Trelane conhece a Terra somente por observação, mas não tem nenhuma experiência real sobre ela.

Eles mais uma vez concluem que Trelane é poderoso mas falível, o que pode ser usado contra ele. Spock conclui também que deve haver alguma espécie de máquina que permite a Trelane fazer suas “mágicas”. Enquanto isso, o jovem general providencia uma nova vestimenta para a ordenança Ross, um lindo vestido medieval.

Spock suspeita, e Kirk concorda, que talvez o enorme espelho pendurado na sala, e do qual Trelane está sempre perto, possa ter algo a ver com a suposta máquina. Ambos acreditam que o equipamento que permite a Trelane o controle dentro da sala onde eles estão é independente do equipamento que mantém a atmosfera externa controlada do planeta. Kirk, acreditando que pode tirar proveito do comportamento imaturo de Trelane para de alguma forma ludibriá-lo, inicia parte de um estratagema nesse sentido.

Subitamente, o capitão começa uma discussão com Trelane, causada por ciúmes da ordenança Ross, e bate no rosto dele com uma luva. Trelane reconhece o gesto como o chamado para um duelo e, exultante, aceita o desafio. Momentos depois, todo o grupo de desembarque está prestes a ver Kirk e Trelane lutando em um duelo de armas mortal.

Trelane reclama o direito do primeiro tiro para si, mas Kirk diz que ambos devem atirar juntos. Trelane insiste mais uma vez com ameaças, fazendo o capitão ceder. Entretanto, Trelane erra o tiro de propósito, disparando sua arma para ao alto e se colocando a seguir à mercê de Kirk.

O capitão atira, mas não em Trelane, e sim no espelho que julgava ser a fonte de seu poder. O tiro parece causar o efeito esperado, destruindo o espelho e causando uma série de problemas ao ambiente, cessando a interferência que impedia o contato com a nave. O grupo vai embora sob ameaças de Trelane de que mataria a todos, especialmente a Kirk.

O grupo chega à Enterprise e sai de órbita imediatamente, mas, quando pareciam estar livres, a nave se vê novamente em frente ao planeta Ghotos. Trelane, de alguma forma, trouxe o planeta inteiro para a frente da nave. Nenhuma ação evasiva tem sucesso, pois o planeta literalmente muda de posição, acompanhando cada mudança de curso de Sulu. Kirk desiste, manda Sulu colocar a nave em órbita e se prepara para descer ao planeta novamente, sob os protestos de McCoy. Ele deixa ordens para que a nave vá embora caso ele não volte em uma hora.

Ao descer, Kirk encontra desta vez o cenário de um tribunal, tendo como juiz nenhum outro senão o próprio Trelane, que está disposto a seguir com seus jogos e avisa a Kirk que desta vez seus instrumentos são indestrutíveis. O capitão pede que Trelane canalize sua raiva apenas a ele, o líder, e que deixe a nave seguir, mas Trelane não parece disposto a aceitar tal proposta, além de condenar Kirk à forca.

O tempo passa e Spock está prestes a ter de deixar a órbita de Ghotos sem o capitão. Quando encerra o julgamento de Kirk, Trelane fica radiante por ter, segundo ele próprio, conseguido ficar genuinamente enfurecido. Embora Trelane tenha deixado a impressão de que tudo era uma espécie de experiência, ele continua firme em seu propósito de enforcar Kirk, enforcamento do qual pretende ser o carrasco.

Kirk tenta então convencer Trelane a aceitar um desafio “real”, manipulando-o para que aceite sua proposta. Ele se oferece para ser a presa de Trelane em uma caçada, o que lhe daria uma real diversão, e em troca a Enterprise estaria livre para partir. Trelane diz aceitar, mas não oferece condições para Kirk informar a Spock que pode partir.

Do lado de fora da estrutura, na floresta, o capitão da Enterprise faz o que pode para se manter longe do quase onipresente perseguidor, mas não demora muito para ser encurralado, principalmente porque Trelane não hesita nenhum segundo em usar seus truques para impedir que Kirk tenha alguma chance – e deixa claro que não pretende libertar os outros.

Com Kirk preso entre grades sem ter por onde escapar, e com uma espada apontada em sua direção, Trelane se conclama vencedor do jogo, mas Kirk refuta, afirmando que Trelane não venceu nada, por ter usado seus truques mais uma vez, trapaceando. Num ato de ira, o capitão toma a espada de Trelane e a quebra. Incrivelmente, Trelane fica brevemente desnorteado, então Kirk o esbofeteia, deixando-o mais zangado ainda, porém sem ação.

Mas, apesar disto, Trelane não dá mostras que vá ceder aos subterfúgios de Kirk desta vez. É quando uma voz feminina surge chamando por Trelane, voz que ele reconhece, chamando de “mãe”. Em seguida, uma voz masculina ecoa, a voz do “pai” de Trelane. Ambas as criaturas aparecem em forma de energia pura, passando uma reprimenda no filho. Ao final de tudo, era exatamente isto que Trelane era – um garoto desobediente brincando em seu parque de diversões particular.

O “casal” passa um “pito” no menino reclamão, e Kirk ainda sofre a indignidade de ser comparado a um animal de estimação. Mas, pelo menos durante o sermão a Trelane, é dito que eles (os humanos) têm “espírito” e que são superiores. Sob protestos, o “menino” é retirado do local, sendo possivelmente colocado de castigo em seu quarto e tendo revogada sua permissão para fazer planetas.

Após Trelane ter ido embora, o casal dirige-se a Kirk pedindo-lhe desculpas pelos problemas causados pelo seu filho mal comportado. Kirk pergunta quem são eles, mas sua pergunta é ignorada. Os seres apenas informam que manterão as condições de vida no planeta até que ele tenha ido embora e desaparecem.

Kirk volta à Enterprise e a nave retoma seu curso, enquanto se afasta de Ghotos. Kirk nota que pelo menos Spock ainda pensa bastante sobre o assunto. Indagado sobre a questão, Spock revela estar em dúvida sobre como registrar Trelane no banco de dados da Enterprise. Kirk sugere “deus da guerra”, algo que causa estranheza a Spock. Kirk então sugere chamá-lo de menino malcriado, comparando as ações de Trelane às brincadeiras de gosto duvidoso que qualquer criança faz na infância, o que deixa Spock indignado.

Comentários

À primeira vista “The Squire of Ghotos” parece ser um dos daqueles episódios em que a tripulação da Enterprise é levada a um confronto com uma entidade superpoderosa, capaz de proezas inimagináveis para um ser humano e que expõem nossa fragilidade em face do desconhecido. Exemplos não faltam na era da Série Clássica, e certamente o segmento é um deles.

Entretanto, essa premissa serve como pano de fundo para que a série possa fazer o que sempre fez de melhor: propor e discutir temas importantes de forma sutil através de uma alegoria divertida e de uma história bem contada.

Para isso, o “vilão” ou alienígena da semana, Trelane (personagem brilhantemente interpretado por William Campbell), tem papel fundamental na narrativa. Trelane, um encantado pela cultura marcial do “passado” terrestre, não passa de uma criança mimada, conforme descobriremos ao final do episódio. Tal revelação tem o óbvio sentido de ilustrar a infantilidade da guerra e sua futilidade.

Os exemplos escolhidos por Trelane como objetos de sua admiração são uma representação sutil daquilo que nós, seres humanos, podemos ser em nossos piores momentos. Certamente existem, ainda hoje, aqueles que se inspiram nas palavras e no exemplo de Napoleão, entre outros.

Campbell faz um grande trabalho aqui, mostrando-se ao mesmo tempo divertido em seus gracejos a aparente hospitalidade (em que pese o sequestro da tripulação da Enterprise) e ameaçador em alguns momentos, quando tememos pelo destino das pessoas do grupo de descida. Felizmente, ninguém usava vermelho desta vez.

O grupo de descida não é escolhido por acaso. DeSalle (francês), Jaeger (alemão), Kirk (americano), Sulu (japonês) e, posteriormente, Uhura (africana, negra e mulher) e Spock (um mestiço), somados ainda a Scotty e McCoy, são a representação em tela do sentido de universalidade que devemos ter como meta. Da necessidade de nos unirmos em nossas diferenças para superar a idade da infância da humanidade. Este, sem dúvida alguma, é um dos episódios que têm a “essência” fundamental do que é Jornada nas Estrelas, das  individualidades somadas trabalhando para o bem comum.

Mas nem só de filosofia vive Star Trek. Trelane é, em sua essência, um personagem muito divertido. Se, visto pela primeira vez, o segmento entrega mistério e uma certa dúvida sobre quem é o antagonista e como nossos heróis poderão vencê-lo, vê-lo novamente após a revelação final da verdadeira natureza do “senhor de Gothos” é ainda mais divertido.

William Shatner dá umas espanadas aqui e ali, mas até que se sai bem em seus confrontos com Trelane. O episódio permite que Kirk demonstre sua criatividade, liderança e astúcia num constante dueto com Campbell. Os demais têm atuação apenas adequada, sem atrapalhar, mas também sem grande brilho adicional.

Um tema que pode parecer deslocado no tempo é que não há como não assistir a “The Squire of Ghotos” e não fazer a conexão deste com o “Q”, o mais querido vilão da Nova Geração. A atuação nonsense de Campbell em muito de assemelha às aparições do personagem de John de Lancie, além de outras coincidências, como o uso de uniformes militares e o tema do “julgamento” em ambas as séries. Nada disso é canônico, mas tal possibilidade já foi utilizada no universo expandido de Jornada nas Estrelas.

Mais uma vez a (necessária) economia sacrifica um pouco o segmento. Se o uso de fantasias de outros episódios, como o demônio de sal de “The Man Trap”, é até uma saída que ajuda no clima de suspense do episódio, as máscaras de oxigênio usadas pela tripulação para descer ao planeta são risíveis, infelizmente.

Mas nada disso compromete gravemente o episódio, que consegue, com muita originalidade e criatividade, contar uma história divertida mas ao mesmo tempo relevante e necessária. Um belo exemplar da capacidade criativa do staff da série.

Avaliação

Citações

“Do you know that you’re one of the few predator species that preys even on itself?”
(Vocês sabem que são uma das poucas espécies de predadores que caçam até a si mesmas?)
Trelane

“I object to you. I object to intellect without discipline. I object to power without constructive purpose.”
(Eu me oponho a você. Eu me oponho ao intelecto sem disciplina. Eu me oponho ao poder sem um objetivo construtivo.)
Spock

“For the record, captain, how do we describe him? Pure mentality? A force of intellect? Embodied energy? Super-being? He must be classified, sir.”
“God of war, Mr. Spock.”

(Para os registros, capitão, como o descrevemos? Mentalidade pura? Uma força de intelecto? Energia incorporada? Super-ser? Ele deve ser classificado, senhor.)
(Deus da guerra, senhor Spock.)
Spock e Kirk

Trivia

  • Segundo roteiro de Paul Schneider para Star Trek, que também escreveu o clássico “The Balance of Terror.
  • Bob Justman implorou para que Gene L. Coon não usasse as máscaras de isolamento por achá-las ridículas.
  • Em Q-Squared, um romance não canônico de Star Trek escrito por Peter David e lançado em julho de 1994 como um de uma série de “Giant Novels” para a linha de Star Trek da Pocket Books, Trelane é revelado como membro do Q Continuum.
  • Apesar do belo cenário fechado que permitia seu uso em 360 graus, o interior do castelo de Trelane foi decorado com peças do acervo da Paramount. Muitas dessas peças foram usadas em filmes de Cecil B. de Mille, incluindo “Laffite, o Corsário”.
  • Willian Campbell deslocou o ombro durante as gravações, o que contribuiu com a demora para gravação desse episódio.
  • Campbell voltaria à Série Clássica, desta vez como o klingon Koloth, em “The Trouble With Tribbles”, personagem que ele faria de novo no episódio “Blood Oath”, de Deep Space 9.
  • A voz do pai de Trelane ao final do episódio é de James Dohaan.
  • Venita Wolf, que interpretou a ordenança Teresa Ross, trabalhava como modelo, ganhando vários prêmios ao longo de sua carreira. Foi capa da revista Playboy em julho de 1967.

Ficha Técnica

Escrito por Paul Schneider
Dirigido por Don McDougall

Exibido em 12 de janeiro de 1967

Título em português: “O Senhor de Gothos”

Elenco

William Shatner James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu

Elenco convidado

William Campbell como Trelane
Michael Barrier como DeSalle
Richard Carlyle como Jaeger
Venita Wolf como Teresa Ross

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Edição de Carlos Henrique B Santos
Revisão de Susana Alexandria

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