Produtores revelam como nasceu a série do Pike

Se você está ansioso por Strange New Worlds, agradeça a Akiva Goldsman. No painel organizado pela CBS para falar da nova série, como parte dos eventos do Star Trek Day, ele revelou que fez pressão pela criação do programa desde o primeiro dia em que assumiu o trabalho com a franquia.

“Eu vim na temporada 1 de Discovery, porque nosso parceiro Alex [Kurtzman] estava afastado e pediu para eu segurar a série por um tempo, que estava se formando”, disse, referindo-se ao momento delicadíssimo da gênese da série em que o cocriador e showrunner Bryan Fuller foi demitido, em novembro de 2016. “E naquela ocasião eu sabia o que estava na internet, e o que estava na internet é que seria uma série sobre Pike e Número Um. Mas daquele momento em diante, aquilo virou meu objetivo, levar aquela era de histórias da Enterprise à tela.”

Henry Alonso Myers, que é co-showrunner de Strange New Worlds, então brincou. “Não fui eu que inventei isso, mas disseram por aí e é verdade. Se considerarmos que ‘The Cage’ foi o piloto, este foi o maior tempo entre piloto e série da história!”

Myers reforçou a noção do que eles pretendem fazer com a série. “Nós queremos fazer realmente — e é isso que falávamos para roteiristas que quisessem vir para a série —  Star Trek, no modo clássico, do modo como era feito antes. Tem uma nave, que encontra estranhos novos mundos, em estilo episódico. Mas, ainda mantendo… audiências são sofisticadas, se Kirk se apaixona e seu amor morre, na semana seguinte ele ainda sente. Quisemos trazer a sensibilidade moderna no formato antigo.”

Além de Goldsman e Myers, as duas maiores autoridades na sala de roteiristas, também participaram do painel Davy Perez e Akela Cooper, coprodutores executivos. E, é claro, o trio que encabeça o elenco, Anson Mount (Pike), Rebecca Romijn (Número Um) e Ethan Peck (Spock), retornando aos papéis que fizeram na segunda temporada de Star Trek: Discovery.

A NOVIDADE
Mount e Peck contaram como receberam de Alex Kurtzman a notícia de que a série iria acontecer. “Quando terminamos a temporada 2, Alex falou de fazermos uns Short Treks. Eu me lembro de ligar para Alex e conversar sobre isso, falando sobre como dar algum senso de fechamento. E ele disse: ‘Hm, deixe-me pensar sobre isso'”, revelou Mount. “E aí, dois dias depois, ele me liga e fala, daquele jeito meio relaxado dele: ‘Ei, como está? Acho que temos um show!’ E eu: ‘O quê??’.”

Peck descreveu uma experiência semelhante. “Mesma coisa, Alex ligou. ‘E então, como está? O que tem feito? Então, seu show está indo adiante.'”

Os dois, naturalmente, ficaram muito contentes com a novidade, e Mount disse não saber que a ideia estava rolando há tanto tempo, desde o momento em que Goldsman chegou a Discovery. “Eu fiquei feliz de não saber que Akiva estava propondo isso havia tanto tempo, ou eu teria ficado pirado.”

Rebecca Romijn então lembrou que alguma forma dessa proposta já existia. “Sentamos nisso por um tempão. Um ano?” E Mount ressalvou: “A gente não tinha uma luz verde-luz verde ainda…”

A DINÂMICA DO TRIO
Akela Cooper e Davy Perez deram detalhes interessantes sobre como deve ser a dinâmica dos personagens na nova série. De acordo com Cooper, a ideia é expandir a dinâmica originalmente concebida em Discovery. “Queremos trazer aspectos deles e ver como se complementam e se contrastam.” Perez então complentou: “Tivemos uma conversa de Pike e Número Um serem quase figuras parentais para a nave. E o jovem Spock sendo o jovem Spock, você tem grandes relações de mentoria. E muitas vezes podemos aprender com nossas crianças.”

Mount comentou sobre o drama de viver um Pike que sabe qual é seu destino final, como foi revelado na segunda temporada de Discovery. “Pike não aprendeu só como ele morre, mas em que circunstâncias. Então sabemos que ele em algum momento vai ser promovido a capitão de frota, e ele vai ter de aceitar isso. É uma questão difícil, mas vamos descobrir como isso vai acontecer.”

Peck destacou o entusiasmo de encontrar o equilíbrio em Spock, depois das turbulências vistas em Discovery. “Ele está entre dois mundos. Vai ser um desafio enorme. E mal posso esperar.”

Já Romijn está ansiosa para descobrir o passado de sua personagem. “Os escritores têm essa oportunidade única de ter um personagem do começo do cânone que nunca foi desenvolvido. Quero saber qual é minha história pregressa, e tive uma reunião recente com a sala de roteiristas, e eles me falaram sobre a backstory dela e, não posso falar, mas, uau!”

RESPEITO AO PASSADO
Akiva Goldsman ecoou o sentimento de todos de assumir algo tão icônico como uma série com os personagens do piloto original de Star Trek. “É uma oportunidade de fazer algo que sempre quisemos. Fazemos como trabalho aquilo que faríamos de graça. Então, estamos situados não só no contexto de nossa afeição pelo objeto, mas da história do objeto. Diferente de Discovery ou Picard, Strange New Worlds existe em seu próprio espaço. Foi imaginado pelos que vieram antes de nós, mas nunca foi realizado. Não é para ser sentimental, nós sonhamos os sonhos de outras pessoas, e isso é meio que insano. É um espaço pelo qual muitos têm muito carinho e que agora temos de criar.”

Myers destacou o entusiasmo dos dois filhos dele, com 13 e 10 anos, e se tornaram grandes trekkers. “Esse é o primeiro show em que trabalho que eles estão empolgados de ver!”

E Akela Cooper fez um comentário interessante sobre o que podemos ter na primeira temporada. “São tramas individuais, episódicas, e arcos de personagens que serão mais serializados. E haverá provavelmente um elemento de trama que vamos salpicar ao longo da temporada, mas não posso falar sobre isso agora.”

A GUERRA DOS IMEDIATOS
Um aspecto curioso desta nova era de Star Trek é termos um casal, em que cada um deles é o imediato da nave em sua própria série. Rebecca Romijn, a Número Um de Pike, é casada com Jerry O’Connell, que faz o primeiro oficial Ransom, de Lower Decks. “É uma competição non-stop em casa”, brincou Romijn. “Não podemos deixar de debater sobre quem é o melhor imediato.”

E Akiva Goldsman fez a provocação das provocações a esse respeito: “Não quero violar nenhum dos acordos de confidencialidade que assinei, mas eu já tenho advogado pelo crossover.” Imaginem um encontro, quem sabe num Short Treks, entre a Número Um, de Strange New Worlds, e Ransom, de Lower Decks? Brincaram até algo ao estilo de Uma cilada para Roger Rabbit, o que seria a coisa mais louca em Star Trek de todos os tempos!

PREPARAÇÃO
O grande trio tem jeitos muito diferentes de se preparar para a volta aos sets. Rebecca Romijn diz estar revendo a Série Clássica. “Tem coisas que acontecem hoje em dia que ver a Série Clássica às duas da manhã ajuda a suavizar”, disse. Já Mount não tem se debruçado muito sobre material antigo. “A maior parte da minha preparação como ator é acalmar meus nervos. Por sorte, tenho tido apoio de excelentes escritores e colegas.” E Peck está entre revisitar Leonard Nimoy, na Série Clássica, e buscar algo diferente. “Acho vou mergulhar em alguma filosofia mais antiga. [Spock] é uma pessoa tão virtuosa. Pegar um Aristóteles e ver como vai…”

STAR TREK É…
E o painel terminou em catarse, quanto os produtores tiveram de falar da importância de fazer parte de Star Trek e caíram no choro. Palavras são insuficientes para descrever o que houve.

Star Trek é importante para nós pelo mesmo motivo que achamos que é importante para todos”, disse Akiva Goldsman. “Star Trek não é neutra em valores. É sobre nosso futuro. E precisamos disso. Precisamos esperança. Precisamos desses valores. Precisamos de otimismo. No Star Trek Day, esperamos fazer Star Trek para que cada dia tenha os valores que Star Trek mantém.”

Romijn destacou a importância de contar histórias sobre otimismo, ainda mais no atual momento do mundo. “E acabei de ficar com inveja da sala dos roteiristas, porque eles já estão trabalhando nessas histórias agora. As histórias são imaginárias, são inventadas, mas essas coisas não,e os roteiristas estão vivendo-as agora, e mal posso esperar para contar essas histórias.”

Mount destacou como a saga reflete o melhor da humanidade. “Acho que uma definição possível de um ser humano é o cruzamento da curiosidade com a criatividade. É uma coisa muito bonita da nossa espécie e acho que Star Trek completamente realiza isso. Quando você pensa no que vivemos agora, a gente investindo tanto para levar gente para Marte, e todo mundo diz, ‘ok, faz sentido’. E tem algo em nós que diz que tudo bem. É o que somos.”

Mount destacou a esperança de que a série seja uma fonte de inspiração. “Ela me inspirou e me faz querer ser uma pessoa melhor.”

Akela Cooper  destacou a representatividade. “Vendo Uhura e Sisko, eu, como uma pessoa de cor, vi que pessoas negras estão no futuro. Para mim isso era um símbolo de ‘vocês estão aqui, vocês conseguiram’. Essa é a melhor mensagem de Star Trek. ‘Há um caminho. E vamos todos chegar lá.’ E ser uma roteirista é muito legal. Eu vi aquele futuro e agora eu estou aqui.”

Davy Perez foi quem iniciou o momento mais emocionante. “Tem momentos em que tento não engasgar”, diz. “Meu pai imigrou para este país e ele queria ir às estrelas. E ele não chegou ao espaço, mas Star Trek era o suficiente. E agora olhe onde estou! Então, significa muito. É muito pessoal, e me sobrepuja… Star Trek significa muito para mim e para minha família. É um ótimo jeito de celebrar.”

E deu para perceber que todo mundo ecoava esse sentimento. Star Trek é tão importante para essas pessoas quanto é para nós. Será uma longa espera até a estreia, quem sabe em 2021, possivelmente em 2022.