Se você adora os famosos “diários de bordo”, locuções usadas em Star Trek desde a Série Clássica para dar contexto às aventuras da Frota Estelar, esta é uma má notícia para você: Michael Chabon, showrunner da primeira temporada de Picard, os abomina.
Em resposta a uma pergunta dos fãs nas redes sociais, Chabon apresenta os motivos pelos quais provavelmente você não verá o recurso usado na nova série protagonizada por Patrick Stewart. E, concordando ou não com ele, é difícil achar que qualquer escolha que ele faz em seu trabalho é irrefletida.
A locução raramente melhora uma história e frequentemente a prejudica ou diminui. É minha opinião que isso realmente funciona, aumenta o prazer do espectador, apenas quando é usado como um comentário sobre a ação na tela – ironicamente, para minar ou questionar o que estamos vendo, o que nos dizem, a veracidade do narrador, ou de todos os três. Pense Sunset Boulevard, ou (às vezes) Goodfellas. Também pode ser bom como um dispositivo de enquadramento ocasional, como em no episódio de Star Trek: The Next Generation “Data’s Day”. Mas, como um dispositivo de enquadramento a cada episódio, é cansativo.
Na Série Clássica, os “diários de bordo” foram introduzidos como maneira de tornar a história mais clara ou oferecer atalhos na narrativa, sobretudo porque os recursos técnicos da época impediam que muitas coisas fossem mostradas em tela. Acabaram virando uma marca registrada de Jornada nas Estrelas.
Chabon também respondeu anteriormente a uma questão parecida, sobre o uso de datas estelares, que sempre foram um assunto problemático em Jornada nas Estrelas. Cada roteirista e cada produtor usava métodos diferentes para chegar às datas estelares, especialmente na Série Clássica, para evitar que cada episódio tivesse uma tivesse uma data real. Isso criou uma dificuldade em criar conversões consistentes. Na opinião de Chabon:
As datas estelares, na minha opinião, e sei que isso deixará algumas pessoas loucas, são uma forma perversa de informações sem informação. Usar uma data estelar não diz exatamente nada. Mesmo as pessoas que sabem como interpretá-las e convertê-las precisam sair e interpretá-las e convertê-las, para que elas tenham algum significado. Dar ao público as datas estelares é como se eu quisesse saber se preciso vestir um agasalho ou não, e você me dissesse que a temperatura lá fora, em Kelvin, é 207.
Cada vez mais a franquia Star Trek se apoia no calendário gregoriano. Star Trek: Enterprise ocorre no século 22, de 2151 até 2155. A Série Clássica e as duas primeiras temporadas de Discovery acontecem no século 23. Star Trek: The Next Generation, Voyager e Deep Space Nine se passam no século 24. Star Trek: Picard ocorre no ano 2399, às vésperas do século 25. A terceira temporada de Discovery vai ocorrer no longínquo século 32.