Em uma entrevista à revista britânica SFX, o ator Scott Bakula (Jonathan Archer) revela que os produtores de Enterprise foram pressionados pelo estúdio a introduzir mais ação e menos filosofia nos episódios da série. “Houve uma certa… não diferença de opinião, mas pedido do estúdio para que tivéssemos uma série mais ativa às vezes do que os produtores queriam”, disse o ator. “Alguns dos episódios favoritos do Brannon e meus foram menos sobre os negócios de tecnologia e de atividade física, e mais sobre os personagens.”
“Acho que o primeiro ano foi mais na direção da atividade física do que do que eles estavam fazendo [em Voyager]. Ainda assim acho que com esse elenco temos uma oportunidade de obter um grande equilíbrio. Todo mundo está ansioso para entrar lá, sujar as mãos e fazer material físico e de ação, claro. Ao mesmo tempo, os roteiristas são um grupo talentoso, capaz de fazer trabalho de personagens e até comédia se for exigido. Foi uma grande descoberta chegar e encontrar todas essas pessoas capazes de fazer esse bom trabalho.”
Sobre trabalhar na série, Bakula se considera afortunado. “É uma questão de sorte, porque você realmente não sabe como vai ser. Mas esse é um grupo ótimo. Todo mundo é entusiasmado e ansioso para fazer o que puderem. Sempre que temos um episódio que é mais sobre o personagem deles do que qualquer outro episódio poderia ser, todo o resto trabalha para dar a eles o que é preciso. Também acho que os roteiristas fizeram um bom trabalho produzindo muitos elementos para os personagens. Mas certamente temos um longo, longo caminho pela frente em termos de descoberta e relacionamentos, e isso é encorajador.”
Bakula ficou impressionado com o roteiro de “Shockwave” que ligou para os produtores para agradecer. “Eu liguei para eles e disse, ‘Eu aprecio o número de roteiros incríveis que vocês nos deram nesse primeiro ano e estou feliz de estar aqui’. A verdade é, todos nós nos demos muito bem e isso é uma grande parte da empolgação. No final do dia, depois de você ter passado pelo primeiro ano –e não importa se você está fazendo Enterprise, uma série policial ou de advogados– a coisa se torna com quem você está lá trabalhando. Não apenas as pessoas dividindo o palco, mas as pessoas que estão mandando os roteiros e seus produtores-executivos. Foi uma grande sensação. E essas coisas –e elas são intangíveis– aparecem na tela.”
O ator comentou sobre a evolução de seu personagem. “A coisa que eu não queria deixar sumir, e que estou determinado a me agarrar nela, é seu senso de maravilhamento e empolgação com o que está fazendo, não queria que ele crescesse para uma espécie de tédio com nada disso. Queria que ele mantivesse esse aspecto de novidade –e os roteiristas me ajudaram com isso. Certamente, sua relação com T’Pol cresceu e amadureceu de certo modo. Mas, de novo, tenho de tirar o chapéu para os roteiristas e para essa nova cara que eles adicionaram de Vulcanos e humanos não necessariamente serem grandes amigos. Isso forneceu uma boa aspirada de ar fresco para todo o cenário. Então esse é um aspecto da série que cresceu, e eu acho que os sentimentos de Archer por T’Pol mudaram. Ele abriu sua cabeça sobre os Vulcanos; ele reconhece que pode haver mais neles do que ele achava antes. Eu acho que esse é provavelmente o maior crescimento. Como eu disse, a relação com todo mundo na tripulação cresceu, mas nada disso parece completo. Não é como se não houvesse para onde ir.”
Um momento especial para Archer foi a cena em que a tripulação recebe cartas vindas da Terra, em “Dear Doctor”. “Isso humanizou Archer e, para mim, trouxe o aspecto de aventura da série para perto de casa, ainda fornecendo um senso da realidade. Você teria de pensar que a tripulação seria notícia de primeira página se estivesse lá fora. Crianças do mundo todo estariam, como, ‘Onde está a Enterprise hoje? O que eles estão fazendo? Vamos mandar cartas para eles!’ Eu adoro a coisa toda, e o fato de que Archer cresceu pareceu bem natural para mim. Acho que os roteiristas têm esse conhecimento secreto de onde a série está indo que ainda não compartilharam com a gente, e isso é bom. Em essência, não sabemos para onde estamos indo lá fora, então nós também temos essa sensação de descoberta. Na maior parte das vezes, esse crescimento pareceu bem orgânico, e isso não acontece muitas vezes.”
Scott deu sua opinião sobre o que passou durante a primeira temporada. “Há um grande senso de camaradagem entre os atores, e um grande senso de trabalhar junto e querer que todos tenham seus melhores momentos, eu acho que isso paga dividendos do mesmo jeito que fez na série original. As únicas fraquezas que vejo na temporada passada é que talvez haja alguns episódios com finais um pouco convenientes ou pouco ambiciosos, e não tivemos tempo ou cenários ou orçamento para fazê-los direito. O desafio de uma série é que você não pode filmar o piloto toda semana e nem tem o mesmo número de dias, as locações ou a oportunidade de filmar uma tempestade de neve por dois ou três dias, então você precisa encontrar um meio de satisfazer a audiência e satisfazer a história. Algumas vezes você não chega lá, mas a boa notícia é que Brannon e Rick sabem disso e não gostam também. Não é como, ‘Oh, Scott, do que está falando? Eles estão na mesma página’.”
Bakula espera que Enterprise vá lidar com temas mais universais, como racismo, superpopulação, genocídio etc. “E isso é algo que estamos só começando a explorar. Quando eles fizeram isso, fizeram bem, e essa é a pureza da [Série Clássica]. Sabe, a noção do que é Jornada –acreditar na bondade da humanidade. Eu achei que fizemos isso várias vezes e nos saímos muito bem. Estou empolgado para ter mais desses tipos de história.”
Os episódios favoritos de Scott no primeiro ano foram “Broken Bow” (“Um grande lançamento”), “Detained”, “Silent Enemy” (“Foi tudo na nave, mas há um senso de nós estarmos exauridos; uma real senso de inadequação, que é uma grande coisa emocional que temos de lidar com”), os episódios Sulibans e a evolução da Guerra Fria Temporal (“Usualmente, quando penso nos meus episódios favoritos, vêm os momentos que você tira de cada episódio que funcionaram bem”).
Scott procura não saber muito da reação dos fãs. “De vez em quando, pergunto a Rick ou a Brannon, ‘eles gostaram desse episódio?’ e eles me dão um pouco de informação [ri], mas eu tento evitar, porque inevitavelmente alguém vai oferecer um ótimo comentário, mas então haverá algo que incomoda você um pouco. Pra quê olhar? Estou animado que a resposta tem sido tão boa até aqui e que a imprensa tenha apoiado o que estamos tentando fazer. As pessoas estão amando –e isso é bom porque também os fãs estão. Obviamente, você quer ser tão divertido quando pode. A base de fãs é exigente, mas você quer atingir as expectativas deles.”
Para completar, Bakula falou da continuação de “Shockwave”, que abre a segunda temporada. “Estamos num enorme dilema, estou curioso para ver o quanto eles vão nos tirar daquela situação. Mas espero que não tenhamos um ano de grandes mudanças. Há muitas idéias sustentáveis que foram iniciadas no primeiro ano e espero que não fujamos delas tão depressa. Espero que continuemos mantendo essa aventura fresca e com olhos abertos que estivemos fazendo. E certamente espero que as relações continuem a se aprofundar. Estou ansioso por muito mais da camaradagem da tripulação e, talvez, mais coisas da Terra, que não fizemos o suficiente. Estou empolgado. Eles me surpreenderam um monte este ano –e esse é o melhor jeito possível.”